Educação Física no ensino noturno: um estudo de caso |
|||
*Graduado em Educação Física e Membro do Grupo de Estudos de Educação Física Escolar do UNIFIEO. **Graduada em Educação Física e Pedagogia, Mestre e Doutora em Educação e Coordenadora do Grupo de Estudos de Educação Física Escolar do UNIFIEO. Osasco, São Paulo. |
Hugo Cesar Nunes da Silva* nuneshugo@uol.com.br Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva** sheila.silva@bol.com.br (Brasil) |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007 |
1 / 1
Introdução
No Brasil segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), artigo 26, 3º, a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; que seja maior de trinta anos de idade; que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da Educação Física; que seja amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 19691 e que tenha prole.
Percebemos na história recente da Educação Física brasileira que perdemos sensivelmente a importância. Uma outra questão que fica clara na análise desta Lei é a capacidade dos legisladores transferirem responsabilidades, pois antes, o fato da disciplina ser facultativa ou não era decisão da própria escola, agora, fica a cargo do aluno optar se quer ou não estudar a disciplina. Baseado no parecer do CNE/CEB 5/972 que diz: "cabe à escola decidir se deseja oferecer Educação Física em cursos que funcionem o horário noturno, sendo facultado ao aluno optar por não freqüentar tais atividades", e enfatiza que "somente serão computados nas oitocentas horas de que fala a lei, os componentes a que o aluno esteja obrigado, nelas não se incluindo, por exemplo, a Educação Física nos cursos noturnos e o ensino religioso". Estas oitocentas horas de que fala a Lei, diz respeito ao total de horas que os alunos devem cumprir para que concluam o ano letivo.
Analisando este artigo de uma forma crítica e vendo a quase inexistência da Educação Física escolar no ensino noturno e também a pouca exploração deste tema em pesquisas, vi a necessidade de explorá-lo buscando subsídios para discutir e desenvolver uma visão crítica sobre a Educação Física que não temos e a que seria possível ter.
Diante disso o problema que nos colocamos é: qual o sentido e/ou significado das aulas de Educação Física para a comunidade escolar no âmbito do ensino noturno?
Tentando desvelar o significado da Educação Física no ensino noturno, o objetivo deste trabalho será identificar a visão de uma comunidade escolar a respeito do assunto.
Educação Física: objetivo e significadoAo longo do tempo têm-se questionado muito o que é Educação Física e quais conteúdos que esta disciplina trata sendo muitos os conceitos que lhe são dados. Para melhor compreendermos esta situação, faremos um breve relato das diferentes concepções mais presentes e defendidas até hoje.
Partiremos de como os autores da linha desenvolvimentista vêem o papel da Educação Física escolar.
Segundo Manoel et al. (1988), fundamentados no modelo desenvolvimentista de Gallahue, a maioria das crianças da pré-escola até as quatro primeiras séries do ensino de 1º grau (dos quatro aos dez anos de idade) devem ser trabalhadas no sentido de desenvolver, ao máximo, as habilidades básicas, sem preocupação com as habilidades específicas. As habilidades básicas são importantes para a aprendizagem de todas as habilidades específicas ou culturalmente determinadas, requisitadas no trabalho, na vida social, enfim, na vida das pessoas, e não somente para a aprendizagem das habilidades desportivas.
Defendem que Educação Física na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental deve proporcionar às crianças oportunidades que possibilitem um desenvolvimento hierárquico do seu comportamento motor, na formação de estruturas cada vez mais organizadas e complexas. Nas quatro últimas séries do ensino fundamental pode-se trabalhar com habilidades específicas desportivas. O desporto é uma forma de patrimônio cultural da humanidade e um dos grandes objetivos da educação é a transmissão cultural.
A aprendizagem de habilidades específicas desportivas possibilita o desenvolvimento de capacidades como antecipação, atenção seletiva, percepção, programação de ação, organização do movimento, detecção e correção de erro, timing, mudança de ação, e assim por diante, capacidades que beneficiam outras ações humanas.
Na linha do construtivismo temos Freire (1997) que coloca, em relação ao seu papel pedagógico, que a Educação Física deve atuar como qualquer outra disciplina da escola e não desintegrada dela. As habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as conseqüências disso do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. Sem se tornar uma disciplina auxiliar de outras, a Educação Física precisa garantir que, de fato, as ações físicas e as noções lógico-matemáticas que a criança usará nas atividades escolares e fora da escola possam se estruturar adequadamente.
Já a abordagem da aptidão física relacionada à saúde como descreve Sanches (2003) está preocupada com o bem-estar geral das pessoas e não apenas com a prevenção de doenças. Assim, a aptidão física é considerada como uma capacidade diretamente relacionada com a saúde do indivíduo, a qual resultará do seu envolvimento em atividades físicas por toda sua vida.
Ainda nesta perspectiva temos Darido (2001) que faz uma análise dos trabalhos de Nahas (1997) e Guedes & Guedes (1996), os quais propuseram como uma das principais preocupações da comunidade cientifica nas áreas da Educação Física e da Saúde Pública levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de reverter à elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade física.
