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O Estádio da Vila Capanema e a 'identidade'
dos torcedores do Paraná Clube

   
Centro Universitário Positivo
UnicenP
(Brasil)
 
 
Prof. Dr. André Mendes Capraro | Camila V. Rissardi
Camila V. de Andrade | Guilherme V. Mendes
Josiane Simbalista | Pâmela Pimentel

gv.mendes@uol.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Este trabalho consiste em uma análise bibliográfica e de fontes históricas a respeito da relação identitária que os torcedores de um clube estabelecem com a estrutura física. Para tanto, usamos com referencial teórico os livros de cunho antropológico: "Carnavais, Malandros e Heróis" de Roberto DaMatta e "A Interpretação das Culturas" de Clifford Geertz. Para tais autores, o conceito de cultura surge em torno do estudo da antropologia e cujo âmbito tem se preocupado cada vez mais em limitar, especificar, enfocar e descrever diferentes sociedades. A cultura surge como uma noção de idéia científica com impacto no panorama intelectual, e que sugere possíveis soluções para os problemas fundamentais da sociedade, como o da identificação de uma torcida pelo seu estádio ou camisetas como símbolos referentes às tradições de um clube.
    Unitermos: Identidade. Cultura. Sociedade. Símbolos.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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Introdução

    Parte-se da seguinte constatação: a cultura não faz parte de um processo concreto da sociedade, e sim como um conjunto de mecanismos de controle para governar o comportamento (DaMatta,1997 ; Geertz,1989).

    Assim, o homem encontra nos símbolos sentido para os acontecimentos de sua vida. Portanto, as pessoas são percebidas como representantes de certas categorias distintas. Como exemplo cita-se o Paraná Futebol Clube, que, com a reinauguração do estádio Durival Britto e Silva buscou recuperar a identidade junto a sua torcida.

    Devido ao processo de desenvolvimento em que o futebol brasileiro se encontra, o Paraná Clube buscou revitalizar seu estádio segundo os modelos europeus e o estatuto do torcedor que vigora no Brasil suprindo as necessidades da sociedade e da sua própria torcida:

    "Art. 18. Os estádios com capacidade superior a vinte mil pessoas deverão manter central técnica de informações, com infra-estrutura suficiente para viabilizar o monitoramento por imagem do público presente."

    O artigo apresenta como objetivo geral compreender como a reinauguração do estádio Vila Capanema influencia na identidade do clube. Partindo-se da premissa que o referencial antropológico permitirá identificar a relação entre o papel social e cultural dos clubes ao padrão de determinados comportamentos dos torcedores.

    Diante destas constatações, busca-se compreender: qual o papel da reinauguração do Estádio Durival de Brito e Silva - a popular Vila Capanema - na construção da identidade clubística dos torcedores do Paraná Clube?


A reinauguração do Estádio Durival Britto e Silva

    O Paraná clube não atuava no estádio Durival Britto e Silva, também conhecido como Vila Capanema, desde 2004, quando jogou o chamado "Torneio da Morte", cuja última partida foi realizada em 4 de abril daquele ano, com vitória de 4 a 3 sobre o Prudentópolis, livrando o Paraná Clube do rebaixamento da séria A do Campeonato Paranaense. Desde então, a equipe vinha mandando suas partidas no estádio do Pinheirão, (Disponível em www.esporte.uol.com.br Acessado em 22.10.2006), visto que no final do século passado a diretoria do Paraná havia firmado um contrato com a Federação Paranaense de Futebol (FPF), arrendando o que é de propriedade desta. O acordo irritou a torcida, assim como boa parte de setores internos do clube. Além de ser uma desvalorização do patrimônio do clube, o Pinheirão é um estádio malvisto pela torcida, pois é considerado em uma localização ruim, afastado do centro de Curitiba (Fernandes, 2006).

    Após dez meses de obras e dois anos e meio de "exílio" no Pinheirão, o Paraná Clube está de volta ao Estádio Durival Britto e Silva (Mikos e Col., 2006), que sofreu uma reforma de revitalização e ampliação, com capacidade para 16.700 torcedores. A obra, que chegou aos R$ 2,5 milhões, só foi possível através do empenho de alguns dirigentes e da torcida, que contribuíram comprando desde camarotes no preço médio de 30 mil a unidade, produtos da campanha "Vila, tá na hora!", além de contribuições espontâneas (Lazzari, 2006). Sendo reinaugurado no dia 20 de setembro de 2006 em um jogo contra o Fortaleza, pela 25ª rodada do Brasileirão (Disponível em www.milenio.com.br. Acessado em 22.10.2006). A festa de reinauguração foi completa com direito a trechos da música "O Portão" de Roberto Carlos. Os versos "Eu voltei, agora é pra ficar; Eu voltei, aqui é o meu lugar" ecoaram nos alto-falantes (Mikos e Col., 2006).

    Com o retorno ao Estádio Durival de Britto, o estádio Pinheirão não deverá mais abrigar jogos paranistas, salvo eventual partida com exigência de público superior a 20.000 pessoas, até que se concretize a segunda reforma da Vila Capanema, prevista para ampliar a capacidade do estádio para 21.000 lugares (Disponível em www.wikipedia.com.br. Acessado em 24.10.2006). A diretoria do clube admite que só investirá no Estádio com o apoio ou financiamento público. Fora isso, apenas em caso de conquista da vaga para a Libertadores em 2007 (Fernandes, 2006).


A influência cultural e sua relação com a identidade do torcedor

     Há um processo de identificação cultural que interfere na relação torcida/clube e que delimita possíveis razões históricas para delinear tal processo.

     De acordo com Geertz (1989), a cultura não é aceita como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. A cultura é pública e não uma identidade oculta. Uma vez que o comportamento humano é visto como ação simbólica, o problema se a cultura é uma conduta padronizada ou um estado da mente de alguma forma perde o sentido. O que devemos indagar é qual a sua importância: o que está sendo transmitido com a sua ocorrência e através da sua ação.

     Em razão de tais fatores interferirem na relação cultural, é preciso esclarecer estes mecanismos na prática. Em uma reportagem do Jornal Gazeta do Povo - dia 18 de setembro de 2006, destacava-se o retorno à Vila Capanema do Paraná Clube. O presidente do Clube, José Carlos de Miranda, reforçou a importância do evento, um marco histórico na vida do Paraná Clube que perdurará para sempre. Mas a pressão por vitórias e conquistas não está cabível apenas a comissão técnica. O torcedor tricolor mantém boa expectativa e espera um bom resultado da equipe em sua primeira partida. "Não há nenhuma desculpa que afaste o nosso torcedor da Vila Capanema, nem mesmo o mau momento em termos de números. Ninguém irá aceitar ausências nessa festa". (Miranda In: Gazeta do Povo, 2006)

    Esta relação traduz o domínio político que se insere nos ideais do Clube e expressa o amor da torcida pelo próprio; apresenta-se uma idéia básica de influência cultural, uma vez que a cultura de uma sociedade consiste no que quer que seja de que alguém tem que saber ou acreditar a fim de agir de uma forma aceita pelos seus membros (DaMatta, 1997, p. 67).

    A cultura especifica as relações entre tais elementos e passa a caracterizar todo o sistema de uma forma geral de acordo com os símbolos básicos em torno dos quais ela é organizada, as estruturas subordinadas ou princípios ideológicos nos quais ela se baseia. É através das ações sociais que as formas culturais encontram articulação (Geertz, 1989, p. 96).

    Como Geertz (1989) propõe, "a perspectiva da cultura deve ser entendida como um "mecanismo de controle" que inicia-se com o pressuposto de que o pensamento humano é basicamente tanto social como público - que seu ambiente natural é o pátio familiar, o mercado ou a praça da cidade. Nossos valores, idéias ou atos, assim como o próprio sistema nervoso, são produtos culturais."


O padrão cultural e a inserção de símbolos

    Por intermédio dos padrões culturais ou símbolos significativos, o homem encontra sentido nos acontecimentos através dos quais ele vive. O estudo da cultura, a totalidade acumulada de tais padrões é, portanto, o estudo da maquinaria que os indivíduos ou grupos empregam para orientar a si mesmos num mundo que de outra forma seria obscuro (Geertz, 1989, p.91).

    A constante rotação entre o modelo quadriculado, o listrado, o tradicional (dividido ao meio entre azul e vermelho) e o branco marcou a trajetória do Paraná Clube no ano e causa insatisfação na maior parte da torcida.

    A camisa tradicional foi utilizada pela primeira vez em 2006, na reinauguração da Vila Capanema, no triunfo ante ao Fortaleza Esporte Clube. Após este jogo, outro tipo de camisa foi usado. A explicação da direção é que a Joma (fornecedora de material esportivo) ainda está fabricando as camisas preferidas dos torcedores (Lazzari, 2006).

    A orientação na tarefa se concentra na caracterização dos seres humanos na sua individualidade. Todos os povos desenvolveram estruturas simbólicas nos termos das quais as pessoas não são percebidas exatamente como tais; como simples membros sem adorno da raça humana, mas como representantes de certas categorias distintas de pessoas, tipos específicos de indivíduos (Geertz, 1989, p.116).

    O principal temor dos torcedores é a falta de identidade que a equipe pode ter. Podendo ser sem a fixação de uma camisa, da afinidade com um espaço específico (Estádio), ou outras coisas, como religião, fanatismo, popularidade, enfim. Um torcedor reclama dizendo que se deve definir uma camisa e que deve dividi-la ao meio, do contrário não há qualquer identidade: "Quando o Paraná lutava para não cair tinha uma camisa bonita. Agora que o time está evoluindo a camisa é feia e cheia de patrocínios", reforça a paranista Adriana de Souza. (Lazzari, 2006, p.01).

    O mundo cotidiano no qual se movem os membros de qualquer comunidade, seu campo de ação social considerado garantido, é habitado não por homens quaisquer, sem rosto ou qualidade, mas por homens personalizados, classes de pessoas determinadas, positivamente caracterizadas e adequadamente rotuladas. Os sistemas de símbolos que definem essas classes são construídos historicamente, mantidos socialmente e aplicados individualmente (Geertz, 1989).

    No caso da identificação cultural, a tradição ou até mesmo os hábitos servem como referência para um melhor entendimento da influência dos símbolos na sociedade. O Paraná Clube é um exemplo de identificação personalizada, no qual a própria torcida reivindica a fixação de um uniforme que agrade a todos, e não simplesmente a mudança. Para o torcedor, isto impede o clube de assumir sua identidade e um melhor relacionamento com a torcida.

    De acordo com Geertz (1989), a cultura é tratada como sistema simbólico, pelo isolamento dos seus elementos e identificação das relações internas pelo mesmo. É através da ação social que as formas culturais encontram articulação. Partindo desta análise, é possível perceber a relação de identificação e direito do torcedor em participar da construção cultural de seu time.


Conclusão

    A influência que o sistema pode exercer sobre o ambiente social preside no fato de sermos avaliados constantemente como produtos culturais. As idéias propostas permitem destacar o padrão de determinados comportamentos e que dão um maior suporte para entender os costumes, a tradição e influência da torcida em seu papel social e cultural.

    Aspectos sociais, políticos e culturais de uma sociedade não estão soltos ou individualizados em sua estrutura, e sim associados. Todos os papéis sociais que implicam em escolha e vontade, como é o caso das associações voluntárias (clubes), entre outros, são parte do mundo público.

    O retorno do Paraná ao estádio Durival Britto e Silva trouxe consigo uma boa campanha no Campeonato Brasileiro, o que lhe rendeu patrocínios, fazendo com que o time trocasse diversas vezes de uniforme, deixando os torcedores insatisfeitos pela falta de uma identidade devido a ausência de um uniforme fixo. No entanto, o fato de o time não definir uma camiseta própria não impede que o torcedor vibre com a reintegração do estádio Durival Britto e Silva, pois mais do que uma identidade ou símbolo cultural, um estádio em novas condições renova o compromisso com a garantia de um bom espetáculo, transformando culturalmente a identidade de uma torcida de futebol.


Bibliografia

  • GEERTZ, Clifford. A Interpretação das culturas. LTC. RJ, 1989.

  • DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis. Rocco. 6 ed. RJ, 1997.

  • PUGLIESI, André. Paraná prevê guerra durante festa da Vila. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 set. 2006, p. 04.

  • LAZZARI, Robson de. Paraná reabre a Vila precisando da vitória. Gazeta do Povo, Curitiba, 20 set. 2006, p. 01.

  • FERNANDES, Rodrigo. Paraná acelera últimos retoques. Gazeta do Povo, Curitiba, 20 set. 2006, p. 03.

  • www.esporte.uol.com.br acessado em 22.10.2006;

  • www.milenio.com.br acessado em 22.10.2006;

  • www.wikipedia.com.br acessado em 24.10.2006;

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