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Modernidade e a indústria do entretenimento:
o produto esporte moderno

   
*Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Campo Mourão
**Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Ponta Grossa
(Brasil)
 
 
Ms. Edson Hirata*
ehirata@utfpr.edu.br  
Dr. Luiz Alberto Pilatti**
lapilatti@utfpr.edu.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do presente estudo foi verificar as influências do período denominado Modernidade sobre o fenômeno "esporte moderno", em especial sobre o espetáculo esportivo. Trata-se de um trabalho exploratório, circunscrito no campo da sociologia do esporte. Constatou-se que a modernidade foi determinante para a transformação do esporte em um produto midiático e, por extensão, amoldado a Indústria do Entretenimento. A apropriação pela Indústria do Entretenimento destituiu o esporte de valores contidos em sua progênie, transformando o aspecto comercial em sua face mais notória.
    Unitermos: Indústria do entretenimento. Modernidade. Esporte moderno.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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1. Introdução

    O esporte moderno é um objeto de estudo na esfera social bastante recente. Entretanto, é importante ressaltar os avanços consideráveis que as contribuições de Eric Dunning, Norbert Elias, Allen Guttmann, Richard Holt, Jean-Marie Brohm, Pierre Bourdieu, entre outros sociólogos conceituados, particularmente depois da década de 80, proporcionaram ao referido objeto.

    A preocupação com o esporte moderno aconteceu, em medida considerável, devido a crescente importância econômica e cultural que esse fenômeno universal alcançou. A preocupação tornou possível o aparecimento de vários modelos de análise do fenômeno distintos, considerando que o esporte moderno é um fenômeno multifacetado.

    Muitos dos modelos, particularmente os advindos do campo da sociologia, valorizam a modernidade como o cenário que possibilitou a difusão e a propagação das imagens esportivas. Com efeito, o esporte foi popularização, tornando-se um produto perfeitamente amoldado à indústria do entretenimento. Isso pode se facilmente constatado, o objeto ganhou a conotação de "esporte moderno", graças às características que lhe são inerentes. O espetáculo esportivo como uma vertente contemporânea, de relevância ímpar nas sociedades que prevalecem à cultura de massa e de consumo, na sua transmutação foi destituído dos valores originais, entre os quais pode ser destacado o espírito do olimpismo.

    O objetivo desse estudo foi verificar as influências do período denominado Modernidade sobre o fenômeno "esporte moderno", em especial sobre o espetáculo esportivo. Para atingir esse intento, esse estudo valeu-se das pesquisas de Proni (2002). O texto, que foi dividido em três partes: a primeira trata das características da modernidade e a sua influência sobre a sociedade; a segunda aborda o surgimento e o desenvolvimento do esporte moderno, e a terceira procura evidenciar a tendência a ser seguida pelo esporte contemporâneo, o denominado esporte-espetáculo.

2. Reflexões acerca da modernidade

    A primeira questão que necessita ser elucidada para entender o esporte moderno diz respeito ao que pode ser compreendido como moderno. Preliminarmente faz-se necessário investigar o período conhecido como modernidade, procurando mostrar as suas características e as conseqüências de seu desenvolvimento. Para atender a essa tarefa, inicialmente é necessário conceituar modernidade. No presente estudo o entendimento dado ao conceito é de um "estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência". (GIDDENS, 1991, p. 11).

    Giddens (1991) identifica algumas características existentes na modernidade e que eram ausentes nas civilizações tradicionais. A primeira delas diz respeito ao ritmo das mudanças, que na condição moderna ocorrem com uma rapidez extrema. Portanto, a idéias que movem esse período são a velocidade e a comunicação que geram as transformações globais. Isso é corroborado na obra de Marshall Bermann (2003), "Tudo o que é sólido desmancha no ar", onde é feita a ilação, no capítulo Fausto de Goethe, que o moderno mundo fáustico para se desenvolver necessita desse ritmo frenético.

    A segunda característica é o motivo da mudança, as transformações sociais em toda a superfície da terra. A terceira e última característica apontada por Giddens (1991) tem ligação com a natureza intrínseca das instituições modernas, até então inexistentes, tais como: o sistema político do estado-nação, a completa transformação de produtos e serviços em mercadorias e a dependência da produção de fontes de energia inanimadas.

    Rouanet (1993) é outro estudioso que contribui para o entendimento do conceito de modernidade e de suas características. O autor bebe no pensamento de Max Weber, indicando-o como indispensável no estudo do tema. Com a matriz weberiana, o autor apropria-se do conceito de racionalização para explicar as inovações ocorridas na sociedade tradicional. Para Rouanet (1993: 121), "a modernização significa principalmente aumento de eficácia. Mesmo quando outros valores parecem estar em jogo, como a democracia ou a autonomia da razão, o que se esconde atrás deles é sempre um desempenho mais eficaz do sistema econômico, político ou cultural".

    O pensamento é reforçado ao lembrar que a modernidade intentava implantar no mundo o reino da razão (ROUANET, 1993). Um mundo sem mitos, sem bruxas e nem fantasmas: um mundo, no sentido weberiano, desencantado,. Dessa maneira, a ciência, a moral e a arte estariam libertas do universo religioso e suas diferentes esferas de valor poderiam ter autonomia. Porém, a maior contribuição do autor está na análise que o mesmo faz da modernidade sob o aspecto da eficácia na área econômica, política e cultural.

    A modernidade econômica pensada por Rouanet (1993) é a modernidade moldada no modelo analítico construído por Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo. No mundo construído com a reforma protestante, a valorização do trabalho incessante enquanto um meio de servir a glória de Deus e pelo entendimento que a prosperidade, alcançada pelo sucesso nos negócios e pela austeridade nos hábitos de consumo, conduz os empresários a imaginarem-se como "escolhidos" pela graça divina, uma vez que são adeptos da doutrina da pré-destinação (WEBER, 1967).

    Nessa linha de pensamento, a ociosidade é mal-vista e todo o planejamento visa aproveitar o tempo integralmente. A racionalização da vida na modernidade foi valorizada sobremaneira. Dessa racionalização surge o capitalismo industrial e nele implícito o crescimento da economia através do desenvolvimento tecnológico. Não obstante, leituras distintas, como a de Veblen, um autor clássico, ou de Hobsbawm (1996), autor contemporâneo de grande relevância, perspectivam na ociosidade um elemento importante até mesmo para a conformação definitiva do esporte.

    Na área política, Roaunet (1993) destaca a racionalização do Estado através das lutas contra os benefícios da nobreza, a racionalização das leis ao combater as leis regionais que atendiam apenas necessidades passageiras, a racionalização do sistema fiscal que pregava a diminuição dos gastos da corte e a arrecadação de impostos sem privilégios para a aristocracia ou para o clero e a racionalização administrativa que implantou a administração burocrática racional, ou seja, priorizou como critério para o preenchimento de cargos, a competência para exercer a função e não a casta social.

    Por fim, a modernização cultural é entendida por Roaunet (1993) como um dos períodos onde a secularização do mundo foi proeminente. Esse movimento tentou criar um mundo regido pela razão em detrimento do fanatismo e da superstição. Inicia-se, neste momento, a publicação de obras que questionam os milagres e as profecias citadas no Antigo Testamento e no Evangelho.

    Feita essa análise, baseado no eixo "eficácia", Roaunet (1993) complementa discorrendo sobre a modernidade na ótica da "autonomia". Para a análise foram utilizadas as mesmas categorias: política, economia e cultura.

    No campo econômico, é construído o entendimento que a modernização quando intenta o aumento da autonomia se relaciona, principalmente, com os indivíduos e não com as estruturas sociais e deve ser entendida como a capacidade efetiva de obter meios necessários para o próprio bem-estar material. Assim, "uma sociedade é mais moderna que outra quando favorece de modo mais cabal a plena autonomia de todos os indivíduos" (ROUANET, 1983: 143).

    Em termos práticos, a modernidade, sob a égide do liberalismo, tinha como temas principais:

     [...] a supremacia do mercado, o laissez faire, a crença nas virtudes da competição, uma certa concepção do homem como ser movido predominantemente pelo interesse e pelo desejo do ganho. Mas há também uma segunda vertente, que acentua a igualdade em vez da liberdade, o dirigismo em vez da livre iniciativa, e a propriedade coletiva em vez da propriedade individual. (ROUANET, 1983, p. 149)

    A autonomia deveria possibilitar aos homens a capacidade efetiva de conquistar com seu trabalho, os bens e serviços necessários ao seu próprio bem-estar. Modernização política, pela lógica da autonomia, significa emancipar e propunha que: o Estado deveria ser capaz de assegurar a liberdade, a sociedade civil teria que orientar o Estado a garantir isso e impedi-lo de transgredir esses limites e as categorias sociais deveriam emancipar-se progressivamente e participar do processo político.

