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O desenvolvimento do processo de treinamento das
ações táticas ofensivas no futebol na categoria infantil

   
*Bacharel e Licenciado em Educação Física. Especialista
em Futebol - Universidade Federal de Viçosa.
**Professor de Futebol - Universidade Federal de Viçosa.
Mestre em Treinamento Desportivo - Universidade Federal de
Minas Gerais. Doutorando - Universidade Gama Filho.
***Bacharel e Licenciado em Educação Física. Especialista em
Futebol - Universidade Federal de Viçosa. Clube Recanto das Águas.
(Brasil)
 
 
Vitor Paulo de Melo*
vitorpaulom@ig.com.br  
Próspero Brum Paoli**
prosperopaoli@bol.com.br  
Cristiano Diniz da Silva***
crisilvadiniz@ibest.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo relaciona-se com os pressupostos teórico-científicos do processo didático-metodológico no ensino-aprendizagem-treinamento dos componentes táticos no futebol na categoria infantil. Objetivou-se analisar o desenvolvimento das ações táticas do futebol na categoria infantil. A tática é o aspecto central da estrutura de rendimento no treinamento esportivo, portanto, componente imprescindível para o alcance de sucesso na modalidade. Conseqüentemente, os componentes táticos devem ser trabalhados desde cedo nas categorias de base, aqui tratadas especificamente como "categoria infantil". Devido à sua complexidade em conter uma grande exigência cognitiva, processos didático-pedagógicos são utilizados no sentido de facilitar a sua compreensão. Contudo, o ensino dos tipos de tática, de suas divisões, aplicações e treinamento devem ser passados aos atletas com objetivos claros, para torná-los mais seguros, conscientes e capacitados taticamente para o jogo.
    Unitermos: Futebol. Tática. Treinamento Desportivo. Formação. Base.
 
Abstract
     The present study it relates with the theoretical-scientific presuppositions of the didactic-methodological process in the teaching-learning-training of the tactical components in the soccer in the infantile category. It objectified analyze the development of the tactical actions of the soccer in the infantile category. The tactics is the central aspect of the income structure in the sporting training, therefore, indispensable component for the success reach in the modality. Consequently, the tactical components should be worked early in the base formation, here specifically treated as infantile category. Due to his complexity in containing a great cognitive demand, didactic-pedagogic processes are used in the sense of facilitating his understanding. However, the teaching of the tactics types, of their divisions, applications and training should be passed to the athletes with clear objectives, to turn them safer, conscious and qualified tactically for the game.
    Keywords: Soccer. Tactical. Sport training. Formation. Base.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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Introdução

    Nos últimos anos o futebol se caracterizou pelo salto qualitativo na área do treinamento e, conseqüentemente, na performance dos atletas e das equipes. Concepções táticas variadas, didáticas e modelos de treinos diferenciados e a interdisciplinaridade de tratamento dos atletas são algumas mudanças no futebol atual.

    Este futebol moderno requer que os atletas estejam em constantes deslocamentos com ou sem a posse de bola, e esse aumento considerável de suas funções lhes rendeu inclusive a denominação de jogadores "universais" (Godik, 1996; Barros et. al., 2001; Leal, 2001). Isso transformou a preparação tática numa área de crescente interesse e a prova disso são os diversos sistemas de jogo e ações táticas que surgiram e estão surgindo com a evolução do esporte.

    A tática de acordo com Greco (1992) envolve processos cognitivos e exige uma capacidade de raciocínio muito apurada por parte dos aprendizes-atletas. A todo o momento, durante a partida, o atleta é colocado em situação de reflexão, avaliação e tomada de decisão, onde o componente tático é imprescindível.

    De acordo com Paoli (2000), nos primeiros anos da categoria infantil, 13-14 anos, torna-se necessário que os atletas-aprendizes experimentem, vivenciem situações de padrões táticos ofensivos e defensivos que os habilitem para aplicações durante o jogo.

    Greco (1992) estabelece que o desenvolvimento das capacidades táticas permita oferecer ao atleta subsídios na busca de soluções às tarefas problemas que a situação de jogo, competitivo ou não, impõe. Para isto, é necessária uma programação consciente, metódica, progressiva e planificada de fatores para desenvolver a capacidade de percepção, antecipação e tomada de decisão, assim como da análise do resultado, gesto empregado e na tomada de consciência (nova percepção), que são os pilares básicos na estrutura do treinamento (Greco e Benda, 1998).

    No entanto, para que os atletas iniciantes tenham uma compreensão mais facilitada, deve-se lançar mão do uso de métodos e processos pedagógicos que estarão ligados diretamente na execução das ações e padrões táticos, onde é de fundamental importância a atuação de profissionais capacitados e aprendizes predispostos para o alcance das metas e objetivos traçados.

    O presente estudo tem como objetivo analisar o processo de desenvolvimento do treinamento das ações táticas ofensivas do futebol na categoria infantil.


Aprendizagem e treinamento da tática

    Desde os anos 60 que a didática dos jogos desportivos repousa numa análise formal e mecanicista. Os processos de ensino e treino têm consistido em fazer adquirir aos praticantes sucessões de gestos técnicos, empregando-se muito tempo no ensino da técnica e muito pouco ou nenhum no ensino do jogo propriamente dito (Gréhaigne e Guillon, 1992).

    Paoli (2005) ao abordar a aprendizagem e o treinamento da tática preconiza que este componente deva passar por um processo de treinamento metodológico semelhante ao condicionamento físico e técnico. Porém dois momentos são importantes neste processo: executar e treinar um repertório amplo de opções táticas e a exercitação isolada e em diferentes tipos de ação em jogo.

    A flexibilidade do comportamento tático na atividade competitiva é condicionada pelo nível de capacidade técnica, das habilidades motoras e da preparação psicológica. Assim, os requisitos para uma flexibilidade tática durante um jogo, de acordo com Paoli (2000) devem estar voltados para um conhecimento teórico das capacidades do adversário, dos companheiros de equipe, levando-se em consideração uma veloz adaptação e compreensão da situação, o que exige do atleta um repertório amplo de opções táticas.

    Grosser (1988), Godik (1996) e Drubscky (2003) ressaltam que a tática de uma equipe se consolida e se melhora em exercícios que impõe a necessidade de criação de ações coletivas. Desta forma, todas as situações possíveis de ocorrer numa determinada competição e/ou jogo devem ser treinadas, oferecendo um maior número de opções no momento da tomada de decisão para o atleta.

    Weineck (1989) referenda estas afirmações quando estabelece que a formação tática pode ser subdividida em duas fases: formação teórica e prática.


    1. Formação teórica

    Weineck (1989) estabelece que a formação teórica é a instrução das capacidades intelectuais necessárias ao esportista para conduzir com êxito a competição, sendo composta de instruções para:

  • capacidade de aprendizagem: permite assimilação, classificação e atualização sobre os conhecimentos específicos da modalidade (regulamentos e condução da competição);

  • capacidade de refletir a modalidade: deve permitir pensamento lógico, flexível, original e crítico, que garanta o desenvolvimento ótimo das habilidades táticas e que permita modificações autônomas da ação conforme as circunstâncias;

  • capacidade de antecipação: coloca à disposição soluções potenciais de alternativas;

  • tomada de informação e de tratamento por atenção dirigida e apurada: a ação e a reação coroadas de sucesso, impõem que o maior número possível de sinais importantes para o desenvolvimento da competição sejam percebidos. Uma concentração explorada sobre pontos essenciais da conduta da competição permite evitar uma sobrecarga de informação que induz freqüentemente, no principiante, atos falhos;

  • qualidades emotivo-volitivas: busca o desenvolvimento de ações como o domínio de si, capacidade de resistir, resolução e gosto pela decisão, que podem influenciar fortemente a aptidão e a capacidade de ação tática.


    2. Formação prática

    Quanto à formação prática, Weineck (1989) afirma que "esta fase abrange a assimilação de habilidades e comportamentos táticos através da repetição e esquemas comportamentais táticos que induz uma automatização dos componentes do ato consciente". Isto, segundo o autor, leva o jogador a voltar sua atenção para outros elementos da ação. A formação prática também instrui a auto-avaliação do jogador, permitindo-lhe conhecer suas possibilidades e limites e desenvolver oportunamente suas forças existentes.

    Segundo Paoli (2005), os métodos mais utilizados para a formação prática no treinamento da tática são: treinamento de ações táticas específicas, treinamento em forma de jogo e treinamento situacional. No treinamento das ações táticas específicas, que ocorrem durante o jogo, as mesmas devem ser trabalhadas isoladamente, como exemplo a saída de bola, triangulações, inversões, entre outras. Já o treinamento situacional trabalha ações específicas que acontecerão na partida de forma fragmentada dentro de uma seqüência pedagógica.

    No treinamento em forma de jogo, segundo Tiegel (1994), "a grande vantagem em utilizar tais exercícios no treino de futebol consiste na presença de elementos cognitivos emocionais e de determinação pessoal inerentes ao jogo em si. Neles existe sempre um jogo com bola e em torno dela, com a presença de um adversário, mantendo-se assim, um limiar de motivação e disposição para o rendimento".

    Segundo Garganta (1996) e Garganta (2002), o jogo deverá estar presente em todas as fases do ensino-aprendizado, pelo fato de ser simultaneamente o maior fator de motivação e o melhor indicador da evolução das limitações que os praticantes vão revelando.


Treinamento tático na infância e na adolescência

    No que se refere ao componente tático na infância e adolescência, Weineck (1989) estabelece que a instrução tática em ligação constante com a técnica, deve ser iniciada o mais cedo possível. Segundo ele "a idade de aprendizagem motora que coincide com a segunda idade escolar (dos dez anos ao início da puberdade) presta-se particularmente a uma formação técnico-tática polivalente de base e da assimilação de um repertório vasto".

    Também Roth citado por Greco (1992) afirma que a fase de iniciação aos esportes coletivos deveria começar entre os dez e doze anos e deve ser considerada de iniciação técnica e tática, visto que a facilidade encontra-se no interesse das crianças desta faixa etária pela prática do esporte formal.

    Especificamente, em se tratando da categoria infantil, compreende, segundo o autor, as fases de orientação (12-14 anos) e direção (14-16 anos). Na fase de orientação, deve-se procurar o desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades físicas (motoras e coordenativas) e se iniciar o processo de fixação e aprimoramento das técnicas e o aprendizado inicial da tática.

    Na fase de direção, com base na fase anterior, pode-se começar com aperfeiçoamento e a especialização técnica da modalidade esportiva em questão. Trabalhos de situações que tenham na sua forma, exercícios mais complexos, que apresentem exigências de execução com o tipo de técnica a ser aplicada e incluam os parâmetros necessários para o êxito da ação, assim como exercícios que impliquem uma tomada de decisão no sentido tático são bem vindos.

    Porém, Roth citado por Greco (1992) afirma que os processos cognitivos, inerentes aos conhecimentos táticos e necessários ao comportamento tático, devem ser desenvolvidos no confronto com a situação de jogo, assim como o aperfeiçoamento dos mecanismos de regulação da ação é conseguido através do treinamento técnico. Para o autor, a faixa etária compreendida entre os doze e quatorze anos é a ideal para iniciar este processo.


Seqüência pedagógica para o ensino da tática

    O futebol, ao contrário do que muitos pensam e vêem, é uma modalidade bastante complexa no que diz respeito às suas diversas variáveis de controle para seu ensinamento e aprendizado.

    Uma de suas variáveis, e talvez atualmente a de maior importância e dificuldade de controle é a tática, que deve ser parte integrante do treinamento já nas categorias inferiores, aqui tratadas especificamente como categorias infantis.

    Devido à sua complexidade, principalmente os cognitivos (onde os jovens ainda estão em fase de maturação), a proposta de uma seqüência pedagógica será importante na orientação e repasse de conhecimentos táticos que virão fragmentados e progressivamente crescentes, facilitando o entendimento e a aquisição dos conhecimentos desses jovens atletas (Garganta, 2002).

    Drubscky (2003) ao analisar o treinamento tático afirma que a didática é um fator importante, pois é a arte de criar, organizar e desenvolver os conteúdos práticos e teóricos inerentes aos esportes. Os treinamentos no futebol, como de resto nos esportes coletivos, seguem uma didática simples na aplicação dos conteúdos. Assim, o autor estabelece que a didática pode ser utilizada nos treinamentos da seguinte forma:

  • Aplicando idéias de jogo compatíveis ao nível de assimilação do grupo;

  • Ministrando treinamentos condizentes com a idéia de jogo proposta;

  • Introduzindo seqüencialmente os elementos técnicos e táticos do sistema;

  • Distribuindo, quantitativa e qualitativamente, os treinamentos nos vários períodos e ciclos de atividades;

  • Elaborando sessões de treinos motivantes e eficazes, e;

  • Conciliando os treinamentos em busca dos objetivos propostos para os diversos ciclos das competições.

    Salles (2004) sugere uma seqüência pedagógica para o desenvolvimento da tática que se divide em seis fases:

  • 1a fase: Explicação das ações gerais (verbal em forma de gráficos e situações práticas).

  • 2a fase: Explicação das ações e funções de cada jogador.

  • 3a fase: Solicitação de explicações individualizadas das ações e funções que cada atleta deverá desenvolver.

  • 4a fase: Execução da tática sem interferência contrária.

  • 5a fase: Execução da tática com interferência do oponente.

  • 6a fase: Apresentação de variáveis de intervenção.


Ações táticas a serem trabalhadas

    O componente tático no futebol é composto por ações táticas ofensivas e defensivas que caracterizam o jogo e são dependentes de ações individuais e coletivas por parte dos atletas.

    São consideradas ações táticas defensivas os tipos de marcação tais como: pressão, espera (expectativa), por zona, roubadas de bola, as coberturas, a recuperação, o sentido tático de marcação, ou seja, como marcar. Já o que se refere às ações táticas ofensivas, o foco central deste trabalho, elas são divididas em: saídas de bola, triangulações, inversões de bola, ultrapassagens e as jogadas de bola parada.

    No treinamento tático das ações ofensivas, torna-se necessário levar em consideração alguns fatores que são imprescindíveis para a eficácia do treino. Para efeito de uma proposta didático-metodológica, se faz necessário que o professor, como é demonstrado na Figura 1, dividir o campo em três setores - defesa, armação e ataque. Além disso, é necessário, como é demonstrado na Figura 2, dividir o campo em dois lados - direito e esquerdo.

    Uma divisão como apontado na Figura 3 proporcionará um melhor entendimento das funções, que o atleta irá desempenhar durante a partida, de acordo com o posicionamento da bola, dos companheiros de equipe e dos adversários.

    Entretanto, alguns princípios são de fundamental importância destacar:

  • Parte metodológica e didática, a forma como o técnico vai conduzir o processo como sugerido por Weineck (1989), onde a tática deve ser trabalhada e construída em processos progressivos, por exemplo, realizando exercícios sem a presença dos adversários, com os adversários passivos, com participação ativa dos adversários em situações reais da partida.

  • A compactação e a aproximação dos setores pelos jogadores.

  • A distribuição correta nos setores e lados.

  • A prioridade é passar a bola para o jogador mais próximo, evitando passes longos.

  • Sentido de triangulação - ajuda mútua.

  • Enfatizar e conscientizar sobre o "padrão" e não jogada.

  • Envolver todos os jogadores no treinamento de uma ação tática, no qual cada um terá uma função e movimentação, independente do setor ou lado que estiver se desenvolvendo a ação.

  • Proporcionar um amplo repertório de ações, pois no futebol, por mais que se treine uma determinada ação, durante o jogo, a probabilidade de ela acontecer da mesma forma é pequena. Tudo aquilo que o atleta vivencia nos treinamentos, faz com que ele, durante a partida, esteja mais seguro e preparado para tomar decisões mais consistentes, mediante a situação exigida.

    Um princípio básico que não se pode deixar de mencionar é o das triangulações. Pois estas ações ocorrerão-nos diversos setores e lados do campo e a todo o momento. Elas se caracterizam por agrupamentos de três jogadores com a posse de bola no sentido de envolver a marcação da equipe adversária. Quando forem realizadas, as triangulações devem ocorrer com a aproximação e compactação de jogadores de setores e lados mais próximos, como exemplo: ZD (zagueiro direito) - LD (lateral direito) - VO (volante); VO (volante) - LE (Lateral esquerdo) - MAT (meia-atacante), e outros.

    É importante ressaltar que estas ações táticas devem ser realizadas com superioridade numérica de jogadores, contando com um bom nível técnico aliado às constantes movimentações e troca de posições entre os jogadores.

    Apesar de o futebol ser uma modalidade onde se joga mais sem a bola do que a posse desta torna-se imprescindível que todas as ações táticas defensivas e ofensivas, sejam trabalhadas em função do setor ou lado que está a bola.

    Desta forma, este aspecto reforça a importância dos atletas dominarem o sentido de formação tática, ou seja, posicionamento dos jogadores em campo procurando ocupar os espaços de forma consciente em função da bola dos companheiros de equipe e dos adversários.

    Este sentido de formação tática deve ser trabalhado e reforçado desde a categoria pré-infantil, possibilitando que o atleta possa, nas categorias subseqüentes, inclusive na categoria profissional, ter um melhor desenvolvimento e plena segurança na ocupação dos espaços (Gréhaigne e Guillon. 1992).


    1. Saídas de Bola

    Uma boa saída de bola, segura e de forma mais rápida pode proporcionar a uma equipe maior solidez no desenvolvimento inicial das jogadas ofensivas, buscando o gol adversário com relativo sucesso.

    Para isso torna-se necessário um bom nível dos atletas e que sejam conhecedores de processos pedagógicos para o conhecimento tático, e assim, que possam executar com êxito as ações que encontrarão ou lhes serão determinadas ao decorrer da partida. Portanto, cada jogador envolvido a partir dos conhecimentos adquiridos possa conscientemente realizar as jogadas independentemente das dificuldades que os adversários lhe imputarão, podendo encontrar suas próprias soluções e tomar decisões mais acertadas.

    Têm-se basicamente dois tipos de saída de bola, uma pelo alto e outra por baixo. O importante é ressaltar o passe tecnicamente eficiente, correto e adequado, que tem que ser executado com máxima precisão, e os jogadores procurando cada um seu espaço dentro de campo, facilitando a saída de bola.

    A primeira opção, pelo alto, que se origina na reposição da bola pelo tiro de meta, o goleiro e outro jogador podem optar podendo sair jogando por baixo com um jogador mais próximo, com o passe em profundidade.

    No caso de ser com as mãos ou com os pés, e procurando passar a bola para o jogador mais próximo, o goleiro pode executar esta situação quando da cobrança de uma falta, escanteio ou cruzamento para a área; assim o goleiro faz defesa e sai jogando rapidamente e com atenção com um de seus jogadores , principalmente pelas extremidades do campo.

    Na segunda alternativa, por baixo, tem-se duas opções: o goleiro passa a bola para o lateral esquerdo ou direito; este então teria três opções: a primeira passar para o zagueiro mais próximo, a segunda para o volante, a terceira progredir com a bola e passar para o meia mais avançado.

    Na segunda variação, o goleiro passa a bola para um dos zagueiros; este teria três opções: a primeira passar para o volante, a segunda para o lateral que já estaria mais próximo da linha do meio-campo, a terceira, porém perigosa, passar a bola para o outro zagueiro que neste caso faria a inversão de bola.

    A progressão gradual deste processo será importante para a compreensão e realização das ações táticas.

  • Princípios de saída de bola por baixo

        A forma como a equipe sairá jogando dependerá do tipo de marcação a ser executada pelo adversário. Em qualquer setor ou lado do campo, a partir do momento em que se rouba ou recupera ou intercepta uma bola, uma nova saída está caracterizada.

        Para o processo ensino-aprendizagem-treinamento, é recomendável que se respeite uma seqüência pedagógica de saída a partir do campo de defesa. Desta forma o atleta se conscientiza da importância da compactação e aproximação dos setores, da distribuição correta nos setores e nos lados, do sentido da triangulação e que esta saída poderá acontecer em qualquer um dos setores ou lados do campo.

        Será utilizado para exemplificação da proposta metodológica, em todas as situações táticas, o sistema 4-4-2 com: um goleiro, dois zagueiros (um pelo lado direito e outro pelo lado esquerdo), dois laterais (um pelo lado direito e outro pelo lado esquerdo), dois volantes (um pelo lado direito e outro pelo lado esquerdo), um meia-de-armação pela direita e meia-atacante pela esquerda, um atacante pelo meio e um atacante aberto pela direita. Abaixo, nas Figuras 4 e 5 estão exemplos de como podem acontecer estas saídas.


        Obs: As alternativas de passes, demonstradas pela opção 6 na figura 4, são semelhantes às utilizadas com a bola saindo com o ZD (zagueiro direito), entretanto observa-se uma mudança do MAT (meia-atacante) que se posicionará mais aberto pela extremidade esquerda (como um atacante aberto) e o MAR (meia-de-armação) que se posicionará pelo lado esquerdo e o fechamento do AT (atacante aberto) na direita pelo meio, confirmando o princípio da compactação e da aproximação e distribuição dos jogadores nos três setores e nos dois lados do campo.

  • Princípios de saída de bola pelo alto

        Esta forma de saída poderá ser executada quando originada de um escanteio, chutes a gol do adversário ou recuada para o gol, conforme a regra determina. Normalmente esta saída é feita com os pés e outras vezes com as mãos.

    1. O goleiro tem que ter um alvo.

    2. Posicionamento e direcionamento dos jogadores para maior probabilidade de aproveitamento do passe.

    3. Quem for executar o tiro-de-meta, deverá observar que não se trata de um chute simplesmente, e sim, um passe em profundidade e, como tal, deverá ter um objetivo ou um alvo.

    4. O jogador que receber a bola, deverá dominá-la ou passá-la conscientemente.

    5. O goleiro, optando por esta situação, todos os jogadores deverão se adiantar, principalmente os da defesa e do meio-campo, mais não se descuidando do balanço defensivo.

        A bola sempre deverá ser executada através de um passe mais próximo das laterais do campo. Na Figura 7 estão as opções deste tipo de saída de bola.



    2. Inversões de bola

    A todo o momento esta ação acontece numa partida, tanto pelo chão quanto pelo alto. Esta jogada caracteriza-se pela mudança ou transferência da bola em relação ao lado do campo onde ela se encontra. É um ótimo recurso técnico e tático usado para normalmente descongestionar um setor do campo, onde os jogadores encontram dificuldades em sair com a bola dominada ou trocando passes.

    É de fundamental importância a realização de um trabalho com as categorias de base em relação a esta ação específica, tanto técnica quanto taticamente, procurando elevar o nível do executante.

    Preferencialmente, as inversões mais seguras são feitas pelo solo e em distâncias mais curtas, mas toda equipe deverá trabalhar seus jogadores para realizarem estas jogadas de todas as formas possíveis, tanto por baixo quanto por cima.

    Na maioria das vezes as equipes dispõem de um ou dois jogadores especialistas nesta jogada. São jogadores com um ótimo nível técnico em relação ao fundamento do "passe", seja ele por baixo ou pelo alto (lançamento).

  • Princípios básicos da inversão de bola

    1. A transição da bola para o jogador mais próximo.

    2. O jogador que receberá a bola tem que dominá-la, executando simultaneamente o giro.

    3. A equipe deverá realizar as inversões quantas vezes forem necessárias, até que encontre uma situação que permita a progressão e/ou finalização para o gol.

    4. Os jogadores que estão sem a bola terão que se deslocar, procurando sempre um espaço, e se coloquem em boas condições para receber este passe, requisito importante para a realização desta ação tática específica.

    5. Ressalta-se a importância no trabalho das inversões de bola a aproximação dos jogadores e a compactação dos setores.

    6. O trabalho de inversão e virada de jogo faz com que a equipe adversária perca o sentido da aproximação dos jogadores e a descompactação dos setores.

        Na Figura 7 abaixo se encontram exemplos de inversões de bola com suas possíveis variações.

        No entanto, para que sejam bem executados, alguns aspectos devem ser levados em conta: bom sentido de formação tática (posicionamentos, ocupações de espaços, movimentações, as infiltrações, uma rápida tomada de decisões), boa noção antecipação e um bom nível técnico e cooperativo.


    3. Princípios básicos da ultrapassagem

  • Prioritariamente estas ações acontecem no setor de armação e no setor de ataque, com maior freqüência no setor de ataque.

  • Esta ação deverá envolver, no mínimo, três jogadores.

  • Elas deverão ocorrer pelas laterais do campo, o que não impossibilita a ocorrência de tal ação pelo meio.

    Na Figura 8, 9 e 10 abaixo se encontram exemplos de ultrapassagens.




    4. Jogadas de bola parada

    Atualmente são consideradas por muitos como jogadas decisivas, devido ao grande equilíbrio em uma partida, em razão do nível de equivalência da preparação em todos os seus aspectos. O que mais importa na realização e execução destas jogadas é o estabelecimento de um padrão de jogo, diferentemente de jogadas ensaiadas, pois diversas variáveis poderão intervir na exatidão desta ação.

    Um treinamento de grande volume, com posicionamento de jogadores, demarcações dos setores, variações de jogadas em cada setor da área ou fora dela, com a seqüência pedagógica - sem marcações, com marcações, diretas, indiretas, com infiltrações e a possibilidade de contar com jogadores de um bom nível técnico, será primordial para o êxito das ações.

  • Princípios básicos das jogadas de bola parada

    1. Um bom aperfeiçoamento técnico dos atletas que vão executar as ações - fundamento do passe.

    2. Distribuição dos jogadores nos três setores da área - setor direito, meio e esquerdo - onde possivelmente essa bola será colocada.

    3. Movimentações e deslocamentos constantes dos jogadores que irão receber a bola para conclusão e bom sentido de desmarcação.

    4. Posicionar os jogadores com maior estatura em setores estratégicos da área.

    5. Cuidar do rebote ofensivo, posicionando os jogadores para conclusão e atenção ao balanço defensivo em função de um contra-ataque do adversário.

    6. Posicionar os jogadores na área em locais que dificultem a visão do goleiro.

    7. Em todas essas ações, os jogadores que possivelmente receberão esta bola, estrategicamente posicionados, devem acompanhar a trajetória da bola e a movimentação do adversário.

    8. Variações das ações táticas nos escanteios e faltas, considerando o deslocamento e o posicionamento dos jogadores que receberam a bola.

    9. Igualdade ou superioridade numérica de jogadores na área ou próximo dela, no momento da execução da ação.

        Três exemplos e possibilidades de jogadas de bola parada encontra-se na Figura 11.



Considerações finais

    Esta revisão bibliográfica veio oferecer subsídios didático-metodológicos aos técnicos e responsáveis pelo planejamento e condução do processo ensino-aprendizagem-treinamento do futebol, em relação ao componente tático. E também demonstrar a necessidade de estudos nesta área, pois este componente, apesar de ser considerado por Garganta (1996), essencial para garantir maior sucesso no futebol, ainda é pouco investigado. Dada esta relevância na estrutura do treinamento, a tática necessita de mais estudos científicos onde, por conseqüência, o empirismo deve se distanciar cada vez mais.

    O componente tático, por estar diretamente relacionado com os processos cognitivos, se torna mais complexo. A resolução de problemas e a tomada de decisão em uma partida são de fundamental importância. Portanto deve ser trabalhada cada vez mais cedo, que aqui foram tratados na categoria infantil.

    No processo ensino-aprendizagem do treinamento da tática necessita-se de um aprendizado teórico, didático, metodológico, pedagógico dentro de uma progressão e graduação conforme a sua complexidade.

    A metodologia apresentada, através de conceitos, princípios teóricos e práticos e processos pedagógicos da tática, visam desenvolver uma consciência nos atletas de todos os aspectos táticos.

    Na busca desta conscientização, ações táticas específicas devem ser realizadas de variadas formas, dentro de uma situação real de jogo, para que os atletas busquem e conheçam um "padrão" de jogo, e não simplesmente, jogadas ensaiadas.

    O sentido de formação tática deve ser o cerne da questão, ou seja, os atletas deverão ser trabalhados para a obtenção de uma alta capacidade tática, a qual lhes ajudará na fundamentação do seu processo de formação desportiva.


Referências bibliográficas

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  • Salles, J.G.C. Processos Pedagógicos da Tática. Viçosa, 2004. (Material Didático do curso de Pós-graduação em Futebol, na Universidade Federal de Viçosa, MG).

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