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Variáveis biomecânicas do chute com o dorso do pé

   
*Mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana.
**Doutor em Ciência do Movimento Humano e
professor das disciplinas de Biomecânica I e II.
Universidade Federal de Santa Maria.
(Brasil)
 
 
Clarissa Stefani Teixeira*
clastefani@gmail.com  
Carlos Bolli Mota**
bollimota@gmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     Biomecânicos do esporte analisam diferentes modalidades identidicando as características cinemáticas que definem uma performance de elite, ou que determinam fatores biomecânicos que podem limitar o desempenho. O chute com o dorso do pé, ganha uma significativa importância, pela maior potência e boa precisão obtida com sua execução. Sua análise torna-se importante para a compreensão da motricidade humana, pois assim pode-se entender como o movimnento é controlado, assessorando o profissional da Educação Física. Logo, buscou-se verificar o ângulo, a velocidade linear e angular do quadril e joelho, a velocidade linear da ponta do pé e a velocidade da bola durante o chute. Foram analisados três jogadores de futebol de campo, destros, de três diferentes categorias, com idades respectivas de 10, 15 e 19 anos. Utilizou-se o sistema Peak Motus com duas câmeras de vídeo operando a 180 Hz. Conclui-se que as variáveis estudadas possuem similaridade entre todos os sujeitos.
    Unitermos: Biomecânica. Chute. Dorso do pé.
 
Abstract
     Sports biomechanics analyze different modalities by identifying cinematic characteristics which define an elite performance or determine biomechanical factors that could limit performance. Kicking with foot back becomes significantly important due to its major power and good accuracy obtained through its implementation. Its analysis becomes important to the understanding of human motricity because we can understand how movement is controlled in order to help the Physical Education professional. So, we tried to verify the angle, the linear and angular speed of both hip and knee, the linear speed of foot extremity and the ball speed during the kick. Three right handed football players from different categories aged 10, 15, 19 respectively were analyzed. The Peak Motus system with two video cameras operating in 180 Hz was used. We find out that the studied variables have similarities between all individuals.
    Keywords: Biomechanics. Kick. Foot back.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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Introdução

    O futebol de campo é um jogo esportivo disputado por duas equipes, com onze jogadores cada uma, com uma bola em um campo, e uma goleira em cada uma das suas extremidades, cujo objetivo é fazer a bola entrar no gol defendido pelo adversário.

    O futebol é um esporte simples de se organizar, mas complexo para praticar (LEITE, 1990). Principalmente no Brasil, o contato com essa modalidade esportiva é precoce, seja na rua ou na escola, fazendo com que seus fundamentos sejam praticados desde cedo. Isso torna possível que com esse contato, a criança adquira um maior grau de experiência e criatividade, ativando assim, suas habilidades naturais, mas que em algumas vezes, dificuldades na realização de algumas tarefas simples ainda poderão surgir. Para essas resoluções, alguns autores afirmam que o acompanhamento de um especialista é um fator preponderante para se obter sucesso (MELO, 1999), pois alguns dos deveres do educador são proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento psicomotor; melhorar a aptidão física; estimular a aquisição e aprimoramento de padrões motores fundamentais e despertar a criatividade. Para Venlioles (2001), ninguém melhor do que um profissional para orientar corretamente e ainda objetivar uma boa técnica.

    Para alguns autores nenhum profissional sem conhecimentos de Anatomia, Fisiologia, Biomecânica, Aprendizagem Motora e Pedagogia, está apto a desenvolver um trabalho de iniciação ou aprimoramento desportivo (VENLIOLES, 2001). Dentro da investigação científica, a biomecânica tem enfocado o futebol, e alguns trabalhos têm sido publicados nesta área. Com a ajuda das características biomecânicas é possível reconhecer objetivamente os traços básicos de um determinado estilo ou de uma técnica e, desta maneira, estabelecer objetivamente as diferentes técnicas de uma especialidade esportiva, encontrando entre elas a mais apropriada (DORST, 2001). Procura-se definir através de métodos e princípios biomecânicos os parâmetros técnicos fundamentais do movimento. Quanto maior a interdependência, tanto mais avançado é o processo de especialização e maturidade do movimento, e maior é a possibilidade de se entender a estrutura de movimento na sua concepção mais complexa para análise (AMADIO, 1999). O relacionamento entre os parâmetros estruturais do movimento faz-se presente, na prática, através da real interdependência entre dois parâmetros (qualitativo e quantitativo). A abordagem biomecânica para análise dos movimentos pode ser qualitativa, com o movimento observado e descrito, ou quantitativa, significando que está sendo feita alguma medida de movimento (HAMILL e KNUTZEN, 1999).

