Esporte: considerações a respeito de sua utilização como meio educativo. A visão docente |
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*Formando do curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Biociências da UNESP/Rio Claro. **Professores orientadores do trabalho e docentes do curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Biociências da UNESP/Rio Claro. (Brasil) |
Delmar Benelli da Silva* Irene Conceição de Andrade Rangel** Samuel de Souza Neto** tucaminero@yahoo.com.br |
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Trabalho de conclusão do curso (monografia) de Licenciatura em Educação Física |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007 |
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Introdução
O Problema de estudo
O esporte passou por uma evolução significativa no final século XIX, chegando aos tempos hodiernos com o status de espetáculo e, conseqüentemente, de patrimônio cultural da humanidade (TANI, 1998). Tal transformação o denomina como esporte moderno ou como esporte rendimento, destacando-se cada vez mais por ter influência da Mídia relacionada a interesses comerciais. Neste contexto, ao mesmo tempo em que a Mídia o torna mais importante que o próprio evento esportivo, pois os horários dos jogos a serem transmitidos pela televisão passam a determinar o "melhor momento comercial", ele parece ter perdido a sua parcela histórica e cultural e se transformado apenas em espetáculo.
No âmbito desse processo, a Educação Física, por incluir entre os seus conteúdos as modalidades esportivas, tem uma influência muito importante nesse cenário, pois o conteúdo esportivo ocupa a sua hegemonia nas aulas. Porém, se o conteúdo das aulas de Educação Física se restringe à primazia desse componente pedagógico a questão que se coloca é: esta unidade de ensino proporciona contribuições para a formação de cidadãos?
A principio, o conteúdo esportivo depende da cooperação dos praticantes e de seu envolvimento com esta atividade. Porém, o mesmo só se torna relevante se há contribuição da atividade esportiva para o desenvolvimento das crianças. Dessa forma, a justificativa para a inclusão da Educação Física no currículo escolar só se legitima se esta cumpre com o seu papel de componente curricular formativo, auxilia no processo de socialização, trabalha e respeita as etapas do desenvolvimento motor dos escolares, bem como proporciona a aquisição de uma atitude relacionada aos hábitos de saúde, ou seja, se ela é um meio e não um fim em si mesmo.
Neste encaminhamento espera-se que as crianças possam aprender a conviver com o sucesso das vitórias e os limites das derrotas; desenvolver a independência e a confiança em si mesmas; que as atividades esportivas contribuam para o desenvolvimento das capacidades físicas e habilidades motoras, justificando a Educação Física enquanto processo de humanização. Caso contraria se estará cultivando a exclusão e o darwinismo social.
A PesquisaPensando nesses questionamentos e reflexões e/ou possível problema de estudo decidi fazer essa pesquisa, buscando averiguar como alguns professores de Educação Física, que atuam no ensino fundamental, apontam ou selecionam as contribuições do esporte para as suas aulas. Portanto, o que se busca é saber como o conteúdo esportivo auxilia ou contribui para a formação do aluno e do cidadão que se engajará, posteriormente, na sociedade.
Objetivo e métodoDessa forma, o objetivo desse trabalho se restringirá em verificar por que os professores de Educação Física, que ministram aulas de 5ª a 8ª série utilizam o esporte como conteúdo hegemônico de suas aulas. Trata-se de um estudo descritivo de caráter exploratório.
Organização do estudoNa busca de respostas às questões vinculadas, o tópico 2, denominado de Revisão Bibliográfica, apresenta um mapeamento e fundamentação do esporte no âmbito de Educação Física e da sociedade, enquanto que o tópico 3 dará ênfase aos Procedimentos Metodológicos utilizados na obtenção das respostas, apresentando os participantes do estudo e a técnica utilizada para a obtenção dos dados. O tópico 4 tratará dos Resultados e sua Discussão, enquanto que o tópico 5 apresentará as Considerações Finais do estudo.
Revisão bibliográfica
No Brasil, a esportivização teve inicio por volta dos anos 50 e 60 substituindo os exercícios militares pelos Jogos de Competição (BETTI, 1991). Foi neste período que houve incentivo para produção de artigos científicos. Segundo Korsakas (2002), a mídia foi um fator impulsionador, pois supervalorizou o esporte rendimento dando-lhe o mérito de único modelo de pratica esportiva. Outro fator de fundamental importância, para a universalização da instituição esportiva, foi o ressurgimento dos Jogos Olímpicos, pois se definiu um modelo esportivo, padrão de funcionamento das mesmas regras e normas de conduta (BETTI, 1991).
Nesta retrospectiva em 1964 foi apresentado um novo conceito de esporte, no Manifesto do Desporto, assinado por Philiph Noël-Baker, admitindo-se a existência de outras manifestações esportivas, como escolar e do homem comum (TUBINO, 1999). Entretanto, esta questão não ficou vinculada apenas a este aporte, pois este conceito mais amplo foi signatário também em manifestação da UNESCO que ao publicar a Carta Internacional de Educação Física e Esporte afirma ser direito de todos praticarem atividade física e esportiva. Darido (2003) irá observar que, no Brasil em março de 1964, "os governos militares assumem o poder e passam a investir pesado no esporte na tentativa de fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico". Tal perspectiva já ocorrera na década de 30 com a eugenia na tentativa de depuração da raça, e, agora, o que se buscava era selecionar os mais habilidosos; privilegiando-se o rendimento como meta, na máxima de que os fins justificam os meios.
A esportivização teve o seu momento mágico quando o time de futebol do Brasil sagrou-se Tri campeão mundial. No bojo desse processo o governo implementou a política do "esporte para todos". A escola, e principalmente a Educação Física perdem, momentaneamente, a sua função precípua de educar. O país ganha "uma nova ordem social" na perspectiva da descoberta de talentos, pois se pretendia fazer parte da vanguarda esportiva mundial e entrar para o seleto grupo dos países desenvolvidos.
Esta influência do esporte rendimento ou esporte-competição pode ser observado, particularmente, nos clubes, nas categorias de base, com a especialização precoce, não sendo um caso generalizado e, nas escolas, com as turmas de treinamento, valendo lembrar que há escolas e escolas. Porém, esta questão merecerá uma atenção especial das políticas públicas com o Decreto Lei nº 2574, de 29 de abril de 1998, ao se chamar a atenção para o fato de que o esporte "praticado nos sistemas de ensino e em outras formas assistemáticas de educação" deverá evitar "a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do individuo e a sua formação para o exercício de cidadania e a pratica de lazer" (BRASIL, 1998).
Entretanto, cabe ressaltar que o esporte em si não é bom e nem ruim, pois depende o uso que se faz dele que acarretará na ênfase de ser um fim em si mesmo ou um meio educativo. Sobre esta última perspectiva, para Korsakas (2002, p. 42), o educador deve oferecer aos alunos possibilidades para a construção de conhecimentos e atuar mais como um facilitador dessa situação. Portanto, a possibilidade do esporte ser utilizado como meio de educação está relacionada às concepções que o educador utiliza em suas aulas, pois se o professor não trabalha o pedagógico do conteúdo específico este pode perder a sua contribuição civilizatória e/ou de hominização.
O valor educativo do esporte é atribuído à sua capacidade de promover o respeito às regras e aos adversários, a disciplina e à saúde (KORSAKAS, 2002). Daí a responsabilidade dos profissionais da área de Educação Física escolar em resgatarem o principio educativo do esporte, o qual deve planejar aulas que condizem com nossas realidade e necessidades sociais, para que possamos contribuir para a formação de jovens como indivíduos e cidadãos.
Cabe ao professor de Educação Física criar o clima de motivação nas aulas orientando à competição ou à aprendizagem. Isso pode ser observado nas ações pedagógicas de cada educador, pois ela esta diretamente relacionada aos seus princípios e valores (KORSAKAS, 2002). A forma que o educador organiza as atividades a serem passadas, como agrupa os alunos, critérios que utiliza para avaliar e pela maneira que se relaciona com seus alunos são aspectos relacionados de seus objetivos para a pratica esportiva.
O profissional preocupado com a aprendizagem dos alunos, visando o desenvolvimento integral do ser humano, deve visar fundamentalmente o desenvolvimento de cada um deles, validando o esforço empreendido nas tentativas do aluno de realizar uma tarefa, não se reduzindo à validação do resultado final como única avaliação.
Em face deste contexto decidiu-se ir a campo averiguar se estaria havendo mudança na visão do professor em relação à forma como até então se tem trabalhado com o conteúdo relacionado às modalidades esportivas.
Procedimentos metodológicosEste estudo de natureza descritiva e exploratória foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa, que não ignora as contribuições da abordagem quantitativa, utilizando-se como técnica a entrevista e como protocolo a análise de conteúdo com a intenção de se analisar o valor dado ao conteúdo esportivo nas aulas de Educação Física do ensino fundamental, especificamente da 5ª a 8ª séries, de professores de escolas publicas, municipais e/ou estaduais, de Rio Claro - SP e Poços de Caldas - M.G. (ANDRÉ, 1995).
ProcedimentosInicialmente procuraram-se as instituições de ensino fundamental sem critérios quanto à preferência, conseqüentemente contataram-se os professores de Educação Física sujeitos dessa pesquisa. Em seguida foram-lhes explicadas as etapas, assim como os objetivos da pesquisa. A maioria dos professores realizou a entrevista no mesmo dia em que foram solicitados para tal. Outros, no caso da cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, foram previamente informados da entrevista, até mesmo para confirmarem sua participação.
EntrevistaO tipo de entrevista utilizado na pesquisa foi a estruturada. Os sujeitos entrevistados deveriam apresentar sua visão sobre o assunto inquirido no momento da entrevista. Quanto à duração das entrevistas, dependeu muito da objetividade das respostas de cada professor. A maioria das respostas foi objetiva, mas alguns dos professores entrevistados decidiram detalhar mais suas respostas. O roteiro de entrevistas, descrito a seguir, envolve questões referentes aos conteúdos trabalhados; modalidades trabalhadas; pontos positivos de trabalhar o conteúdo esportivo nas aulas de Educação Física.
Roteiro
Quais os conteúdos que você utiliza em suas aulas?
Dentro do conteúdo esportivo quais a modalidades que você trabalha?
Como ou em quê o esporte acrescenta ao desenvolvimento dos alunos?
O que o conteúdo esportivo tem de positivo quando comparado a outras atividades que não sejam o esporte?
AnáliseAs entrevistas foram registradas em caderno destinado a este fim, com o objetivo de não se perder nenhuma informação relevante. Uma vez apresentado a descrição dos participantes, realizou uma segunda leitura, objetivando classificar as similaridades e diferenças entre as respostas.
SujeitosForam entrevistados 10 professores de diferentes escolas em duas cidades de dois estados (Rio Claro/ SP e Poços de Caldas/ MG) sendo cinco professores de cada cidade, que lecionam no ensino fundamental, mais precisamente nas aulas de 5ª a 8ª séries do ensino publico, tanto da rede Municipal quanto do Estado.
Resultados e discussãoOs entrevistados lecionam em Escolas Publicas, Municipais ou Estaduais, com idades cronológica e de tempo de trabalho na área escolar distintos. Todos ministram aulas para o ensino fundamental, mais precisamente de 5º à 8º séries do ensino fundamental.
Alguns professores tiveram a formação baseado no currículo tradicional- esportivo, outros professores que concluíram a graduação mais recentemente, formaram-se através do modelo curricular denominado Técnico-cientifico. Segundo Betti e Betti (1996) o primeiro modelo curricular enfatizava as chamadas disciplinas práticas, no qual o graduando deveria executar e demonstrar, habilidades técnicas e capacidade física, nas quadras, piscina e pista. O segundo modelo curricular valorizava as disciplinas teóricas, abrindo espaço ao envolvimento com as Ciências Humanas e Filosofia, o qual o conceito de pratica implicava em "ensinar a ensinar".
Como podemos observar no gráfico acima, os professores entrevistados enfatizam e/ou priorizam o conteúdo esportivo nas aulas de Educação Física para o segundo ciclo do ensino fundamental: 5ª à 8ª séries. De acordo com as políticas publicas para a Educação Física, no Decreto 69.450/71, da LDB 5692/71 (BRASIL, 1971), a Educação Física no mesmo período escolar teria como conteúdo atividades de iniciação esportiva ou praticas de natureza desportiva. Todos os professores priorizam o esporte como conteúdo a ser apresentado nas aulas de Educação Física. Isto não quer dizer que os professores trabalhem somente as modalidades esportivas do inicio ao fim das aulas. A maioria dos entrevistados dizem incluir atividades lúdicas nas aulas, principalmente, no inicio de cada aula. Porém, a parte principal sempre é voltada para trabalhar alguma característica desportiva como: fundamentos, regras, coletivo, jogos etc. Em pesquisa realizada por Darido (1996) constatou-se a priorização às praticas de fundamentos e jogos desportivos nas aulas de Educação Física. Também, em artigo publicado por Betti (1995), verificou-se que raramente o conteúdo desenvolvido nas aulas não ultrapassa a esfera esportiva, fazendo do esporte conteúdo hegemônico da Educação Física.
O próximo gráfico apresenta-nos a preferência dos professores em trabalhar modalidades esportivas coletivas ou individuais. Cada entrevistado respondeu a seguinte pergunta: Quais as modalidades esportivas que trabalham, especificando-se a modalidade é coletiva ou individual.
Dentre as modalidades esportivas trabalhadas pelos professores nas aulas 70% dos profissionais da área de Educação Física, que foram entrevistados, trabalham somente com modalidades esportivas coletivas. Segundo Tubino (1999: 35) "a busca permanente do espetáculo esportivo e o abandono gradual das competições que não despertassem o interesse do publico foram as principais causas de reacomodação dos esportes olímpicos. Assim, os esportes coletivos, ganharam importância e os individuais perderam espaço na mídia", ou seja, a mídia tem forte influencia nas decisões tanto políticas quanto educativas do esporte. Já a minoria dos professores entrevistados, como podemos verificar no gráfico, compreende 30% do total de entrevistados que, além de trabalharem esportes coletivos trabalham esportes individuais. Portanto, todos os profissionais da área escolar entrevistados trabalham com modalidades coletivas.
Podemos verificar na tabela acima que dentre todos os professores de Educação Física 100% apresentam o Handebol a seus alunos nas aulas. Em seguida vem o Futebol e o Voleibol, no qual apenas 10% dos entrevistados não trabalham esse esporte nas aulas. E, por fim, o basquetebol que tem aderência de 80% dos professores de Educação Física nas aulas.
Betti (1995) aponta em sua pesquisa que, além de o esporte ser considerado conteúdo hegemônico nas aulas, restringe-se a apenas algumas modalidades esportivas coletivas como: Futebol, Voleibol e basquetebol. Todos os professores entrevistados por min, implementaram o Handebol junto aos outros três esportes coletivos citados por Betti (1995). Isto pode ser fruto da crescente popularização que o Handebol vem obtendo no Brasil, tanto através da mídia televisiva quanto a impressa que divulga o desporto através de revistas mensais no território nacional.
Dentre os esportes individuais lecionados como conteúdo nas aulas de Educação Física de 5ª à 8ª séries, há tanto a preferência por esportes que exigem habilidades motora, cognitiva dos alunos, como esportes que exigem única e exclusivamente habilidade cognitiva. É o caso do Xadrez que é um dos esportes individuais que os professores mais utilizam nas aulas. Em seqüência, utilizado por 75% do total de entrevistados, vem o Tênis de Mesa e a Dama. E por último o boxe, sendo que 33% dos entrevistados aderem a esse esporte em suas aulas. Como verificou Sousa (1997) um dos motivos para a escolha dos esportes mais tradicionais é a influência da mídia. A mídia é analisada por Darido (1996) como componente que pode contribuir ou atrapalhar o desenvolvimento das propostas da Educação Física na escola. Atualmente podemos assistir campeonatos nacionais de Atletismo como: Troféu Brasil e outros, graças ao crescente numero de atletas que se destacam no cenário mundial da modalidade.
Na tabela abaixo estão descritas as respostas cedidas por cada entrevistado a seguinte questão: Como ou em quê o esporte acrescenta ao desenvolvimento dos alunos?
Nesta questão, os sujeitos entrevistados ao responderem enfatizaram o desenvolvimento em diversos segmentos, principalmente o desenvolvimento físico, motor e cognitivo. Alguns professores deram mais de uma resposta para tal pergunta. Como podemos verificar no quadro acima, no âmbito das respostas, em sua maioria 60% dos professores entrevistados vêem o esporte como conteúdo que auxilia os alunos nos seus desenvolvimentos totais, sendo eles o físico, motor e cognitivo. Segundo Teleña (1978), no inicio da faixa etária compreendida nas três ultimas séries do ensino fundamental pode-se exigir coordenação precisa dos alunos, já que os centros nervosos encarregados desta função alcançam sua plenitude. O mesmo autor cita o professor francês Dehoux, que diz "Dos 11 aos 16 anos o espírito de analise e de métodos assegurados pela memória muscular em estado de latência assegura as fases da habilidade..." (p. 4).
Em seguida, 50% das respostas foram focadas, no sentido que o esporte compreende também respeito às regras (segundo os entrevistados o respeito às regras implica em respeitar o próximo, respeitar limites como saber competir e também por disciplinar os alunos através das regras propostas por cada modalidade esportiva); Segue-se a resposta de 30% dos profissionais da área que dizem que o esporte na escola contribui na formação do aluno, no sentido que ele se conscientizará da importância da pratica de atividade física em nossas vidas e assim melhorando a qualidade de vida. Baseado no que diz Guedes (1999) os professores de Educação Física devem "adotar em suas aulas, não mais uma visão de exclusividade a pratica de atividades esportivas e recreativas, mas fundamentalmente alcançarem metas voltadas para a educação para a saúde, mediante seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos não apenas situações que os tornem crianças e jovens ativos fisicamente, mas, sobretudo, que os conduzam a optarem por um estilo de vida saudável ao longo de toda vida" (p. 11).
Na questão "O que o conteúdo esportivo tem de positivo quando comparado a outras atividades que não sejam o esporte?" Obtivemos as seguintes respostas:
Nesta ultima questão buscou-se verificar o que o esporte tem de positivo, já que 100% dos entrevistados trabalham com o conteúdo esportivo. Os professores responderam de diversas maneiras, como podemos verificar na tabela acima. Essas respostas foram classificadas em grupos de aproximação de respostas. Portanto, vamos verificar cinco justificativas neste texto. A priori 70% dos professores responderam que um dos pontos positivos proporcionados pelo esporte é a Cooperação, que compreende a maioria das respostas. Orlik1 (apud Paes, 2000) afirma que "...o esporte é reflexo da sociedade em que vivemos e que podem criar o que é refletido na sociedade" e "... valores e modos de comportamentos podem ser apreendidos por meio de jogos e de brincadeiras" (p. 94) Com 50% das respostas a socialização se destaca como fator positivo do esporte. Para Brugger (1969, p 387) "socialização: denomina-se por este vocábulo a medida (não recomendada somente pelo socialismo) que consiste em saber passar a propriedade, principalmente dos meios de produção, a propriedade comunitária", não a fim de entregá-la para uso comum, senão para organizar sua exploração de maneira econômico-comunitário ou seja, em beneficio de todos ou de um circulo mais vasto. Na maioria dos casos, a propriedade transitava do Estado (nacionalização); hoje, porém tem-se em mira formas de verdadeira "socialização". - sempre que a propriedade confere um poder excessivo, a socialização pode ser o único meio de lhe pôr um freio. Pelo contrario a transferência de todos os meios de produção para estado (socialização total ou sistemática) daria origem a uma prepotência ainda mais perigosa, pelo fato de reunir, na mesma entidade os poderes políticos e econômicos. Baseado nesse trecho, o professor de Educação Física pode trabalhar a socialização através do esporte, conscientizando seus aluno a desenvolverem espírito de companheirismo em beneficio de todos. Segundo Tubino (1999: 7) "o esporte é considerado um dos fenômenos sócio-culturais mais importantes do final do século XX".
Em seguida, 40% dos entrevistados acreditam que o esporte ensina o aluno a respeitar as regras, tanto do desporto como da sociedade (respeitar as regras compreendeu também o item cidadania que foi respondido pelo individuo 5). Destaca-se também entre os itens respondidos a inclusão social que o esporte proporciona, correspondendo a 30% das respostas.
E, por ultimo, 10% das respostas diz que o esporte é conteúdo que atrai os alunos para as aulas de Educação Física de 5ª à 8ª séries, ou seja, as aulas cujo conteúdo implica em alguma modalidade esportiva têm aderência dos alunos.
Considerações finaisO esporte é conteúdo hegemônico nas aulas de Educação Física da 5ª a 8ª séries do ensino fundamental. Porém, os professores estão trabalhando o esporte numa perspectiva mais social e menos desenvolvimentista.
Os professores de Educação Física atualmente não trabalham mais prioritariamente o conteúdo esportivo em sua dimensão tática e técnica, mas colocam, agora, a ênfase mais na dimensão sócio-cultural, buscando a cooperação, a socialização e a conscientização. As aulas de Educação Física passaram a incorporar a dimensão do espaço cultural. Entretanto, ficou evidente que o conteúdo especifico mais trabalhado nas aulas de Educação Física Escolar, são as modalidades esportivas coletivas como o Handebol, Futebol, Voleibol e Basquetebol. Porém, se deve trabalhar também os esportes individuais que são praticamente excluídos das aulas de Educação Física.
Não se deve utilizar o esporte com a máxima de que "o fim justifique os meios", bem como não se deve cultivar a consciência ingênua de que os problemas agora serão resolvidos e/ou mesmo de uma consciência crítica, acrítica, na perspectiva de que o esporte é reprodução de um pensamento puramente positivista.
Vale ressaltar que houve uma superação na visão dos professores de Educação Física, entrevistados, em relação a uma mentalidade mais pragmática, principalmente nos mais experientes. Estes, provenientes de uma formação profissional pautada mais no currículo técnico-esportivo, que enfatizava a dimensão procedimental, colocaram as suas perspectivas de trabalho mais nas dimensões conceitual e atitudinal sem apresentarem nenhum condicionamento, a priori, estabelecido. Isso revela maior interesse e preocupação por parte dos professores quanto à melhora da qualidade das aulas de Educação Física.
Embora prevaleça um posicionamento positivo e hegemônico do conteúdo esportivo na escola acredita-se que a Educação Física é muito mais que o esporte. De modo que espera -se que no decorrer do tempo, os diferentes conteúdos da Educação Física também encontrem o seu lugar na esfera escolar.
Nota
Autor fortemente embasado na teoria dos jogos cooperativos.
Referências
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DARIDO, S. C. Ação pedagógica do professor de Educação Física: estudo de um tipo de formação profissional científica. Tese do Doutorado, Instituto de Psicologia, USP, 1996.
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GUEDES, D. P. Educação para a saúde mediante programas de Educação Física escolar. Motriz, vol 5, nº 1, Junho, 1999.
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TUBINO, M. J. G. O que é esporte. São Paulo. Brasiliense, 1999 - (Coleção Primeiros passos).
revista
digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires,
Febrero 2007 |