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Relação entre o índice de massa corporal e o tempo gasto em frente aos eletrônicos em escolares de 10 a 15 anos
Relation enters the body mass index and the time expense to the electronic in 10 to 15 year old students

   
*Graduada em Educação Física pela
Faculdade Assis Gurgacz, Cascavel-PR.
**Doutoranda pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
e docente da Faculdade Assis Gurgacz, Cascavel-PR.
(Brasil)
 
 
Andreia Pelegrini*  
Karina Elaine de Souza Silva**
a.pelegrini@brturbo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O objetivo do estudo foi analisar a relação entre o índice de massa corporal e o tempo gasto em frente aos eletrônicos em escolares. A amostra foi composta por 64 escolares de ambos os sexos, sendo 38 do sexo feminino e 26 do sexo masculino, compreendidos entre 10 e 15 anos de idade, devidamente matriculados na rede estadual de ensino do município de Três Barras - PR. As variáveis antropométricas mensuradas foram massa corporal, estatura e índice de massa corporal. Para a detecção do tempo em frente aos eletrônicos foi aplicado um questionário com 15 perguntas fechadas, sendo destas, 8 escolhidas que vinham de encontro com os objetivos do estudo. O ponto de corte para determinação do sobrepeso e obesidade, com base no IMC foi de 25 e 30 kg/m2, respectivamente (Cole et al., 2000). O tratamento dos dados foi através de estatística descritiva. A correlação entre sobrepeso e obesidade e o tempo gasto em frente aos eletrônicos foi feita mediante o emprego do teste de correlação linear de Pearson (p<0,05) (Statistic for Windows versão 6.0). Conclui-se que ocorreu apenas um caso de sobrepeso no sexo feminino aos 11 anos, e dois casos de obesidade, sendo um para o sexo feminino aos 13 anos e um para o sexo masculino aos 15 anos, houve correlação entre o IMC e o tempo em frente à TV para o sexo masculino.
    Unitermos: Índice de massa corporal. Eletrônicos. Escolares.
 
Abstract
     The purpose of the study was to analyze the relation in front enters the body mass index and the time expense to the electronic in pertaining to school. The sample was comprised of 64 students due enrolled in public schools in Três Barras do Paraná - PR, being 26 males and 38 females, aged 10 to 15 years old. The anthropometrical variables measured were body mass - BM, height - HEI, body mass index - BMI. For the detention of the time in front to the electronic a questionnaire with 15 closed questions was applied, being of these, 8 chosen that they came of meeting with the purposes of the study. The point of cut for determination of the overweight and obesity, on the basis of the BMI was of 25 and 30 kg/m2, respectively (COLE et al, 2000). The statistical treatment was through descriptive statistics. For the correlation among overweight and obesity to time expense in front to the electronic, the Pearson's linear correlation test was applied, adopting significance level p<0.05 (Statistic for Windows, version 6.0). One concludes that only one case of overweight in the female to the 11 years occurred, and two cases of obesity, being one for the female to 13 years and one for the male to the 15 years, had correlation between the BMI and the time in front of the TV for the masculine sex.
    Keywords: Body mass index. Electronic. Students.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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Introdução

    Nas últimas décadas vários estudos verificaram aumento na prevalência de obesidade em todas as faixas etárias e em vários países. Dentre suas causas, estão os fatores genéticos e ambientais (WHO, 1997).

    É tão grande a dimensão do problema, que a obesidade, considerada uma doença crônica e multifatorial, passou a ser considerada um dos elementos mais preocupantes por parte de estudiosos voltados à área da saúde, sendo avaliada como um dos maiores problemas de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento (Mamalakis & Kafatos, 1996; Sichieri, 1998), sendo considerada nos Estados Unidos o maior problema de saúde pública (Yanoviski et al., 2002).

    A obesidade na infância e adolescência está se apresentando como uma epidemia global, sendo que nas últimas décadas duplicou a incidência da obesidade entre estas populações (Villares et al., 2003).

    Estudos realizados em algumas cidades brasileiras mostram que o sobrepeso e a obesidade já atingem cerca de 30% ou mais das crianças e adolescentes, como em Recife, alcançando 35% dos escolares avaliados (Balaban, 2001).

    A obesidade infantil na América é uma epidemia silenciosa, uma vez que o reconhecimento clínico dos riscos da enfermidade, por parte dos médicos clínicos, não é satisfatório, existindo uma dificuldade em quantificá-la e tratá-la eficazmente, além da carência de programas de prevenção (Diamond, 1998).

    Concomitantemente ao aumento do número de crianças obesas, o que resulta num maior número de adultos obesos, o número de crianças e adolescentes sedentários também cresce (Moussa et al., 1994; Robinson, 1999; Sichieri, 1998), e o hábito de assistir televisão tem predominado como o hábito sedentário mais difundido entre os adolescentes (Bar-Or et al., 1998; Dietz, 1993, Matsudo et al., 1997), seguidos de videogame associado à TV e computadores. O hábito de estar em frente aos eletrônicos, não seria uma causa da obesidade, mas relaciona-se com um conjunto de práticas, principalmente por um maior consumo de alimentos (BAR-OR et al., 1998), para tanto a aderência por alimentos como "fast-food" (Andersen et al., 1998), alimentos densos, ricos em gorduras (Sichieri, 1998), refrigerantes, porções de alimentos ricos em açúcar com altos índices glicêmicos e aumento da porção de refeições ingeridas, tem evidencia como contribuintes no aumento do peso.

    Essa hipótese se justifica na medida em que as crianças acabam gastando menos calorias do que consomem, e conseqüentemente, aumentando as probabilidades de complicações de saúde mais comuns, como diabete mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias (Pietrobelli et al., 1997).

    A televisão tende a fascinar as crianças e adolescentes espectadores com anúncios de produtos alimentares e restaurantes de fast-food que oferecem um valor nutricional marginal, na melhor das hipóteses. Além disso, a programação de horário nobre e das manhãs de sábado faz com que as crianças sejam estimuladas a uma maior ingestão calórica. O tempo gasto assistindo à TV correlaciona-se com as tentativas das crianças de solicitarem aos pais a compra de determinado alimento, aumentando a quantidade total de ingestão alimentar (Dietz, 1993).

    O perfil nutricional da população brasileira tem se modulado de maneira significativa, contribuindo na redução da prevalência de desnutrição e concomitantemente no aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade (Monteiro et al., 1995).

    Nota-se que a mídia, em especial, a televisão, exerce forte papel nos hábitos alimentares de crianças. pode-se dizer que as crianças são altamente vulneráveis às propagandas vinculadas na televisão, sugerindo forte tendência à preferência por alimentos ricos em energia e gordura (Fisberg, 2004).

    A gravidade desse contexto é que a criança, por atender ao impulso da propaganda, associado ao ibope que esse comportamento pode representar perante a sociedade em que convive, tende a acumular tecido adiposo ao ser influenciado pela novidade do "momento".

    Nesses casos, a instalação da obesidade pode trazer além de problemas fisiológicos, a adoção de apelidos por amigos e familiares, ainda sendo motivo de piadas, apresentando baixa auto-estima, criando uma imagem corporal distorcida (Fisberg, 2004).

    Esse quadro tende a comprometer a qualidade de vida da criança obesa, especialmente problemas de caráter emocional, dificultando o tratamento da obesidade.

    O hábito de ver televisão, o uso de videogames, computadores, controles remoto, também podem ser determinantes para a redução do gasto energético total de um indivíduo. A interação entre o tempo elevado frente à utilização de aparelhos eletroeletrônicos, e ao estímulo aumentado da ingestão de alimentos hipercalóricos, pelas propagandas, torna o cenário caótico.

    Com base no que foi apresentado, têm sido evidenciados de acordo com a literatura dois fatores que poderiam influenciar a prevalência de sobrepeso e obesidade sendo o tempo destinado aos jogos eletrônicos e manuais e a alta ingestão calórica.

    Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar a relação entre o índice de massa corporal e o tempo gasto em frente aos eletrônicos em escolares de 10 a 15 anos.


Metodologia

    A amostra foi composta por 64 escolares do ensino médio, devidamente matriculados na rede de ensino público do município de Três Barras do Paraná - PR, destes 38 eram do sexo feminino e 26 do sexo masculino, compreendidos na faixa etária entre 10 e 15 anos, considerando a idade decimal sugerida por ROSS & MARFELL-JONES (1982).

    Antecedendo a etapa de coleta de dados, estabeleceu-se contato com a direção da escola e com o setor pedagógico visando à apresentação dos objetivos, metodologia da pesquisa e autorização para o levantamento de dados entre os alunos no estabelecimento de ensino. Após este contato foi entregue a cada adolescente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que deveria ser assinado pelos pais e/ou responsáveis autorizando a sua participação no estudo, e a sua desistência a qualquer momento da pesquisa.

    Os dados foram coletados por uma equipe de avaliadores, previamente treinados, e todas as medidas foram efetuadas nas dependências da escola.

    As informações relativas à influência dos eletrônicos nos índices de sobrepeso e obesidade nos escolares foram obtidas utilizando um questionário com 8 perguntas fechadas, sendo que os alunos levaram para casa e responderam juntamente com seus pais.

    O questionário aplicado conteve itens e variáveis como: Identificação da criança: nome da criança, nome da mãe/responsável, sexo, data de nascimento; Atividade física: tempo destinado à prática de atividade física; Eletrônicos: tempo que a criança permanece em frente à televisão, videogame, computador, jogos manuais.

    As variáveis antropométricas analisadas foram massa corporal, estatura seguindo os procedimentos descritos por GORDON et all (1988). O índice de massa corporal - IMC foi determinado através do quociente da massa corporal pelo quadrado da estatura.

    O ponto de corte adotado para a determinação do sobrepeso e obesidade foi de acordo com o IMC igual a 25 e 30 kg/m2, respectivamente (Cole et al., 2000).

    O tratamento estatístico dos dados foi inicialmente por meio de procedimentos descritivos, com valores de média e desvio padrão. A correlação entre sobrepeso e obesidade e o tempo gasto em frente aos eletrônicos foi mediante o emprego do teste de correlação linear de Pearson, adotando o nível de significância p<0,05. Os dados foram armazenados e analisados no programa computadorizado Statistic for Windows versão 6.0.


Resultados e discussão

    A Tabela 1 apresenta os valores das características gerais da amostra para ambos os sexos das variáveis de massa corporal, estatura e índice de massa corporal.

    Verifica-se que com o avanço da idade houve aumento da MC e EST, essa observação está de acordo com a literatura, pois, o crescimento envolve modificações estruturais em todos os órgãos e tecidos do organismo, refletindo diretamente no aumento da massa corporal total. Nesse sentido, cabe ressaltar que a massa corporal também tende a se modificar em decorrência da dieta alimentar e do tipo de atividade física do indivíduo, demonstrando sua sensibilidade a fatores extrínsecos (Tanner, 1986; Malina, Bouchard, 1991).

    Um aumento na velocidade do crescimento em estatura marca o início do estirão de crescimento da adolescência. Sabe-se ainda que a velocidade do crescimento em estatura eventualmente atinge seu ponto máximo durante o estirão e depois diminui gradativamente (Malina, Bouchard, 2002).

    Este comportamento é observado no sexo feminino, sendo que há um aumento dos 10 até os 14 anos, e aos 15 anos percebe-se uma diminuição, estes achados corroboram com dados da literatura, visto que a maioria das idades médias ao pico de velocidade de altura agrupa-se por volta dos 12 anos nas meninas e 14 anos nos meninos (Malina, Bouchard, 2002).

    Os valores de IMC quando comparados em termos absolutos com as referências preconizadas pela saúde evidenciam que os adolescentes de ambos os sexos do presente estudo se encontram com valores esperados para esta variável (AAHPERD, 1988).

    Contudo, a obesidade pode se iniciar em qualquer idade, desencadeada por fatores como o desmame precoce, a introdução inadequada de alimentos, distúrbios de comportamento alimentar, inatividade física (Fisberg, 1995), indicando atenção ao longo da vida para os hábitos que podem estimular o surgimento do sobrepeso e obesidade.

    A Tabela 2 apresenta a incidência dos casos de sobrepeso e obesidade em ambos os sexos nos escolares do município de Três Barras - PR.

    Verifica-se que ocorreu um caso de sobrepeso para o sexo feminino aos 11 anos, e dois casos de obesidade, sendo um para o sexo feminino aos 13 anos e um para o sexo masculino aos 15 anos. De acordo com alguns estudos, que também adotaram o IMC como ponto de corte para as prevalências de sobrepeso e obesidade, nota-se que os pesquisadores têm questionado a validade do uso do IMC para a detecção de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes devido às variações raciais (Deurenberg et al., 2001; Choo, 2002).

    Ao consultar resultados de outros estudos, constata-se que a maior incidência de sobrepeso e obesidade se dá no início da adolescência (Gortmaker et al., 1987; Maffeis, 1993). Talvez esse fato possa ser explicado com base na justificativa de que, nesse período, ocorrem as alterações mais significativas nos hábitos de vida dos jovens.

    A Tabela 3 apresenta a matriz de correlação do indicador de obesidade (IMC) com o tempo destinado aos eletrônicos (TV, videogame/computador) em ambos os sexos.

    Na análise dos resultados (Tabela 4) percebe-se que as horas assistidas de televisão apresentaram correlação significativa com o IMC para o sexo masculino. No estudo realizado por MATSUDO et al. (1997), com uma população brasileira na faixa etária dos 9 aos 18 anos de idade, foi encontrada uma correlação positiva entre o nível de adiposidade e o número de horas diárias de TV assistidas.

    Apesar dos poucos casos de sobrepeso e obesidade evidenciados no presente estudo, pode-se dizer que a prática de assistir televisão por várias horas, acompanhadas de intensas campanhas publicitárias de estímulo a ocupação do tempo livre em atividades sedentárias, são fortes contribuintes ao abandono da prática de atividades físicas, se constituindo, entre outros, fatores que justificam a maior proporção de adolescentes com sobrepeso e obesidade (Guedes, Guedes, 1998).

    Segundo WONG et al. (1992), o tempo excessivo dedicado a assistir televisão mostra-se como um sinal mundial para identificação de crianças e adolescentes inseridos em estilos de vida que valorizam inadequados hábitos alimentares e inatividade física.

    Quando correlacionado o IMC com o tempo gasto em frente à TV, videogame e computador para o sexo feminino, e o IMC com o tempo em frente ao videogame e computador para o sexo masculino, não foram encontrados correlações significativas (Tabela 3).

    Possivelmente à associação de outros fatores, somados ao tempo em frente à TV, videogame e computador, poderiam influenciar a composição corporal dos adolescentes (Mascarenhas et al., 2003).

    Em um estudo realizado por ANDERSEN et al. (1998) cuja amostra foi constituída de mais de quatro mil crianças e adolescentes americanos entre 6 e 18 anos, evidenciou-se que os indivíduos, tanto do sexo masculino quanto do feminino, que assistiam 4 ou mais horas de televisão por dia tinham maior IMC do que aqueles que assistiam pelo menos 2 horas de televisão por dia.

    Os dados obtidos na amostra do presente estudo demonstram que 41,67% dos adolescentes ficam mais de 3 horas em frente à TV (Gráfico 1).

    De acordo com dados contidos na literatura, se entre as três horas que as crianças e adolescentes ficam em frente à TV, dedicassem apenas uma hora por dia à realização de atividades físicas, seu risco para a obesidade diminuiria consideravelmente, visto que o tempo destinado aos eletrônicos correlaciona-se diretamente com a prevalência de obesidade (Strasburger, 1999).

    Adicionalmente, de acordo com indicações de outros estudos, o hábito de assistir TV está intimamente associado ao consumo de guloseimas (Francis, Lee, Birch, 2003; Bar-Or, 2000).

    O Gráfico 2 apresenta o tempo em que os adolescentes permanecem em frente ao videogame/computador, e verifica-se que 72,35% dos indivíduos permanecem de 30 minutos a 1 hora na frente destes eletrônicos.

    O hábito de estar em frente a esses eletrônicos, não seria uma causa isolada no aumento da adiposidade corporal, mas relaciona-se com um conjunto de práticas, tendo como maior exemplo, o consumo de alimentos enquanto se permanece na frente destes aparelhos eletroeletrônicos (Bar-Or et al., 1998).

    Portanto o presente estudo corrobora com os achados da literatura, visto que 85,71% dos adolescentes deste estudo, durante a permanência na frente dos eletrônicos acabam ingerindo algum tipo de alimento e apenas 14,29% costuma não ingerir nenhum tipo de alimento (Gráfico 3).


Conclusão

    Com base nos resultados apresentados, conclui-se que ocorreu apenas um caso de sobrepeso no sexo feminino aos 11 anos, e dois casos de obesidade, sendo um para o sexo feminino aos 13 anos e um para o sexo masculino aos 15 anos, houve correlação entre o IMC e o tempo em frente à TV para o sexo masculino.

    Os dados obtidos na amostra do presente estudo demonstram que 41,67% dos adolescentes ficam mais de 3 horas em frente à TV e verifica-se que 72,34% dos indivíduos permanecem de 30 minutos a 1 hora na frente destes eletrônicos.

    Observou-se ainda que 85,71% dos adolescentes deste estudo, durante a permanência na frente dos eletrônicos acabam ingerindo algum tipo de alimento e apenas 14,29% costuma não ingerir nenhum tipo de alimento.


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