    No domínio cultural, a autonomia pregada pela modernidade procurava emancipar o homem em sua qualidade de cientista, de sujeito ético e de artista, eliminando os obstáculos externos à sua atividade. Dessa maneira, os cientistas adquiriram maior liberdade e suas vidas sem correr riscos quando propusessem alguma tese que contrariava a religiosidade. Diminuíram os entraves à pesquisa e à divulgação de seus resultados.

    A moral predominante valorizava as paixões. Era menos repressiva e tinha como intento proeminente a busca da felicidade. A arte, por sua vez, buscava a liberdade de expressão e a mudança da estética da razão pela estética do sentimento, da sensibilidade e da imaginação.

    Feitas essas considerações, torna-se possível inferir que no cenário da modernidade, aqui tracejado brevemente através dos escritos de Giddens e Rouanet, as transformações ocorridas no esporte com desencantamento do mundo produziram uma prática bastante distinta da nascida na aristocracia inglesa.

3. O esporte moderno: sua gênese e desenvolvimento

    O esporte, tal qual é conhecido na contemporaneidade, possui características bastante distintas daquelas que portava quando inventado. Passou, durante sua trajetória, por inúmeras transformações e foi alvo de outras tantas interpretações, seja com o foco no lazer, na prática pedagógica ou no consumo de massa de um espetáculo esportivo.

    Essa segunda parte objetiva responder os seguintes questionamentos: Como nasceu o esporte moderno?; Quais eram as condições em que isto ocorreu?; Sob qual contexto o esporte moderno se desenvolveu?

    Os estudos de Proni (2000), em especial A metamorfose do futebol e o texto que discute os escritos de Brohm relativos à organização capitalista do esporte, contribuem significativamente para o debate aqui proposto. Logicamente que a contribuição não pode ser entendida como resposta única e final, mas como uma opção possível e interessante de se interpretar o fenômeno esporte moderno.

    Esse primeiro grupo de perguntas referente à gênese do esporte moderno e o seu desenvolvimento é o foco inicial dessa análise. Proni bebe no pensamento de autores do porte de Richard Mandell, Allen Guttmann, Norbert Elias, Pierre Bourdieu e Jean-Marie Brohm. Nesse estudo, o pensamento desse último pesquisador é que balizará a linha de raciocínio a ser seguida.

    Ao utilizar os escritos de Brohm, Proni (2002) esmiúça sua matriz teórica evidenciando que a problematização e as hipóteses construídas por Brohm são fieis a sua formação marxista, "procurando estabelecer um paralelo entre a mercantilização do esporte e a organização capitalista da sociedade" (PRONI, 2002: 34).

    Brohm (2003) utiliza um ponto de partida semelhante ao usado por Marx em "O capital". Karl Marx explica a constituição do sistema capitalista através da sua categoria mais elementar "a mercadoria", no caso do esporte, o processo histórico que desenvolveu novas e complexas formas de esporte, revela o esporte moderno como categoria analítica da prática esportiva diversificada.

    A gênese do esporte moderno sugere que a origem deve ser buscada na Inglaterra, tendo ocorrido concomitantemente com a consolidação do modo de produção capitalista e da ideologia burguesa (GEBARA; PILATTI, 2006). A gênese está relacionada com a introdução da medição exata dos resultados dos atletas e a comparação da performance em diferentes ocasiões, fato que não era contemplado nas competições antigas. Isso gerou transformações, também, na forma como os atletas se preparavam para os eventos, ou seja, a melhora do desempenho do organismo começou a ser tratada por um sistema científico. Com efeito, o esporte materializou de forma abstrata a performance humana. É, em última instância, a competitividade e a vontade de ganhar relatada por Rouanet ao comentar a modernidade.

    Brohm lembra que a organização institucional das principais modalidades esportivas ocorreu entre 1860 e 1900. Com o sistema institucional esportivo, nessa época e a partir daí, o esporte difundiu-se para outros países, acompanhando assim o modo de produção capitalista, que se instalou no continente europeu e na América do Norte.

    Foram essas federações e associações que normatizaram as regras, instituíram os recordes, enfim organizaram o esporte. Assim, desapareceram os mitos e o esporte também se desencantou. O aparecimento dessas instituições colaborou com a racionalidade burocrática sugerida para aquele momento histórico.

    Brohm indica quatro fatores responsáveis pelo desenvolvimento do esporte moderno: o aumento do tempo livre e o desenvolvimento do lazer, a universalização dos intercâmbios mediados pelos modernos transportes e meios de comunicação de massa, a revolução técnico-científica que possibilita novos materiais e equipamentos esportivos e novas modalidades e a revolução democrático-burguesa e o enfrentamento das nações em âmbito mundial.

    É possível relacionar esses quatro fatores ao princípio da eficácia preconizado pela modernidade. A eficácia das máquinas automatizadas diminui a carga de trabalho semanal dos trabalhadores, aumentando o tempo livre dos mesmos; os meios de transporte ficaram cada vez mais rápidos, seguros e acessíveis, possibilitando o maior intercâmbio entre os atletas; os meios de comunicação de massa continuamente a desenvolveram novas tecnologias proporcionando trocas de informações, imagens e sons mais velozes e de qualidade, alavancando a venda global de direitos de transmissão de eventos esportivos; os materiais esportivos ganharam o reforço da ciência e da tecnologia para incrementar o desempenho dos atletas, e finalmente, o enfrentamento entre as nações ganhou o propósito de tentar demonstrar através das competições esportivas a eficácia dos seus sistemas políticos e produtivos.

    O esporte lido por Brohm é o esporte rendimento. Para Guttmann (1978), esse esporte é o modelo ideal e típico da sociedade industrial por ser portador de algumas características como a determinação do melhor concorrente, ou melhor, desempenho, como a possibilidade a todos participarem e terem suas performances medidas e comparadas, como a busca pelos recordes (fetiche típico do esporte) e o império da mentalidade do êxito.

    São possíveis diversas analogias entre o esporte e o sistema produtivo capitalista. Para demonstrar que os princípios dessa sociedade capitalista acabam por determinar estruturalmente o esporte, Brohm se expressa da seguinte forma:

     [...] a especialização esportiva é produto da divisão social do trabalho (técnica do corpo); a busca do máximo rendimento torna o recorde similar a uma medida da capacidade produtiva almejada; o esporte é uma corrida contra o relógio (o tempo capitalista); o espetáculo esportivo torna-se mercadoria; os esportistas perdem sua individualidade (despersonalização e massificação). A produtividade do sistema esportivo é medida pelo número de atletas internacionais produzidos e/ou pelo número de medalhas obtidas". (apud PRONI, 2003:43)

    O modelo teórico de Brohm analisa, ainda, as funções das instituições esportivas, a influência dos meios de comunicação de massa na construção de mitos e também a utilização do esporte como aparelho ideológico do estado, mas essa não é a prioridade desse estudo.

    Esse modelo de análise parece adequado para entender o esporte moderno, entretanto é portador de algumas limitações, e uma das mais relevantes é destacada por Proni (2002), ao comentar que esse modelo é insuficiente para entender o lugar das modalidades esportivas na sociedade e cultura brasileiras. Dessa maneira, deve-se ter certo cuidado ao utilizar esse referencial.

4. O espetáculo esportivo: fruto da modernidade?

    Considerando que os aspectos da modernidade já foram expostos e que o esporte moderno também já foi apresentado, passa-se a partir desse momento à discussão de como a modernidade exerceu influências sobre o esporte contemporâneo, em especial sobre a forma de espetáculo esportivo. Para alcançar esse intento é importante esclarecer algumas indagações, tais como: Quais são as características do esporte-espetáculo?; Em que medida esses posicionamentos são frutos da modernidade?; Quais são as tendências atuais e as perspectivas para esse fenômeno?

    Inicialmente, pode-se definir genericamente o termo esporte-espetáculo utilizando três de seus traços elementares:

  1. suas competições são organizadas por ligas ou federações e os atletas envolvidos são submetidos a treinamentos intensivos;

  2. suas competições são veiculadas pelos meios de comunicação de massa e apreciados por espectadores em seu tempo de lazer;

  3. existência de relações mercantis no campo esportivo, como os atletas que são assalariados e os eventos esportivos, enquanto uma forma de entretenimento de massa, que são financiados pela comercialização do espetáculo (PRONI, 2002).

    Dito isso e entendido que o esporte-espetáculo é uma expansão do esporte moderno, parece claro a influência da modernidade nesse fenômeno, ainda que com certas distinções. Essas novas tendências podem ser observadas no trabalho de diversos autores, entre os quais pode ser destacado Giovanni (2005). O autor destina a responsabilidade dessa nova tendência ao crescimento da indústria do entretenimento de massa e ao desenvolvimento do marketing esportivo. Por um lado, o aumento do tempo livre dos trabalhadores faz surgir à demanda por opções de lazer e o esporte, pelas emoções que transmite, torna-se uma mercadoria muito procurada. Paralelamente ocorrem as inovações tecnológicas dos meios de comunicação de massa, que possibilitam a transmissão de espetáculos esportivos para uma multidão de pessoas em tempo real. Esses milhões, às vezes bilhões, de telespectadores motivam os empresários a divulgar suas marcas e produtos junto ao esporte por acreditarem ser uma maneira eficaz de incrementar sua publicidade. Nasce e se desenvolve aí o marketing esportivo.

    Vários são os exemplos de modalidades que modernizaram a forma de gestão para potencializarem sua mercantilização. Até mesmo as regras foram alteradas para se adequarem ao formato televisivo e poderem ser vendidas como um espetáculo atraente (HIRATA; PILATTI, 2004). Em certa medida, o dinheiro corrompe o esporte (AUBEL; OHL, 2004).

    A modernidade parece estar muito presente em tudo o que foi exposto acima. As relações são baseadas em uma lógica mercantil, onde o consumo do espetáculo é a principal mercadoria. As inovações tecnológicas é que possibilitaram a velocidade fáustica da informação e da comunicação. As instituições esportivas estão altamente racionalizadas, enfim, o esporte-espetáculo aparente ser uma vertente para ser pensada a partir da modernidade.

5. Considerações finais

    A resposta aos questionamentos levantados no artigo foi construída no decorrer desse texto através das exposições teóricas. É claro que o esporte moderno recebeu influências significativas da Modernidade, tendo inclusive surgido sob essa influência. Seu desenvolvimento notadamente aconteceu atendendo aos princípios do capitalismo e proporcionou a transformação para esse fenômeno contemporâneo, o esporte-espetáculo.

    O modelo teórico de Brohm parece se encaixar com análises que abordem o aspecto mercantil do esporte, desde que obedecidas às limitações impregnadas nele. Sugere-se nas impossibilidades geradas por essas limitações, a tentativa de utilização dos estudos de Pierre Bourdieu (1983; 1990). O autor é um conceituado sociólogo francês que também merece ser estudado em análises que contemplem o esporte, principalmente se por ventura nele estiverem implícitas relações mercantis.

    O esporte-espetáculo é a tendência mais vistosa no momento (não é a única) e está vinculada por alguns autores ao pós-modernismo, a era pós-industrial, a sociedade do consumo, a sociedade do espetáculo de massas, entretanto essas ligações também são questionadas por outros estudiosos que preconizam que a modernidade ainda é uma etapa vigente e não ultrapassada da humanidade, por isso esse tema ainda pode ser fruto de novas reflexões.

Referências

  • AUBEL, O.; OHL, F. The denegation of the economy: the example of climbing in France. International Review for the Sociology of Sport, v. 39, n. 2, june 2004, p. 123-137.

  • BERMAN, M. O Fausto de Goethe. _________. In: Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

  • BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. ________. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

  • GEBARA, A.; PILATTI, L. A. (orgs.) Ensaios sobre História e Sociologia nos esportes. Jundiaí, SP: Fontoura Editora, 2006.

  • GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.

  • GIOVANNI, G. di. Mercantilização das práticas corporais: o esporte na sociedade de consumo de massa. Revista Gestão Industrial, Ponta Grossa, v. 1, n. 1, jan.-mar. 2005, p. 146-155.

  • GUTTMANN, Allen. From Ritual to Record: the nature of modern sports. New York: Columbia University Press, 1978.

  • HIRATA, E.; PILATTI, L. A. Análise do potencial mercantil do basquete brasileiro. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, año 10, n. 79, dic. 2004.

  • HOBSBAWM, E. A era dos impérios: 1875-1914. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

  • PRONI, M. W. A metamorfose do futebol. Campinas: Unicamp, Instituto de Economia, 2000.

  • PRONI, M.W. Brohm e a organização capitalista do esporte. In:

  • PRONI, M. W.; LUCENA, R. F. (orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Editores Associados, 2002.

  • ROUANET, P. S. Ilustração e modernidade. ________. In: Mal-estar na modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

  • VEBLEN, T. B. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

  • WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967.

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revista digital · Año 11 · N° 104 | Buenos Aires, Enero 2007  
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