Dimensionando a percepção da qualidade de vida. Alguns caminhos da intervenção pedagógica com idosos praticantes de hidroginástica | |||
*Dra. em Ciência do Movimento Humano Professora adjunta do Curso de Educação Física - UFSM Coordenadora do NIEATI/UFSM **Acadêmico do Curso de Educação Física/UFSM |
Carmen Lucia da Silva Marques* Mauricio Nascimento de Abreu** carminhahidro@yahoo.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007 |
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Introdução
A era da tecnologia proporcionou ao ser humano padrões de vida nunca antes experimentados. Os avanços ocorridos nas ciências, principalmente na área da saúde, são responsáveis pelo acréscimo na expectativa de vida da população que caminha para o envelhecimento.
Estudos mostram que a estrutura social brasileira sofrerá uma mudança no sentido do aumento da população de idosos e diminuição da de jovens. Segundo dados desta pesquisa, a taxa que era de 24 idosos para cada 100 jovens em 1997, passará para 74 idosos para cada 100 jovens em 2025 (jovem até 15 anos, idosos 60 anos ou mais).
Apesar disso, a questão da longevidade vinha sendo desconsiderada pela legislação (até a criação da Lei 8842/94) e pelas pessoas em geral. Pois a maioria da população ainda os julga incapazes de participar ativamente da sociedade, associando sempre velhice à falta de lucidez e capacidade física. Hoje, depois da aposentadoria, as pessoas ainda são capazes, o que os faz cada vez mais procurar outras formas de ocupação, segundo World Health Organization (1999 apud MATSUDO, 2001, pág. 17).
A qualidade de vida é um fator diretamente ligado a este contexto, sendo um dos responsáveis pelo aumento ou pelo decréscimo na longevidade da população (Matsudo, 2001). A preocupação em manter hábitos que garantam uma velhice saudável marca uma nova etapa de conscientização.Para Acosta (2004, pág. 140) "muito das 'perdas' e 'efeitos do envelhecimento' apresentados, são decorrentes do estilo de vida que leva o idoso".
As atividades físicas são importantes para que se atinja o padrão desejado em certos aspectos da qualidade de vida, conforme (MATSUDO, 2001, pág. 166):
...é claro que um estilo de vida ativo tem papel fundamental na promoção da saúde e da qualidade de vida durante o processo de envelhecimento, não importando quando, quanto e como o indivíduo seja fisicamente ativo.
Dentro destas atividades encontra-se a hidroginástica, uma prática preventiva e de amenização de problemas ligados geralmente à Terceira Idade (Bonachela,1999).
Diante deste quadro, buscou-se dimensionar os aspectos determinantes da qualidade de vida de idosos e suas possíveis interfaces com a prática da hidroginástica, tendo a perspectiva que a atividade interfira positivamente na aquisição desta variável.
Especificamente no caso deste estudo, o estado dos idosos elencados foi captado com uma pesquisa de campo, tomando como base o questionário fornecido pela Organização Mundial da Saúde (WHOQOL - bref). Assim, formulou-se uma entrevista estruturada, na qual a análise dos resultados foi feita tomando como regra que cada ser humano é único e reage de acordo com o ambiente onde vive.
Para que o objetivo desta pesquisa fosse atingido, foi necessário realizar uma comparação do estado perceptivo inicial de um grupo de praticantes e o estado perceptivo final deste mesmo grupo, o que permitiu o conhecimento da evolução dos aspectos relacionados à qualidade de vida.
Neste estudo, portanto, nos baseamos na pesquisa (WHOQOL GROUP, 1994) relativa à percepção da qualidade de vida realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que segundo seus autores acreditam ser capaz de aferir a qualidade de vida em qualquer parte do planeta. Para isso utilizamos o seu questionário - vide anexo A - que nos possibilitou adaptá-lo a nossa realidade.
O público alvo desta pesquisa refere-se aos participantes do projeto de extensão "Idoso, Natação e Saúde" que desenvolvem atividades de hidroginástica com uma freqüência de pelo menos duas aulas semanais. Assim, a abordagem foi feita com critérios definidos, sendo um deles que os indivíduos mantivessem a continuidade no programa de atividades proposto.
Alguns fragmentos sobre qualidade de vida na velhice
Néri (1993 apud ACOSTA, 2004, pág. 35) usa como sinônimos os seguintes termos "qualidade de vida na velhice, bem estar psicológico, bem estar percebido, bem estar subjetivo e envelhecimento satisfatório ou bem sucedido" e defende três aspectos para se avaliar o grau de percepção da qualidade de vida na velhice, são eles: nível biológico, nível psicológico e nível social, todos eles presentes no estudo da OMS. Vale destacar a menção do bem estar percebido, que corrobora com este trabalho, pois serve de base para a nossa coleta de informações, através da percepção dos idosos acerca de sua qualidade de vida.
Como a forma de mensuração pelo que se pode notar depende muito da interpretação de cada pessoa, que identifica o grau de melhora, piora ou até mesmo a manutenção da qualidade de vida, esta se torna uma avaliação que atua no campo perceptivo sobre os níveis do "envelhecimento bem sucedido".
A qualidade de vida, contudo, é uma questão que envolve valores, e como tal está cheia de subjetividade e reflexões pessoais e de juízos familiares. Aqui, ficam claras as diferenças individuais que foram analisadas neste estudo, pois a população em geral tem consciência do que é melhor para sua saúde, mas nem sempre o que é melhor para a sua saúde se reflete no que é melhor para ela.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fundamenta o conceito de qualidade de vida considerando três aspectos fundamentais, obtidos através de um grupo de experts de diferentes culturas: (1) subjetividade; (2) multidimensionalidade (3) presença de dimensões positivas (exemplo: mobilidade) e negativas (exemplo: dor). Estes aspectos devem ser capazes de medir a qualidade de vida em qualquer lugar do planeta.
A definição de qualidade de vida, seguindo estes aspectos, pode ser enunciada como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (WHOQOL GROUP, 1994). O reconhecimento da multidimensionalidade da qualidade de vida refletiu-se na estrutura do instrumento baseada em 6 domínios: domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, com o meio-ambiente e de espiritualidade / religião / crenças pessoais.
Resultados
Considerando os inúmeros fatores que formam o resultado deste estudo, optou-se pela exposição integral de duas variáveis específicas, que, de um modo geral, representam a percepção global da qualidade de vida e do estado de saúde (um dos componentes da qualidade de vida) dos idosos pesquisados.
A primeira questão avaliada, diz respeito à percepção geral da qualidade de vida. Conforme pode ser observado no Gráfico 01, todos entrevistados - 100% - perceberam uma melhora da sua qualidade de vida em um contexto geral.
A segunda questão buscou saber o quanto o entrevistado está satisfeito com sua saúde. O Gráfico 02 mostra que 80 % acreditam ter melhorado; enquanto 20 % ter permanecido igual.
Adotando a visão de que com o passar dos anos o indivíduo fica mais propenso a ter doenças - tanto de ordem física como psíquica - estas pessoas acreditam que sua saúde se manteve nos mesmos níveis ou melhorou conforme houve o envelhecimento.
Portanto, o projeto ou a prática regular de uma atividade específica, ou outras atitudes que não atividades físicas, tomadas durante este período, influenciaram positivamente na saúde destes idosos estudados. Esta ajuda pode ser tanto no nível da promoção de saúde quanto em nível de melhora na auto-estima. Isto pode ser percebido porque os próprios idosos começaram a entender as questões que englobam seu dia-a-dia de outra forma - mais positiva.
Referências
ACOSTA, Marco A. F. Contribuição para o trabalho com a terceira idade. Santa Maria: Marco Aurélio Acosta, 2002.
________ Educação física, Biogerontologia e a interface da qualidade de vida. Tese de Doutorado. Santa Maria: UFSM, 2004.
BONACHELA, Vicente. Manual básico de hidroginástica. 2ª edição. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em http://www.ibge.com.br, Acesso em 07 de setembro de 2005.
MATSUDO, Sandra M. M. Envelhecimento & Atividade física. Londrina: Ed. Midiograf, 2001.
NERI, Anita L. Desenvolvimento integral do homem. Revista A 3ª Idade. Ano VI. nº10, 1995.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em http://www.ufrgs.br/psiq Acesso em 15 agosto de 2005.
Anexo A. Questionário
Nós estamos perguntando o que você percebe de sua vida, antes de entrar para o projeto e hoje tomando como referência as duas últimas semanas.
1) Como você avaliaria sua qualidade de vida? Antes.
( ) Muito ruim ( ) Ruim ( ) Nem boa nem ruim ( ) Boa ( ) Muito boa2) Quão satisfeito(a) você está com a sua saúde?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito3) Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente4) O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente5) O quanto você aproveita a vida?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente6) Em que medida você acha que a sua vida tem sentido?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente7) O quanto você consegue se concentrar?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente8) Quão Seguro(a) você se sente em sua vida diária?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Extremamente9) Você tem energia suficiente para seu dia-a- dia?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Médio ( ) Muito ( ) Completamente10) Você é capaz de aceitar sua aparência física?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Médio ( ) Muito ( ) Completamente11) Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer?
( ) Nada ( ) Muito pouco ( ) Médio ( ) Muito ( ) Completamente12) Quão bem você é capaz de se locomover?
( ) Muito mal ( ) Mal ( ) Nem mal nem bem ( ) Bem ( ) Muito bem13) Quão satisfeito(a) você está com o seu sono?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito14) Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia-a-dia?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito15) Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade para o trabalho?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito16) Quão satisfeito(a) você está consigo mesmo?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito17) Quão satisfeito(a) você está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito18) Quão satisfeito(a) você está com o apoio que você recebe de seus amigos?
( ) Muito insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Nem satisfeito nem insatisfeito ( ) Satisfeito ( ) Muito satisfeito19) Com que freqüência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão?
( ) Nunca ( ) Algumas vezes ( ) Freqüentemente ( ) Muito freqüentemente ( ) Sempre20) Com suas palavras, o quanto o projeto ou a Hidroginástica ajudou na sua vida?
Fonte: o questionário elaborado pela seção de pesquisas sobre qualidade de vida da OMS (WHOQOL). ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol1.html#1 Acesso em 15 de agosto de 2005.
Obs: foi retirada a pergunta relativa à atividade sexual, devido ao alto grau de intimidade da questão e a dificuldade de se abordá-la com toda a amostra sem comprometer esta pesquisa e também as próximas que vierem a acontecer. E foi acrescentada pergunta número 26 (vinte e seis).
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digital · Año 11 · N° 104 | Buenos Aires,
Enero 2007 |