Riscos e benefícios relacionados à prática do handebol |
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*Graduada em Educação Física e Membro do Grupo de Estudos de Educação Física Escolar do UNIFIEO, Osasco, São Paulo. **Graduada em Ed. Física e Pedagogia, Mestre e Doutora em Educação, pesquisadora da Universidade São Judas Tadeu e Coordenadora do Grupo de Estudos de Educação Física Escolar do UNIFIEO, Osasco, São Paulo. |
Ana Paula Birelli Kasteckas* handebol_ana@ig.com.br Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva** sheila.silva@uol.com.br (Brasil) |
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Parte deste trabalho foi apresentado na forma de apresentação oral em |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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Introdução
As aulas de Educação Física têm sido contestadas nos últimos anos com relação à sua eficiência e real utilidade no dia a dia do ser humano. Muitos conteúdos já passaram pelo seu currículo e até hoje não se sabe ao certo o que o aluno deve saber, saber fazer e qual a utilidade do que é aprendido para o cotidiano.
De acordo com BETTI (1991)3, na década de 70, o esporte passou a ser o conteúdo principal das aulas de Educação Física, considerando-o como:
"(...) um dos mais valiosos elementos de apoio à formação do homem e de coesão nacional e social (...) um dos instrumentos utilizados pelo estado e pela comunidade para a solução de problemas atuais, gerados pela moderna sociedade industrial(...)" (Brasil, MEC, 1976).
Nesta Educação Física, somente os mais dotados é que teriam oportunidade de demonstrar seus talentos, treinar suas habilidades e capacidades e assim demonstrarem sua superioridade, em serem mais rápidos, fortes e altos. Aos menos capazes seriam deixados em segundo plano como se não lhe fosse dado o direito de valerem-se dos benefícios da Educação Física (Taffarel, 1985 apud Caparroz, 1997)4.
Mas Santin (1984 apud Caparroz, 1997)4 coloca que a Educação Física dirigida para a prática esportiva, não significa necessariamente que seja dirigida para o bem estar ou o equilíbrio orgânico do indivíduo. Levando-se em conta o que foi mencionado acima, percebe-se a desvinculação da verdadeira educação para o homem, como espera-se do ambiente escolar. Juntamente a esta visão Ferreira (1984 apud Caparroz, 1997)4 define que a concepção da Educação Física Escolar deveria se encarregar da formação da atitude do educando, ajudando-o a se conhecer, a se dominar, a se relacionar e a buscar autonomia pessoal completando sua educação geral por meio de atividades físicas, mas atualmente, a esportivização da Educação Física ainda ocorre.
Durante meu processo de Educação Básica e Ensino Médio, vivenciei esta "esportivização" da Educação Física. Hoje posso afirmar que sou apaixonada pelo Handebol, talvez porque tenha sido o primeiro esporte que aprendi.
Nos dias de hoje embora seja um dos esportes mais praticados entre os adolescentes de escolas públicas paulistanas considerando a somatória de praticantes do sexo feminino e masculino, nos parece que seus adeptos vêm diminuindo com o passar dos anos e muitas crianças às vezes, acabam por nem saberem o que é o handebol. O problema está exatamente aí, porque isso acontece? Quais são as causas que fazem com que seus praticantes abandonem a prática? Além disso, o que ela me traz de bom ou de ruim?
Minha vivência no esporte fez com que me interessasse pela prática de atividade física melhorando minha saúde, aumentando meu controle motor o que propiciou que eu pudesse ajustá-lo a novas práticas lúdicas ou esportivas, aumentou o número de minhas amizades e até melhorou meu relacionamento com os demais, permitiu que eu conhecesse ídolos do esporte e outras cidades durante os campeonatos.
Acreditamos que, no mundo da escola, o handebol possa trazer esta contribuição, preferencialmente sendo tratado de forma lúdica, inclusiva e menos competitiva e especializada. Além do período escolar, pensamos naquelas pessoas que, por gostarem da modalidade, preferem dar continuidade à sua prática buscando especialização e alto nível.
Na tentativa de evoluir no conhecimento a respeito do esporte e sobre suas características educacionais, me propus a estudar quais são os riscos e benefícios que sua prática pode proporcionar ao indivíduo como um todo visando, com este conhecimento, contribuir para o aumento de seus adeptos. Em outras palavras, os benefícios e riscos decorrentes da prática serão assinalados neste trabalho para tentarmos conhecer até que ponto os benefícios são superiores aos riscos quando falamos de aprendizagem e rendimento.
DesenvolvimentoO estudo constou de uma revisão bibliográfica que abrangeu livros e artigos do acervo da Biblioteca do Centro Universitário UNIFIEO que continham textos referentes ao problema em questão no idioma português, o site da BIREME com periódicos em inglês e português que incluíam pesquisas de diversos países, artigos em português do acervo CELAFISCS, a Base de Dados Pró-quest do UNIFIEO e a Revista Lecturas: Educación Física y Deportes, acessível no endereço: http://www.efdeportes.com, de onde extraímos artigos em português e em espanhol.
Os dados da revisão bibliográfica foram submetidos à análise de conteúdo, destacando o que nestes pudermos encontrar sobre os benefícios e riscos da prática do handebol tanto em nível escolar como no alto nível. Para melhor analisarmos os dados levantados, criamos, apriorísticamente categorias de análise construídas com base em GALLAHUE et al. (2001)11, Grande Enciclopédia LAROUSSE13 e MICHAELIS15, comuns tanto para os riscos como para os benefícios, que são as seguintes: físico, motor, técnico, afetivo, sócio-cultural e cognitivo.
Após o levantamento bibliográfico, como risco afetivo/psicológico encontramos o estresse, que pode ser causado por: jogar em más condições físicas, a arbitragem estar prejudicando a equipe, ser excluído em momentos decisivos do jogo, a responsabilidade, a ambição e a pressão do tempo (De Rose Jr. et al., 1994 e 1996).
Os riscos físicos serão apresentados no formato de quadros com os respectivos autores que mencionaram os riscos.
Em relação aos riscos físicos na articulação do ombro, gleno umeral e escapulo umeral encontramos Broussin (1977, Ayres et al., in Gonçalves et al., 1997)2, Eitner et al. (1984, apud Ayres et al., in Gonçalves et al., 1997)2, Massada (1987)14, Ayres et al. (1997)2, Pieper (1998)17, Koch et al. (1999), Sarraf et al. (2002) e Seil et al. (1998, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1.
Em relação aos riscos físicos na articulação do cotovelo encontramos Eitner et al. (1984, apud Ayres et al., in Gonçalves, 1997)2, Castro (in Horta, 1995)5, Ayres et al. (1997)2, Pieper (1998)17, Ferrara et al. (1999)9, Popovic et al. (2001)18, Rise et al. (2001)19, Seil et al. (1998, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1 e De Loës et al. (2000)7.
Em relação aos riscos físicos na articulação dos dedos e mão encontramos Castro (in Horta, 1995)5, Ayres et al. (1997)2, Seil et al. (1998, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Dirx et al. (1992, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Yde & Nielsen (1990, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1 e Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1.
Em relação aos riscos físicos na articulação do tronco e lombar encontramos Mota et al. (1992)16, Sarraf et al. (2002)20, Seil et all (1998, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Dirx et all (1992, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Yde & Nielsen (1990, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)11 e Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1.
Em relação aos riscos físicos na articulação do joelho e da tíbia com o tarso encontramos Massada (1987)14, Castro (in Horta, 1995)5, Ayres et al. (1997)2, Scavenius et al. (1999)21, Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1 e De Loës et al. (2000)7.
Em relação aos riscos físicos na articulação do quadril encontramos Sarraf et al. (2002)20.
Em relação aos riscos físicos na articulação do tornozelo encontramos Massada (1987)14, Mota et al. (1992)16, Ayres et al. (1997)2 e Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1.
Em relação aos riscos físicos como distenções, rupturas e câimbras em músculos encontramos Eitner et al. (1984, apud Ayres et al., in Gonçalves et al., 1997)2 e De Rose Júnior et al. (1996)8.
Em relação aos riscos físicos em músculos e ossos encontramos De Rose Júnior et al. (1996)8, Ayres et al. (1997)2, Ferrara et al. (1999)9, Steinbrück (1999)25, Daher (2002)6, Seil et al. (1998, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Yde & Nielsen (1990, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Lindblat et al. (1992, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1, Wedderkopp et al. (1997, apud Alloza et al., in Cohen et al., 2003)1 e Alloza et al. (in Cohen et al., 2003)1.
Além dos riscos, os benefícios também puderam ser encontrados nas bibliografias.
Dentro dos benefícios físicos citados por Belésia (sd, apud Ayres et al., in Gonçalves et al., 1997)2, Marin (1981, apud Shigunov et al., 1993)22, Shigunov et al. (1993)22, Gorostiaga et al. (1999)12 e Silva (2000)23 encontram a melhora nas capacidades condicionais desenvolvimento da correção postural, desenvolvimento da musculatura dos membros do tronco e braços, desenvolvimento da resistência de força rápida, poder ser um fator de gasto de energia e possuir um alto valor educativo.
Como benefício motor, os autores Mariot et al. (1989, apud Shigunov et al., 1993)22, Gorostiaga et al. (1999)12 e Fonseca (2002)10 colocam que pode desenvolver as habilidades que envolvem a prática da modalidade e apresenta possibilidades de diminuir as diferenças técnicas entre seus praticantes, além do desenvolvimento da força explosiva e da agilidade.
Nos Benefícios sócio-culturais citados por Marin (1981, apud Shigunov et al., 1993)22, Barata (1982, apud Shigunov et al., 1993)22, Fiorese (1989, apud Shigunov et al., 1993)22, Shigunov et al. (1993)22, Simões et al. (1998)24 e Silva (2000)23 encontram a diminuição do egocentrismo, a formação de novos grupos de amigos, a integração social e poder ser utilizado para prevenir e compensar o negativismo da vida moderna, além de ser o esporte que mais atende aos interesses do adolescente.
Como benefício afetivo/psicológico, encontramos que o handebol tem alto valor educativo e promove o desenvolvimento da iniciativa, da disponibilidade e da vontade da criança em melhorar as capacidades de resolver os problemas que foram citados por Belésia (sd, apud Ayres et al., in Gonçalves et al., 1997)2 e Shigunov et al. (1993)22.
Como benefícios cognitivos citados por Shigunov et al. (1993)22, encontramos a menção à rápida compreensão e agilidade na interpretação para subseqüente ação motora, e cognitivamente, as combinações lógicas e criativas.
ConclusãoLevando-se em consideração as categorias de análise, os benefícios foram menos citados do que os riscos. Além disso, o que pudemos encontrar nos riscos não são acontecimentos que impossibilite a prática do handebol depois de uma determinada contusão, por exemplo. Avanços médicos têm minimizado o tempo de recuperação para a maioria das lesões e meios de prevenção também estão sendo estudados, minimizando assim as chances de ocorrência e gravidade.
Em relação aos riscos que não os físicos, eles podem ser remediados com boa preparação dos atletas em termos psicológicos, afetivos, motor, técnico e cognitivo, e pela qualificação adequada de um profissional para trabalhar com equipes de treinamento ou escolar que tenha a visão do todo do ser humano e não só de um robô que deve obedecer a regras e executar tarefas. Então, acreditamos que estes riscos não são tão graves a ponto de contra indicar a prática esportiva como parte da cultura corporal humana.
Os benefícios físicos podem além de melhorar a performance do indivíduo dentro de quadra possibilitar que este tenha também um melhor desenvolvimento físico fora dela, que o auxiliará nas atividades diárias e na saúde, podendo inclusive diminuir a incidência dos riscos, sendo mais duradouros mesmo depois do término da prática.
Os demais benefícios também ajudaram o relacionamento da criança/adolescente na equipe esportiva, na escola, em casa e na sociedade como um todo, uma vez que trabalhado adequadamente, o handebol poderá auxiliar no desenvolvimento afetivo, psicológico, social, cultural e cognitivo, além do físico, transformando este indivíduo num ser mais sociável, atuante e crítico na sociedade.
Esperamos que mais estudos sejam realizados buscando contribuir com mais informações sobre esta prática e, acreditamos ter conseguido trazer referências para os praticantes ou futuros praticantes do handebol decidirem ou não praticar a modalidade esportiva, seja em alto nível como em momentos de lazer, com a intenção de melhor informá-los sobre os riscos a que poderiam correr e até os benefícios que viram a ter através desta prática.
AgredecimentosAgradeço ao apoio oferecido pela UNIFIEO através da bolsa de estudos da Iniciação Científica concedida em 2003. A Prof. Dra. Sheila Ap. P. dos S. Silva que acreditou no meu potencial, e a todos os meus familiares e amigos que me incentivaram e apoiaram durante toda a elaboração deste trabalho.
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revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |