A interferência das primeiras e últimas seis horas do dia nos ritmos circadianos de universitários quanto a performance na execução de provas de força e velocidade | |||
* Especialista em Fisiologia Humana e do Exercício - Unimath / Faculdades Integradas Maria Thereza. Docente da Faculdade de Educ. Física. - FAMERC (RJ). Treinador e consultor em corridas de fundo. ** Mestre em Ciência da Motricidade Humana Docente da Universidade Castelo Branco - Graduação e Pós-Graduação Docente e Coordenador da Faculdade de EF - FAMERC (RJ). |
Davi Lopes* Carlos Torres** davilb@pop.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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1. Os ritmos circadianos
Uma variável que desperta cada vez mais interesse nos profissionais da área de saúde, devido à sua influência direta no desempenho são os ritmos circadianos (RC), que são responsáveis por afetar tanto as reações fisiológicas quanto as habilidades motoras.
De acordo com Reilly & Bangsbo (2000), o RC refere-se a mudanças nas funções biológicas do desempenho humano, os RC são ritmos biológicos que possuem uma freqüência de cerca de um dia, entre 20 a 28 horas (SILVA & SILVÉRIO, 1996). A sua nomenclatura deriva das palavras latinas circa (cerca) e die (dia).
Segundo Morris (2002), o RC é fator influenciador na atividade física tanto a nível fisiológico quanto a nível motor, e pode afetar principalmente a força, a resistência, a velocidade a energia, a coordenação, o ritmo e o tempo de reação. Dependendo do pico do RC no organismo, o indivíduo pode não reagir ao exercício conforme o esperado, por não estar apto fisiologicamente naquele momento devido a algumas alterações na concentração de determinados hormônios no organismo. Além disso, fatores ambientais são capazes de influenciar os RC, como por exemplo, a alternância dia/noite, as rotinas sociais, como o horário de trabalho e o horário da realização de atividade física.
Num trabalho de Reilly, Atkinson & Waterhouse (1997) com a equipe olímpica Britânica de Futebol, após uma viagem de Londres para a Flórida, evidenciou-se durante cinco dias uma diminuição na força dorso-lombar, nos membros inferiores, e no tempo de reação ao exercício.
Ordoñez et al. (2002) realizou um excelente trabalho, no qual se avaliou a influência do RC no desempenho de 13 velocistas. Quando o tempo de realização do exercício foi adiantado como o de costume, houve uma diminuição estatisticamente significante na velocidade dos atletas comparado ao horário habitual de exercício.
Num estudo realizado com ciclistas, que realizaram exercícios moderados sub-máximos a 60% do VO2 de pico por 30 minutos realizados bem cedo pela manhã, (às 7 horas, fora do horário habitual de treino do grupo), foi constatado que o grupo amostra sofreu um acúmulo maior de lactato na musculatura, além de obter uma freqüência cardíaca maior ao realizar o exercício num horário diferente do horário habitual, que era realizado ao meio-dia (EDWARDS et al., 2005).
Como podemos ver, dependendo do pico do RC no organismo, o indivíduo pode não reagir ao exercício conforme o esperado, por não estar apto fisiologicamente naquele momento devido a algumas alterações na concentração de determinados hormônios no organismo.
Segundo Reilly e Bangsbo (2000), a temperatura central e a melatonina (neuro-hormônio produzido pela glândula pineal) são os principais sincronizadores dos RC no corpo humano. A temperatura central no decorrer do dia sofre alterações como demonstra o gráfico abaixo:
Isso reforça a idéia de que um desarranjo no RC interfere negativamente na performance desportiva. Esta interferência pode acontecer através de uma redução da capacidade de rendimento na competição, diminuição da qualidade da resposta às cargas de treino, e aumento do risco de lesões. Desta forma, ao analisarmos as alterações da temperatura central no decorrer do dia, como se comportariam qualidades físicas como a força e a velocidade se realizarmos exercícios físicos no momento em que a temperatura central encontra-se mais baixa ou mais elevada?
2. Objetivo geral do estudo
A pesquisa teve como objetivo verificar a interferência negativa das primeiras e seis horas do dia nos RC em relação a diminuição da força e da velocidade na prática de atividades físicas que dependam dessas valências.
3. Metodologia
Trata-se de um estudo de campo, descritivo. A população utilizada foi de 14 (quatorze) universitários do sexo masculino e feminino da Faculdade Mercúrio (FAMERC), com idades entre 18 e 27 anos.
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um dinamômetro de mão da marca Kratos, capacidade de 1000 kg/f, precisão de 0,5 kg/f, com o objetivo de medir uma possível alteração na força dos membros superiores. Foi utilizada uma corrida de velocidade (teste de 40''), em pista de atletismo, onde os avaliados deveriam percorrer a maior distância possível no tempo previsto. Para mensurar essa variável utilizou-se um cronômetro da marca Technos, modelo Cronus.
A primeira fase de investigação teve início com o teste de preensão máxima (Jhonson e Nelson, 1979 apud Marins e Giannichi, 2003), onde os avaliados realizaram duas tentativas de preensão, utilizando o membro superior dominante, durante trinta segundos. Logo após o teste de preensão era realizado o teste de velocidade de 40" (Matsudo, 1979 apud Marins e Giannichi, 2003). Cada indivíduo da população testada deveria percorrer a distância máxima durante os 40'' de aplicação do teste. Cada indivíduo começou o teste em velocidade máxima. Essa primeira fase da investigação ocorreu às seis horas (AM), onde participou cem por cento da população.
Na segunda fase de investigação realizamos os mesmos testes, porém, às seis horas (PM).
4. Resultados
Ao compararmos os resultados de primeira com a segunda fase dos testes, observamos uma significativa melhora na performance de força de preensão dos acadêmicos no período da tarde. Esses dados tiveram uma correlação de 0,92963.
Também observamos um aumento bastante significativo na distância percorrida pelos acadêmicos no período da tarde, onde obtivemos para essa valência uma correlação de 0,83154.
5. Conclusão
Ao término da pesquisa pudemos constatar que as primeiras horas do dia exercem uma influência bastante negativa na performance de indivíduos que necessitem de maior força ou velocidade para a execução de suas atividades.
Mediante tais resultados obtidos com a presente população, recomendamos que outras pesquisas sejam realizadas, mas agora utilizando-se outras valências, como impulsão, destreza motora, flexibilidade, ação e reação etc. Além disso, outras pesquisas devem ser realizadas com testes mais diretos, tais como, o teste de lactacidemia, o de melatonina (na urina) e o de temperatura retal.
Também gostaríamos de sugerir que as atividades que necessitem de mais força e velocidade na realização de determinadas atividades físicas sejam realizadas ao final da tarde, ou a noite, onde seus rendimentos serão bastante significativos.
Referências bibliográficas
MARINS, J.C.B. & GIANNICHI, R.S. Avaliação e Prescrição de Atividade Física - Guia Prático. Rio de Janeiro, RJ: Shape Editora, 3ª ed, 2003.
MORRIS, Rick. Chronobiology - timing your workout. 2002. Disponível em http://www.runningplanet.com. Acesso em: 19 set, 2005.
ORDOÑEZ, F.J.; ROSETY-RODRÍGUEZ, M.; ROSETY, M.; GOMÉZ DEL VALLE, M.; DIAZ ORDOÑEZ, A.; ROSETY, J.M.& FORNIELES-GONZALEZ, G.. Valoração da influência dos ritmos circadianos no rendimento desportivo de velocistas. Revista Brasileira Ciência e Movimento. Brasília V.10 nº4. p. 77-80.Out, 2002.
REILLY, T.; ATKINSON, G. & WATERHOUSE, J. Travel fatigue and jet-lag. Journal of Sports Sciences, 15: 365-369, 1997.
REILLY, T. & BANGSBO J. O treinamento das capacidades aeróbia e anaeróbia. (2000) in Treinamento no esporte: aplicando ciência no treinamento. ELLIOT, Bruce & MESTER, Joaquim. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2000.
SILVA, C. & SILVÉRIO, J. Síndrome do "Jet Lag" e rendimento desportivo: Uma abordagem psicofisiológica. In Cruz, J. (Eds), Manual de Psicologia do Desporto: 481-502. SHO (Sistemas Humanos e Organizacionais). Braga, 1996.
EDWARDS, B.J.; EDWARDS, W.; WATERHOUSE, J.; ATKINSON, G. & REILLY, T. Can Cycling Performance in an Early Morning, Laboratory-Based Cycle Time-Trial be Improved by Morning Exercise the Day Before?. International Journal of Sports Medicine. Oct; 26(8):651-6, 2005.
revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |