Nível de atividade física dos vigilantes que transportam numerários |
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*Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Centro de Educação Física e Desportos UFES. Coordenador do GESPCEO. Doutor em Ciências Sociais PUC/SP. **Especialista em Treinamento Desportivo. Professor e instrutor de agentes de transportes de numerários. |
José Luiz dos Anjos* Roberto Lavieri Mendes** jjluanjos@terra.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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Introdução
De 2000 até 2005 realizamos instruções para vigilantes de transporte de valores e acompanhamos diariamente sua formação. Uma das instruções foi a de tiro, em que o vigilante percorre um trajeto com diversas situações, deve sacar sua arma e atirar somente em alvos previamente indicados como ameaça, no menor tempo possível.
Nesse período de cinco anos de empresa, observamos que os vigilantes tinham dificuldades em realizar essa instrução, por falta de resistência, flexibilidade, tempo de reação, excesso de peso, elevada quantidade de atestados médicos para dispensa de serviço. Questionamos sobre os resultados em uma situação real de rua, com uma carga elevada de estresse, quando é necessário que o vigilante esteja bem preparado física e mentalmente, com imediata reação para obter êxito em sua missão.
Ogata (2005)1 ressaltou que:
[...] A epidemia da obesidade leva ao aumento do índice de complicações e doenças associadas. Recente pesquisa realizada pelo Centro de Vigilância epidemiológica da Secretaria da Saúde de São Paulo mostrou que temos 7% de diabéticos e 24% de hipertensos no Estado, justificando a presença das doenças cardiovasculares no primeiro lugar no ranking de mortalidade entre adultos.
[...]E o que as empresas têm a ver com este problema? De acordo com extensas pesquisas, o sobrepeso, a obesidade e o sedentarismo, estão fortemente associados a aumento nos custos de assistência médica (despesas até 44% maiores) e aumento no índice de faltas ao trabalho (absenteísmo). Um estudo mostrou aumento de 74% nas faltas acima de 7 dias e 61% nas faltas de 3 a 6 dias, quando comparados os trabalhadores de peso normal e os obesos. A explicação lógica para este fato é a associação entre a obesidade e doenças cardiovasculares, o diabete e certos tipos de cânceres. Mas, provavelmente, a obesidade, por si própria, pode ser um fator associado à perda de produtividade no trabalho.
ObjetivoO objetivo deste trabalho foi avaliar a saúde dos vigilantes que transportam numerários numa empresa de transporte de valores e segurança, multinacional presente em diversos países, como Espanha, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, França, Itália, Panamá, Paraguai, Portugal, Suíça e Uruguai. Para realizar essa avaliação, foi usada a versão longa do questionário internacional de atividade física (na sigla em inglês, Ipaq).
No Brasil, essa empresa é a maior nos segmentos de Transporte e Manuseio de Valores e uma das maiores no segmento de Vigilância Patrimonial e Segurança Empresarial. Atende a mais de 1,5 mil municípios, por meio de 85 filiais distribuídas em 12 Estados (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins) e Distrito Federal. Está entre as 25 maiores empregadoras do País, com 12 mil funcionários.
Materiais e métodosO questionário internacional de atividade física (IPAQ) foi inicialmente proposto por um grupo de trabalho de pesquisadores durante uma reunião científica em Genebra, Suíça, em abril de 1998. O propósito do grupo do IPAQ foi desenvolver e avaliar a validade e reprodutibilidade de um instrumento de medida do nível de atividade física possível de ter uso internacional - o que permitirá a realização de um levantamento mundial da prevalência de atividade física no mundo.
O IPAQ consiste em perguntas que incluem as atividades que uma pessoa realiza no trabalho, para ir de um lugar para outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte de suas atividades em casa ou no jardim, em uma semana usual ou habitual.
As entrevistas foram realizadas com indivíduos voluntários, maiores de 24 anos de idade, do sexo masculino, do município de Vitória, Espírito Santo, de diferentes graus de escolaridade e mesma profissão. Foram considerados para esta análise os questionários respondidos de forma completa, totalizando assim 63 sujeitos.
Um dos problemas na aplicação do IPAQ consistiu na dificuldade de interpretação das perguntas pelos entrevistados, que não conseguiram comparar o que estava sendo solicitado. Foi necessário dar várias explicações, o que tomou bastante do reduzido tempo do intervalo de almoço para responder ao questionário.
Após as entrevistas, foram medidos peso e altura do grupo utilizando de uma balança marca Filizola série 3134. Cada vigilante foi pesado com seus uniformes, descalço. Posteriormente foi descontado o valor de 1 kg para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), conforme Wilmore e Costill (2001).
ResultadosNo IPAQ as atividades são divididas em caminhadas, apenas consideradas se pelo menos ocorrerem durante dez minutos contínuos; moderadas são as que precisam de algum esforço físico e que fazem as pessoas respirar um pouco mais forte que o normal, como quando carregam pesos leves, limpam vidros, varrem, rastelam, limpam o chão, pedalam, nadam a velocidade regular, jogam bola, vôlei, basquete, tênis; vigorosas são as caminhadas que precisam de grande esforço físico e que fazem respirar muito mais forte que o normal, como trabalho de construção pesada, carregar grandes pesos, trabalhar com enxadas, subir escadas, carpir, lavar o quintal, esfregar o chão, correr, fazer aeróbicos, nadar rápido, pedalar rápido ou fazer jogging.
Conforme o protocolo de classificação do nível de atividade física da população, há: Sedentários, Insuficientemente Ativos B, Insuficientemente Ativos A, Ativos e Muito Ativos, de acordo com as seguintes definições.
Sedentário: não realizou nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.
Insuficientemente ativo: realiza atividade física por pelo menos 10 minutos por semana, porém insuficiente para ser classificado como ativo. Pode ser dividido em dois grupos:
Atinge pelo menos um dos critérios da recomendação.
Freqüência: 5 dias/semana ou
Duração: 150 min/semana
Não atingiu nenhum dos critérios da recomendação.
Ativo: cumpriu as recomendações.
vigorosa: > 3 dias/semana e > 20 minutos por sessão;
moderada ou caminhada: > 5 dias/semana e > 30 minutos por sessão;
qualquer atividade somada: > 5 dias/semana e > 150 minutos/semana (caminhada + moderada + vigorosa).
Muito Ativo: cumpriu as recomendações e:
vigorosa: > 5 dias/semana e > 30 minutos por sessão;
vigorosa: > 3 dias/sem e > 20 minutos por sessão + moderada e/ou caminhada: > 5 dias/sem e > 30 minutos por sessão.
No protocolo a letra "F" (Freqüência) corresponde à quantidade de dias que o sujeito pratica determinada atividade em uma semana. A letra "D" (Duração) corresponde ao tempo total em minutos da atividade praticada em uma semana.
Seguem os resultados (Tabelas 1 a 4), de acordo com o protocolo obtido com 63 vigilantes.
Observamos que o grupo foi classificado como muito ativo, mas apresenta uma freqüência muito baixa com pouca duração e com o agravante de estarem com sobrepeso.
Nesta tabela podemos observar também que os sujeitos, mesmo sendo ativos, apresentam baixa freqüência e duração e estão com sobrepeso.
Observa-se que há acentuada freqüência nas atividades e o grau de aumento de sobrepeso.
Embora os sujeitos apresentem pouca ou quase nenhuma freqüência ou duração, os indivíduos não são considerados sedentários.
ConclusãoO IMC (média) de todos os grupos se encontra na faixa de sobrepeso, com agravante do grupo Muito Ativos, que apresenta um IMC maior que o grupo Ativos conforme Tabelas 1 e 2.
Concluímos que o uso do IPAQ não converge com os resultados apresentados tendo o IMC com método de avaliação. Constatou que embora os sujeitos apresentassem índice de sobrepeso conforme média do IMC, diante do protocolo aplicado, os sujeitos se encontram na faixa de ativos (n=49 => em 77% da amostra) e não sedentários.
Nota
Alberto Ogata é médico com mestrado em Economia da Saúde pela Universidade de São Paulo; diretor da Subsecretaria de Assistência Médico Social Tribunal Regional Federal da 3ª Região e presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
Referências
MATSUDO, Sandra et al. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, São Paulo, v. 6, n. 2, 2001. Disponível em: http://www.celafiscs.com.br. Acesso em: 15 out 2005.
OGATA, Alberto. A obesidade é um problema para as empresas. Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Disponível em: http://www.abvq.com.br/serv_artigos. Acesso em: 15 out. 2005.
WILMORE, Jack H.; COSTILL, David L. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Editora Manole, 2001.
revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |