Assimetrias de circunferências musculares e de percentual de gordura entre os lados dominante e não-dominante de judocas | |||
*Acadêmicas de Educação Física. **Orientadora. Profa. Dra. do Departamento de Educação Física. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. (Brasil) |
Daniele Detanico* danieledetanico@gmail.com Francimara Budal Arins* fran@desenvolver.net Saray Giovana dos Santos** saray@cds.ufsc.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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Introdução
Tendo em vista que a maioria das modalidades esportivas são praticadas de forma unilateral e, ainda, sendo o corpo humano assimétrico, com o tempo de prática essas assimetrias tendem a acentuar-se. Por outro lado, existem modalidades esportivas que têm características de prática bilateral, a exemplo judô, natação, handebol, entre outras. Especificamente no judô, a prática que deveria ser simétrica, isto é, bilateral, não é efetivamente praticada por judocas, como mostrou o estudo de Santos (1993), caracterizando a mesma com atividades específicas de trabalho unilateral.
A prática sistemática do judô por um tempo prolongado utilizando apenas no lado dominante pode acarretar desequilíbrios musculares, que por conseqüência afetam negativamente o desenvolvimento postural dos seus praticantes, visto que alguns estudos já comprovaram tal acometimento (SANTOS, 1993; PIEMONTEZ et al., 2005).
Nesse sentido, tendo em vista a importância do levantamento do tipo de prática (unilateral ou bilateral) efetuada por judocas para prevenção de desvios posturais é que se realizou este estudo com o objetivo geral de analisar as assimetrias de circunferências musculares e assimetrias do percentual de gordura em praticantes do judô. Mais especificamente, objetivou-se identificar o número de assimetrias musculares nas circunferências nos segmentos braço, coxa e semi-perímetro torácico e a diferença do percentual de gordura obtido entre o lado dominante e não-dominante apresentadas pelos judocas; comparar as circunferências musculares e o percentual de gordura de diversos segmentos corporais entre os lados dominante e não-dominante.
Na busca da verdade para o estudo delimitaram-se as seguintes hipóteses: H1 - os judocas apresentam os segmentos do lado dominante mais hipertrofiado que o lado não-dominante; H2 - o lado dominante dos judocas apresenta menor percentual de gordura que o lado não-dominante.
Materiais e métodosParticiparam deste estudo descritivo do tipo diagnóstico, 27 judocas do sexo masculino, escolhidos intencionalmente, pois deveriam ter no mínimo dois anos de prática, participantes de três centros de treinamento de judô da cidade de Florianópolis.
Os instrumentos de medida utilizados foram uma fita métrica com precisão de 1mm e um adipômetro da marca CESCORF. Foram mensuradas as circunferências musculares de braço, coxa e semi-perímetro torácico e as dobras cutâneas de tríceps, subescapular, supraíliaca e panturrilha medial nos lados dominante e não-dominante.
A coleta de dados foi realizada nos locais de prática, agendado antecipadamente, após a assinatura do consentimento orientado, exigido pelo Comitê de Ética da UFSC. Estando os sujeitos com calção de banho, as medidas foram realizadas com demarcação dos pontos anatômicos de referência em ambos os lados com caneta demográfica.
Para o cálculo da densidade corporal foi utilizada a equação de Petroski e o percentual de gordura foi calculado a partir da equação de Siri. Para análise estatística dos dados utilizaram-se técnicas de estatística descritiva em termos de média, desvio-padrão, mínimo, máximo e estatística não-paramétrica com utilização do teste "t" de Student para dados pareados, com probabilidade de 0,05.
Resultados e discussãoDos 27 judocas participantes do estudo, no quadro abaixo estão contidos as características gerais dos mesmos, no que concerne idade, tempo de prática e graduação.
De acordo com o Quadro 1 observa-se que os atletas de judô apresentaram média de idade de 22,5±6,25 anos e média de tempo de prática de 11,8±5,21 anos. De acordo com a graduação, cinco apresentaram-se com o 2º kyu (faixa roxa), 16 com o 1º kyu (faixa marrom) e seis 1º Dan (faixa preta).
Atendendo ao primeiro objetivo específico do estudo, verificou-se o número de assimetrias nas circunferências dos segmentos corporais: braço, coxa e semi-perímetro torácico, conforme apresentados no Quadro 2.
De acordo com o quadro acima, pode-se observar que grande parte dos judocas analisados possui assimetrias nas circunferências musculares, sendo que 21 possuem assimetria de circunferência de braço, 23 de circunferência de coxa e 23 de circunferência de semi-perímetro torácico. No total, os 27 judocas analisados possuem 67 assimetrias musculares nos segmentos corporais.
Mesmo sendo o Judô um esporte que deveria ser praticado bilateralmente, assim como todos deveriam, estudos reforçam os dados aqui obtidos, a exemplo de Melo et al. (1992), ao estudarem judocas paranaenses, encontraram diferenças significativas entre a perimetria dos membros superiores, membros inferiores e hemi-tronco entre os lados dominante e não-dominante.
Em outras modalidades, Araújo et al. (2004) também encontraram diferenças entra as circunferências de braços e antebraços direito e esquerdo de atletas da Seleção Brasileira de Tênis de Mesa. Da mesma forma, Silva e Milani (2004), analisando a força de prensão manual nos lados dominante e não-dominante em jogadores de voleibol, encontraram diferenças em ambos os lados, concluindo que estas podem interferir no rendimento final do atleta durante uma partida.
Com relação ao percentual de gordura obtido das medidas do lado dominante e não-dominante, os resultados obtidos estão apresentados no Quadro 3.
Observando o Quadro 3, verifica-se que o lado dominante apresenta percentual de gordura menor que o lado não-dominante, o que ratifica que o treinamento de forma geral está sendo mais exigido do lado dominante do atleta.
Os dados obtidos tanto em termos de circunferência quanto em percentual de gordura afirmam que a prática do Judô, para esse grupo, não está sendo exigida de forma bilateral. Esse fato pode ser justificado por diferentes variáveis que não foram controladas neste estudo, porém certamente a mais apropriada é o estigma que judocas têm sobre a prática bilateral, ou seja, consideram perda de tempo treinar o lado não-dominante (SANTOS et al., 1990).
O segundo objetivo específico foi de comparar as circunferências musculares e o percentual de gordura dos segmentos corporais entre o lado dominante e não-dominante. Para tal utilizou-se o teste "t" de Student com nível de significância de 0,05, cujos resultados estão demonstrados na Tabela 1.
No que se refere à comparação das circunferências musculares dos segmentos corporais de braço, coxa e semi-perímetro torácico entre os lados dominantes e não-dominantes, mediante a aplicação do teste "t" de Student para amostra dependente, rejeita-se a hipótese nula, encontrando-se diferença significativa para todas as variáveis, ou seja, os judocas apresentam os segmentos do lado dominante mais hipertrofiado que o lado não-dominante. Da mesma forma, no percentual de gordura rejeita-se a hipótese nula, ou seja, o lado dominante dos judocas apresentou menor percentual de gordura que o lado não-dominante.
Tais achados comprovam a hipótese de que os judocas trabalham sistematicamente de forma unilateral. Esse tipo de prática pode resultar lesões específicas em curto prazo, lesões do tipo repetitiva com desgastes osteomioarticulares em médio prazo e problemas posturais ratificados em longo prazo. Santos (1993) detectou em seu estudo realizado com judocas com média de idade de 24,8±7,9 anos e tempo de prática de 14,1±6,5 anos, desvios posturais principalmente em termos de escoliose, resultante dos anos consecutivos de prática unilateral. Outro estudo realizado com judocas encontrou maior crescimento ósseo-muscular no lado dominante (PIEMONTEZ et al., 2005).
A prática específica e suas seqüelas, também já foi apresentada em um trabalho realizado por Silva (1989) o qual detectou encurtamento de antebraço no lado dominante em função da exigência unilateral da técnica de preferência - Morote-Seoi-Nague.
Em outras modalidades, encontraram-se resultados semelhantes no que se refere aos desvios posturais decorrente da prática sistemática unilateral. A exemplo, Neto Jr. et al. (2004) encontraram alterações posturais em atletas que participavam de provas de potência muscular, decorrentes de desequilíbrios musculares; e Dezan et al. (2004) verificaram alta ocorrência de dores lombares, provavelmente relacionadas à exigência da modalidade e desequilibro muscular, em atletas de luta olímpica.
ConclusõesCom base nos resultados obtidos e respeitando os pressupostos teóricos pesquisados, conclui-se que:
todos os judocas participantes deste estudo apresentaram assimetria muscular;
as circunferências de braço, coxa e semi-perímetro torácico foram significativamente maiores no lado dominante;
o percentual de gordura foi significativamente menor no lado dominante.
Os resultados permitem alertar ao grupo de judocas para a efetivação de uma prática bilateral com o intuito de prevenção de futuros desvios posturais.
Referências bibliográficas
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NETO Jr., J; PASTRE, C.M.; MONTEIRO, H.L. Alterações posturais em atletas brasileiros do sexo masculino que participaram de provas de potência muscular em competições internacionais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.10, n.3, maio/junho, 2004, p.195-198.
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digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
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