Analisando através de uma linha histórico-crítica e pensando na Educação Física como um componente curricular da escola que tratará da cultura corporal dos alunos e levando em consideração o indivíduo de uma forma integral, Taffarel (1985, p.04) afirma que:
[...] o ser humano é um ser indivisível, e toda a fragmentação o aliena. Portanto, é no ato da criação, que entram em jogo, capacidades e habilidades de percepção, formas de organização de conhecimentos e de reorganização de elementos. Entrelaçadas e inseparáveis das habilidades estão as motivações, emoções e valorizações, tudo isto transparecendo, em uma forma global, através de expressão corporal.
Segundo Soares et al. (1992), a Educação Física deve tratar como conteúdo, a cultura corporal, tendo como principais objetivos nas séries iniciais, a aprendizagem de possibilidades e limites da expressão corporal, como linguagem no tempo histórico, fazendo com que o aluno consiga decifrar: códigos, sentidos e significados que lhes são impostos pela sociedade. Deve-se levar em consideração sua história de vida a fim de fazer com que este aluno seja capaz de intervir na realidade, para mudar ou manter os princípios norteadores da mesma.
De acordo com a linha crítico-superadora do COLETIVO (1992, p.61) "a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento denominado de cultura corporal". Fazem parte destes conteúdos toda e qualquer manifestação cultural que se utilize da expressão corporal com o objetivo de fazer com que os alunos aprendam e desenvolvam a expressão corporal como uma forma de linguagem.
Em uma linha crítico-emancipatória, Kunz (2001) coloca que a Educação Física escolar, através de atividades com o movimento humano, teria como objetivos primordiais de ensino o desenvolvimento de competências como a autonomia, a competência social e a competência objetiva, entendendo-se esta como um saber cultural, historicamente acumulado que é apresentado e criticamente estudado pelo aluno. Será através dessa competência objetiva que ele irá valorizar, entre outros aspectos, a condição física, o esporte, as atividades de lazer, da aprendizagem motora e da dança.
Dentro de uma abordagem conceitual, temos Arantes (1995) que coloca que os professores devem ensinar e aprender conceitos sobre a motricidade humana, aprender a viver a solidariedade, apreciar sinceramente a competência, valorizar a justiça, favorecer a criação de talentos e liderança, dar oportunidade aos desfavorecidos, àqueles que tem dificuldade e, dentre tantos outros valores, cultivar a alegria, a auto-estima e o conhecimento. Além disso, pode proporcionar a "corpos e almas", a infinita possibilidade de se autoconhecer, de compreender regras e de estabelecer valores.
Ainda dentro desta perspectiva, segundo Silva (1996), a Educação Física passa a ser veículo de transmissão e fornece oportunidades para a construção de um conhecimento capaz de mover os seres humanos de um lugar de maior ignorância para outro, onde a ignorância seja menor em relação aos seguintes aspectos: ampliar a visão sobre si mesmo, a visão sobre a sociedade e as leis que a regem, a visão sobre o funcionamento das coisas, dos seres vivos e do universo.
Nesta perspectiva, a autora coloca como objetivos específicos da Educação Física desenvolver os alunos nos domínios motor, cognitivo e afetivo. No primeiro domínio mencionado, deve proporcionar a aquisição de um repertório cultural e motor que seja aplicável durante toda a vida em situações cotidianas de movimento através dos mais diversos desafios motores, exercícios físicos, jogos, danças, esportes, explorações de espaços e materiais.
No que refere ao desenvolvimento do domínio cognitivo, visa promover a aquisição de conhecimentos básicos de anatomia e fisiologia humanas, noções de biomecânica, bem como aspectos básicos do desenvolvimento das variáveis de aptidão física que capacitem os alunos à prática de atividades físicas de forma eficaz e segura.
No domínio afetivo, deve levar à valorização do movimento corporal e das atividades físicas como fator de desenvolvimento integral do ser humano, onde se inclui a manutenção da saúde em níveis desejáveis e a sociabilização.
Segundo Melograno (1996) esta abordagem conceitual pressupõe que os conceitos adquiridos pelos seres humanos podem ser transferidos para novas habilidades e situações e que eles serão aprendidos com maior eficiência quando ensinados explicitamente.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/SEF, 1997, p.24)
[...] a educação física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física.
Deveria ser acrescentado à última frase desta citação o seguinte: "nem aos alunos do ensino noturno".
Buscando uma resposta para tal fato, baseamo-nos nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino fundamental), para tentarmos encontrar uma linha a seguir, e entendemos que a Educação Física no ensino noturno deve abordar conteúdos da Educação Física como expressões de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos.
Levando em consideração estes conceitos, precisamos pensar em uma Educação Física escolar para o ensino noturno que busque atender ao aluno em todos os seus domínios, ou seja, que dê oportunidades para estes alunos expressarem seus valores, suas vontades, seus desejos e fazer com que se libertem das "algemas da dependência", que sejam seres humanos que tenham uma visão crítica sobre seu papel na sociedade e consigam com isso dar um salto para um verdadeiro conhecimento válido, que segundo Silva (1996, p.29) nada mais é que:
[...] Todo aquele e só aquele que me leva a mudar de lugar, sair de um lugar onde era ignorante a respeito de fatos e/ou perspectivas, para outro onde estes aspectos se desvelam e me tornam curiosa para apropriar-me de outros mais.
De acordo com Mattos e Neira (2000, p.16)
[...]a linguagem corporal desenvolvida não somente pela educação física como também pela arte - aglutina e expõe uma quantidade infinita de possibilidades que, ao desenvolvê-las, a escola estimula e aprofunda a inserção do educando na sociedade, colocando-o em ação/interação com o mundo. Pensemos no seguinte: não conseguimos compreender um noticiário em língua para nós desconhecida, mas poderíamos jogar, contemplar uma obra de arte e até dançar com alguém cuja língua materna absolutamente desconhecêssemos.
Considerando os objetivos da Educação Física e a realidade dos alunos, precisamos pensar em conteúdos das aulas, que levem em consideração alguns aspectos, como por exemplo: considerar que o professor que atua na escola, além de sua formação acadêmica tem seus valores, hábitos, tradições, costumes, possuem uma história de vida que o fez optar por Educação Física ao invés de escolher outra profissão; relaciona-se com outros professores; lida com uma expectativa que sobre ele é colocada pela direção, pais, alunos; tem suas motivações, desejos e interesses; é influenciado pela mídia e pela cultura onde está inserido; possui um laço social que o orienta e dá sentido ao que faz.
Para Daólio (2004), em sua abordagem cultural de Educação Física, a necessidade do rompimento de uma Educação Física de "ordem" para uma Educação Física da "desordem", propõe principalmente o rompimento com o cientificismo aceitando os limites da ciência e optando entre uma ciência desumana e um humanismo não científico por uma Educação Física que reafirme a intersubjetividade nas relações entre os atores da área, ou seja, uma Educação Física que atue no ser humano no que concerne às suas manifestações corporais eminentemente culturais, respeitando e assumindo que a dinâmica cultural é simbólica e, por isso mesmo, variável, e que a mediação necessária para essa intervenção é, necessariamente, intersubjetiva.
No nosso entender, a Educação Física escolar tem como objetivo, proporcionar aos alunos espaços para refletir, discutir, problematizar, vivenciar na prática questões relacionadas à motricidade humana, levando o aluno a desenvolver com isso:
Descoberta e exploração de novos movimentos corporais que tenham significado para si e reflitam de forma positiva em suas atitudes enquanto ser construtor de conhecimento e ajudem na afirmação dos padrões naturais de movimento: locomoção, manipulação e estabilização.
Enriquecimento cultural, valorizando as diversas formas de movimento humano como jogos, danças, ginásticas, lutas , esportes.
Valorização da expressão corporal como uma das formas de linguagem, visto que a linguagem verbal e escrita é super valorizada na nossa sociedade.
Consciência da importância das práticas corporais como forma de melhorarem sua própria qualidade de vida e com isso valorizarem a prática de atividades motoras fora do ambiente escolar.
Entendemos aqui qualidade de vida como sendo subjetiva nos indivíduos e variável de acordo com o ambiente em que este está inserido.
Levando em consideração todos esses aspectos, precisamos pensar em uma Educação Física escolar que tenha significância dentro do círculo escolar, que seja dinâmica e pronta para contribuir para a construção da cidadania.
Como diz Maugham (apud Cotrim e Parisi, 1998, p.56):
[...]os homens não são somente eles; são também a região onde nasceram, a fazenda ou o apartamento da cidade onde aprenderam a andar, os brinquedos com que brincaram em crianças, as lendas que ouviram dos mais velhos, a comida de que se alimentaram, as escolas que freqüentaram, os esportes em que se exercitaram, os poetas que leram e o Deus em que acreditam. Todas estas coisas fizeram deles o que são, e essas coisas ninguém pode conhecê-las somente por ouvir dizer, e sim se as tiver sentido.
Vemos aí como é importante além das propostas que desejamos implantar, seja no ensino noturno, seja na escola básica, o contato com a realidade de onde iremos desenvolver nosso trabalho, temos que sentir a real necessidade daquela ou desta comunidade, pois se não levarmos em consideração esta realidade, estaremos desconsiderando o ser humano como ser real, que interfere e modifica as relações humanas.
Educação Física no Ensino NoturnoAlgumas questões devem ser analisadas com mais profundidade quando nos referimos ao estudo da Educação Física no ensino noturno.
Discutir Educação Física no ensino noturno é fundamental em função do problema que sua situação como componente curricular facultativo traz para melhor inserção no projeto pedagógico do ensino noturno, visto que em termos legais, a facultabilidade e as restrições das aulas de Educação Física no ensino noturno fazem-nos refletir sobre qual seria a contribuição deste componente curricular tendo em vista as especificidades da educação de jovens e adultos. Segundo Mattos e Neira (2000), "o ensino noturno é responsável por 56% das matriculas" (p.12).
Outro ponto que nos faz considerar de extrema importância este tema ser abordado é a capacidade que temos de conhecimento das nossas possibilidades corporais, dando com isso uma importância fundamental ao componente curricular Educação Física o qual discutirá questões relacionadas à Motricidade Humana nas nossas escolas, proporcionando aos nossos alunos a aquisição de um conhecimento que vem sendo historicamente acumulado e socialmente transmitido ao longo dos anos. A questão principal a qual devemos nos atentar seria mostrar para a comunidade e a escola que a Educação Física deve ser vista como sendo essencial na vida dos seus filhos, e por quê essencial? Essencial porque eu sou o corpo, eu sou o movimento e como ser que pensa, que age, sou produtor de linguagem, linguagem verbal, corporal, muitas vezes uma linguagem oculta que se revela através do movimento.
Todas as minhas ações são muitas vezes criadas, recriadas e expressas pelo movimento. Negar ao ser-humano a oportunidade de conhecer novas formas de movimento, de conhecer e respeitar culturas corporais diversas é negar a este o direito à cidadania, cidadania esta que passa a ser relevante dentro da disciplina Educação Física quando o professor ressalta em suas aulas a expressão corporal como princípio norteador, sendo esta uma das formas de linguagem possível, onde o aluno poderá em muitos momentos de sua vida recorrer a práticas corporais para resolução de problemas. Podemos proporcionar também, através das nossas atividades, momentos em que os alunos desenvolvam princípios de aceitação às diferenças, solidariedade, justiça, não-violência. Se conseguirmos nas nossas aulas mostrar aos alunos o valor que os mesmos tem enquanto sujeito no mundo capazes de grandes realizações, contrapondo ao narcisismo e a toda forma de alienação, poderemos dar os primeiros passos para uma contribuição efetiva na construção da cidadania.
Nosso corpo pode ser considerado como nosso símbolo o qual transmite sentimentos, possibilitando, com isso, expressarmos nossos desejos mais internos e externos que se traduzem em forma de movimento. Todas as nossas ações estão calcadas pelo movimento, ou seja, o movimento do corpo humano é um tema socialmente relevante.
Segundo Bertheart e Bernstein (apud Cañete, 2001, p.14)
[...]nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso, tomar consciência do próprio corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua unidade.
Outro ponto que justifica a abordagem deste tema é a contribuição que poderá trazer para melhoria da prática (as aulas) no dia-a-dia, possibilitando a construção de uma Educação Física que leve em consideração as opiniões dos atores que fazem parte da escola, principalmente do corpo docente, diretores e supervisores os quais podem trabalhar juntos para a inserção da Educação Física nas escolas, legitimando-a na prática e não somente amparada pela lei, que apesar de ser muito importante não preenche satisfatoriamente sua principal função: a de levar os alunos verem significado em seu estudo.
Qual o sentido e/ou significado do componente curricular Educação Física para a comunidade escolar no âmbito do ensino noturno?
A partir da verificação das opiniões destes atores escolares acerca do problema proposto poderemos ter também não somente uma visão do que eles pensam sobre Educação Física escolar, mas também, de uma forma mais implícita, sua opinião sobre o projeto escolar que eles acreditam.
Na área acadêmica vejo como importante a discussão do tema, pois acredito que se planta mais uma semente que poderá servir de incentivo para futuros trabalhos na área, prosperando belas colheitas num futuro próximo de modo que possamos ter na educação a esperança de um mundo melhor.
Metodologia da pesquisaAmostra
Ao todo foram entrevistados 07 funcionários da escola (supervisor, coordenador, professores) e 14 alunos pertencentes aos programas de Alfabetização de Adultos e Tele-Curso Ensino Fundamental e Médio. A entrevista foi semi-estruturada e consistiu de 03 perguntas abertas, sendo as mesmas realizadas na própria escola e gravadas em um gravador portátil.
Tratou-se de um estabelecimento de Educação Básica da rede privada.
Recursos físicosA construção da escola foi feita em dois pavimentos. No térreo encontram-se: sala da coordenadora, sala dos professores, secretaria, cozinha, pátio coberto, sala de arquivo, sala da supervisora de ensino, biblioteca, sala a ser adaptada aos deficientes físicos, banheiros para alunos e para funcionários, etc. No piso superior encontram-se 12 salas de aulas, banheiros para os alunos, e um laboratório desativado.
Na área externa existe uma área descoberta para recreação. A construção totaliza 1800 metros quadrados.
A unidade escolar encontra-se dentro de um CAT (Centro de Atividades) e a comunidade escolar tem acesso às dependências deste. São elas: 3 quadras poliesportivas, 2 quadras de tênis, 1 ginásio de esportes (coberto), 1 campo de areia, 1 campo gramado, 1 pista de corrida, 2 parques infantis com brinquedos de madeira e piso de areia, 1 mini ginásio de esportes, 1 salão promocional, quiosques, arena e grande área verde. No verão os alunos podem freqüentar o clube em horário de aula (1 vez por semana), este conta com três piscinas (infantil, recreativa e semi - olímpica), serviço de salva-vidas e vestiários com chuveiro.
Recursos financeirosA escola é mantida e administrada pelo Serviço Social da Indústria, uma entidade jurídica de direito privado, com sede e foro na capital da República e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Nenhum documento menciona o montante de recursos financeiros repassados e/ou investidos na escola.
Aspectos do ambiente físico e social, sócio - culturais e econômicosO bairro no qual a escola está situada fica na zona norte do município de Osasco, conta com boa infra -estrutura de comércio (farmácias, supermercados, lojas de materiais para construção, casas de doces, bares e lanchonetes, etc.). Como a maioria das cidades, o bairro apresenta uma dualidade de condições econômicas: por um lado tem casas e apartamentos com pessoas de classe média e um poder aquisitivo maior, por outro tem como vizinhança moradores de "áreas livres" (que é como se convencionou chamar as favelas).
As ruas são asfaltadas, bem iluminadas e com grande movimentação de veículos devido o fácil acesso à rodovia Castelo Branco. O bairro conta com diversas linhas de ônibus municipais e intermunicipais para servir à população.
A maioria da clientela não reside nas proximidades da escola. Apenas alguns vão a pé. A grande maioria utiliza transporte escolar em vans e peruas, ou ônibus coletivos.
Aproximadamente 80% da clientela são filhos de funcionários da indústria, famílias assalariadas de média e baixa renda. Geralmente os pais trabalham e fora do período de aulas deixam os filhos sob a responsabilidade de terceiros (avós, tias, vizinhos e uma minoria com empregadas). Os 20 % restantes são da comunidade, geralmente já estão nos ciclos finais e entraram numa época em que as vagas para os filhos de industriários não precisavam passar por sorteio. Atualmente a demanda é maior e a tendência é que a grande maioria seja beneficiário da indústria.
Em frente a escola encontra -se a Policlínica Zona Norte, seguindo em frente, existe uma outra escola de grande porte (FITO), a AACD e o Hospital e Maternidade Amador Aguiar (local para o qual os alunos são encaminhados em casos de acidentes). Nas redondezas existem ainda algumas escolas particulares menores (Colégio Peres Guimarães, Colégio Getúlio Vargas, Escola de Educação Infantil Cebolinha, etc.).
A escola, por estar dentro de um CAT, tem à sua disposição um teatro, onde freqüentemente são exibidas peças gratuitas, abertas tanto aos alunos como à comunidade que se interessar.
O ginásio de esportes e as quadras são utilizados tanto pelos alunos como por alguns times de vôlei e basquete para treinos, e pelos sócios do clube para divertimento. Existe ainda um salão promocional, eventualmente alugado para eventos, e também um quiosque, alugado para festas e churrascos nos finais de semana.
Dentro do CAT estão instaladas uma lanchonete e uma academia de ginástica (terceirizadas).
ProcedimentosNum primeiro momento fui até a escola e falei com a supervisora escolar sobre a possibilidade de realizar a pesquisa na escola sobre a Educação Física escolar no ensino noturno. Sem esboçar nenhum tipo de rejeição, me autorizou a entrevistar tanto os funcionários quanto os alunos. Passado alguns dias deste primeiro contato, falei com a diretora da escola que, sem objeção nenhuma, me concedeu a entrevista no final da tarde. Logo em seguida, fiquei aguardando o período noturno para realizar as entrevistas com os professores. Após mais ou menos 01 hora de espera, dirigi-me à sala dos professores e abordei um dos presentes ali, perguntei qual era o seu cargo na escola e ele me disse que era orientador de aprendizagem cuja função é a de dar aulas, ou seja, é um professor, só muda o nome do cargo. Ali mesmo na sala dos professores, me concedeu a entrevista. Logo após, chegaram uma professora e uma orientadora de aprendizagem do ensino fundamental, que também se dispuseram a dar a entrevista. Estas aconteceram também na sala dos professores, contando apenas com minha presença e das duas professoras. Após estas entrevistas me dirigi à secretaria da escola e após mostrar a relação de questões que iriam ser feitas, a secretaria resolveu dar a entrevista. Logo após tê-la entrevistado, chegou uma professora que também se dispôs a me ajudar, dando-me uma entrevista muito descontraída.
A entrevista com a supervisora ocorreu após 03 dias. Foi realizada em uma sala onde se encontravam apenas eu (entrevistador) e a entrevistada. Como ocorreu nos casos anteriores, a supervisora me atendeu muito bem.
As entrevistas com os alunos aconteceram em dois momentos. Primeiro entrevistei 05 alunos do PAI (Programa de Alfabetização Intensiva) e 02 alunos do tele-curso ensino fundamental. As entrevistas com estes alunos aconteceram no corredor das salas de aula, pois não tínhamos nenhum outro lugar disponível para a sua realização. Por serem relativamente rápidas as entrevistas e os alunos estarem em aula isso ajudou na colaboração dos alunos. Fui de sala em sala perguntado para o professor responsável sobre minha intenção de entrevistar alguns alunos, alguns professores já me conheciam pois tinham sido entrevistados por mim anteriormente e mesmo os que eu não conhecia foram muito atenciosos e receptivos.
Já em sala de aula expliquei para os alunos quais eram as intenções da pesquisa e seu objetivo. Após a explicação alguns se disponibilizaram a ajudar-me, e em uma das salas do tele-curso fundamental a própria professora escolheu o aluno, por este gostar de falar. Em outra sala do tele-curso fundamental a professora também escolheu o aluno, pois, este, já tinha acabado a lição e então, um tanto quanto envergonhado, veio até mim e me concedeu uma entrevista. Foi perceptível neste aluno uma grande dificuldade em se expressar e ficou claro para mim que eu estava diante de um analfabeto funcional. Após duas semanas das primeiras entrevistas fui até a escola terminar de entrevistar os alunos. Neste segundo momento a minha abordagem com os alunos aconteceu da mesma maneira, ou seja, ia até as salas de aula, explicava o objetivo da pesquisa e voluntariamente, na grande maioria das vezes, os alunos se manifestavam com interesse de contribuir. Em duas salas tive mais de um aluno querendo participar: nas salas de aula do programa PAI e do Tele-Curso Ensino Fundamental.
Antes da realização das entrevistas foi passado para os alunos e funcionários do que se tratava tal pesquisa e antes de concederem a mesma, assinaram um termo de consentimento esclarecido. (ANEXO A)
Análise dos dadosOs dados da revisão das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo.
Após a leitura e análise das entrevistas, destacamos o que os alunos e funcionários pensam sobre a Educação Física no ensino noturno e quais contribuições a mesma traria.
Para melhor analisarmos os dados levantados, criamos, apriorísticamente sub-categorias de análise, sendo as mesmas definidas como objetivos da Educação Física, juízo de valor e caracterização da disciplina.
ResultadosOs resultados serão apresentados em forma de quadros e em seguida interpretados. Os depoimentos que serão apresentados nos quadros seguintes atenderão à numeração presente na listagem abaixo.
Sujeitos
01 - Supervisora Escolar
02 - Coordenadora Escolar
03 - Orientador de Aprendizagem
04 - Orientadora de Aprendizagem
05 - Secretária
06 - Professora Ensino Fundamental - Supletivo
07 - Professora Ensino Fundamental Regular
08 a 12 - Alunos do PAI (Programa de Alfabetização Intensiva)
13 a 17 - Alunos do Tele-Curso Ensino Fundamental
18 a 21 - Alunos do Tele-Curso Ensino MédioSegue abaixo quadro 1, referente à questão 08 da entrevista que demonstra qual a opinião dos funcionários sobre a Educação Física escolar.
Foi possível nesta questão 08 caracterizar as respostas dos entrevistados. Percebeu-se que a opinião dos entrevistados se dividiram nestas três sub-categorias sendo que a primeira diz respeito aos objetivos da Educação Física, a segunda sobre a caracterização da Educação Física e, por última, a sub-categoria que expressa juízos de valor sobre a Educação Física.
Ficou evidente que na sub-categoria objetivos, 85,7% dos respondentes, disseram que a Educação Física seria muito importante para o desenvolvimento e para a socialização dos alunos. Quanto ao desenvolvimento não ficou claro por parte dos entrevistados o que realmente queriam dizer com a palavra desenvolvimento.
Logo em seguida, foram mencionadas lateralidade por 28,6% dos funcionários e a questão de ser uma disciplina disciplinadora com 14,3% dos funcionários fazendo referência.
Na sub-categoria caracterização foi evidenciado pelos entrevistados que a Educação Física teria como característica trabalhar com jogos, ser uma disciplina lúdica e que envolve a parte física. Já na sub-categoria Juízo de Valor ficou evidente que a Educação Física é vista como sendo muito interessante, fundamental para crianças e adultos e que deveria ter mais competição na escola, todas estas, com 14,3% dos funcionário se posicionando a favor.
Logo abaixo, mostraremos os resultados da mesma questão 08 (quadro 2), agora na visão dos alunos.
Podemos observar nas repostas dos alunos que a grande maioria tem uma opinião de que a Educação Física é "muito legal" 64,3%. Em segundo lugar temos a opinião de que Educação Física é indispensável/útil para a vida 28,5% e em terceiro lugar 14,3% a opinião de que a Educação Física estimula a prática de outras atividades, faz bem para o corpo e faz bem para a mente. Foi interessante observar na resposta de um aluno que a Educação Física é muito importante desde que não atrapalhe os estudos. Vemos aí como falta um esclarecimento maior por parte dos estudantes das infinitas possibilidades de estudo da Educação Física, mas não chega a surpreender, pois, afinal estamos vivendo em uma sociedade consumidora, movida pelo capitalismo, o que acaba por refletir na escola, como diz ALVES (2001, p.36)
nossas escolas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem. Escolas são fábricas organizadas para a produção de unidades biopsicológicas móveis, portadoras de conhecimentos e habilidades
Apesar de apenas um aluno ter utilizado este tipo de argumento, vemos ainda que para alguns a Educação Física não se insere como uma disciplina capaz de contribuir na formação dos alunos para o mundo atual.
Abaixo temos o quadro 03 referindo-se a questão 09 da entrevista que buscou compreender a visão dos funcionários quanto a possível contribuição do componente curricular Educação Física na educação de jovens e adultos.
Foi possível elencar como contribuição do componente curricular Educação Física por parte dos funcionários, os seguintes objetivos:
Para 57,1% dos funcionários a Educação Física seria capaz de contribuir para uma melhor sociabilização dos alunos, visto que estes segundo um depoimento, muitas vezes chegam ao final do ano letivo e não se conhecem.
Para 28,6% dos funcionários a Educação Física contribuiria na conscientização da importância de praticar uma atividade física regrada, no conhecimento sobre o corpo e trabalhar com a educação alimentar.
E, por último, sendo citado por apenas 14,3% dos funcionário, temos como contribuição da Educação Física ser uma disciplina que abordará questões físicas, psicológicas, prescrição de atividades a ser realizadas no tempo livre, contribuir para o desenvolvimento, incentivar os alunos a irem à escola, melhorar a coordenação motora, equilíbrio e ainda contribuir para que os alunos cumpram as regras estabelecidas.
Veremos agora como se deram as opiniões dos alunos, referente à questão 09 que visava identificar o que pensavam sobre Educação Física no processo educativo de jovens e adultos.
Foi possível verificar nas respostas que 21,4% dos alunos colocaram como uma contribuição efetiva da Educação Física na EJA (educação de jovens e adultos), o fato de a disciplina ser capaz de levar os alunos a um relaxamento, ou seja, vêem a Educação Física como forma de abrandamento do estresse causado pelo dia-a-dia, uma disciplina capaz de acalmá-los e conseqüentemente diminuir a pressão que as outras disciplinas venham a causar. Em segundo lugar sendo mencionado por 14,3% dos ficaram como contribuição da Educação Física, ser a mesma capaz de melhorar a saúde, incentivar a pratica de esportes, disciplina corporal e de ser boa. Alguns aspectos citados por apenas 7,1% dos entrevistados foi a possível contribuição da Educação Física para: o desenvolvimento do raciocínio, para o lazer, melhora do metabolismo do corpo, estimula a vida, preenche o tempo vazio, seria uma terapia e ajudaria no cuidado com o próprio corpo.
A última questão a ser analisada foi referente à experiência destes funcionários e alunos quanto à prática da educação física nas escolas onde estudaram. Segue abaixo quadro 5 com os resultados na visão dos funcionários:
Pode-se observar claramente neste quadro que a maioria dos funcionários faz referência ao esporte como sendo o conteúdo predominante nas aulas. Levando-se em consideração a faixa-etária dos entrevistados que fica entre 25 - 45 anos, nota-se que a maior parte deles estudou na década de 60 e 70, onde a Educação Física
era predominantemente voltada para a prática de esportes. Outras menções feitas por apenas 14,3% dos entrevistados, diz respeito à prática de atletismo, uma Educação Física marcada por lesões, relação professor-aluno distante, prática de exercícios físicos, trabalho com jogos - mas só no magistério, oportunidade de conhecer novas escolas devido à disputa de campeonatos inter-escolares e a prática de exercícios físicos. Foi possível identificar também nas entrevistas que muitos colocam sua experiência nas aulas de Educação Física, como sendo muito boa para 28,6% dos entrevistados e também que não foram divertidas para 14,3% dos entrevistados. É interessante ressaltar aqui, que o funcionário que disse que as aulas de Educação Física não foram divertidas, foi o mesmo que mencionou que as mesmas foram marcadas por lesões.
A seguir quadro 6 com a opinião dos alunos, referente à questão 10 da entrevista:
O quadro 06 nos mostra que, na visão dos alunos, a Educação Física que eles vivenciaram na escola foi muito boa, ou seja, eles gostavam e observa-se também que o conteúdo predominante nas aulas era o esporte, seguido da ginástica e dos jogos o que mostra que este continua sendo o conteúdo predominante. 14,3% dos alunos disseram que as aulas de Educação Física deixavam-nos mais "leves" e com isso provavelmente melhorava o rendimento na sala de aula. Um dos alunos refere-se à sua Educação Física como sendo incentivadora da sua prática nos esportes. Apenas 7,1% dos alunos refere-se que, na sua aula, ele jogava bola e praticava atividades corporais.
DiscussãoFizemos uma comparação entre as respostas dos alunos x funcionários a fim de verificar se existe grande diferença nas opiniões. Com relação à questão 08 foi possível identificar que os funcionários (a grande maioria com curso superior), vêem a Educação Física como sendo um componente curricular auxiliar dos outros, ou seja, têm uma opinião de que a Educação Física tem a função de sociabilizar os alunos. Com isso deixam nas entrelinhas a opinião de que a Educação Física não teria um conteúdo específico a ensinar. Vale ressaltar que é função da Educação Física também trabalhar a integração dos alunos, mas não é exclusividade sua, as outras disciplinas têm a mesma responsabilidade. Já para os alunos, estes não têm uma idéia clara do seja a Educação Física escolar, visto que para 64,3% deles ao serem perguntados, deixaram muito vago ao dizerem que achavam muito bom/legal, e 28,6% dos alunos disseram que a Educação Física seria muito útil/indispensável. Uma opinião mais clara foi a de dois alunos que disseram ser a Educação Física responsável por incentivar a pratica de atividades físicas fora do ambiente escolar, o que confirma o exposto por SILVA et al (2004), segundo os quais:
[...] a eficácia da Educação Física escolar poderia ser mensurada pela porcentagem de alunos e ex-alunos da educação básica que sistematicamente praticassem atividades motoras por, no mínimo, três vezes por semana, mesmo após o término dos anos de escolarização.
Segundo estes comentários vemos que a Educação Física, ainda que por uma pequena parte dos alunos apresenta um significado mais claro e vai ao encontro de um dos objetivos propostos por alguns autores da área.
Sobre a questão 09, 57,1% dos funcionários, remete ao fator socializador da Educação Física, como sendo capaz de contribuir na formação de jovens e adultos e 28,6% dos funcionários destacam a mesma opinião dada por alunos na questão 08, ou seja, a Educação Física contribuiria para orientar a prática de exercícios físicos fora do ambiente escolar e mostrar a importância que a atividade física tem em nossas vidas. Já para 28,6% dos funcionários a Educação Física confunde-se com a Nutrição, visto que para eles a Educação Física contribuiria na educação alimentar.
Já para 35,7% dos alunos, provavelmente por estes na grande maioria serem trabalhadores, vêem como contribuição da Educação Física a questão da qualidade de vida, ou seja, dizem que a Educação Física lhes ajudaria a relaxar e na aquisição de mais saúde, etc.
Com relação à questão 10 foi possível ver claramente que dentre os funcionários 71,4% disseram terem tido somente esporte na sua Educação Física, o que não difere muito dos alunos os quais 64,3% disseram ter tido uma Educação Física muito legal e logo em seguida 42,9% referiram-se ao esporte como conteúdo predominante das suas aulas.
Apesar da posição que ocupa cada integrante da pesquisa, levando em consideração suas características pessoais, fica claro identificar que para a grande parte, a Educação Física serve apenas como uma disciplina integradora e que seu conteúdo ainda é restrito ao esporte.
ConclusãoFoi possível verificar que os entrevistados têm uma visão da Educação Física muito restrita no que tange à sua real função dentro da escola. Apesar de entenderem que a Educação Física é importante para a escola, estes não compreendem as diversas possibilidades que o componente curricular Educação Física é capaz de abordar.
Ficou claro nas entrevistas que grande parte dos alunos têm dificuldades de se expressarem e com isso acabam por não desenvolver um pensamento lógico na sua fala. Sendo assim a maioria concorda em dizer que a Educação Física é muito legal, sendo isto insuficiente na busca de uma educação crítica/reflexiva. Ficou claro que grande parte dos alunos se enquadram na triste estatística dos analfabetos funcionais.
Já os funcionários vêem a Educação Física como sendo importante para a integração dos alunos, deixando-nos claro também a ausência de uma visão mais ampla quanto à real função da Educação Física na escola.
Os resultados fazem-nos concluir que a discussão sobre a Educação Física faz falta a esta clientela, sendo assim, como podemos desejar que sejam adultos ativos se não conhecem como lidar com as variáveis ligadas a Motricidade Humana?
Fica a pergunta: Como educar estes educadores para ampliar sua visão sobre a Educação Física escolar? Será que os resultados no ensino diurno seriam diferentes?
Diante destes resultados, fica a sugestão de que novos trabalhos sejam realizados no âmbito do ensino noturno, para que melhor possamos compreender e interferir nesta realidade.
AgradecimentosParte deste trabalho foi apresentado na Universidade UNIFIEO-Osasco/SP na forma de apresentação oral, sendo parte integrante da monografia de conclusão de curso em 2004.
Notas
Este decreto Lei diz respeito aos alunos que tenham alguma incapacidade física permanente ou aguda e com isso possuem o direito a tratamento especial e/ou exercícios domiciliares.
Este parecer foi recebido por e-mail como resposta a uma pergunta que fiz ao MEC (Ministério da Educação e Cultura).
Referências
ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas, SP: Papirus, 2001.
ARANTES, Ana Cristina. Educação Física Escolar: Temos o que Ensinar? Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.9 supl. 1, p.25-26, 1995.
BOGDAN, Robert e BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto, Porto Editora, 1994.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 24ª ed. - São Paulo, Coleção Primeiros Passos, Brasiliense, 1989.
CÃÑETE, Ingrid. Humanização: desafio da empresa moderna: a ginástica laboral como um caminho. 2.ed. São Paulo: Ícone, 2001.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais, São Paulo, Cortez, 1991.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo, SP: Cortez, 1992.
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos - 6º.ed. São Paulo:Cortez : Instituto Paulo Freire, 2003.
COTRIM G., PARISI M. Fundamentos da Educação - História e Filosofia da Educação. 14º. ed. Saraiva,1988.
DAOLIO, Jocimar. Da Cultura do Corpo. Campinas, SP: Papirus, 1995.
_________. Educação Física e o Conceito de Cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Perspectivas em Educação Física escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1997.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Ed. Unijuí, 2001.
MANOEL, Edison de Jesus. et al. Educação Física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo, EPU/ EDUSP, 1988.
MATTOS, Mauro Gomes de., NEIRA Marcos Garcia. Educação Física na Adolescência: construindo o conhecimento na escola. São Paulo, SP: Phorte Editora, 2000.
MELOGRANO, Vincent J. Designing the physical education curriculum. 3º ed. Champaign-IL, Human Kinectics, 1996.
MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação física - Brasília, 1997.
MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
NETO, D. C. Metodologia Científica para principiantes. Bahia: American World University Press, 1996.
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo, SP: Cortez, 2003.
PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA. Lei nº10.793: estabelece as diretrizes e bases da educação nacional - Brasília, DF - D.O.U 01/12/2003.
SANCHES Neto, L. Educação Física Escolar: Uma proposta para o componente curricular da 5º a 8º série do ensino fundamental. Dissertação de Mestrado, UNESP-Rio Claro, 2003.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo: Olho d'água, 2001.
________. Metodologia do trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1996.
SILVA et al. Discutindo objetivos de ensino para a educação física escolar. Revista Digital, Buenos Aires, Ano 10, nº 76, Setembro de 2004.
SILVA, Sheila Aparecida Pereira dos Santos. Educação Física no 1º grau: Conhecimento e Especificidade. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.10 supl. 2, p.29-35, 1996.
SOARES, Carmem Lucia. et al. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
TAFFAREL, Celi Nelza. Criatividade nas aulas de educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.
THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K. Métodos de pesquisa em Atividade Física, trad Ricardo Petersen [et al] - 3ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2002.
revista
digital · Año 11 · N° 104 | Buenos Aires,
Enero 2007 |