Persuasão e motivação: interveniências
na atividade física e no esporte |
|||
*Mestrando em Ciências da Motricidade - Bacharel em Educação Física - UNESP/ Rio Claro-SP Bolsista da CNPq. * **LEPESPE - Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte. **Bacharel em Educação Física pela UFSCAR - São Carlos - SP. ***Graduada pela Faculdade de Educação Física da UNIMEP - Especialista em Fisiologia do Exercício pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP. ****Professora do Dept. Educação Física/ I.B. UNESP - Rio Claro. (Brasil) |
Prof. Msd. Ricardo Macedo Moreno* ricardomacmor@gmail.com Prof. Flávio Dezan** flavio_dezan@yahoo.com.br Prof. Letícia Rocha Duarte*** leled@uol.com.br Profa. Dra. Gisele Maria Schwartz**** schwartz@rc.unesp.br |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006 |
1 / 1
Introdução
Por ser considerada por muitos autores como tema chave de qualquer ação humana, a motivação tem sido muito estudada e discutida em diferentes ambientes (acadêmicos ou não). Sua importância em diversas áreas é inquestionável, no esporte e na atividade física (foco deste estudo) ela tem grande relevância, tanto quando se questiona rendimento, quanto quando se fala em aderência ou adesão a qualquer programa de atividade física.
A importância da motivação é assegurada quando se recorre à literatura, em autores como Gouvêa (1997), o qual afirma que, em qualquer momento na relação entre ensino-aprendizagem, a motivação pode ser um elemento determinante para que se atinja um bom desempenho. Este autor afirma que, quanto maior for o nível de estimulação, maior será a motivação e que, sem motivação não há comportamento humano ou animal. O autor ainda considera que qualquer relação interpessoal ou intrapessoal é motivada por algo. Aliás, ele ainda salienta que todo comportamento, seja ele qual for, independente do objetivo, é motivado por alguma e para alguma coisa. Assim, pode-se afirmar que a motivação é o combustível de toda ação humana.
Butt (1987) observa que os estudos feitos na Psicologia do Esporte foram motivados por questões como: importância dos modelos de atletas para futuros talentos esportivos; persistência de atletas em continuar participando de competições, mesmo em circunstâncias desfavoráveis; comportamentos diferentes dentro do ambiente esportivo e fora dele; os motivos que levam milhares de torcedores ao campo.
Não há respostas para todas as perguntas referentes ao tema da motivação, pois as teorias e hipóteses devem ser flexíveis e compreensíveis, a fim de que se possa entender a complexidade das ações humanas.
Torna-se, desta forma, instigante evidenciar-se, na literatura especializada, algumas das abordagens possíveis referentes a estas temáticas. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é, por meio de uma revisão bibliográfica, salientar a variável motivacional, no contexto mais específico da atividade física e do esporte, evidenciando, inclusive, o uso de um instrumento de vital importância de posse do responsável (treinador ou professor), que é a persuasão, para que essa motivação seja garantida e para que a prática física seja otimizada, independente dos objetivos.
A base do processo motivacionalNão se pode pensar em motivação sem lembrar do motivo, que é a base do processo motivacional. O motivo é a mola propulsora responsável pelo início e manutenção de qualquer atividade executada pelo ser humano (ISLER, 2002).
Gouvêa (1997, p. 169) acredita que os motivos são inerentes aos seres humanos. Assim, ele define o motivo como "um fator interno, que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa".
Cada motivo apresentará uma força distinta, devido à diferença de personalidade existente entre cada indivíduo (RODRIGUES, 1991). Essa diferença fará com que um indivíduo se sinta mais motivado do que outro, diante de uma mesma situação.
Em relação a isso, Gouvêa (1997) explicita que alguns motivos têm uma predominância maior sobre outros, levando o indivíduo a escolher determinado(s) tipo de ação(s) ou de comportamento(s).
Esse autor ressalta que a motivação depende de um conjunto de fatores que englobam a personalidade, as experiências passadas, os incentivos do momento ou a situação. Como um todo, esses fatores deverão satisfazer os motivos e as necessidades momentâneas do indivíduo.
O motivo é considerado como uma característica comum do ser humano, apresentando variações "situacional", "de nível" e "pessoal", isto é, variam de situação para situação em uma mesma pessoa, de intensidade e de pessoa para pessoa, em uma mesma situação. Porém, apesar de ser considerado inerente, não se deve descartar a hipótese da influência externa sobre o motivo, considerando que a motivação é o resultado da interação entre o efeito ambiental (a situação, o contexto no qual o atleta ou a pessoa está inserido) e os traços de personalidade que possui.
Em relação à atuação do ambiente, nas diversas áreas do conhecimento, existem estudos que se incumbem de evidenciar os fatores intervenientes da relação humana com o meio. Bronfenbrenner (1996), em uma perspectiva desenvolvimentista, salienta a existência de uma conexão social entre os diversos ambientes, a qual propicia um sistema de interações com possibilidade de desenvolvimento humano.
A intervenção das estruturas sociais na definição de condutas individualizadas acontece de maneira imanente, isto é, quando o indivíduo está amalgamado ao ambiente social, recebendo suas interferências e agindo sobre este, incorporando algumas disposições e propondo outras.
No que tange aos traços de personalidade, segundo Cratty (1984), os motivos e as razões são extremamente variáveis e difíceis de serem determinados, pois cada indivíduo tem valores, histórias de vida e necessidades diferentes.
Alderman (1984) salienta que todo indivíduo possui um sistema de motivos básicos para cada situação, que é resultante das interações ou interpretações de outras situações que ocorreram durante a vida do indivíduo, somadas à sua personalidade.
Cada vez que um indivíduo se encontra em uma determinada situação, ou recebe um dado estímulo (agressão, disputa, desejo, etc), automaticamente, ele selecionará todas as respostas correspondentes àquela situação que estão em suas lembranças, o que, por sua vez, direcionará o seu comportamento de ação. A resposta oferecida pelo ambiente será somada às respostas anteriores, modificando ou reforçando determinados valores.
Ao se focalizar especificamente a área da motricidade humana, em relação às ressonâncias do ambiente na motivação para a aprendizagem e no desenvolvimento motor humano, Magill e Hall (1990) salientam a interferência contextual como fator gerador de efeitos diferenciados, conforme sua magnitude, aliada à ontogenia individual.
Por outro lado, há também pesquisadores que conceituam os motivos como sendo construções hipotéticas, que são aprendidas ao longo do desenvolvimento humano e servem para explicar comportamentos (WINTERSTEIN, 2002). Para este autor, as explicações para as ações baseiam-se na suposição de que a ação é determinada pelas expectativas e pelas avaliações de seus resultados e pelas suas conseqüências.
Em relação aos motivos que são capazes de estimular a ação prática, Woodworth e Marquis (1977) salientaram a classificação dos mesmos em três grupos, sendo um deles referentes às condições corporais internas e necessidades orgânicas, o segundo grupo relativo às exigências de reação rápida imposta pelo meio em uma situação emergencial, e um terceiro tipo referente a motivos objetivos e eficientes que favorecem lidar com as alterações propostas pelo meio ou com aquelas advindas dos relacionamentos interpessoais.
Algumas vivências asseguram excelência no nível motivacional, especialmente quando associadas às sensações de prazer, ou lúdicas, ou, ainda, competitivas, advindo daí, que a intensidade de um motivo é variável e dependente das situações nas quais os indivíduos se encontram momentaneamente.
O desenvolvimento de determinado motivo está diretamente relacionado ao processo maturacional, aos níveis das experiências e à aprendizagem, consolidando-se, primeiramente de forma interna, para, posteriormente, expressar-se em uma dada ação.
A literatura referente aos aspectos motivacionais é bastante variada e complexa, merecendo destaque alguns conceitos diretamente envolvidos.
Motivação: característicasAo se falar em motivação, pode-se levar em conta a definição citada por Magill (1984) onde se relaciona o termo motivação à palavra motivo, ou seja, alguma forma interior, impulso ou uma intenção, que leva a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma, definindo o direcionamento de suas ações e intensidade de seus esforços para atingir uma determinada meta.
Esta definição tem reforço em Machado (1997), o qual salienta que a motivação é um termo que abrange qualquer comportamento dirigido para um objetivo ou estado interior, emocional que desperta o interesse ou a inclinação do indivíduo para algo, estando este disposto a desprender-se dos esforços para alcançá-lo.
Algumas palavras têm como referência a motivação, tais como: desejo, necessidade, esforço, motivo, tendência, aspiração, meta, fome, amor, etc.; o que remete a uma discussão sobre impulsos e necessidades, na qual os impulsos aparecem com freqüência nas discussões sobre necessidades fisiológicas (sede, fome, sexo, etc.) e a necessidade é aplicada, freqüentemente, a motivos mais complexos de realização (amor, aprovação social, status, etc.).
Cratty (1984), em seus estudos, também evidenciava estas explicações, sugerindo que a motivação denota os fatores e processos que levam as pessoas a uma ação ou inércia em diversas situações. Para ele, a motivação é o estudo das razões pelas quais se escolhe determinadas ações com mais empenho do que outras.
Quanto à classificação de motivação, Cratty (1984) propôs duas subdivisões, sendo uma relativa ao estudo das razões pelas quais o indivíduo escolheu determinada linha de ação, que estará veiculada aos valores e necessidades e a outra, referente ao estudo da intensidade dessas razões, onde se considera a preparação e o nível de ativação de um indivíduo, mais particularmente, neste caso, de um atleta. O autor observou que o sistema motivacional pode formar grupos de motivos, ou seja, um motivo pode associar-se a outro(s) para formar ou até intensificar uma determinada linha de ação ou de comportamento.
Além dos estudos relacionados com as características, outros autores como Vanek e Cratty (1990) ainda colocam em evidência os efeitos relacionados com a motivação. Estes autores citam dois tipos de efeitos de motivação: efeitos negativos da motivação, onde este se apresenta de forma não-educativa, acarretando perturbações à personalidade do indivíduo, causadas por castigos ou ameaças, levando as pessoas a se tornarem violentas, covardes, tímidas ou inseguras, por exemplo; e os efeitos positivos da motivação, que utilizam recursos que incentivam a potencialização do indivíduo, despertando-o para o crescimento através de elogios, palavras de apoio, demonstração de encorajamento, etc.
Um outro aspecto também em evidência quando o tema é a motivação diz respeito às suas fontes. Alguns autores costumam subdividir as fontes motivacionais em dois aspectos, sendo um associado à fonte intrínseca de motivação e o outro à fonte extrínseca.
Apesar de, muitas vezes, a existência dessa nomenclatura ser contestada, alguns autores renomados prestaram sua colaboração com reflexões importantes acerca desses dois tipos de fontes que compõem o processo motivacional.
O prazer de se atingir uma meta pelo simples fato de obtenção de êxito, sem recompensas externas, comportamento este dirigido pelo íntimo do indivíduo, é conhecido como motivação intrínseca, enquanto que a fonte de estimulação da motivação proveniente do exterior seria a extrínseca.
Segundo Machado (1995) a motivação intrínseca é inerente ao objeto de aprendizagem, à matéria a ser aprendida, ao movimento a ser executado, não dependendo de elementos externos para atuar na aprendizagem. Deriva-se da satisfação inerente à própria atividade de aprender. O autor considera a motivação extrínseca mais relacionada à própria atividade de aprendizagem, não sendo resultado do interesse, mas sim, determinada por fatores externos à própria matéria a ser aprendida.
Gill (1988) cita que a motivação intrínseca pode se tornar mais forte quando não existe qualquer tipo de motivação extrínseca, haja vista as pessoas que praticam atividades se dedicando de maneira intensa, onde não há recompensa externa.
Cruz (1996) salienta que a motivação intrínseca está relacionada a fatores internos de cada indivíduo, como por exemplo, "pessoas que são intrinsecamente motivadas para serem competentes e para aprenderem novas competências, que gostam de competição, ação ou excitação e que querem também se divertir e aprender o máximo que forem capazes" (p. 306), fazendo algo em que tenham a satisfação e o prazer da execução de determinadas tarefas propostas, com um fim em si mesmas.
A motivação extrínseca é dependente de múltiplos fatores de recompensa, onde o executar da tarefa não é o único objetivo, existem fatores externos que direcionam as ações dos indivíduos com grande influência, tais como: dinheiro, fama, sucesso, reconhecimento, etc.
Sendo assim, o apelo desta fonte de motivação tem se tornado um dos principais motivos para a aderência de atletas com baixa motivação intrínseca dentro de um esporte escolhido, apresentando esta motivação extrínseca devido a recompensas atribuídas aos vitoriosos dentro deste, tornando-se uma fonte de ascensão social e reconhecimento público. Tal fato é de especial destaque nas camadas mais pobres da sociedade, em que o esporte oferece recompensas necessárias à sobrevivência.
Dentre as fontes motivacionais extrínsecas, a família e os técnicos têm grande importância, pois, na maioria das vezes, partirão destes o apoio e incentivo que poderá influenciar diretamente os atletas no decorrer de suas carreiras.
Com a diminuição da motivação intrínseca ocasionada pelo surgimento e apresentação da motivação extrínseca, Cratty (1984) manifesta que as crianças que são motivadas intrinsecamente, quando expostas a muita motivação extrínseca (prêmios, incentivos,...), poderiam apresentar uma mudança em sua opinião, com relação a elas mesmas e a condição que ocupam. Por exemplo, deixariam de acreditar que seu sucesso depende exclusivamente delas mesmas e passariam a relacioná-lo a motivos externos (sorte, má atuação do adversário,...).
Tanto a fonte intrínseca de motivação quanto a extrínseca possuem grande influência na prática esportiva e na aderência à mesma por parte dos atletas, afetando seus comportamentos e atuações, uma vez que estas se influenciam mutuamente.
Machado (1995), em sua revisão de literatura sobre a temática, salienta tal influência, quando menciona que, mesmo a fonte intrínseca sendo mais influente que a extrínseca, esta última pode agir de várias formas, alterando os objetivos e metas estabelecidas para a participação esportiva, devendo-se considerar os efeitos de ambas as fontes motivacionais e aceitando toda e qualquer relação possível entre elas.
Partindo-se do pressuposto de que todo comportamento humano é motivado por algo, a figura de um professor ou de um responsável pela atividade física/esporte aparece como um dos principais elementos capazes de influenciar um comportamento motivado, bem como, na sua manutenção, dentro do âmbito esportivo.
A função do professor/técnico para desenvolver a motivaçãoUm outro fator de extrema relevância, no que diz respeito à manutenção e potencialização dos fatores emocionais motivacionais, é o estabelecimento de metas em qualquer atividade a ser desenvolvida, tais comportamentos fazem com que ocorra a renovação de interesses dentro da atividade e a vontade de desenvolver seu próprio potencial, como salientam Cruz e Viana (1996, p.282), "saber estabelecer objetivos é uma competência que deve ser ensinada e aperfeiçoada pelos atletas".
Tendo em vista o quadro citado acima, há que se ter cuidado no desenvolvimento e na determinação destas metas, para que estas, não subestimem ou superestimem o potencial dos participantes das atividades propostas, fazendo com que tais atividades se tornem desmotivantes, por se tratar de metas fáceis e aquém de suas potencialidades ou metas "impossíveis" de serem alcançadas, despertando sentimentos de impotência diante de tais situações.
Portanto, o estabelecimento de metas deve ser atrativo, desafiador e realista, com caráter específico e controlável, tendo o professor/técnico um papel de grande importância no planejamento e estabelecimento destas, usando seu poder de persuasão verbal e deixando claro aos atletas que estes têm determinadas capacidades necessárias para vencer grandes obstáculos (CRUZ e VIANA, 1996).
O papel deste profissional envolvido, em relação ao estabelecimento de metas, também se faz importante, no sentido de aguçar a percepção acerca das potencialidades e limitações de seus alunos/atletas, mediando assim os motivos individuais em relação aos alvos a serem alcançados (MACHADO, 1997).
Com relação a atletas, Heckhausen (1991) afirma que estes devem ser motivados a buscar o êxito e evitar o fracasso. A busca pelo êxito, para esse autor, depende da meta estipulada pelo atleta. Em princípio, todo atleta tem como objetivo máximo a auto-realização, embora haja outros motivos de relativa importância que aparecem antes, como os fisiológicos, de segurança, sociais e de auto-estima.
Gouvêa (1997) acrescenta que pessoas que possuem um alto nível de motivação para a realização demonstram, através de palavras e ações, uma procura pelo padrão de excelência. Para um técnico, este indivíduo, na competição, teria como meta o sucesso e um melhor desempenho esportivo.
