Análise ergonômica do trabalho de professores de ginástica em academias Análisis ergonómico del trabajo en profesores en gimnasios Ergonomic analysis of work of gym academy teachers |
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*Professora doutora do Departamento de Educação Física do Centro de Desportes (CDS/UFSC). **Mestre em Engenharia de Produção - UFSC. Trabalho desenvolvido na disciplina Análise Ergonômica do Trabalho. |
Tânia Bertoldo Benedetti Rosano Ouriques trbbcds@yatech.net (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007 |
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Introdução
Em todos os lugares do mundo está acontecendo o fenômeno da adesão à prática de atividade física. As pessoas estão andando, nadando, correndo, jogando, pedalando e freqüentando academias de ginástica em busca de melhorar a saúde e obter melhor qualidade de vida.
Esta preocupação surge através da conscientização das pessoas com relação aos vários estudos existentes revelando que a falta de atividade física torna as pessoas mais propensas aos problemas de saúde, acentuando as doenças crônicas degenerativas ou as doenças hipocinéticas (SILVA, 2000; BENEDETTI, 1999; AOYAGI; SHEPARD, 1992).
A partir disto, observa-se modificações nos hábitos de vida e as academias tornam-se uma opção viável na busca pela estética, juventude e manutenção de um corpo saudável.
Baseado neste contexto evidencia-se o surgimento de um grande número de academias em todas as cidades do Brasil. Moraes (1999) afirma que o número de academias passa de onze mil somente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto que Barreira (1999) expõe que há mais de nove mil academias no Brasil e seis milhões de brasileiros suam suas camisas num negócio que movimenta mais de dois bilhões de reais por ano, o que resulta num mercado de trabalho que absorve um grande número de profissionais de Educação Física. Mesmo assim, segundo a Abreu (2005) apenas 1,7% da população brasileira freqüenta as academias.
Em Florianópolis, segundo o CREF (Conselho Regional de Educação Física) existem mais de 100 academias, embora poucas estejam regulamentadas junto a Prefeitura Municipal de Florianópolis, mas profissionais formados ou em formação na área de Educação Física estão atuando no quadro de funcionários.
As primeiras academias que surgiram no Brasil foi na década de 30, no Rio de Janeiro. A partir dos anos 60, começou a proliferação em outras cidades brasileiras.
No início dos anos 80, a popularidade da ginástica aeróbica, difundida por Cooper, introduziu nas academias os exercícios coreografados de alto impacto e músicas em alta intensidade com o objetivo de animar as aulas e aumentar a clientela. Em seguida, chega às academias o Step, modalidade de baixo impacto e com gasto calórico semelhante à ginástica aeróbica.
Recentemente, outras modalidades criadas pela Les Mills International por meio do programa Body Training Systems (BTS), estão invadindo as academias brasileiras, realizando transferência de tecnologia na área do fitness. Estas modalidades variam com tipos de aulas que desenvolvem a força, a resistência, flexibilidade, entre outras qualidades físicas. As aulas são coreografadas com músicas específicas para cada atividade e que contagiam alunos e professores.
Portanto, por meio das evidencias acima, constatamos o crescimento na contratação de profissionais de Educação Física para ministrarem aulas nas diferentes modalidades do programa da BTS nas academias. No entanto, verifica-se que o profissional de Educação Física tende a se adequar às necessidades dos clientes sem, contudo, preservar sua própria saúde em benefícios do seu trabalho.
É diante desta situação que se procurou realizar uma análise ergonômica verificando as condições de trabalho destes profissionais e os fatores prejudiciais à sua saúde.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar uma Análise Ergonômica de Trabalho (AET) do posto de trabalho de um professor de ginástica de academia na cidade de Florianópolis.
MétodosPara realização desta Análise Ergonômica do Trabalho (AET), utilizou-se a entrevista informal com os atores sociais envolvidos, observação direta da situação de trabalho, e as medidas dos níveis de pressão sonora do ambiente, que já tinha sido verificado no trabalho de Deus (1999).
O estudo avaliou os problemas evidenciados pelos professores de ginástica em academia, como os relacionados com a audição, distúrbios da voz, osteoarticulares e lesões por esforços repetitivos.
A origem da demanda foi por meio de observações constantes dos atores sociais que compõem o universo dos professores de ginástica em academia, os quais, devido a natureza de sua atividade, apresentam problemas relativos à saúde, após determinado tempo no exercício da profissão (queixas em relação a perda de voz, distúrbios emocionais entre outros problemas) e pautados no Manual de Análise Ergonômica no Trabalho (FIALHO; SANTOS, 1997).
A demanda foi identificar na atividade do professor de ginástica em academia, os fatores humanos (formação e qualificação profissional; regras relativas às tarefas e atividades desenvolvidas; horários e modos de alternância das aulas; forma de admissão, remuneração e estabilidade profissional; hábitos alimentares e sociais; indumentária adequada ao exercício da profissão), ambientais relevantes (espaço físico; térmico, acústico e luminoso) e os fatores posturais (principais gestos realizados; posturas adotadas durante a aula; ligações cognitivas e motoras; principais categorias de tratamento da informação (receber e passar); principais decisões a serem tomadas durante a atividade profissional; aparelhos adequados à carga de trabalho) a serem considerados com relação à sua saúde. Também foram observados os aspectos sócio-econômicos; ambientais (geográficos e climáticos) (LES MILLS INTERNATIONAL, 2006).
O trabalho se limitará apenas em investigar os comprometimentos relacionados a integridade física e mental dos professores de ginástica em academia, expostos à música, ao impacto dos exercícios, à jornada de trabalho e à estrutura organizacional de uma determinada academia da cidade de Florianópolis, SC.
A academia em estudo tem salas de ginástica, musculação, piscinas, sauna, lanchonete, loja de roupas esportivas, local para recreação infantil, sala de dança, sala de massagens, limpeza facial, entre outras. Em seu quadro de funcionários têm 22 professores que atuam em diferentes setores do fitness, como ginástica, dança, artes marciais e atividades aquáticas. Na área da ginástica, 8 professores ministram as aulas na academia, sendo que 2 são os responsáveis pela academia. Três profissionais estão estudando no curso de graduação em Educação Física e dois são formados em outras áreas. As aulas de ginástica ofereciam diferentes modalidades, entre elas: ginástica localizada, aeróbica, axé, buns (glúteo), abdominal, alongamento e as aulas do programa Body Training Systems que são: BodyAttack, BodyPump, BodyBalance, BodyCombat e RPM. A academia também tem funcionários que trabalham no atendimento de pessoal, na recepção, loja, limpeza, lanchonete e avaliação física. Este estudo, apenas se concentrará nos profissionais da área de ginástica, que pela literatura observada, estão mais expostos aos problemas na atividade profissional.
Foram entrevistados 6 professores de ginástica e realizou-se a análise de um professor (a) de ginástica ao longo de sua jornada de trabalho, exposto (a) às diversas condições explicitadas na sua tarefa (ruído, impacto, salário, aspectos organizacionais, carga horária, etc). Este professor tinha características que nos levaram à sua seleção como: idade, tempo de serviço e formação.
Na análise da tarefa demonstrar-se-á a organização do Trabalho, dados da população envolvida e a descrição da tarefa.
Resultados e discussãoVerificou-se que nas academias não há leis ou normas que regulamentam nem existe fiscalização na aplicação do código de obras e edificações na construção dos ambientes e, freqüentemente, escritórios e consultórios passam a ser instalações de academias, sem nenhuma preocupação com a acústica, segurança predial, tipo de assoalho, etc, o que pode levar os professores de ginástica em academias a apresentarem problemas de saúde adquiridos no trabalho, principalmente, os músculos-esqueléticos, auditivos, vocais, lesões por esforços repetitivos (L.E.R.) e doenças osteoarticulares.
As aulas de ginástica eram ministradas em diferentes salas da academia, no entanto, existe uma sala maior, onde são concentradas as aulas nos horários nobres e as aulas que a academia tem maior número de alunos. É neste local que concentraremos nosso estudo.
As aulas têm diferentes objetivos e metodologias, entre elas podem ser citadas: ginástica aeróbica, entre elas o step, aeroaxé, aeroboxe, cardioboxe, funk, body combat, body attack, RPM, body step, jumpfit, entre outras; A ginástica localizada pode ser por meio de exercícios calistênicos além de aulas de buns, abdominal, body pump, entre outras; Aulas de alongamento são enfatizadas por meio de alongamentos dos diferentes segmentos corporais e o relaxamento, o bodybalance é um dos tipos de aula.
A empresa Les Mills International (LMI) que entrou com muita força nas academias brasileiras é responsável em licenciar e comercializar todos os programas BTS. Ela desenvolve, administra o treinamento dos professores através de uma rede global de agências nacionais. Os programas são divulgados com o auxílio de marketing e material de vendas como parte de uma estratégia de marca global. Treinamento de professores, certificação e educação continuada são ministrados nas regiões de atuação, além de workshops trimestrais onde os professores de academias licenciadas recebem recursos dos programas de instruções.
Todos os programas da BTS apresentam bases técnicas (estrutura das aulas, pré-coreografia, clínica, treinamento de professores, músicas e avaliação dos professores); psicológicas (linguagem, técnica de correção, dramatização e criação do espírito de equipe) de mercado e fisiológicas (princípios do treinamento desportivo) da individualidade biológica, da adaptação, da sobrecarga, interdependência e volume, da continuidade, objetivo do sistema, adaptações orgânicas ao treinamento e custo metabólico do programa de treinamento (LES MILLS INTERNATIONAL, 2000).
São os sinais da globalização que passam a influenciar o mundo do fitness e atualmente estão em 40 países. Para que este sistema fosse implantado nos diferentes países deveria segundo Wisner (1994), ocorrer a transferência de tecnologia com alguns cuidados específicos. Segundo o autor pode-se fazer um sistema de ilha, onde ocorre a transferência da tecnologia com toda organização e gerenciamento de sistemas ou do tipo nacional, que significa que uma firma brasileira com gerentes brasileiros compra máquinas ou sistemas de máquinas. Com relação às aulas franqueadas pela Les Mills International, é uma transferência do tipo nacional. Nesta transferência de aulas previamente elaboradas na Nova Zelândia e na Austrália e distribuídas para 40 países com supervisão da própria empresa, é necessária a capacitação dos recursos humanos, bem como modificação na organização do trabalho, para que tudo ocorra exatamente como foi elaborado e projetado pela Les Mills International.
Foram observados na análise da atividade o ambiente de trabalho, as condições de trabalho dos atores sociais e a rotina de trabalho dos atores sociais.
Em relação ao ambiente, usaremos como base de dados os levantados por Deus (1999) em 14 academias de Florianópolis, porém, serão apresentados os dados da academia em estudo, a qual também fez parte do seu estudo.
A academia tem como estrutura das salas a seguinte descrição: piso de paviflex e forro de laje, todas as salas possuem janelas com vidro liso permitindo maior entrada de luz.
A sala principal tem uma área de 542 m2, sendo 12,60 metros de largura, 14,10 metros de comprimento e o pé-direito de 3,50 m.
Nesta sala foram analisados, no seu aspecto construtivo, a área total, piso, teto, revestimento de paredes, tipo de janelas e local de fontes sonoras (caixas acústicas). A partir desta análise a autora Deus (1999) realizou as medidas do tempo de reverberação (TR) com a sala vazia e com a sala ocupada, utilizando a fórmula de Sabine nas freqüências de 125 Hz a 4.000 Hz de acordo com a norma 12179/1992 (níveis de pressão sonora em ambientes fechados).
Segundo Moore, (1988) utiliza-se como referencial para a sala de ginástica de academia a de "uso múltiplo" e seria um bom tempo de reverberação em torno de 1,5 seg na freqüência de 125 Hz, 1,14 seg para 250 Hz e de 500 a 4000 Hz em torno de 1,0 Seg.
Em relação aos níveis de pressão sonora em ambientes fechados, de acordo com as Normas NBR 10152/1987 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o limite máximo para 8 horas de exposição diária é de 85 dB (A), estabelecido pelas portarias n.º 3214 de 1978 e portaria nº 19 de 09/04/1998, do Ministério do Trabalho.
Quando realizado a medição nos níveis de pressão sonora na academia em estudo, segundo Deus (1999) foram encontrados o mínimo de 92 dB (A) e máximo de 104 dB (A). Com estes níveis de pressão sonora os professores podem ficar expostos no máximo 2 horas e 15 minutos sob esta pressão. Sabe-se que uma aula não ultrapasse a 60 minutos e que pode haver um descanso de 10 minutos até o início da próxima aula. No entanto, determinados professores ministram 8 horas/aula durante alguns dias na semana, o que, com certeza, é uma agressão ao ouvido.
A portaria nº 92 de 19 de junho de 1980, do Ministério do Interior, considera prejudicial a saúde e ao sossego público os sons e ruídos que atinjam no ambiente interior do recinto mais de 70 dB(A) durante o dia e 60 dB (A) à noite. Os ambientes de trabalho com níveis acima de 85 dB(A) são considerados insalubres, o que obriga o empregador a adotar medidas de proteção coletiva e individuais, além de assegurar ao trabalhador a percepção do respectivo adicional de insalubridade equivalente a 20% do salário mínimo, com direito a aposentadoria especial. O tempo de ruído em ambientes acima de 85 dB(A) não deve exceder os limites de tolerância para ruído continuo ou intermitente existente na portaria n.º 3214 de 08 de junho de 1978 do Ministério do Trabalho.
No estudo realizado por Deus (1999), apenas 14% das academias trabalhavam dentro dos limites estabelecidos pelas normas do Ministério do Trabalho, e na academia estudada os níveis estão acima do permitido.
Em relação às condições de trabalho dos professores de ginástica, foram entrevistados 6 professores de ginástica da academia, e nenhum professor percebe, até o momento, perdas auditivas relacionados ao ruído em que estão expostos pelos diferentes tipos de músicas utilizadas nas aulas, embora todos tenham conhecimento sobre os efeitos prejudiciais quando expostos ao uso intenso do som.
Os ritmos das músicas variam entre Rock, Reggae, Funk, Axé, entre outros. Segundo Deus (1999), o Rock é o mais utilizado (62,5% das aulas) e segundo Mordoni; Branco; Rodrigues (1994), pode ser o ritmo mais prejudicial ao ouvido pois possui instrumentos eletrônicos com intensidade amplificada e expõe o ouvido a uma pressão sonora intensa, podendo até lesar o ouvido e prejudicar a audição.
Em exames audiométricos com 40 professores de academia de Florianópolis, Deus (1999), expõe em seus resultados que 11 professores apresentaram alterações em pelo menos um limiar em uma orelha (acima de 25 dB(A)), sendo que, destes, 12,5% apresentaram alterações no ouvido direito, 22,50% apresentaram alterações no ouvido esquerdo e 27,5% apresentaram lesão bilateral.
Quando interrogados se sentiam algum problemas na voz, dos 6 professores entrevistados 3 disseram que ficam roucos no final da semana, sendo que um professor no ano que passou ficou dois dias afônico, tendo que evitar falar e tomou medicação para melhorar a voz. O cansaço ao falar e dor na laringe também foram observados em seus comentários.
A voz enriquece a transmissão de mensagem e identifica o indivíduo, sendo ela o principal veículo da comunicação e o principal instrumento de trabalho dos professores nas academias.
Quanto mais adequada for a intensidade, mais projetado será o trabalho do professor, embora essas projeções exijam adaptações corretas para que não ocorram prejuízos dos órgãos fonoarticulatórios. Estas adequações nem sempre são conseguidas e há problemas de disfonia (distúrbios da comunicação) em muitos professores e/ou pessoas que trabalham excessivamente com a voz.
Os professores de ginástica em academias estão permanentemente competindo com o som alto das músicas de suas aulas e precisam incentivar, com a voz, os alunos para que sintam-se motivados a continuar a execução dos exercícios. Com isto as lesões orgânicas relacionados com a utilização excessiva da voz, são: nódulos, polípos e edemas de pregas vocais.
As disfonias dos professores são cada vez mais estudadas e são consideradas uma doença profissional e social na maioria dos países, pois os transtornos vocais constituem uma preocupação em relação ao desempenho do professor.
Segundo Garcia; Torres; Shasat (1986), a maior freqüência de laringites nodulares é no sexo feminino, na etnia branca, entre 31 e 40 anos de idade e com grande utilização da voz nas ocupações profissionais. Os autores também observam que o abuso vocal e o mal uso trazem uma série de transtornos capazes de levar a uma disfonia.
Deus (1999), em seu trabalho, no exame de videolaringoscopia feito os professores de academia, constatou de 40 professores convidados a realizar o exame apenas 23 compareceram, destes 20 apresentaram disfonia vocal, e destes 7 tinham disfonia funcional, 12 com disfonia orgânico-funcional e 1 com disfonia orgânica.
Os professores expuseram que a academia tem apenas uma sala com microfone e este seguidamente está com problemas, sendo que, segundo 2 professoras, é anti-higiênico utilizar o mesmo microfone por diferentes pessoas.
Embora os responsáveis pela academia tenham orientado os professores quanto a importância de manter um tom de voz mais baixo como também a intensidade do som das músicas, alguns professores se descuidam das recomendações. No final do ano, esses professores percebem-se cansados física e mentalmente e o corpo pede repouso. Tornam-se mais agressivos e irritados, sendo o momento ideal para as férias.
Quando questionados sobre os problemas osteoarticualres não foram encontrados problemas de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e nem Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), doenças essas comuns de profissionais que trabalham com esporte ou "fitness". Acredita-se que devido ao bom condicionamento físico da maioria dos profissionais que trabalham na academia, de serem jovens, idade menor do que 25 anos e com menos de cinco anos de trabalho, são fatores que contribuem para o menor número de lesões e distúrbios. Segundo Neer (1983) 95% das lesões tendinosas do ombro são causadas pelo impacto e freqüentemente são encontrados em profissionais de academia.
Segundo Pollock; Jack; Fox (1986), os problemas de força e flexibilidade dos profissionais ocasionam problemas posturais, articulares e fadiga muscular, causando dores, edemas e enrijecimentos.
Segundo Costa (1996), a fadiga muscular pode ser definida como incapacidade de manter uma determinada intensidade de exercício, em função de processos fisiológicos e quebra da homeostase, diminuindo a força e o aparecimento de tremores. Entre os fatores causadores de fadiga, estão os ambientais (clima, temperatura, altitude), a alimentação, o tipo de atividade desenvolvida, a condição física do indivíduo, bem como fatores motivacionais.
As DORT e LER não parecem serem comuns em profissionais de academia mas principalmente aos trabalhadores de empresas que segundo Lech et al. (1998) o número é crescente e de difícil diagnóstico.
Para os autores acima citados, os maiores problemas são nos braços, e podem ser por compressões nervosas ou lesões tendíneas. Entre as compressões nervosas mais comuns temos a síndrome do carpo (mais freqüente) e a síndrome do desfiladeiro torácico (costela cervical) e entre as lesões tendíneas temos as tendinite do antebraço e do ombro (bursite).
Observou-se nos profissionais da academia estudada uma carga psíquica em relação ao trabalho, e pode-se relacionar o que Wisner (1994) afirma: "o trabalho pode ser fonte de equilíbrio para uns, e causa de fadiga para outros" p. 22. Por trás de uma carga mental há mistura de fenômenos de ordem neurofisiológica e psicofisiológica e não é possível quantificar, pois é qualitativo e está relacionado ao prazer, satisfação frustração e agressividade.