    A biomecânica do esporte vem tendo um progresso no desenvolvimento de novos procedimentos e técnicas de investigação, tendo como tarefa, a caracterização e otimização das técnicas de movimento através dos conhecimentos científicos provenientes de diversas análises, entre elas a análise cinemática, que busca descrever o movimento. Inúmeros estudos têm sido realizados com a intenção de compreender mais sobre o processo de execução de movimentos, desde a sua forma mais rudimentar até um movimento especializado (AMADIO, 1996). Na técnica de execução pode-se selecionar os movimentos mais simples e eficientes dos fundamentos existentes no futebol. Dentro destas perspectivas pode-se salientar o chute, fundamento mais estudado por ser um gesto técnico determinante do desempenho.

    Existem vários tipos de chutes realizados em diversas situações de jogo e estes podem ser classificados de acordo com a região do pé que entra em contato com a bola. Dos trabalhos já realizados, o chute com o dorso do pé, que tem seu ponto de contato formado pela parte superior do pé, desde os dedos até o tornozelo, ganha uma significativa importância, pela maior potência e pela boa precisão obtida com sua execução. Atualmente, alguns estudos visam a análise de diferentes modalidades para identificar as características cinemáticas que definem uma performance de elite, ou para determinar os fatores biomecânicos que podem limitar o desempenho (HALL, 2000).

    Diante disto este estudo teve como objetivos verificar o ângulo, a velocidade angular e linear do quadril e do joelho, velocidade linear da ponta do pé e a velocidade da bola, visando identificar as diferenças existentes durante a execução do chute com o dorso do pé em diferentes categorias do futebol de campo.

    Os dados expostos neste estudo poderão colaborar principalmente com os profissionais que trabalham com ensino do futebol em diferentes faixas etárias, para que estes consigam fornecer aos alunos e/ou atletas, maior segurança, podendo também compreender melhor a relação entre as questões da biomecânica, do desenvolvimento motor e da própria técnica de execução dos movimentos contribuindo para melhor informação e feedback.


Procedimentos metodológicos

    Este estudo foi realizado com 3 jogadores de futebol de campo do sexo masculino, praticantes de escolinhas de Santa Maria - RS, das categorias pré-mirim (S1) infantil (S2) e juniores (S3), todos destros. A idade, a massa corporal e a estatura dos três sujeitos estão indicados na tabela 1.

    Para a seleção dos sujeitos escolheu-se intencionalmente alunos que tinham o tempo mínimo de um ano de prática e que treinassem duas ou mais vezes por semana, assiduamente.

   &nbPara a avaliação cinemática foi utilizado o sistema Peak Motus (Peak Performance Inc.) com duas câmeras de vídeo com freqüência de aquisição de imagens de 180 Hz, que registraram as imagens para posterior reconstrução tridimensional do movimento. Para a calibração do sistema foi utilizado o calibrador original do sistema Peak Motus.

    No primeiro contato com os sujeitos e seus pais foi explicado o objetivo do estudo, bem como os procedimentos para a coleta de dados. Não havendo dúvidas, os pais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que seus filhos pudessem participar do estudo.