Muitos autores defendem a tese de que o atleta construtivo contribui para o bem dele mesmo e dos outros, é um atleta motivado predominantemente pela competência e cooperação nos níveis psicológicos e sociais. ...isto não implica que o atleta evita competição, excelência, ou se torne um campeão...a nossa posição é que os estilos psicológicos serão associados com o aumento e não com a diminuição dos níveis de desempenho (BUTT, 1987, p. 9).
Segundo Machado (1995), a pessoa que é motivada pelo sucesso tem um nível de exigência executável, realista e de tipo mediano, demonstrando uma conduta corajosa para atingir sua meta, considerando como causa do seu fracasso motivos externos (motivação extrínseca) ou falta de esforço (motivação intrínseca), enquanto que aqueles que são motivados pelo fracasso fixam um nível de exigência muito alto, irreal, ou excessivamente baixo, mostrando tendência para uma conduta sumamente fraca ou carente de adequado valor, atribuindo seu fracasso à falta de talento.
Rheinberg (apud SAMULSKY, 1992) considera que o atleta pode ser motivado por dois tipos de normas:
individuais: o atleta faz comparações entre os resultados anteriores obtidos e os atuais;
sociais: o atleta procura melhorar seus resultados através de comparações com outros atletas.
Para Samulski (1992), um indivíduo é motivado para o rendimento esportivo quando o conjunto de motivos pessoais interage com a motivação proporcionada pela situação. Sendo assim, o nível de motivação pessoal dependerá do nível de aspiração, da hierarquia desses motivos, da motivação para o êxito (ou fracasso) e das atribuições causais.
Já a motivação proporcionada pela situação surgirá de acordo com o incentivo, que pode estar relacionado com o nível do desafio e de atratividade da atividade.
Na relação entre motivação e treinador, Samulski (1992) afirma que este deve estimular seu atleta para buscar um motivo de natureza intrínseca, a fim de conseguir alcançar um nível de cooperação e procurar por uma orientação normativa.
Para este autor, existem características predominantes em atletas vencedores e perdedores. Os atletas vencedores buscam: orientação ao sucesso, autoconceito positivo, metas realistas, motivação intrínseca, análise adequada dos resultados, auto-reforço positivo, segurança no comportamento, normas individuais, autodeterminação e autocontrole. Por outro lado, os atletas perdedores apresentam as características inversas das do tipo vencedor.
Samulski (1992) apresenta algumas técnicas de controle da motivação, executadas por meio de indicadores, como a respiração, o movimento, a imaginação e a linguagem, os quais, dependendo da forma como forem trabalhados, podem proporcionar ao atleta um aumento ou uma diminuição do nível de ativação.
Há outras técnicas utilizadas para influenciar a força de vontade, tais como: direcionamento da atenção (dirigir a atenção a tarefas importantes); acentuação de aspectos positivos com relação à própria pessoa e à situação, a fim de influenciar a percepção subjetiva do problema; a relativização, que pretende mudar o sistema de referência para avaliar as condições pessoais e ambientais.
Cratty (1984) também apresentou sugestões sobre as técnicas cognitivas, motoras e emocionais de automotivação, utilizadas a fim de que o atleta consiga controlar o seu próprio nível de motivação. Esse autor também discute as técnicas cognitivas, afirmando que os atletas tentam determinar, através de processos de auto-avaliação, as metas, atribuições e auto-afirmação, para que consigam modificar o seu estado de motivação.
Isto pode ser alcançado por meio da imaginação das suas capacidades reais e do estabelecimento de metas concretas. Estas últimas devem ser desafiantes, reais, específicas e controláveis, com prazos variados (curto, médio e longo).
Deve-se determinar quais são as metas pessoais e do grupo, identificar estratégias para alcançá-las, avaliá-las, modificá-las, e expressá-las verbalmente, além de procurar apoio e suporte de outras pessoas.
A técnica de auto-afirmação pode ser utilizada através do reforço material, do elogio, ou, até mesmo, como um reforço antecipado, no qual se motiva o atleta por meio de pensamentos sobre a(s) possíveis recompensa(s), caso ele seja vitorioso. A auto-afirmação negativa, como a autocrítica e a auto-repreensão, também podem ter um efeito motivador (SAMULSKI, 1992).
