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Aspectos do estilo de vida e da capacidade funcional do portador de acidente vascular cerebral (AVC): um estudo de caso

   
Universidade do Estado da Bahia / Departamento de Educação,
Campus XII/ Linha de Estudo, Pesquisa e Extensão em Atividade
Física - LEPEAF. Núcleo de Atividade Física, Esporte e Lazer - NAFEL.
(Brasil)
 
 
Marcius de Almeida Gomes
marcius_lepeaf@hotmail.com  
Manuela Barreto de Araújo Gomes
margomes@cardiol.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Objetivo: O objetivo deste estudo foi identificar e caracterizar o perfil do estilo de vida e a capacidade funcional do portador de acidente vascular cerebral. Metodologia: O estudo é de caráter descritivo interpretativo do tipo estudo de caso. Utilizou-se instrumentos específicos da terceira idade, para avaliar a capacidade funcional, bem como para verificar as características das atividades da vida diária (AVDs). Exames laboratoriais, questionários e dados antropométricos, foram utilizados para identificar as modificações antes e após o acidente vascular cerebral (AVC). Conclusão: Dentre as mudanças do estilo de vida, a prática de exercícios físicos aparece como um grande componente para a melhoria da qualidade de vida, proporcionando-lhe maior disposição e autonomia nas AVDs. A procura por outras alternativas e a condição de continuar ativo em sua profissão, controlar o stress e adotar um estilo de vida ativo, foram imprescindíveis para a satisfação de bem estar e melhoria da saúde do indivíduo que compôs o caso.
    Unitermos: Acidente vascular cerebral (AVC). Estilo de vida. Capacidade funcional.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007

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Introdução

    Com a transição epidemiológica ocorrida neste século, através do controle das doenças transmissíveis, observou-se aumento da esperança de vida em todos os países. Este fato faz com que as doenças não-transmissíveis passarem a ter importância maior quando se pensa em morbidade e mortalidade (Rummel, 1993).

    Pesquisas em diversos países, inclusive no Brasil, têm mostrado que o estilo de vida, mais do que nunca, passou a ser um dos mais importantes determinantes da saúde de indivíduos, grupos e comunidades. Segundo Nahas (2003), o estilo de vida se define como um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas. O estilo de vida ativo passou a ser considerado fundamental na promoção da saúde e redução da mortalidade por todas as causas.

    Gonçalves & Vilarta (2004), caracterizam estilo de vida como os hábitos aprendidos e adotados durante toda a vida, relacionados com a realidade familiar, ambiental e social. O conjunto de adaptações biológicas e culturais experimentadas durante a vida resulta em características que, dependendo do tipo adotado, podem refletir sobre os aspectos de saúde e bem-estar.

    Segundo Machado (1995), nos dias atuais, devidos as mudanças acentuadas no estilo de vida das pessoas, as doenças crônicas representam problemas relevantes de saúde. Isto ocorre porque muitas vezes levam a incapacitação progressiva, além de apresentarem altas taxas de morbi-mortalidade em idades cada vez mais precoces.

    Os acidentes vasculares cerebrais têm pico de incidência entre a 7ª e 8ª décadas de vida quando se somam com as alterações cardiovasculares e metabólicas relacionadas à idade. Entretanto, o AVC pode ocorrer mais precocemente e ser relacionado a outros fatores de riscos, como os distúrbios da coagulação, as doenças inflamatórias e imunológicas, bem como ao uso de drogas. Estudos prévios demonstram incidência de 10% em pacientes com idade inferior a 55 anos e de 3,9% em pacientes com idade inferior a 45 anos (Kristensen, 1997).

    No grupo das doenças cardiovasculares, considerando a faixa de idade entre 20 a 59 anos, o acidente vascular cerebral agudo (AVC) corresponde a pouco mais de 80% das internações pelo Sistema Único de Saúde no ano investigado. Mas, além da elevada incidência, há também que se considerar as sérias conseqüências médicas e sociais que podem resultar de um AVC, como: as seqüelas de ordem física, de comunicação, funcionais, emocionais, entre outras (Falcão, 2001).

    As doenças do aparelho circulatório têm representado um forte impacto econômico e social, por atingir pessoas em idade produtiva.

    O AVC ocorre devido a um distúrbio circulatório no cérebro, e se divide em dois tipos (isquêmico ou hemorrágico) sendo as seqüelas variadas de acordo com a região afetada. Se a lesão acontecer no hemisfério direito, por exemplo, o paciente pode ter comprometimento dos movimentos e do campo de visão do lado esquerdo. Se for no hemisfério esquerdo, os danos podem ser alterações na fala e dificuldades de raciocínio. Cerca de 85% dos derrames são isquêmicos.

    Os fatores de risco para um acidente cerebral vascular são similares àqueles para doença cardíaca isquêmica, com a hipertensão desempenhando um papel dominante. Outros fatores que predispõe ao AVC incluem diabetes mellitus, o hábito de fumar, um histórico anterior de doença cardiovascular ou fibrilação atrial e hipertrofia ventricular esquerda (Ostfeld,1980).

    Segundo Falcão (2004), as incapacidades verificadas, após o AVC, repercutem ou são reveladas de modo diferente para homens e mulheres e que os sintomas depressivos e problemas de comunicação apresentam maior força entre as mulheres. Mas, o AVC, independentemente do gênero, é causa de insatisfação com a vida e de limitações funcionais diversas, pela perda da autonomia decorrente das incapacidades.

    Sabe-se que, o acidente vascular cerebral como também, a maioria das doenças que afetam o aparelho circulatório apresentam uma forte ligação com o perfil do estilo de vida das pessoas. Estas, de uma forma geral apresentam comportamentos negativos com relação à saúde, adotando comportamentos que prejudicam o seu estado geral, seja através dos fatores de risco, como o tabagismo, uso abusivo do álcool, sedentarismo, hipertensão e diabetes, ou pelo histórico familiar.

    Através destas evidências questionam-se os seguintes problemas: Como se apresenta à mudança de estilo de vida para os indivíduos que sofreram o acidente vascular cerebral e quais as influências desta para sua qualidade de vida? De que forma as seqüelas motoras do AVC, influenciam no estilo de vida e na qualidade de vida deste indivíduo?

    O objetivo deste estudo foi identificar e caracterizar o perfil do estilo de vida e a capacidade funcional do portador de acidente vascular cerebral, a fim de sugerir mudanças para adoção de comportamentos saudáveis e preventivos.


Metodologia

    O estudo de caráter descritivo interpretativo (Thomas & Nelson, 2002), envolveu um indivíduo do gênero masculino, brasileiro, 56 anos de idade, branco, casado, administrador de empresas. Apresenta histórico de acidente vascular cerebral isquêmico ocorrido em 13/09/2000, teve como área lesionada o lado direito e possui hipertensão arterial e diabetes mellitus. O indivíduo pesquisado apresenta seqüelas na marcha no lado esquerdo e faz uso de seis medicamentos que servem para controlar a pressão arterial, a diabetes mellitus, a hipercolesterolemia, reduzindo assim, a possibilidade um novo acidente vascular cerebral.

    Alguns instrumentos específicos para a terceira idade, foram utilizados para avaliar a capacidade funcional deste indivíduo, bem como para verificar as características das atividades da vida diária (AVDs). A utilização destes instrumentos deve-se pela aproximação de perdas consideráveis no sistema motor, como a diminuição da mobilidade e do déficit da capacidade funcional que acometem tanto o idoso quanto os indivíduos com acidente vascular cerebral. Para realização desta pesquisa utilizou-se os seguintes instrumentos: Modelo da escala de auto-percepção do desempenho de atividades de vida diária (Andreotti & Okuma, 1999), Modelo de ficha de auto-avaliação de capacidade funcional (Spirduso, 1995 ;Rikli & Jones, 1999) e Modelo da escala de auto-percepção de bem estar (PAAF-GREPEFI, 2001).

    Além dos instrumentos citados acima, que foram retirados de Matsudo (2001), construíu-se dois questionários semi-estruturados, para identificar o perfil do estilo de vida, antes e após o AVC, contendo a identificação, histórico familiar, hábitos gerais, atividade diária, alimentação, stress e outras informações.

    Utilizou-se também dados antropométricos, como a medida de massa corporal, estatura e circunferência de cintura, para identificar o perfil de risco atual para doenças cardiovasculares. E a análise de alguns componentes da aptidão física, como a flexibilidade e o equilíbrio, foi utilizado o teste de sentar e alcançar modificado (Nahas, 2003) e o teste de equilíbrio (Matsudo,2001).

    Por fim, alguns exames laboratoriais foram realizados em laboratório especializado para identificar as concentrações de triglicérides, glicemia, colesterol total e colesterol-lipoproteína de alta densidade (HDL) relacionado aos últimos 5 anos após o AVC.

    A aplicação dos instrumentos, questionários e coleta dos dados antropométricos, foi realizada em três dias alternados. Antes da coleta de dados, o indivíduo assinou o termo de consentimento livre e esclarecido, tomando conhecimento do objetivo do estudo, procedimentos e confidencialidade da pesquisa.


Resultados

Medidas Antropométricas, capacidade funcional, aptidão física e bem estar

    Através da análise das informações coletadas, percebe-se que diante do resultado do índice de massa corporal (razão da massa corporal em quilos sobre a estatura ao quadrado em metros), o indivíduo encontra-se na classificação de obesidade com 34,8 kg/m2. Segundo a OMS (2004) os valores recomendáveis para o IMC é de 18,5 a 24,9 kg/m2.

    Nahas (2003) cita que estatisticamente, num mesmo grupo etário, além da mortalidade ser maior entre indivíduos obesos, indicadores de qualidade de vida também colocam as pessoas obesas em desvantagens.

    Para a circunferência da cintura (CC), o valor encontrado foi de 113 cm, o que demonstra também um alto risco para doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer. Valor igual ou acima de 102 cm para esta medida em homens adultos, caracteriza o padrão da obesidade, seja ela, periférica (ginecóide) ou central (andróide). Sabe-se que o risco de doenças é maior para pessoas que acumulam gordura na região abdominal (central), particularmente ao redor das vísceras (Nahas, 2003).

    A associação destes indicadores do estado de saúde, IMC e CC, nos mostram que este indivíduo continua apresentando uma predisposição a doenças cardiovasculares.

    Sobre os testes dos componentes da aptidão física, flexibilidade e equilíbrio, o primeiro componente o indivíduo após três tentativas não conseguiu pontuar, e quanto ao segundo componente, o equilíbrio, também após três tentativas, obteve à média para o lado direito 30 segundos e para o lado esquerdo 10 segundos. Observa-se um déficit com relação ao lado afetado pelo AVC. Apesar do equilíbrio ser um componente da aptidão física, segundo a AAHPERD (Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança), não é reconhecido como um componente da aptidão física relacionada a saúde.

    Compreende-se, que diante das seqüelas apresentadas pelos portadores de AVC o equilíbrio tem uma importância significativa na melhoria da confiança, da independência e da auto-estima, e que conseqüentemente levaria a melhoria da qualidade de vida, através dos aspectos relacionados à saúde.

    Quanto à escala de auto-percepção do desempenho de atividades da vida diária (Andreotti & Okuma, 1999), obteve-se 141 pontos, representando uma classificação muito boa para o nível de sua capacidade funcional para desempenhar as atividades de vida diária.

    No que se refere à escala de auto-percepção de bem estar (PAAF-GREPEFI), identificou-se um escore positivo com 53 pontos. Merece destaque dentre as respostas o mau humor, irritação, impaciência e o nervosismo que apresentou-se na escala sempre presente ou de vez em quando presente Para a auto-avaliação da capacidade funcional os resultados foram positivos. No modelo de Spirduso (1995), das dezoito atividades questionadas, doze realiza sem ajuda e com facilidade. Já no modelo Rikli & Jones (1999), obteve-se uma classificação moderada para auto-avaliação da capacidade funcional.


O estilo de vida antes o AVC

    Para verificar o perfil do estilo de vida antes e após o acidente vascular cerebral, utilizou-se um instrumento contendo 5 componentes: histórico familiar, hábitos gerais, atividades diárias, alimentação e stress, além de outras informações.

    No histórico familiar nota-se a presença de infarto agudo do miocárdio (IAM), diabetes mellitus tipo II e obesidade em parentes consangüíneos. Quanto aos hábitos gerais o indivíduo apresentava excesso de peso corporal com 128 quilos, hipertensão arterial não controlada, colesterol e acido úrico elevados, além de fazer uso de bebidas alcoólicas.

    A atividade de trabalho era sempre sentada, em torno de 10 horas diárias. Praticava poucas atividades de lazer, dentre estas freqüentava praias e fazenda. Considerava o trabalho como uma opção lazer. Não praticava nenhum esporte e raramente realizava uma caminhada como meio de deslocamento. Com relação ao exercício e a atividade física, na maior parte de sua fase adulta, foi pouco ativo. Porém vinte anos antes de sofrer o AVC, considerava-se ativo, com práticas esportivas entre os 18 aos 20 anos.

    A alimentação era rica em gorduras e pobre em frutas e verduras, realizava 3 refeições diárias. Apesar do excesso de peso (128 Kg) não realizava nenhum tipo de dieta e não fazia uso de medicamentos.

    Quanto ao componente stress na atividade de trabalho, antes do AVC, apresentava um nível considerado alto para os aspectos psicológicos (valor=8) e moderado para os aspectos físicos (valor = 5), porém nas atividades diárias caracterizou-se como alto (valor=8). No quesito outras informações, foram descrito que antes do AVC não apresentava nenhum sintoma a nível físico e/ou orgânico.

    Observa-se diante do exposto, que fatores como stress elevado, alimentação rica em gordura, a hipertensão não controlada, estilo de vida pouco ativo, e a obesidade, além dos valores elevados de colesterol total e acido úrico e do histórico familiar positivo a doença cardíaca, já demonstravam a predisposição ao acidente vascular cerebral ou qualquer outro tipo doença do aparelho cardiovascular.

    Zétola & Novak. (2001) realizaram análise epidemiológica de 164 pacientes com acidente vascular cerebral, a fim de caracterizar os principais tipos de AVC e fatores de risco associados. Neste estudo diagnosticou-se a trombose como provável causa de AVC isquêmico em 68 (48%) pacientes. A hipertensão arterial foi o fator de risco mais prevalente estando presente em 91 (63,8%) dos pacientes com AVC isquêmico. O tabagismo foi observado em 85 (60,3%) pacientes, o abuso do álcool foi presente em 28 (19,25%) pacientes e 19 (13,58%) mulheres eram usuárias de anticoncepcionais. Entre as doenças do metabolismo destacou-se dislipidemia mista em 33 (23,47%), hipercolesterolemia isolada em 3 (2,14%) e diabetes mellitus em 19 (13,58%) pacientes. Histórico familiar de AVC esteve presente em 59 (41,85%) pacientes.


O estilo de vida após o AVC

    Considerando a atualidade após o AVC, o indivíduo viu-se obrigado a mudanças radicais no seu estilo de vida, a fim de garantir uma melhor qualidade de vida e uma sobrevida durante mais alguns anos.

    Em estudo que procurou investigar o efeito de um programa de atividade física e recreativa regular na saúde e qualidade de vida geral de 18 pessoas com seqüelas de acidente vascular isquêmico, Costa & Duarte (2002) encontraram melhorias em todos os componentes avaliados pelo questionário (SF-36). Concluíram também que a realização da atividade física regular ou sistemática, através de um programa adequadamente estruturado, que leve em consideração os interesses, as limitações e as potencialidades das pessoas portadoras de seqüelas do AVC, podem constituir num importante elemento para melhoria da auto-imagem, auto-realização e auto-capacitação, além dos ganhos fisiológicos, interferindo positivamente sobre a saúde física e a capacidade funcional deste público.

    Neste estudo observou-se que atualmente o "caso de AVC" apresenta diabetes mellitus e hipertensão arterial e tenta controlar os valores de colesterol, triglicérides, glicemia e acido úrico nos níveis normais, através de medicamentos e atividade física regular.

    Encontra-se com excesso de peso (103 kg) e apresenta problemas circulatórios (varizes). Pratica atividade de lazer e exercícios físicos regulares sob orientação médica. Dentre os exercícios físicos destaca-se a prática da ginástica, musculação, hidroginástica e alongamento. Classifica a atividade diária menos ativa que antes do AVC. Sentiu necessidade de mudança no estilo de vida, considerando esta mudança como excelente e necessária.

    A alimentação é rica em frutas e verduras, e evita comidas gordurosas, realiza 4 ou 5 refeições diárias. Submete-se a uma dieta para perda de peso e reeducação alimentar.

    Quanto ao componente stress encontra-se moderado (valor=5) tanto para as questões psicológicas como para questões do seu dia-a-dia e para o stress físico caracterizou-se como baixo (valor=0), o que demonstra maior controle sobre este componente.

    Destaca-se também, a importância do exercício físico regular para o seu estado atual, com mais disposição, mais força física e consciente sobre a adoção do estilo de vida ativo. Dentre as mudanças ocorridas relata-se o baixo nível de stress, mais cuidado com alimentação e exercício físico regular.


Exames laboratoriais

    Os quadros abaixo apresentam os valores de triglicérides, colesterol e glicose, depois do AVC. Estas variáveis são consideradas por diversos autores como fatores de risco modificáveis, representando o principal foco da medicina preventiva e da saúde pública. Quando estas variáveis apresentam-se com valores elevados, pode-se afirmar que existe uma maior probabilidade de sofrer doenças cardiovasculares, geralmente associadas à obesidade e a diabetes mellitus.

    No quadro 01 esta descrito os valores de triglicérides nos últimos quatro anos após o AVC.

    O valor de referência para pessoas acima de 19 anos é de inferior a 150 mg/dL. Variações na dieta, na atividade física e o uso de bebidas alcoólicas são as causas mais freqüentes de grandes variações nos níveis de triglicérides.

    No quadro 02 estão descrito os valores de colesterol total e colesterol-HDL em mg/dL nos últimos quatro anos após o AVC.

    O valor desejável para o colesterol total em adultos é inferior a 200 mg/dl e de limiar é entre 200 a 240 mg/dl. No caso do HDL, conhecido como colesterol bom, os valores de referência são: baixo, inferior a 40 mg/dl e alto, superior a 60 mg/dl.

    Em programas de reabilitação cardiovascular Lavie & Milani (1997) observaram alterações no perfil lipídico favoráveis, isto é, redução dos níveis de LDL, colesterol total e triglicérides e incremento dos níveis de HDL, sendo mais efetivo com a perda do peso corporal. No mesmo estudo evidenciou-se que uma maior quantidade de exercício é mais efetiva que a intensidade ou que a melhoria da aptidão cardiorrespiratória.

    Crouse et al (1997) destacam que embora as alterações observadas no perfil lipídico ainda não estejam totalmente claras. Há evidências de que o exercício físico interfere diretamente sobre outros aspectos anti-aterogênicos do metabolismo do HDL, como: sistema de transporte reverso do colesterol; transformação do HDL3, mais aterogênico, em HDL2, menos aterogênico; efeito anti-oxidante; propriedades anti-trombóticas; em adição ao efeito anti-inflamatório; atenuação da disfunção endotelial e redução da retenção do LDL na circulação, reduzindo, desse modo, o risco de eventos cardiocirculatórios.

    No quadro 03 esta descrito o valor da glicemia em jejum nos últimos quatro anos após o AVC.

    Para a glicemia em jejum o valor de referência é entre 70 a 110 mg/dL. Valores elevados da glicemia em jejum pode identificar a suspeita de diabetes mellitus.

    Nota-se que o indivíduo pesquisado, apesar de ser ativo fisicamente apresenta valores elevados para estas variáveis. A intervenção sobre estes fatores de risco pode reduzir significativamente os riscos a doenças do coração. Os exercícios físicos regulares, principalmente os aeróbicos, têm um papel marcante na prevenção e tratamento destas variáveis, ajudando a controlar e prevenir outras causas de distúrbios circulatórios.


Conclusão

    As principais mudanças observadas no estilo de vida do portador de AVC foram à alimentação, a prática de atividade física regular, o controle do stress e o uso de medicamentos. As limitações apresentadas na marcha, não dificultam à realização das atividades da vida diária, onde manteve-se independente e com poucas limitações, apresentando uma boa capacidade funcional.

    Dentre as mudanças do estilo de vida, com a prática de exercícios físicos regulares e o controle alimentar aparecem como comportamentos importantes para a melhoria da qualidade de vida, dando-lhe maior disposição e autonomia em seus movimentos. Porém, apesar de estar ativo fisicamente, os fatores de risco associados às doenças cardiovasculares continuam alterados (altos), demonstrando que apenas o exercício não é capaz de controlar e prevenir estes fatores.

    Os benefícios provocados pelo exercício são comprometidos devidos principalmente aos efeitos provocados pelo medicamento (betabloqueador) na intensidade adequada para o controle dos fatores de risco. Sobre os componentes da aptidão física mensurados na pesquisa, observa-se deficiências tanto na flexibilidade quanto no equilíbrio. O déficit apresentado pelo lado esquerdo no teste do equilíbrio, deve ser analisado como uma limitação que pode sofrer algumas intervenções para uma melhora futura.

    Acredita-se que as mudanças no componente alimentar por meio de dietas e reeducação alimentar, não tem contribuído de forma significativa para redução do peso. A necessidade da redução do peso corporal total é essencial, para trazer melhores contribuições, seja física ou psicológica.

    O uso de medicamentos deve provocar alguns incômodos, devido principalmente a stress químico que o organismo é submetido, afetando diretamente na qualidade de vida deste indivíduo.


Recomendações

    Diante do que foi estudado, existe uma necessidade de mudanças no componente alimentar, já que o indivíduo continua apresentado características de obesidade central, podendo lhe trazer novas complicações. Procurar uma nutricionista é essencial para rever as orientações sobre a qualidade e quantidade das refeições diárias, a fim de obter um maior desequilíbrio na balança energética contribuindo para uma redução do peso mais significativa.

    Quanto ao exercício físico, deve-se enfatizar o treinamento de flexibilidade e equilíbrio, dentre os outros componentes, como condicionamento aeróbico e treinamento de força. Para exercícios aeróbicos deve-se utilizar uma intensidade entre 40 a 70% do consumo máximo de oxigênio, com uma duração de 20 a 60 minutos, e uma freqüência de 3 a 7 vezes por semana. E para o treinamento de força, realizar entre 8 a 15 repetições, uma freqüência de 2 a 3 dias por semana e 8 a 10 exercícios por sessão (Gordon, 2004).

    A manutenção da prática do exercício físico é fundamental, para continuar obtendo melhorias funcionais, orgânicas e psicológicas.

    Quanto à mudança no estilo de vida, deve procura realizar atividades de lazer ativo, com maior freqüência, e junto com os familiares.

    A realização de exames periódicos faz-se necessário, a fim de acompanhar as mudanças ocorridas na concentração de triglicérides, colesterol e glicemia, por estarem em constantes alterações e por serem fatores de risco associados ao acometimento de novo quadro de AVC.

    Apesar das limitações apresentadas após o AVC, não trouxe grandes dificuldades ou barreiras para o seu estilo de vida e sua qualidade de vida. Neste caso, percebe-se que o indivíduo estudado procurou outras alternativas, a fim de amenizar as dificuldades enfrentadas pelo portador de AVC. A condição de continuar ativo em sua profissão, controlar o stress e adotar um estilo de vida ativo, foram imprescindíveis para a satisfação de bem estar e para sua qualidade de vida atual.


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