A motivação de adolescentes nas aulas de Educação Física Motivation of adolescents in Physical Education classes |
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*Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília. Professor de Educação Física da Univ. Estadual de Ponta Grossa. **Doutor em Educação - Unicamp. Professor Adjunto da Faculdade de Educação Física da Unb. (Brasil) |
Adriano Marzinek* amarzinek@yahoo.com.br Alfredo Feres Neto** alferes@unb.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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Introdução
A Educação Física como disciplina escolar caracteriza-se como uma atividade eminentemente prática, muitas vezes é desvinculada da teoria que poderia servir de auxílio à compreensão e ao esclarecimento de fatores relacionados à atividade física, como também das regras do esporte.
Inserida no ensino fundamental e médio, baseia-se no contexto dos desportos, dentre eles: o futebol devido à sua popularidade no Brasil e também o voleibol, basquetebol e handebol, que são conteúdos bem desenvolvidos nas aulas. Corroborando esta afirmação, Facco (1999) observou que o desporto é o conteúdo mais desenvolvido nas escolas e o preferido dos alunos, desde a 5ª série do ensino fundamental até a 1ª série do ensino médio, porém a autora acredita que os alunos deveriam experimentar um pouco de outros conteúdos. Esses aspectos voltam-se para motivos extrínsecos, que podem ser observados claramente por todos os que estão envolvidos no processo de ensino.
Considera-se neste trabalho dois tipos de motivação: extrínseca e intrínseca. A motivação extrínseca compreende fatores externos que levam os jovens à prática da atividade física, como, por exemplo, influência de colegas, dos pais e do professor. Já a motivação intrínseca inclui fatores internos, como o prazer, satisfação, força de vontade em realizar as aulas de Educação Física.
Atualmente percebe-se uma grande preocupação dos professores de Educação Física no que se refere à sua práxis, considerando que um grande número de alunos não participa efetivamente desta disciplina dizendo-se desmotivados. Existem vários motivos que influem neste desinteresse, dentre eles a falta de materiais e instalações adequadas para a realização da aula, a carência de profissionais capacitados, além de problemas sociais e familiares, que também podem desencadear o desânimo para a prática das aulas de Educação Física.
Em síntese, através de estudos mencionados quanto à desmotivação de adolescentes para a prática de atividades físicas na escola, parece existir uma contradição entre a prática, a manutenção dos conteúdos e a vontade com qual os adolescentes realizam as aulas. Desta forma pretende-se investigar neste trabalho se as aulas de Educação Física estão conseguindo motivar os alunos do último ano do ensino fundamental (oitava série) e os da terceira série do ensino médio.
ObjetivosObjetivo Geral
Identificar se as aulas de Educação Física estão conseguindo motivar os alunos do último ano do ensino fundamental (oitava série) e os da terceira série do ensino médio.
Objetivos Específicos
Oferecer subsídios no estudo da motivação dos alunos nas aulas de Educação Física no ensino fundamental e médio numa escola estadual do município de Maringá-Pr.
Comparar a motivação intrínseca e extrínseca entre alunos dos sexos masculino e feminino que praticam a Educação Física na oitava série do ensino fundamental.
Comparar a motivação intrínseca e extrínseca entre alunos dos sexos masculino e feminino que praticam a Educação Física na terceira série do ensino médio.
MetodologiaCaracterização da pesquisa
Esta pesquisa caracterizou-se como sendo descritiva, com teor diagnóstico, por ter, segundo Cervo e Bervian (1996), a finalidade de recolher e registrar ordenadamente os dados relativos ao assunto escolhido como objeto de estudo.
PopulaçãoA população, neste estudo se caracterizou por alunos na faixa etária de 14 a 17 anos, de ambos os sexos, que estudam nas 8ªséries do ensino fundamental e 3ªséries do ensino médio de todas as escolas estaduais do município de Maringá-PR.
AmostraA amostra foi composta de 279 alunos de ambos os sexos, na faixa etária 14 a 17 anos, que ficou assim dividida nas 8as séries do ensino fundamental, foram 82 (54,30%) do sexo feminino e 69 (45,70%) do sexo masculino totalizando 151 alunos, já as 3as séries do ensino médio tiveram 72 (56,25%) indivíduos do sexo feminino e 56 (43,75%) do sexo masculino o que corresponde a 128 alunos. Em ambas amostras teve prevalência de sexo feminino. A idade média deste estudo foi de 14,7 anos A escola pesquisada foi o colégio Estadual Branca da Mota Fernandes, do município de Maringá-Pr, que se dispuseram a participar da pesquisa (vide Quadros 1 e 2). As aulas desses alunos foram realizadas no mesmo período das demais disciplinas, duas vezes por semana.
InstrumentosO instrumento de coleta de dados utilizado foi elaborado por Kobal (1996). Trata-se de um questionário referente à identificação de motivos intrínsecos e extrínsecos em aulas de Educação Física, constituído de três questões, com 32 afirmações no total, sendo 16 referentes a motivação intrínseca e 16 referentes a motivação extrínseca. Cada afirmação é respondida através de uma escala LIKERT de alternativas.
Análise estatísticaA análise das informações foi realizada sob a forma de estatística descritiva inferencial, foram realizados Test-T para amostras independentes.
Para a análise dos resultados considera-se cada item do instrumento como variável dependente e o sexo como variável independente.
Resultados e discussaoA. Amostra relativa à 8ª série - Motivação Extrínseca
A 1ª questão da motivação extrínseca (tabelas 1 e 2) revelou que a participação dos alunos é inevitável, tanto nas 8as séries quanto nas 3as séries, pois eles participam pela necessidade de obterem boas notas e também pelo fato de a disciplina estar no currículo escolar, o que demonstra estarem motivados para a prática das aulas de Educação Física.
A respeito da presença da Educação Física no componente curricular, Lovisolo (1995) verificou que o currículo de Educação Física desenvolvido nas escolas apresenta um perfil voltado para aptidão física (ginástica e corrida) e para o ensino das modalidades esportivas coletivas mais populares, como basquete, futebol, vôlei e handebol. Recentemente, Seabra (2004) também considerou que a disciplina de Educação Física se inspira na aptidão física e no desporto de alto rendimento, tendo como uma de suas metas principais aprimorar capacidades físicas e desenvolver habilidades esportivas. Na mesma perspectiva do autor anterior, Bracht (1997, p.14) diz que é o esporte de alto rendimento que fornece o modelo de atividade de grande parte do contexto escolar.
O item de motivação extrínseca segundo o qual os alunos afirmam participarem das aulas de Educação Física para estarem com seus amigos teve um índice de concordância elevado nas 8as séries em ambos os sexos, porém nas 3as séries do ensino médio pode-se constatar diferença significativa, pois o sexo feminino considera de menor importância os amigos neste período. Betti (1992) discorda deste item e diz, em seu estudo com alunos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e 1ª série do ensino médio, que a presença dos colegas é um fator decisivo, conforme relatam as diversas entrevistas. Por outro lado, há interferência dos mesmos, pois não possuem uma participação cooperativa nas aulas, ou seja, fazem brincadeiras fora de hora, os que têm mais habilidade zombam dos que sabem menos, há desentendimentos entre os alunos, e mesmo outros alunos que ficam apenas assistindo às aulas contribuem para que alguns deixem de gostar e até de participar das aulas de Educação Física.
Os dados da 2ª questão da motivação extrínseca, referentes à (tabela 1), revelam que nas 8as séries houve diferença significativa no Test-t, principalmente no sexo masculino, onde "sentem-se mais integrados ao grupo" em ambas as turmas. Foi verificado que os meninos chegam com os times já formados para as aulas práticas, já entre as meninas o professor é quem divide as equipes.
Nas 3as séries do ensino médio, (tabela 2) o sexo feminino discorda quanto ao item "esqueço das outras aulas", ou seja, as outras disciplinas têm importância significativa para elas. Nesse sentido, (Lovisolo,1995, p.9) destacou que:
"a disciplina de Educação Física é a que os alunos mais gostam (sentem-se motivados), porém não é a primeira em importância."
Segundo o autor,
"os alunos distinguem, portanto, entre o gostar, o prazer que uma disciplina pode lhes proporcionar e a utilidade que as outras disciplinas podem ter para sua vida no mundo de trabalho." (Idem).
E finalmente, a 3ª questão de motivação extrínseca (tabelas 1 e 2), verificou-se que nas 8as séries do ensino fundamental e nas 3as séries do ensino médio houve diferença significativa no item "alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros", itens em que o sexo feminino teve um índice maior de respostas positivas, o que reflete descontentamento das alunas. Já nos itens "não me sinto integrado ao grupo", "o professor compara meu rendimento com o de outro", "meus colegas zombam de minhas falhas", "tiro nota ou conceito baixo", não existiram diferenças significativas entre sexos.
B. Amostra relativa à 3ª série - Motivação Extrínseca
C. Amostra relativa à 8ª série - Motivação IntrínsecaEm relação à 1ª questão sobre a motivação intrínseca (tabelas 3 e 4), que aborda o assunto da participação nas aulas de Educação Física, foi constatado que os alunos de 8as séries do Ensino Fundamental e 3as séries do Ensino Médio consideram muito importante aumentar seus conhecimentos sobre esportes e outros conteúdos. Porém Ferreira (2001) relata que a Educação Física talvez seja uma das poucas disciplinas a desenvolver os mesmos conteúdos da 5ª série do ensino fundamental até a última série do ensino médio. Chicati (2000) também verificou que as aulas de Educação Física não são tão motivadoras no ensino médio, pois os alunos vêm tendo sempre os mesmos conteúdos desde o ensino fundamental, sendo o desporto o mais ministrado.
Também na motivação intrínseca, foi verificado que nas 3as séries do ensino médio o sexo feminino obteve diferença significativa no Test-t, tendo ocorrido discordância no item "as atividades me dão prazer", demonstrando-se baixa motivação das alunas. Nesse sentido, Betti (1992) diz que a "motivação, vinda de propostas diversas torna mais prazerosa a aprendizagem. Assim podemos perceber um elo entre motivação e prazer". O autor acrescenta que nem sempre a motivação é uma garantia de prazer, pois este depende de condições internas e externas do indivíduo; entende-se, portanto, que há necessidade da motivação intrínseca para que se vivencie o prazer.
Na 2ª questão de motivação intrínseca (tabela 3), as respostas das 8as séries aos itens "dedico-me ao máximo à atividade", "as atividades me dão prazer" e "movimento meu corpo" foram consideradas elevadas, o que foi comprovado também por Kobal (1996), verificando-se que os alunos de 8as séries estão mais motivados intrinsecamente para as aulas de Educação Física.
Entretanto, na 2ª questão das 3as séries do ensino médio (tabela 4) a diferença foi significante, cinco itens revelaram baixa motivação: "dedico-me ao máximo à atividade", "compreendo os benefícios das atividades propostas em aula", "as atividades me dão prazer", "o que eu aprendo me faz querer praticar mais" e "movimento meu corpo". Nesse sentido, Martins Junior (1990), realizou um estudo com jovens pertencentes às 3as séries do ensino médio, em que foi constatado que os alunos careciam de motivação para a prática, e que os conteúdos ministrados nas suas escolas pareciam não os levar a uma prática esportiva mais efetiva.
Quanto à 3ª questão de motivação intrínseca (tabelas 3 e 4), ambos os sexos das 8as séries do ensino fundamental e 3as séries do ensino médio foram concordantes no que diz respeito aos itens: "não consigo realizar bem as atividades", "não sinto prazer na atividade proposta" e "não há tempo para praticar tudo que eu gostaria". Estes resultados demonstram a importância desta tendência motivacional para a aprendizagem e também a importância da vivência de prazer nas atividades físicas.
Diante do item já mencionado "não consigo realizar bem as atividades", este fato ocorre devido à dificuldade na aprendizagem e à própria competição existente. Bracht (1992) considera que, ao se analisarem as aulas de Educação Física, nas quais o esporte escolar é iniciado e desenvolvido, vê-se que predomina a idéia da aprendizagem do esporte enquanto aprendizagem das técnicas desportivas. Isto porque, para a competição, na verdade isto é o que conta.
A maior concordância foi observada em relação à questão "gosto das aulas de Educação Física", quando o que aprendem aumenta seu desejo de praticar mais. Pode-se verificar, aí, a importância da competência percebida na motivação do indivíduo, significando a satisfação inerente ao exercício e à ampliação da própria capacidade. Deci e Ryan (1985) salientam que a atividade precisa ser desafiante, a fim de que a competência percebida ocorra num contexto de autodeterminação, o que implica a oportunidade de fazer escolhas. Já com relação à discordância, os alunos estavam mais desmotivados nos itens, "exercito pouco o meu corpo" e "quase não tenho oportunidade de jogar".
D. Amostra relativa à 3ª série - Motivação Intrínseca
ConclusãoA intenção deste estudo foi verificar - através de dezesseis itens que avaliaram a motivação intrínseca e extrínseca - se os alunos estavam motivados para a prática das aulas de Educação Física no ensino fundamental e médio.
No ensino fundamental, que foi representado pelo estudo das 8as séries, pôde-se perceber que, quanto à motivação intrínseca, não houve diferenças significativas entre sexos em nenhum dos dezesseis itens. Já quanto à motivação extrínseca, apenas em três itens "sinto-me integrado ao grupo", "minhas opiniões são aceitas" e "alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros" observam-se discrepâncias.
No ensino médio, por sua vez, verificou-se que a motivação intrínseca diferiu em sete itens "gosto de atividades físicas", "as aulas me dão prazer", "dedico-me ao máximo a atividade", "compreendo os benefícios das atividades propostas em aula", "as atividades me dão prazer", "o que eu aprendo me faz querer praticar mais", "movimento o meu corpo" o que revelou que existe uma maior diferença entre os sexos neste nível de ensino. Também foram verificadas alterações em cinco itens "estou com meus amigos", "esqueço das outras aulas", "sinto-me integrado ao grupo", "alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros" e "minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor" de motivação extrínseca. Estas modificações na maneira de pensar das 3as séries do ensino médio podem ser ocasionadas devido às intenções e objetivos que cada um tem ao encerrar os estudos no ensino médio.
Referências bibliográficas
BETTI, I.C.R. O prazer em aulas de Educação Física Escolar: a perspectiva discente. Dissertação (Mestrado em Educação Física). UNICAMP, Campinas, 1992.
BRACHT, V. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister,1992.
BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Vitória: UFES, Centro de Educação Física e Desportos, 1997.
CHICATI, K.C. Motivação nas aulas de educação física no ensino médio. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v.11, n.1, p.97-105, 2000.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Makron, 1996.
DECI, E.L., RYAN, R.M. Intrinsic Motivation and Self-Determination in Human Behavior. New York and London: Plenum Press, 1985.
FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar: Ampliando o enfoque. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.22, n.2, p. 41-54, jan. 2001.
KOBAL, M.C. Motivação intrínseca e extrínseca nas aulas de educação física. Dissertação (Mestrado em Educação Física), Campinas, UNICAMP, 1996.
LOVISOLO, H. Educação física: A arte de mediação. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
MARTINS JUNIOR, J. O papel do professor de Educação Física como motivador da prática desportiva permanente da comunidade. Revista O Professor, Universidade Estadual de Maringá, n.1 (3ª série), p.47-55, 1990.
_____. A escola como centro de atividade física e de lazer - estudo sobre a prática esportiva continuada na comunidade. Tese (Doutorado em Educação). Marília, UNESP, 1996.
revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |