O vôo livre no Rio de Janeiro: uma visão panorâmica | |||
UFRJ* UFF** (Brasil) |
Cleber Augusto Gonçalves Dias* cag.dias@bol.com.br Edmundo de Drummond Alves Júnior** drummond@bighost.com.br |
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Artigo apresentado e publicado In: Congresso de Engenharia |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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"Quando você tiver provado a sensação de voar,
andará na terra com os olhos voltados para o céu,
onde esteve e para onde desejará voltar".
Leonardo da Vinci
1. Introdução
A atual configuração do sistema econômico mundial, compreendido como capitalismo tardio, apresenta-nos o lazer e toda uma indústria do entretenimento que gravita ao seu redor, como um dos segmentos mais promissores do mercado de serviços. Pode-se afirmar que no estágio atual, o lazer e o turismo - que se diga a tempo, destaca-se como uma das motivações mais significativas para as práticas de lazer - são os setores mais dinâmicos da economia.
Estima-se que o turismo gera 655 bilhões de dólares em receitas de impostos. Do produto nacional bruto de todo o mundo, 10,2% é produzido pelo turismo. As expectativas de crescimento no setor estão na ordem de 6,1% ao ano; 23% a mais do que a previsão de crescimento do restante da economia mundial. Em todo o mundo, existam aproximadamente 204 milhões de pessoas empregadas nesse setor, o que equivale a 10,6% da força de trabalho global (VILLAVERDE, 2003).
Diante desse notável quadro de crescente expansão, o Brasil apresenta-se como uma das regiões com maior potencialidades de desenvolvimento no setor. Isso porque possui, reconhecidamente, algumas características que o colocam em uma posição privilegiada. Dentre essas características, menciona-se a exuberante beleza natural de seu território e o já consolidado imaginário popular sobre seu povo, sempre cordial e notavelmente hospitaleiro.
Não por acaso, os investimentos nacionais no setor não param de crescer. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Turismo, a EMBRATUR, os investimentos privados em novos projetos turísticos nos últimos anos somaram US$ 6 bilhões, gerando 140 mil empregos diretos e 420 mil indiretos. Ao mesmo tempo e paradoxalmente, estima-se que apenas 20% do potencial turístico do país são aproveitados (WERNECK, STOPPA E ISAYAMA, 2001).
Contudo, esses elementos "potenciais" podem se tornar ainda mais notáveis se levarmos em consideração um promissor e recente ramo do turismo que se encontra em fase de franca expansão e que envolve parcelas cada vez mais amplas da sociedade: o ecoturismo.
O ecoturismo faz parte de um processo de ampliação no número de segmentos do mercado turístico que pode ser atribuído a tendência de superespecialização observada no setor. A principal peculiaridade desse processo é, fundamentalmente, a adjetivação das práticas turísticas tradicionais, criando assim, novas modalidades: turismo ecológico, turismo religioso, turismo cultural, turismo rural, turismo esportivo e etc.
A disseminação do turismo ecológico está ligada ao consumo de conteúdos simbólicos da natureza. Com a emergência do ecologismo como um movimento social organizado - um fenômeno observável a partir do final da década de 1960 - todas as questões ligadas ao meio ambiente entraram, definitivamente, na pauta política "oficial".
Com isso, a questão ecológica passou a integrar discussões de áreas diversificadas. No turismo, esse impacto pode ser percebido exatamente através da vertiginosa expansão do turismo ecológico, que segundo Mascarenhas (2003) "é o segmento de mais rápido crescimento no mercado internacional de turismo" (p. 75).
A expansão desse tipo específico de turismo está organicamente associada ao processo social de hiper valorização do discurso ecológico. Este último, por sua vez, foi fortemente promovido pela espetacularização da latente e onipresente tragédia ambiental, através dos típicos mecanismos sensacionalistas da mídia (GRÜN, 1996). Esse processo, aliado ao intenso trabalho das entidades ambientalistas, elevou as questões ecológicas ao patamar de grave problema social, criando uma representação coletiva de apego e preocupação com a natureza que se manifesta no desejo generalizado de estar junto à natureza.
Isso explica, em alguma medida, esse súbito interesse em estar próximo à natureza que, por conseguinte, aumenta a demanda do turismo ecológico. Soma-se a isso, um outro processo, talvez ainda mais recente e que diz respeito à injunção do já rentável mercado ecoturístico ao jovem e não menos promissor mercado de aventura esportiva.
Essa injunção se expressa sobremaneira nas práticas esportivas na natureza; os esportes na natureza. A necessidade de uma geografia acidentada para sua prática e um imaginário ricamente permeado pelo risco, aventura e incerteza, cria nesses esportes, uma pré-disposição intrínseca para viagens rumo ao desconhecido. Esses esportes são, em si mesmo, um convite ao turismo.
As empresas ligadas ao segmento dos esportes na natureza tentam, a todo o custo, se aproveitar dessas representações de viagem, risco, aventura e natureza. Recentemente, uma empresa ligada à fabricação de equipamentos para o surfe, a "Mormaii", inaugurou uma campanha publicitária que consiste na organização de uma expedição que, de acordo com os dizeres da propaganda, "viaja para as mais diversas regiões em busca de condições para que os nossos atletas possam interagir com a natureza na sua forma mais intensa, testando seus limites e [evidentemente] nossos produtos" (FLUIR, 2005, p. 14). Os objetivos das novas linhas de produto explicitados na mesma propaganda também ilustram bem essa apropriação quando dizem: "para melhor interagir com o planeta a 'Mormaii' lançou uma nova e revolucionária linha de sandálias" (ibid.).
As características dessas práticas esportivas permitem a justaposição e congregação de três rentáveis símbolos de consumo: o ecológico, o turístico e o esportivo. A justaposição entre esporte e turismo, e ainda mais especificamente entre os esportes na natureza e o ecoturismo, pode permitir um considerável incremento na economia desses segmentos.
Nos Estados Unidos, ¼ de toda a receita turística já é gerada pelo esporte. No Brasil se estima que os esportes na natureza atinjam 500 mil praticantes e 5 mil empresas, gerando 30 mil empregos no setor eco-turístico (MASCARENHAS, 2003), cujo crescimento do número de praticantes chega a atingir mais de 20% ao ano (VEJA, 2003).
A relação de complementariedade entre esporte e práticas turísticas não é um fenômeno recente. Turismo e esporte se interligam historicamente desde o surgimento dos esportes de inverno nos Alpes, início do século XX. Mas o turismo esportivo como uma entidade em si mesma apenas emerge nos anos 1950. O termo turismo esportivo, por sua vez, aparece finalmente em meados da década de 1970. Mais recente ainda é a articulação entre ecoturismo e aventura esportiva, provavelmente um fenômeno que adquire evidência somente nos anos de 1990 (MASCARENHAS, 2003, p. 81).
O fato é que o crescimento dos esportes na natureza - ainda mais quando consideramos sua relação com o turismo ecológico - está vinculado as recentes aspirações de preservação e retorno à natureza. Ambos os setores - turismo ecológico e esportes na natureza - parecem estar atrelados as recentes fórmulas ambientalistas expressas nos discursos de desenvolvimento sustentável.
Tamanho crescimento lança-nos alguns desafios, entre os quais, o de investigar as condições sociais que tornaram possível o surgimento de instituições ligadas às práticas e consumos de esportes na natureza. É com esse objetivo que gostaríamos de nos deter no estudo de um caso muito particular: o desenvolvimento do vôo livre na cidade do Rio de Janeiro.
Nosso propósito é reconhecer, localizar e avaliar as formas de organização dessas atividades na cidade. Trata-se de realizar um mapeamento dos agentes envolvidos e dos lugares utilizados na dinâmica cotidiana desses esportes, pois "somente compreendendo a organização e a dinâmica territorial dos esportes de aventura é que podemos iniciar com agentes e lugares um debate no sentido de avaliar os possíveis impactos de cada atividade" (MASCARENHAS, 2003, p. 95).
2. O vôo livre no Rio de Janeiro
O vôo livre é um esporte aeronáutico ou um aerodesporto, que compreende duas modalidades: a asa delta e o pára-pente. Essas atividades começaram a se desenvolver na cidade do Rio de Janeiro desde os meados de 1974. Tudo indica que foi o Rio de Janeiro o porto de entrada para esses esportes no Brasil, apesar da ausência de estudos históricos que o demonstrem com mais precisão.
No Brasil conta-se aproximadamente 180 pontos de salto espalhados por todo o país. Na cidade do Rio de Janeiro, existe somente um ponto, que é a rampa da Pedra Bonita, também conhecida como rampa de São Conrado. Esta rampa está sob a tutela da Associação Brasileira de Vôo Livre (ABVL), cuja sede está localizada exatamente no único ponto da cidade autorizado a receber pousos: o trecho final da praia de São Conrado. Todos os espaços de vôo, assim como as áreas de decolagem e pouso, são espaços aéreos condicionados e cadastrados pelo Serviço Regional de Aviação Civil (SERAC).
Para se ter à autorização para o uso da rampa é preciso, entre outras coisas, estar associado a uma associação de vôo livre. Em todo o Estado do Rio de Janeiro, existem 3 associações ativas: o clube oceânico de vôo livre com sede em Niterói, o clube calidônia de vôo livre com sede em Friburgo e o PPC com sede em Petrópolis. Todas estas associações estão ligadas a Associação de Vôo Livre do Rio de Janeiro (AVLRJ), que por sua vez, está ligada a ABVL.
A ABVL está associada ao aeroclube do Brasil. E o vôo livre, de uma maneira geral, está submetido às regulamentações do Departamento de Aviação Civil (DAC) através do "regulamento brasileiro de homologação aeronáutica número 104". Todo o praticante de vôo livre, portanto, tem uma habilitação emitida pelo próprio DAC, que o autoriza, oficialmente, a praticar o esporte.
Estas autorizações estão subdivididas em seis níveis: I (aluno), II (novato), III (intermediário), IV (avançado), V (máster) e instrutor. Logo, para se ter essa autorização, o praticante interessado deverá passar por um curso, oferecido por instrutores devidamente habilitados pelo DAC e credenciados junto a ABVL. No Rio de Janeiro, contabiliza-se um total de 36 instrutores credenciados, sendo 13 de asa delta e 23 de pára-pente.
Como o acesso à rampa de São Conrado está condicionado a filiação a uma associação de vôo livre, além da já mencionada autorização emitida pelo DAC, podemos estabelecer com alguma precisão o número de praticantes. Segundo dados da AVLRJ, atualmente contabiliza-se aproximadamente 1500 filiados. E como este é o único órgão associativo com sede na capital, podemos afirmar que estes números representam a totalidade de praticantes do esporte na cidade.
É um número bem expressivo, ainda mais se considerarmos os altos custos dos equipamentos necessários a essas atividades. O preço desses equipamentos é realmente muito elevado. Uma asa delta custa em média US$ 8.000 enquanto que os equipamentos básicos para pára-pente estão orçados na faixa dos US$ 3.000. Sem mencionar a despesa da mensalidade da associação, fixada em R$ 30, e os custos do curso e a própria manutenção dos equipamentos.
O investimento inicial é tão grande, que muitos o encaram como um empreendimento empresarial. E nesse caso, trata-se de um empreendimento altamente rentável, haja vista que em períodos de alta temporada, alguns instrutores que fazem os vôos duplos, chegam a faturar R$20.000 em apenas um mês. Do total de vôos da rampa de salto da cidade, aproximadamente 80% são de vôos duplos.
A movimentação de consideráveis quantias em dinheiro tem atraído a atenção de vários segmentos da sociedade, onde se destaca o turístico. Somente a rampa de São Conrado, teve de até os dias de hoje, mais de 20.000 vôos duplos computados. Estes números a colocam como uma das rampas mais utilizadas para vôos duplos do mundo.
Em outras palavras, observa-se no vôo livre uma crescente mercantilização. O impulso a esse processo é dado pelo crescimento do setor ecoturístico brasileiro. As condições climáticas, favoráveis praticamente o ano inteiro, também colaboram para esse sucesso.
Interessante destacar que a realização de vôo livre com caráter comercial é proibida. Contudo, a lei prevê a realização de vôos duplos para instrução. Logo, todos os vôos duplos que se realizam são, para efeitos legais, vôos de instrução. Provavelmente por isso, todas as operadoras de turismo que oferecem essas atividades, não possuem nenhum vínculo direto com as associações. O único controle que esta tem sobre as operadoras é através da fiscalização dos "instrutores" (associados com autorização para vôos duplos), não tendo sequer uma listagem das agências de turismo que operam na rampa de salto.
Mas segundo dados da Secretaria de Turismo, 14 empresas na cidade operam especificamente com o oferecimento do vôo livre como atividade turística: "hang gliding tour", "come to tandem flight in Rio", "fly with me", "Rio tandem fly", "sky center rio", "superfly", "fly carpe diem", "gavea sky walkears", "dfly", "bom vôo", "paraglide in Rio", "voo duplo", "go up brazil" e "adrenalina adventures".
Mas o crescimento dessas atividades não serve apenas ao desenvolvimento econômico. Nota-se que esse processo também vai atraindo novos adeptos que buscam nesses esportes um suporte para suas vivências de lazer. Observa-se um progressivo aumento do número de saltos registrados na cidade, na ordem de 20% ao ano.
A difusão desses esportes pode ser atribuída ao aumento da qualidade dos equipamentos produzidos no país, que além de aumentarem a segurança e durabilidade do material, permitem algumas facilidades na sua aquisição, a começar pelo barateamento dos preços e facilidades na forma de pagamento que inclui aí financiamentos e parcelamentos.
Não existem lojas de venda desses equipamentos. Para se adquirir uma asa delta ou um pára-pente, é preciso compra-los diretamente do fabricante. No Brasil existe apenas uma fábrica, localizada em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. A qualidade dos equipamentos produzidos nesta fábrica é tamanha que 70 % de sua produção já é destinada à exportação e ela é tida como a 5º maior fábrica de equipamentos de vôo livre do mundo.
