Avaliação da pressão arterial com aparelho digital e esfigmomanômetro aneróide |
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*Universidade do Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. **Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. (Brasil) |
Cláudia Cruz Lunardi* Juliano Perego Daniela Lopes dos Santos** claudia_lunardi@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007 |
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Introdução
A Pressão Arterial (PA) é definida pela força exercida pelo sangue por unidade de superfície da parede vascular, refletindo a interação do débito cardíaco com resistência periférica sistêmica. A PA é representada pela pressão sistólica (PAS) e pela pressão diastólica (PAD). A PAS representa a mais alta pressão nas artérias, estando intimamente associada à sístole ventricular cardíaca. A PAD representa a menor pressão nas artérias ocasionada pela diástole ventricular cardíaca, quando o sangue está preenchendo as cavidades ventriculares (Polito, 2003).
A pressão arterial pode ser medida por método direto, através da introdução de um cateter na artéria acoplado a um transdutor, ou por método indireto, através da técnica auscultatória ou oscilométrica. Na prática clínica, utilizamos a medida da pressão arterial casual, com técnica auscultatória, registrada no braço, empregando o esfigmomanômetro aneróide ou de coluna de mercúrio. Entretanto, este método apresenta desvantagens, como a possibilidade de erro inerente ao método indireto com técnica auscultatória, subjetividade na ausculta da pressão arterial, aproximação das medidas, além da toxicidade do mercúrio ao meio ambiente (Lehane, O'Malley e O'Brien, 1980).
Vários fatores relacionados ao equipamento, observador, ambiente, paciente e à técnica propriamente dita podem interferir na precisão da medida da PA. Erros na medida da PA podem levar pessoas hipertensas a serem tidas como normotensas, privando-as dos benefícios do tratamento ou submeter normotensos a tratamento desnecessário.
Há locais, como academias, onde o aparelho aneróide pode não ser tão fidedigno, visto que para se identificar os valores da PA é preciso auscultar os batimentos. Com as músicas altas e o barulho das máquinas de pesos, torna-se difícil a utilização deste equipamento.
Como alternativa, muitos proprietários de academias têm utilizado aparelhos digitais para mensurar a PA de seus clientes. O aparelho Citizen CH-656 C é um exemplo, sendo colocado no punho do avaliado e rapidamente disponibilizando o valor da PA do indivíduo.
Não foram encontrados trabalhos que relatassem a validade do aparelho Citizen. Em vista disso, este trabalho visou verificar se há diferença estatística entre os valores de PA determinados pelo esfigmomanômetro aneróide e o aparelho Citizen CH-656.
MétodosO grupo de estudo foi constituído de 137 indivíduos com idade entre 18 e 84 anos, freqüentadores de um projeto de caminhada da cidade.
Inicialmente verificou-se a PA dos indivíduos com o esfigmomanômetro aneróide (Pressure-Cardiomed), devidamente calibrado, seguindo os procedimentos de avaliação recomendados pelo ACSM (2003) e posteriormente verificou-se a PA com o aparelho Citizen CH-656 C.
Para a verificação com o aparelho Citizen CH-656 C, seguiram-se os procedimentos recomendados pelo fabricante: avaliado sentado com o aparelho no punho, estando este a uma distância de 2 centímetros da articulação rádio-ulnar, a mão na altura do coração.
Verificou-se a pressão arterial dos sujeitos apenas uma vez com cada aparelho. Optou-se pela mensuração aneróide seguida da digital para o avaliador não sofrer influência no momento da medida. O aparelho aneróide foi calibrado após cada avaliação, o aparelho digital não foi calibrado, uma vez que não era possível (calibração de fábrica).
Utilizou-se o pacote estatístico SPSS versão 10.0 para tabulação e análise estatística dos dados, a um nível de significância p<0,05. A normalidade dos dados foi verificada através do teste de Kolmogorov Smirnov. O teste "t" de Student pareado foi utilizado para verificar se existe diferença significativa entre os métodos.
Resultados e discussaoOs dados descritivos (média, desvio padrão, mínimo e máximo) da Pressão Arterial Sistólica e Diastólica dos dois grupos, obtidos através dos dois métodos (PAS Cit, PAS Esf, PAD Cit e PAD Esf, respectivamente) e a significância do teste "t" de Student Pareado são apresentados na Tabela 01. A Figura 01 demonstra o comportamento das PAs nos dois instrumentos de medida.
Observa-se na Figura 01 uma variação da PA entre os dois métodos. Conforme o teste "t" de Student (Tabela 01) pode-se inferir que há diferença significativa entre os métodos tanto para a PAS quanto para a PAD.
A Tabela 02 apresenta os dados descritivos das diferenças entre as PAs do grupo de estudo.
Observa-se na Tabela 02 que não há diferença estatística entre as diferenças das PAs em função dos dois instrumentos de medida. Assim, PAS e PAD variam da mesma forma ao serem mensuradas pelo aparelho digital e pelo aneróide.
A fim de verificar se existe diferença na avaliação da PA entre os dois métodos em indivíduos com PA mais elevada e mais baixa, dividiu-se os indivíduos em quatro grupos, utilizando-se os percentis 25 e 75, da seguinte forma:
Grupo 1 - PAS esf < 110 mmHg e PAD esf < 62,5 mmHg (percentil 25)
Grupo 2 - PAS esf > 131 mmHg e PAD esf > 81 mmHg (percentil 75)Ao comparar os dados da PAS do Grupo 1 entre ambos os aparelhos, verificou-se que em indivíduos com PA mais baixa, há diferença estatística significante (p<0,05) entre os métodos.
Já, ao comparar os resultados no Grupos 2 (referente a PA mais elevada), constatou-se que não existe diferença significativa entre os aparelhos (p=0,552 para PAS e p=0,677 para PAD).
A partir desta análise, pode-se inferir que os aparelhos não diferem na mensuração da PAS e PAD em indivíduos hipertensos. Fato este importante, uma vez que a PA elevada associa-se a um aumento do coração (podendo levar a insuficiência cardíaca); aneurismas e aterosclerose (Nieman, 1999).
Conforme levantamento feito por Holanda, Mion e Peirin (1997), 29% dos trabalhos que avaliavam PA foram realizados com coluna de mercúrio, 16% com aneróides e 4% com eletrônicos. Não foram encontrados trabalhos que buscassem relações entre o aparelho esfigmomanômetro aneróide e aparelho digital.
Em 1987, a Associação Americana para o Avanço da Instrumentação Médica (AAMI) publicou uma padronização para esfigmomanômetros onde inclui um protocolo para avaliar a acurácia de aparelhos. Em 1990, um protocolo foi planejado pela Sociedade Britânica de Hipertensão (BHS). Ambos protocolos foram revisados. Desde então os dois protocolos são recomendados como critério para validação na maioria dos estudiosos. Para cumprir o protocolo da BHS é necessário que o aparelho consiga ao menos a classe B (onde A denota maior padrão e D o menor) para pressão sistólica e diastólica (Quadro 01). Para cumprir os critérios do protocolo da AAMI é necessário que o aparelho teste apresente uma diferença média inferior a 5 mmHg da coluna de mercúrio ou um desvio padrão menor que 8 mmHg (O´Brien et al, 2001).
No entanto, esses critérios utilizam a coluna de mercúrio como método ouro para validação. Neste estudo utilizou-se o esfigmomanômetro aneróide como método de referência. Não se encontrou protocolos que utilizem o aparelho esfigmomanômetro aneróide como padrão ouro para validar instrumentos.
Afim de comparação utilizou-se as recomendações propostas AAMI, onde diferença média deve ser menor que 5 mmHg ou desvio padrão menor que 8 mmHg, para verificar a validade do aparelho digital Citizen a partir do instrumento aneróide. Observa-se na Tabela 02 que tanto as diferencias médias como os desvios padrões são bem superiores as normas da AAMI.
Verificar-se na tabela 03 que 59,13% das medidas de PAS e 67,89% das medidas de PAD realizadas pelo aparelho digital apresentaram uma diferença menor ou igual a 15 mmHg em relação às medidas realizadas pelo esfigmomanômetro aneróide, resultado considerado pela classificação da BHS (Quadro 01) como de grau D.
ConclusaoO principal achado deste estudo é que se observou diferença estatística significante entre o aparelho digital e o aneróide na determinação da PA. Foi possível identificar também que ao mensurar a PAS e PAD, ambos os aparelhos apresentaram variação similar nas medidas dessas, ou seja, a diferença encontrada na PAS (entre os dois instrumentos) é similar a diferença encontrada na PAD (também entre os dois instrumentos). No entanto, os aparelhos não diferem na mensuração da PAS e PAD em indivíduos hipertensos.
Não podemos afirmar que o aparelho Citizen - CH 656 C não é válido para este grupo de estudo, visto que não existem protocolos que utilizem o esfigmomanômetro aneróide como padrão de referência.
Conclui-se, assim, que as medidas de pressão arterial obtidas através do aparelho Citizen (de punho) diferem das obtidas com o Esfigmomanômetro Aneróide. Recomenda-se a mensuração da PA sempre com o mesmo método e sugere-se o desenvolvimento de mais estudos que visem relacionar aparelhos digitais e aneróides.
Referencias bibliográficas
ACSM. Manual de Pesquisa das Diretrizes do ACSM para os Testes de Esforços e sua Prescrição, Exercício e hipertensão. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan 4ª ed., 2003.
Holanda HEM, Mion Jr D, Peirin AMG - Medida da pressão arterial. Critérios empregados em artigos científicos de periódicos brasileiros. Arq Bras Car. 1997;68:433-436.
Lehane A, O'Malley K, O'Brien ET - Reporting of blood pressure data in medical journals. Br Med J. 1980; 281: 1603-4.
NIEMAN, D. C. Exercício e Saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício como seu medicamento. São Paulo: Manole, 1999.
O'Brien, E; Waeber, B; Parati, P; Staessen, J e Myers, MG. Hypertension recommendations of the European Society of Blood. BMJ. 2001;322;531-536
Polito, M. D. Respostas de freqüência cardíaca, pressão arterial e duplo-produto ao exercício contra-resistência: uma revisão de literatura. In: Revista Portuguesa de Ciências do Desport. 2003, 3(1).
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