As técnicas emocionais são apontadas pelo autor como efetivas, quando o atleta consegue melhorar seu desempenho, através de sensações de prazer, sucesso, fluidez do movimento ou identificação emocional com o grupo (SAMULSKI, 1992).
Cratty (1984) ainda sugeriu algumas direções para se alcançar um nível de motivação adequado, as quais, segundo ele, os técnicos deveriam utilizar para conseguirem melhorar o desempenho de seus atletas. Este autor salienta que, dentro do papel do técnico, está inserida a escolha das condutas que ele julga serem corretas, cujos objetivos podem ser alcançados através da utilização do reforço e da punição, tornando-se persuasivo.
PersuasãoA persuasão pode ser um poderoso instrumento de motivação do técnico e do professor para com seus atletas e alunos. Este instrumento possibilita a transmissão de ideais em relação a alguma situação ou tarefa a ser enfrentada e desenvolvida.
É a prática da comunicação que tem como objetivo influenciar, vencer ou defender-se de outrem, através de técnicas e diferentes métodos, que vão da retórica, do potencial da psicologia e das emoções, ao jogo dos desejos e da sedução (BELLENGER, 1987).
A persuasão nas diferentes formas de relacionamento interpessoal tem merecido a atenção, especialmente na área da psicologia social, já que esta representa um catalisador de alterações, inclusive atitudinais. Para que isto se proceda requer-se um motivo forte desencadeador, o qual é capaz de fazer a diferença no sentido das crenças e valores.
Sendo assim, a persuasão pode ser tomada como um processo de interação, presencial ou não, baseado no qual, uma certa mensagem tem ação de alterar uma dada perspectiva individual, especialmente no sentido das crenças, dos conhecimentos e dos interesses.
Ao se considerar a relação estabelecida entre técnico e atleta ou professor e aluno, além dos objetivos específicos dentro de cada relação, há sempre o interesse em concretizar uma meta estabelecida. Esta última é sempre permeada pelas motivações que impulsionam o caminho de sua concretização.
Para tal, se faz necessário que o técnico e o professor percebam, de maneira holística, o outro, o atleta e o aluno, a fim de estabelecer uma relação interpessoal bastante concisa e intensa.
A persuasão detém em si técnicas e formas metodológicas para se estabelecer. É então, uma forma de inteligência aplicada a determinada situação e que se empenha numa prática específica e adequada, buscando um objetivo final.
Para Barreto (1982, p. 107), baseado no pensamento aristotélico, todos os tipos de comunicação representam uma determinada forma de persuasão, já em seu objetivo, afirmando ser esta uma "... tentativa de levar os outros a abraçar o ponto de vista de quem fala, escreve e se expressa".
No processo de persuasão em si, deve-se, dessa maneira, atentar para a ampla possibilidade de se operar a transferência de uma determinada opinião, já que a persuasão e seus discursos podem assumir conteúdos suspeitos. O ato de persuadir, para manter sua integridade, deve ancorar-se em três ordens: razão, ética e moral.
Estes pilares direcionariam a intenção de influenciar o outro para a superação de limites e a transcendência de obstáculos em relação a sua personalidade, modo de existir e relacionar-se com o mundo, de acordo com as regras do decoro social pertinente.
No universo dos esportes e das competições, como no da Educação Física, a presença da ética se mostra fundamental para a manutenção das relações do indivíduo consigo mesmo e, também, das relações entre os homens (SANTIN, 1995).
Conforme a publicação oficial do CONFEF/CREF (2000), o estabelecimento da ética em determinada profissão, neste caso específico da Educação Física, deve-se levar em consideração um objetivo consensual, capaz de manter compromissados os integrantes desta categoria profissional, no sentido de manter um papel social que vá além da perspectiva individualizada, mas, com base na intersubjetividade, permeie a coletividade.
Ainda segundo o mesmo órgão, o respeito à dignidade e integridade dos beneficiários é tarefa fundamental do profissional desta área, conferindo-lhe o compromisso de respeitar os interesses, a independência e a liberdade dos envolvidos.
A ética aponta, também, para as diferenças e as semelhanças dos objetivos de cada relação possível dentro do mundo do desporto. A relação entre técnico e atleta, a qual obedece ao fim da performance, da razão da cientificidade e de resultados melhores, não se distancia da relação entre professor e aluno, nesta última, entretanto, evidencia-se, ainda mais fortemente, a pedagogia e a contribuição determinante para a formação do aluno como sujeito no mundo. Isto porque ambas as relações seguem segundo Santin (1995) uma eticidade capaz de fundar cientificamente a moralidade da vida humana.
Assim, mesmo num universo científico, há valores sociais os quais regem as relações, as motivações e os objetivos de cada situação. Assegurar a presença da ética, da moral e da razão traz, tanto para o técnico, como para o professor, um suporte legítimo para persuadir o outro, enquanto sujeito em sua complexidade e não na sua superficialidade de objeto educativo ou performático.
É aconselhável, desta forma, desvendar a natureza dos indivíduos, seu enredo psicológico, conhecendo de perto seu modo de pensar, sentir e agir, formando, assim, o discurso dentro da lógica, da síntese, da análise, das generalizações e das subdivisões.
De maneira peculiar, a prática da persuasão perpassa os ditames da política e do discurso científico na atualidade. No entanto, quando esta prática se relaciona com os esportes de competição e a Educação Física, torna-se necessário ocorrer a transferência do homem objeto para o sujeito, a fim de se garantir a integralidade do ser humano envolvido.
A importância destes elementos da ética, da razão e da moral, em relação à atuação do técnico e do professor, é inquestionável. Esta atuação como profissional passa por várias faces do saber e da construção do conhecimento e do sujeito, até a práxis.
Nesta perspectiva, assume-se, como função desses profissionais, motivar para o bom desempenho, possibilitando ao aluno e/ou ao atleta existir como sujeito do mundo, contextualizando a situação e encontrando elementos capazes de garantir a práxis com eticidade e moralidade. A razão deve se encontrar sempre na aliança entre a ciência e realidade à qual o sujeito pertence, considerando todo seu processo de civilização.
Ao considerar a realidade do sujeito, sua cultura, história, sociedade, e seu enredo psicológico, a motivação, feita por meio do discurso de persuasão do técnico ou do professor, tem grandes chances de acontecer, levando ao tão sonhado êxito.
Essa persuasão pode se dar de diversas formas, sendo uma delas referente à utilização de feedback positivo ou de reforço, elementos importantes, que os professores e técnicos podem e devem utilizar, quando estão diante de uma relação de ensino-aprendizagem ou de desempenho, já que o feedback positivo exerce, efetivamente, uma influência positiva no desempenho e aumenta a motivação intrínseca (VALLERAND e FORTIER, 1998).
Portanto, a motivação e o discurso persuasivo refletem o ímpeto de conhecer cada vez mais profundamente aquilo que é humano e tudo mais que traz para sua existência a vontade de expressar-se, de realizar sonhos, atingir metas e superar limites.
Considerações finaisO presente artigo visou evidenciar os fatores decisivos referentes à motivação e persuasão em relação à atuação do técnico e do professor de esportes, salientando o poder que estes podem ter, quando responsáveis por um programa de atividade física ou de esporte. Cabe a eles conhecerem o seu público, bem como, os objetivos pessoais de cada um e do grupo como um todo.
Agradar a todos é sempre impossível, o importante é tentar sincronizar os objetivos de quem propõe a atividade com os objetivos de quem a executa. Com esse casamento de ideais a motivação tem grande chance de ser mantida em um alto nível e a prática tende a acontecer de maneira fluida e prazerosa, sendo esses sentimentos que garantem a aderência e o empenho nesses programas.
O responsável deve ser conhecedor da atividade que exerce e usar ferramentas persuasivas, porém íntegras, para mostrar aos alunos as vantagens, os benefícios da atividade física e do estilo de vida saudável e, ainda, moldar o ambiente, de maneira que ele facilite a obtenção das metas traçadas para e pelos alunos.
Dessa forma, evidencia-se como de grande importância o papel do profissional de Educação Física e do técnico esportivo, os quais, conseguindo aliar o uso da teoria na prática, têm grandes chances de serem bem-sucedidos em sua prática profissional e contribuírem para a manutenção do bem-estar, tanto no nível físico quanto no psíquico de seus alunos e/ou atletas.
Para que esta ação tão almejada se constitua em uma realidade, torna-se importante a superação da concepção dicotomizada do ser humano, suplantando a visão apenas biologizante reiterada pelo senso comum sobre o papel do profissional de Educação Física, em direção a uma concepção mais holística, capaz de levar em consideração a integralidade do ser, com base no desenvolvimento de uma intervenção, não só nos níveis motores ou na supremacia da competitividade em si, mas que possa evidenciar neste processo, inclusive, os níveis de saúde, os valores éticos, o bem-estar psicológico e os componentes educacionais, que são construtos imanentes a esta prática profissional.
Torna-se, desta forma, premente que os cursos de formação nesta área ampliem os conhecimentos referentes aos temas da motivação e da persuasão em suas grades curriculares, no sentido de implementar e subsidiar os instrumentos utilizados nesta prática profissional, contribuindo, sobremaneira, para a qualidade das relações traçadas e na fundamentação ética dos conteúdos pedagógicos viabilizados.
Referências
ALDERMAN, R. Psychological Behavior in Sport. Filadélfia: W. B. Saunders, 1984.
BARRETO, R.M. Criatividade em propaganda. São Paulo: Summus,1982.
BELLENGER, L. A Persuasão e suas técnicas. Rio de Janeiro: J.Zahar, 1987.
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
BUTT, D. S. Psychology of Sport: The Behavior, Motivation, Personality, and Performance of Athletes. New York: Van Nostrand Reinhold Company, 2ª ed, 1987.
CONFEF/CREF. Código de Ética da Educação Física. Ética e Deontologia da Educação Física. Rio de Janeiro, 2000.
CRATTY, B. J. Psicologia do esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil Ltda. 2ª ed., 1984.
DE MARCO, A.; JUNQUEIRA, F.C. Diferentes tipos de influências sobre a motivação de crianças numa iniciação esportiva. In: PICCOLO, V.L.N. (Org.) Educação física escolar: ser ou não ter? Campinas: Editora da UNICAMP, 1993.
GILL, D.L. Psychological dynamics of sport. Champaign: Human Kinetic Publ., 1988.
GOUVÊA, F. C. Motivação e o esporte: uma análise inicial. In: BURITI, M. de A. (Org.) Psicologia no Esporte - Coleção Psicotemas. Campinas: Editora Alínea, 1997, p. 149-173.
HECKHAUSEN, H. Motivation and action. New York: Springer-Verlag, 1991.
ISLER, G. L. Atleta, seus pais o motivaram para a prática esportiva? Análise das histórias de vida. 2002. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Rio Claro/SP.
MACHADO, A. A. Importância da Motivação para o Movimento Humano. In: Perspectivas Interdisciplinares em Educação Física, São Paulo: Soc. Bras. Des. Educação Física. , 1995.
MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte: temas emergentes I. Jundiaí: Ápice, 1997.
MAGILL, R. A.; HALL, K. G. A review of the contextual interference effect in motor skill acquisition. Human movement science, 9, 1990, p. 241-289.
RODRIGUES, P. A. Motivação e Performance. 1991. Monografia (Graduação em Educação Física) - Universidade Estadual Paulista, Rio Claro/SP.
SAMULSKY, D. Psicologia do Esporte: Teoria e Aplicação Prática. Belo Horizonte: Imprensa Universitária, 1992.
SANTIN, S. A Ética e as ciências do esporte - uma consciência filosófica da questão. In: FERREIRA-NETO, A; GOELLNER, S.V. & BRACHT, V. As Ciências do Esporte no Brasil. Campinas: Autores Associados, 1995.
VALLERAND, R. J.; FORTIER, M. S. Measurement of Intrinsic and Extrinsic Motivation in Sport and Phisical Activity: A Review and Critique. In: DUDA, J. L. Advances in Sport and Exercise Psychology Measurement. Purdue University: Book Crafters, 1998. Cap.1, p. 81-101.
VANEK, M.; CRATTY, B. J. Psychologie sportive et Compétition. Paris: Editions Universitaries, 1990.
WINTERSTEIN, P.J. A motivação para a atividade física e para o esporte. In: DE ROSE JR, D. et al (Org.) Esporte e atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2002.
WOODWORTH, R. S.; MARQUIS, D.G. Psicologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, 710 p.
revista
digital · Año 11 · N° 103 | Buenos Aires,
Diciembre 2006 |