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Atividade física e crianças

   
Universidade Federal
de Santa Maria - UFSM
(Brasil)
 
 
Danielle Biazzi Leal
Debora Peres Klug

danibiazzi@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Devido às diversas variáveis que influenciam a atividade física em crianças, tem-se como objetivo neste estudo revisar na literatura a relação da atividade física com a idade, gênero e raça/etnia em crianças. Foi utilizada a base de dados do PubMed do ano de 1998 ate 2005, onde foram cruzadas as palavras chaves children, physical activity, race, ethnicity, sex and age. Fica claro que com o avançar da idade existe uma tendência a um declínio das atividades físicas, especialmente nas meninas, e que parece existir um ponto critico, sendo este na idade de 15 anos. Os meninos realizam atividades físicas moderadas-vigorosas e vigorosas em maior quantidade que as meninas, salientando as diferenças entre os gêneros, mas mesmos nestes ocorrem um declínio com o passar da idade. A raça/etnia tem forte influencia nos níveis de atividade física das crianças, podendo ser conseqüência da cultura particular de cada uma.
    Unitermos: Criança. Atividade física. Gênero. Etnia. Idade.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007

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    A atividade física constitui, em média, uma porção relativamente pequena do gasto energético total (Gutin & Barbeau, 2003), podendo representar entre 15 - 50% do total do gasto, dependendo da quantidade de atividade física desenvolvida e da massa corporal do indivíduo (Livingstone et al. 1990), sendo que este componente do gasto energético é o mais variável, tanto em um mesmo indivíduo como em indivíduos distintos.

    Um importante aspecto na medida da atividade física habitual é a definição e interpretação do termo Atividade Física (Montoye et al, 1996), a quantidade de energia gasta durante uma atividade física é determinada pela sua quantidade desenvolvida e pela eficiência com a qual é realizada. A quantidade total de atividade física realizada durante um dia é a soma dos exercícios programados, das atividades associadas à vida diária (por exemplo, andar, subir escadas etc...) e das atividades musculares improdutivas, como inquietação e tremores, algumas vezes referidas como termogêneses da atividade física sem exercício. (Melby et al. 2003).

    E consensual na literatura especializada que a atividade física habitual é um comportamento de grande importância para a promoção de um estilo de vida saudável, tanto na infância e juventude quanto na idade adulta (Leon et al. 1987, McClaren et al. 1995, Pate et al. 1995). Estudo demonstrou que crianças com um estilo de vida mais sedentário se tornarão adultos sedentários (Blair & Connelly, 1996).

    A prática de atividade física por crianças e adolescentes é extremamente complexa, estudo de revisão realizado por Sallis et al. (2000) recrutou variáveis que influenciam na prática de atividade física de criança e adolescente. As variáveis que estavam associadas às crianças (3 - 12 anos) foram gênero, pais com sobrepeso (inversa), preferência de atividade física, intenção em ser ativo, barreiras percebidas (inversa), dieta saudável, facilidade no acesso a programas de atividade física, já para adolescentes estas variáveis foram gênero, etnia, idade (inversa), competência percebida na atividade, intenção, depressão (inversa), comunidade do esporte, sedentarismo após escola e nos finais de semana (inverso), suporte dos pais, suporte de outros, oportunidades de se exercitar.

    Devido a estas diversas variáveis que influenciam a atividade física em crianças e buscando sustentação teórica para qualificar a orientação nos programas de atividade física para esta população, tem-se como objetivo neste estudo revisar na literatura a relação da atividade física com a idade, gênero e raça/etnia em crianças.

Metodologia

    Este estudo caracteriza-se como sendo de revisão de literatura, onde buscou analisar a influência do gênero, idade e raça/etnia na atividade física em crianças.

    Foi utilizado a base de dados do PubMed do ano de 1998 ate 2005, onde foram cruzadas as palavras chaves children, physical activity, race, ethnicity, sex and age.

    Foram detectados 306 artigos e selecionou-se um rool de 20 artigos, sendo que 11 tratavam de atividade física e raça/etnia, 11 tratavam de atividade física e gênero, 5 tratavam de atividade física e idade.

Atividade física e gênero

    A atividade física diminui com o passar da idade especialmente em meninas (Stone et al. 1998) e aumenta este declineo quando as mesmas são negras (Kimm et al. 2002). Aproximadamente 20% das crianças norte-americanas não se exercitam em atividades físicas 2 vezes por semana em intensidade vigorosa, com uma percentagem maior em meninas (26%) do que em meninos (17%) (Andersen et al. 1998).

    Trost et al. (2002) estudou as diferenças nos níveis de atividade física entre meninos (n = 185) e meninas (n =190), por sete dias consecutivos analisou-se as atividades físicas moderadas (3-5.9 METs) e vigorosas (>6 METs) e concluiu que meninos são mais ativos do que meninas em ambos os níveis. Guerra et al (2003), Ducan et al. (2004) também detectaram esse mesmo fenômeno em seus estudos, meninos têm níveis maiores de atividades físicas de moderadas-vigorosas do que meninas e Pate et al. (2004) detectou o mesmo fenômeno em crianças pré-escolares.

    Mechelen et al. (2000) num estudo longitudinal, analisando a sua amostra dos 13 aos 27 anos, encontrou que a diferença entre adolescentes meninos e meninas, e predominantemente causada pelo tempo gasto em atividades físicas, meninos gastam mais seu tempo em atividades vigorosas enquanto elas gastam mais seu tempo em atividades moderadas. Heggebe & Andersen (2003) estudando crianças Norueguesas chegaram a esse mesmo resultado, em sua amostra houve diferenças nos gêneros, em detrimento de que as meninas não alcançarem um mínimo de 60 minutos de atividades físicas diárias ao nível moderado-vigoroso. Caspersen et al. (2000) aponta que a diferença na atividade física vigorosa pode chegar a 11.3% maior para os meninos.

Atividade física e idade

    Estudo mostrou que com o passar dos anos os níveis de atividades físicas, moderadas-vigorosas e vigorosas, tendem a diminuir. Trost et al. (2002) subdividiu a sua amostra em quatro grupos conforme a graduação escolar das crianças, no grupo de 1-3 (7,2 1,4 ano), grupo 4-6 (10,4 1,0 ano), grupo 7-9 (12,9 0,9 ano) e grupo 10-12 (15,8 1,1 ano), e detectou uma relação inversa entre idade e atividade física moderada-vigorosa e vigorosa independentemente do sexo analisado, sendo que a maior queda de atividade física se deu na passagem da graduação 4-6 para a graduação 7-9, resultado similar ao estudo de Treuth et al. (2004) onde as faixa-etarias de 9 a 10 anos e 18 a 19 anos apresentam-se como as idades que ocorrem o maior declineo de atividade física, em decorrência do aumento do índice de massa corporal (Treuth et al. 2004).

    Mechelen et al. (2000) mediu sua amostra nas idades de 13, 14, 15, 16 e 27 anos para a variável hábitos de atividades físicas, e detectou que houve sempre uma queda desta com o decorrer da idade com maior ênfase nos 15 anos. Resultado similar encontrado por Caspersen et al. (2000) analisando o Youth Risk Behavior Survey para adolescentes do ano de 1991, onde houve um declineo considerável entre as idades dos 12 e 21 anos, com maior ênfase a partir dos 15 anos. Outro estudo que vai ao encontro dos achados anteriores foi realizado por Heggebe & Anderssen (2003) em uma amostra de crianças e adolescentes Noruegueses, viu-se que as crianças a partir dos nove anos, em 86,2% realizavam um mínimo de 60 minutos de atividades moderadas a vigorosas por dia, e que a partir dos 15 anos esse percentual baixou para 55,4%.

Atividade física e raça/etnia

    Inúmeros estudos têm indicado diferenças entre atividade física e raça/etnias (Gordon - Larsen et al. 2002, Kiew et al. 2003, Forshee et al. 2004), e que há diferenças raciais e ganho de peso com o passar dos anos em crianças (Forshee et al. 2004, Baltrus et al. 2005), pesquisas relatam maior nível de atividade vigorosa em crianças brancas americanas quando comparada com crianças negras, Hispânicas e Mexicanas (Andersen et al. 1998) e maior nível de atividade física diária quando comparada com crianças americanas, mas descendentes de Mexicanos (Sallys et al. 1998).

    Contrariando este achado, Pate et al (2004) estudando crianças pré-escolares verificou que crianças negras participavam mais de atividades físicas vigorosas do que crianças brancas.

    Kimm et al. (2002) perceberam que há uma maior associação no declineo da atividade física entre meninas negras do que meninas brancas.

    As diferenças raciais/étnicas parecem ser indicativos de diferenças sócio - econômica e culturais. Ducan et al. (2004) em seu estudo verificou que a condição sócio-econômica apresenta forte influência no nível de atividade física de crianças, as mesmas que apresentavam condições sócio-econômica baixa também apresentavam níveis de atividade física baixa e estas estavam associadas à etnia do sujeito.

    Vincent et al. (2003) avaliou os níveis de atividade física e IMC de crianças dos Estados Unidos, Suécia e Austrália, um total de 1954 crianças na faixa etária de 6 a 12 anos foram medidas, o estudo demonstrou que crianças americanas tendem a ser menos ativas do que as crianças Suecas e Australianas, em conseqüência do aumento do IMC.

    Unger et al. (2004) comenta em seu estudo que a cultura foi significantemente associada com a baixa freqüência de atividade física e aumento do consumo de fast-food em americanos de cultura asiáticas e hispânicas.

Conclusão

    Os relatos deixam claro que com o avançar da idade existe uma tendência a um declínio das atividades físicas, através de forte influência de fatores comportamentais e sociais especialmente nas meninas, e que parece existir um ponto crítico, sendo estes na idade de 15 anos.

    Os meninos realizam atividades físicas moderadas-vigorosas e vigorosas em maior quantidade que as meninas, salientando as diferenças entre os gêneros, mas mesmos nestes ocorrem um declínio com o passar da idade.

    A raça/etnia tem forte influência nos níveis de atividade física das crianças, podendo ser conseqüência da cultura particular de cada uma. Sugere-se que os programas de promoção de saúde levem em consideração a idade, gênero e a raça/etnia em sua elaboração.

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revista digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires, Febrero 2007  
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