    Antes da coleta de dados, foi feito um trabalho de aquecimento, o qual os sujeitos realizaram chutes para a ambientação, conforme os procedimentos que seriam realizados durante as filmagens. Os sujeitos foram instruídos a tentar acertar um alvo (figura 3), com dimensões de um metro quadrado assim como em um estudo realizado por Lees e Nolan (1999), que estava disposto no centro do gol, a meia altura. Assim como no estudo de Cunha, Ximenes e Magalhães Júnior (2001) o chute foi executado da marca do pênalti, situada a 11m da goleira. Foram analisadas três tentativas de cada sujeito que acertaram o alvo imposto. Uma corrida prévia (aproximadamente a partir da linha da grande área) antecedeu o chute, pois segundo Opavsky apud Barbieri (2005) os chutes que apresentam corrida de aproximação mostram maiores velocidades.

    Após a montagem das câmeras, foi realizada a filmagem do calibrador, sendo este posicionado no centro do espaço em que ocorreu o movimento analisado. Na seqüência os sujeitos foram filmados realizando o chute com o dorso do pé. O chute foi realizado com o membro dominante e o movimento foi processado desde a saída do pé de ataque até 10 quadros (0,0055 s) após o toque deste pé na bola. Foram analisados os instantes: saída do pé de ataque, toque do pé de apoio, toque na bola e final do movimento.

    As referências anatômicas utilizadas para a determinação das variáveis cinemáticas foram acrômio direito, trocanter maior do fêmur direito, côndilo lateral do fêmur direito, maléolo lateral da tíbia direito, calcâneo direito, extremidade anterior da falange distal do hálux direito e centro da bola.

    O acrômio direito e o trocanter maior do fêmur direito definiram o segmento tronco, o trocanter maior do fêmur direito e o côndilo lateral do fêmur direito definiram o segmento coxa direita, o côndilo lateral do fêmur direito e o maléolo lateral da tíbia direito definiram o segmento perna. O pé direito foi definido pelo calcâneo direito e pela extremidade anterior da falange distal do hálux. O ângulo do quadril foi definido como anatômico 180 entre os segmentos acrômio e trocanter maior do fêmur direito, o ângulo do joelho foi definido como o ângulo anatômico 180 entre os segmentos coxa e perna.

    Posteriormente à filmagem foi realizada a digitalização manual das imagens, o que permitiu a aquisição das coordenadas dos pontos de interesse. Os dados brutos foram filtrados utilizando um filtro Butterworth e posteriormente as variáveis cinemáticas foram calculadas.

    As câmeras foram posicionadas lateralmente ao movimento do sujeito, conforme mostra o esquema da figura 2.


Resultados e discussões

    As três curvas do ângulo do quadril, ilustradas na figura 3, mostram similaridade em seu traçado, com os mínimos valores encontrados um pouco antes da metade do movimento. O S1 sobressaiu-se nestes, que representam a extensão de quadril, seguido pelo S3 e S2, respectivamente. Os maiores valores dos ângulos, quando os sujeitos realizaram a maior flexão, encontram-se no final do movimento, sendo que o S2 e S3 apresentaram valores muito próximos; e o S1 obteve angulação máxima um pouco menor em relação aos outros dois sujeitos.

    Na saída do pé de ataque o único sujeito que apresentou valores positivos foi o S2 com valores de 8,98 ± 2,72°, o S1 e o S2 partiram de valores negativos - 4,99 ± 1,26° e - 2,18 ± 2,50°, respectivamente, o que significa que o S3 partiu com o movimento em uma menor flexão de quadril. No instante do toque do pé de apoio o S1 encontrou-se com a maior flexão - 42,71 ± 8,42°. Para o S2 observou-se valores de - 20,25 ± 1,79° e para o S3 de - 30,61 ± 2,90°. Os valores encontrados para o toque na bola foram 6,02 ± 4,40° para o S1, 25,75 ± 0,77° para o S2 e 15,14 ± 1,33 para o S3. No final do movimento os valores foram de 43,48 ± 1,69° para o S1, 40,25 ± 13,17° para o S2 e 39,11 ± 4,37° para o S3. O ângulo máximo do quadril para S1, S2 e S3 foram - 43,03 ± 8,05°, - 20,51 ± 2,11° e - 31,99 ± 1,59°, respectivamente.

    As curvas do ângulo do joelho, como ilustra a figura 4, apresentam comportamentos semelhantes entre si. O movimento inicia com valores baixos, visto que neste instante o joelho está em extensão. O S2 é o que se apresenta com maior extensão neste instante. Os valores aumentam, pois a tendência do movimento é de flexão de joelhos para o membro de ataque, mas o S2 não se mantém com os maiores valores. O S3, que no início do movimento apresentava valores intermediários, passa a apresentar os valores mais altos a aproximadamente na metade do movimento, mantendo-se até o final com os valores mais altos. Depois da metade do movimento ocorreu o maior ângulo de flexão do joelho. Apesar do S2 apresentar valores mais altos que o S1 no inicio do movimento, depois da sua metade, estes sujeitos apresentam, valores muito similares. Os menores valores foram encontrados no início e no final do movimento. Isto se deve ao fato de o gesto técnico ser iniciado com uma extensão do joelho, passado por uma flexão máxima na metade do movimento e finalizado novamente com uma extensão.

    No início do movimento o S1 apresentou valores 9,56 ± 6,90°, o S2 de 21,40 ± 0,92° e o S3 de 18,43 ± 4,66°. No instante do toque do pé de apoio o ângulo do joelho para os três sujeitos foram S1 79,87 ± 1,28°, S2 82,52 ± 7,35° e S3 84,55 ± 9,62°.

    O ângulo do joelho no momento do toque do pé na bola para o S1 foi 51,36 ± 1,89°, no S2 observou-se 56,67 ± 2,03° e no S3 64,11 ± 3,15°. Durante esse instante, Garret e William (2003) afirmam que ao contato do pé com a bola, o joelho apresenta poucos graus de flexão. No final do movimento os valores apresentados para o S1, S2 e S3 foram 4,24 ± 6,20°, 10,79 ± 4,82° e 7,50 ± 5,83°, respectivamente. Os ângulos de flexão máxima do joelho foram: 89,97 ± 1,97° para o S1, 98,85 ± 3,01° para o S2 e 102,73 ± 2,76° para o S3, estes valores mostram-se similares à estudos realizados que ao analisar sujeitos do sexo feminino encontrou valores de aproximadamente 95° de flexão máxima (LESS, 2001).

    A figura 5 ilustra a velocidade linear do quadril. As três curvas apresentaram comportamentos semelhantes. Um pouco antes da metade do movimento a velocidade linear do quadril diminui para os três sujeitos, numa estratégia de controle motor para aumentar a velocidade angular do joelho. Os valores iniciam-se mais elevados no início do movimento. O S2 e o S3 apresentam valores próximos, mas a aproximadamente na metade mo movimento os sujeitos distanciam seus valores e o S2 mantém os maiores até o final do movimento. Durante toda a execução do chute com o dorso do pé o S1 apresentou a velocidade linear do quadril mais baixa.

    Ao analisar a velocidade linear do quadril na saída do pé de ataque o resultado apresentado para o S1 foi de 3,47 ± 0,33 m/s, para o S2 de 4,42 ± 0,12 m/s e para o S3 de 4,21 ± 0,11 m/s. No toque do pé de apoio o S1 apresentou velocidade de 3,82 ± 0,32 m/s, o S2 de 5,05 ± 0,06 m/s e o S3 de 4,62 ± 0,94 m/s. Estes dados aproximam-se do estudo de Garret e Willian (2003) que analisaram o contato do pé de apoio. Esses autores apresentaram valores de aproximadamente 8 m/s quando o pé de apoio tocou o solo. No momento do toque com a bola os mesmos autores apresentam valores de aproximadamente 3 m/s o aproxima-se dos dados encontrados neste estudo, visto que, o S1 apresentou valores de 1,73 ± 0,28 m/s, o S2 de 3,37 ± 0,19 m/s e o S3 de 2,72 ± 0,21 m/s. No final do movimento os três sujeitos, S1, S2 e S3 apresentaram velocidades de 1,48 ± 0,46 m/s, 2,82 ± 0,34 m/s e 1,36 ± 0,13 m/s, respectivamente. A velocidade linear máxima do quadril para os mesmos sujeitos foram 3,85 ± 0,31 m/s, 1,73 ± 5,82 m/s e 4,78 ± 0,14 m/s.

    A figura 6 ilustra a velocidade linear do joelho. As curvas apresentam traçados semelhantes, e nota-se que os maiores valores foram encontrados um pouco depois da metade do movimento, coincidindo com o instante de flexão máxima do joelho e também com a velocidade angular mais elevada do quadril. Neste instante os maiores valores foram apresentados pelo S3, seguido pelo S2 e S1, respectivamente. As curvas apresentam-se semelhantes as do ângulo do joelho, mostrando que a velocidade aumenta, assim como os valores desse ângulo. Novamente o S1 apresentou os menores valores de velocidade linear durante todo o movimento.

    Os valores apresentados no instante da saída do pé de apoio para o S1 foi 2,55 ± 0,25 m/s, para o S2 foi 2,79 ± 0,33 m/s e para o S3 foi 2,47 ± 0,35 m/s. A velocidade linear do joelho no toque do pé de apoio para o S1 foi de 6,01 ± 0,27 m/s, para o S2 foi 7,49 ± 0,49 m/s e para o S3 foi de 8,20 ± 0,72 m/s. Estes valores aproximam-se de estudos que objetivaram analisar a velocidade linear do joelho durante o chutar, que neste mesmo instante mostrou valores de aproximadamente 9,00 m/s (GARRET e WILLIAN, 2003). No instante do toque na bola o S1, S2 e o S3 apresentaram valores de 2,99 ± 0,51 m/s, 4,98 ± 0,25 m/s e 4,88 ± 0,20 m/s, respectivamente. Porém no instante de contado com a bola, Garret e Willian (2003) apresentam valores de aproximadamente 18 m/s indo de encontro aos valores encontrados neste estudo. Os mesmos autores ainda afirmam que a velocidade neste instante é máxima, o que mais uma vez difere dos dados aqui encontrados. Nesse estudo, s velocidade linear máxima para S1, S2 e S3 foram respectivamente 7,07 ± 0,16 m/s, 8,63 ± 0,25 m/s e 9,31 ± 0,31 m/s. E, no final do movimento o joelho se apresentou com uma velocidade linear de 2,87 ± 0,21 m/s para o S1, 4,41 ± 0,12 m/s para o S2 e 6,19 ± 0,76 m/s para o S3.

    A figura 7 ilustra a velocidade linear da ponta do pé. O S2 apresentou os maiores valores e o S3 os menores. No início do movimento os três sujeitos apresentaram velocidades semelhantes. Depois da metade do movimento o S2 apresenta os maiores valores, mas o S3 na diminui sua velocidade e ao final do movimento passa a apresentar os maiores valores. A maior velocidade linear ocorreu depois da metade do movimento, e mais uma vez, o S1 apresentou uma predominância de menores valores durante o movimento.

    Os valores da velocidade linear da ponta do pé para o S1, S2 e S3 no instante da saída do pé de ataque foram 2,39 ± 0,20 m/s, 1,90 ± 0,42 m/s e 2,25 ± 0,15 m/s, respectivamente. Ao analisar o instante do toque do pé de apoio os resultados foram para o S1 de 6,43 ± 0,16 m/s, para o S2 7,90 ± 0,53 m/s e para o S3 de 8,43 ± 0,67 m/s. Estes resultados apresentam-se similares a dados encontrados na literatura que durante o mesmo instante apresentam valores de aproximadamente 6,00 m/s (GARRET e WILLIAN, 2003). Os mesmos autores ainda apresentam valores de aproximadamente 20,00 m/s no instante do toque na bola, estes dados aproximam-se dos presente estudo, pois a velocidade linear da ponta do pé encontrada durante esse instante foi de 11,44 ± 1,28 m/s para o S1, 16,44 ± 0,48 m/s para o S2 e 18,13 ± 0,43 m/s para o S3. Em outro estudo realizado por Barfield, Kirkendall e Yu (2004), estes dados também mostram-se similares, pois os valores encontrados por estes autores em indivíduos do sexo masculino foram de 18,9 ± 1,6 m/s neste mesmo instante.

    No final do movimento os três sujeitos apresentaram valores respectivos de 5,30 ± 0,72 m/s, 6,45 ± 0,28 m/s e 12,35 ± 3,96 m/s. A velocidade linear máxima da ponta do pé foi 13,31 ± 1,56 m/s para o S1, 17,73 ± 0,38 m/s para o S2 e 19,66 ± 0,18 m/s para o S3. Estes dados aproximam-se de um estudo realizado, que analisando sujeitos do sexo masculino realizando chute com o membro dominante mostraram valores de 20,4 ± 1,3 m/s (BARFIELD, KIRKENDALL e YU, 2004).

    As maiores velocidades do pé nem sempre correspondem às maiores velocidades da bola. Após se constatar uma pobre relação entre a velocidade do pé e da bola, concluiu que o contato existente entre os dois corpos foi a maior variável na tentativa de se alcançar uma determinada velocidade da bola e não a máxima velocidade do pé (GARRET e WILLIAN, 2003). Em outro estudo quando se avaliou o tipo de chute dado por jogadores profissionais de futebol, surpreendentemente constataram uma pobre correlação (r = 0,49) entre a velocidade linear da porção distal do pé responsável pelo chute, no quinto metatarso, e a velocidade resultante da bola (RODANO e TAVANA, 1993). As indicações das descobertas são de que outros fatores, tais como a rigidez do membro no momento de impacto e a posição do pé em relação à bola, exercem papéis importantíssimos, influenciando na velocidade resultante da bola. Esses resultados foram confirmados em avaliação da velocidade da bola após o contato dos pés de jogadores colegiais e de nível profissional (atletas experientes) (GARRET e WILLIAN, 2003). Verificou-se também que o modo de contato entre o jogador e a bola parece ser o maior fator que distingue tais atletas, não sendo constatada nenhuma diferença entre eles quando se verificou a velocidade da bola após o impacto.

    Com relação a velocidade da bola, foram encontrados os seguintes valores: 17,16 m/s (61,78 km/h) para o S1, 24,87 m/s (89,54 km/h) para o S2 e 28,43 m/s (102,34 km/h) para o S3. Estes dados vão ao encontro dos valores apresentados por Loss et al (1999), que ao analisarem jogadores de seleções estaduais encontraram valores de 22,9 ± 2,7m/s durante a situação bola parada e chute com o dorso do pé. Less e Nolan (1998) também encontraram valores entre 20 e 30 m/s quando analisaram indivíduos experientes do sexo masculino. O mesmo ocorreu em um outro trabalho realizado por Barfield, Kirkendall e Yu (2004) que apresentaram valores da velocidade da bola de 25,3 ± 1,51 m/s quando realizado com o membro dominante.

    A figura 8 ilustra a velocidade angular do quadril. A curva mostrou-se similar durante todo o movimento dos sujeitos. No início do movimento todos os sujeitos apresentaram-se com velocidades negativas correspondentes a hiperextensão do quadril. O pico máximo da velocidade angular do quadril ocorreu depois da metade do movimento. O S3 apresentou os maiores valores neste instante. O S1 apresentou seu pico um pouco mais tarde do que os outros. A queda, depois do pico máximo, foi maior para o S3 e S2 do que para o S1. No final do movimento o S1 apresentou a maior velocidade angular, seguido do S3 e S2.

    Na saída do pé de ataque a velocidade angular para o S1 foi - 291,66 ± 27,89°/s, para o S2 foi - 348,84 ± 7,99°/s e para o S3 foi -370,63 ± 34,91°/s. No instante do toque do pé de apoio o S1, o S2 e o S3 apresentaram valores respectivos de - 6,80 ± 79,76°/s, 39,31 ± 75,15°/s e 139,03 ± 146,79°/s. Durante o toque na bola os mesmos sujeitos apresentaram valores de 292,25 ± 94,94°/s, 230,54 ± 63,21°/s e 163,13 ± 90,16°/s. No final do movimento o S1 mostrou valores de 300,08 ± 103,27°/s, o S2 de 97,51 ± 140,29°/s e o S3 de 579,26 ± 45,60°/s. A velocidade angular máxima do quadril foi de 700,51 ± 82,15°/s para o S1, 676,53 ± 53,78°/s para o S2 e de 691,89 ± 29,34°/s para o S3.

    As curvas da velocidade angular do joelho, ilustradas na figura 9, apresentam-se similares em seus traçados para o S2 e S3, sendo que o S1 difere das demais depois da metade do movimento. O primeiro pico ocorreu antes da metade do movimento, sendo que o S3 apresentou os maiores valores e um pico mais acentuado que os demais. Os valores mais baixos também são apresentados por esse sujeito, sendo que estes ocorrem um pouco antes do final do movimento. No final do movimento o S1 apresentou a maior velocidade angular do joelho, seguido pelo S2 e S3.

    Durante a saída do pé de ataque o S1, S2 e S3 apresentaram valores de 8,01 ± 209,95°/s, 11,83 ± 119,33°/s e 20,18 ± 62,58°/s, respectivamente. Durante o instante do toque do pé de apoio, segundo Garret e Willian (2003), a velocidade angular do joelho chega a valores a aproximadamente 100°/s. Estes dados mostram-se diferentes para todos os sujeitos apresentados neste estudo, visto que a variabilidade dos sujeitos foi bastante grande, estando os valores de S1 186,15 ± 451,50°/s para o S1, 591,24 ± 68,33°/s para o S2 e 641,48 ± 88,59°/s para o S3. No instante do toque na bola apresentam-se valores de aproximadamente 15,00°/s pela literatura (GARRET e WILLIAN, 2003). Isto também difere dos valores encontrados nos três sujeitos (S1, S2 e S3) que apresentaram valores respectivos de ? 854,99 ± 283,99°/s, ? 936,45 ± 93,37°/s e ? 1034,11 ± 122,20°/s. Porém em estudos realizados por Roberts e Metcalfe (1968) 15 milissegundos antes do contado do pé com a bola, a velocidade angular do joelho é em torno de 1500 a 2000°/s. Barfield, Kirkendall e Yu (2002) apresentam valores de 1111,54 ± 108,86 °/s, para o mesmo instante. No final do movimento os sujeitos apresentaram valores de 29,95 ± 91,37°/s S1, 260,63 ± 112,76°/s S2 e 372,50 ± 261,58°/s S3. A velocidade angular máxima do joelho foi de 709,59 ± 61,92 °/s para o S1, 814,71 ± 66,04°/s para o S2 e de 801,46 ± 48,35°/s para o S3.


Conclusões

    Diante das análises efetuadas chega-se a conclusão que as variáveis estudadas possuem similaridade entre os sujeitos das categorias pré-mirim, infantil e juniores. Ao analisar os traçados das curvas, nota-se uma similaridade dos sujeitos ao analisar o movimento nos ângulos do quadril e joelho e nas velocidades linear do quadril, joelho e ponta do pé. Em todas essas variáveis o S1 predominou com os menores valores e os maiores valores apresentaram uma variação entre os sujeitos 2 e 3 nos diferentes instantes do movimento.

    As maiores diferenças foram encontradas com relação a série temporal da velocidade angular do joelho, na qual o S1 apresentou os valores mínimos a aproximadamente 70% do movimento, o S2 a aproximadamente 80% e o S3 a aproximadamente 90%.

    Sugerem-se novos estudos principalmente com maior número de sujeitos em cada categoria e também um maior número destas, podendo ainda acrescentar novas variáveis.


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revista digital · Año 11 · N° 104 | Buenos Aires, Enero 2007  
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