Na rotina de trabalho dos profissionais estudados, partindo do ator padrão, a semana está divida em três e dois dias. Segunda, quarta e sexta-feira o professor ministra 7:35 horas/aula frente a aluno e 40 minutos de deslocamento para outra academia do mesmo proprietário, sendo três aulas do sistema BTS e na terça e quinta-feira o professor ministra 3 horas/aula frente a alunos, sendo duas do sistema BTS. As aulas do sistema BTS têm a particularidade de serem muito desgastantes, tanto em termos físicos como cognitivos e há dias na semana que são ministrados até três sessões. Nos países desenvolvidos como da Europa e da América do Norte os professores de academias ministram em média três aulas de ginástica por dia, sendo apenas uma do sistema BTS.
Os professores ministram em média 42 (quarenta e duas) aulas por semana, sendo que no Sábado há uma escala de rodízio entre eles. No mínimo uma vez por mês, cada um deles ministra aulas. Os horários das aulas são rígidos quanto ao seu início, porém com certa flexibilidade quando ao término.
Durante a nossa análise 5 professores foram enfáticos que se sentem felizes profissionalmente, porém há um descontentamento com relação ao salário enfatizado pó quatro profissionais. Investigando outras academias, verificamos que o salário na academia analisada é um dos mais baixos do mercado, porém é importante para o currículo dos professores trabalharem na empresa, pois oferece o "status" profissional. No entanto, constatou-se que o currículo e o aprendizado não compensam a defasagem salarial, embora os professores gostem de trabalhar na academia, após determinado tempo, buscam ascensão salarial, o que raramente ocorre.
Outro fator a ser considerado é que a academia não fornece indumentária necessária para o professor, sendo necessário investir parte do salário na aquisição de roupas e calçados adequados para o exercício de sua profissão. Além disso, os workshops de reciclagem do BTS são financiados pelo próprio professor, e estes ocorrem a cada três meses.
Houve reclamação por parte dos professores para que houvesse melhoria dos equipamentos, principalmente bicicletas ergométricas que não estão em bom estado de conservação, podendo atrapalhar o andamento das aulas e para fornecerem mais segurança.
Considerações finaisOs profissionais que trabalham na área de ginástica em academia, estão expostos há cargas físicas e mentais, podendo prejudicar sua saúde.
Os professores demonstram estarem habituados com altos níveis de pressão sonora e não se preocupam com os prejuízos que estes níveis podem causar ao organismo. Nenhum professor mencionou problemas auditivos até o momento.
O professor está exposto direto a fonte sonora e, dependendo do tempo de reverberação da sala fica mais fácil ou mais difícil à compreensão da mensagem falada para os alunos, sendo necessário muitas vezes que o professor eleve a voz durante a aula, tentando competir com a música que está sendo utilizada.
Em relação à saúde vocal três professores já tiveram ou têm algum tipo de comprometimento, sendo a perda da voz no final de semana a principal reclamação, o que por influência do tempo de reverberação pode fazer com que o professor eleve a voz.
Não foram constatados problemas relativos às DORT e LER por parte dos professores. No entanto, com relação ao desgaste físico, mais precisamente ósteo-articulares, seria necessário um período de estudo mais longo, onde houvesse um acompanhamento linear das condições do professor para que estes problemas físicos fossem constatados ou não.
Três professores colocaram que a má conservação dos equipamentos, principalmente as bicicletas ergométricas, pode dificultar o rendimento e o desempenho do professor.
Um problema visível na academia está relacionado à carga psíquica, principalmente relacionada à sobrecarga de aulas. É visível frustrações relacionados a organização do trabalho principalmente relacionados as condições financeiras, que não satisfazem os profissionais que atuam na mesma o que poderá ocasionar distúrbios comportamentais. Todos os profissionais buscam ascensão profissional e independência financeira.
Portanto, a falta de adequação dos fatores ambientais, físicos, econômicos pode acarretar dificuldades para que o professor possa desempenhar suas funções acadêmicas de forma adequada, podendo prejudicar a saúde física ou mental. O ambiente de trabalho deve ser agradável para que a atividade possa ser realizada de forma eficiente.
O Conselho Regional de Educação Física - CREF criado recentemente, começa atuar na regulamentação, cobrança das normas mínimas de funcionamento das diferentes academias, o que com certeza irá melhorar as condições de trabalho dos profissionais que atuam nas academias.
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digital · Año 11 · N° 106 | Buenos Aires,
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