Mas é no aumento da segurança que reside uma dos fatores mais relevantes desse processo de melhoria na qualidade na fabricação dos equipamentos. Isso porque a segurança parece-nos uma das preocupações centrais na prática de vôo livre, não só para o incremento das suas atividades no âmbito turístico como também para a ampliação do seu nível de difusão como suporte de lazer.
Nesse sentido, destacamos as regras de segurança implementadas pela ABVL para o uso da rampa de São Conrado. Instituiu-se um procedimento de fiscalização que compreende uma vistoria semestral dos equipamentos de vôo livre. Esta vistoria consiste em uma minuciosa checagem de todos os itens diretamente ligados a segurança do praticante que compreende uma lista com mais de 15 itens.
É grande o nível de sofisticação dessa vistoria. Recentemente a associação inaugurou atrás de sua sede, uma tirolesa para testar o pára-quedas reserva de uso obrigatório. As preocupações com a segurança dos praticantes e com sua fiscalização se acentuaram após um acidente ocorrido em 2003. Nos dias de hoje, esta preocupação se estende até o local de partida dos vôos: a rampa de salto. Antes de ser autorizada à entrada do praticante na rampa, um fiscal verifica se a autorização do departamento de aviação civil está em ordem, assim como a atualização da vistoria.
3. Considerações finais
A incorporação dos esportes na natureza por regiões já consagradas no circuito turístico tradicional, como é o caso do Rio de Janeiro, pode ser uma real possibilidade de diversificar o leque de atrativos, ampliando o número de produtos turísticos oferecidos. Sobretudo atualmente, onde se sabe que a tendência de crescimento desse mercado aponta na direção de privilegiar áreas que possuem relevo acidentado e estejam próximas as grandes metrópoles.
E o Rio de Janeiro, como cidade detentora desses indicativos, e já prestigiado roteiro turístico nacional e internacional, talvez agora já possa se candidatar como o mais novo pólo de turismo ecológico e esportivo do Brasil. Uma cidade com notável potencial e apelo para o turismo em suas diversas manifestações.
Contudo, cabe-nos indagar: quem tem se beneficiado dessa potencialidade? Que pessoas procuram essas atividades para suas vivências de lazer? Como essas atividades podem se converter em benefícios para a população local?
Ainda não dispomos de dados acerca do perfil dos praticantes de vôo livre. Mas é certo que há uma predominância quase absoluta de pessoas provenientes dos estratos mais abastados da sociedade. Ainda que a possibilidade de prática do vôo livre por camadas mais populares, tenha aumentado por conta das facilidades de financiamento oferecidas pelos fabricantes além da consolidação do pára-pente no âmbito do vôo livre tenha facilitado o acesso das camadas mais populares a esses esportes, seu acesso ainda é praticamente exclusivo a classe média alta. Como bem afirma Melo (2005):
A questão é que esse mercado e essas oportunidades têm se desenvolvido de forma bastante seletiva, somente acessível em sua plenitude a pequena parcela da população. O desafio maior nesse momento parece ser estruturar estratégias que permitam e estimulem os extratos excluídos da população brasileira a ter acesso a tais bens culturais (p. 73).
A diferença no preço entre os equipamentos de asa delta e de pára-pente para a prática do vôo livre é significativa e o fato do pára-pente não requerer um carro para o transporte dos equipamentos, que pode ser feito até mesmo de ônibus, é realmente um elemento facilitador. Mas isso ainda é pouco e é muito provável que o vôo livre continue circunscrito a uma camada muito restrita da população.
Referências
FLUIR. São Paulo. Ano 22, n. 8, ed. 238, agosto/2005.
GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental. 6ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.
MASCARENHAS, Gilmar. A leviana territorialidade dos esportes de aventura. In: MARINHO, Alcyane e BRUHNS, Heloísa. (orgs.) Turismo, lazer e natureza. São Paulo: Manole, 2003.
MELO, Victor. L´Animation Culturale au Bresil: un panorama. In: Jean Claude Gilet. (Org.). L´Animation professionale et voluntaire dans 20 pays. 1ª ed. Paris, 2005, v. 2, p. 70-81.
VEJA, Revista. 16 de julho de 2003.
VILLAVERDE, Sandoval. Refletindo sobre lazer/turismo na natureza, ética e relações de amizade. In: MARINHO, Alcyane e BRUHNS, Heloísa. (orgs.) Turismo, lazer e natureza. São Paulo: Manole, 2003.
WERNECK, Christianne; STOPPA, Edmur e ISAYAMA, Hélder. Lazer e mercado. Campinas, SP: Papirus, 2001.
revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |