Análise do comportamento da freqüência cardíaca durante testes de esforço máximo em diferentes ergômetros | |||
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. (Brasil) |
Prof. Esp. Maíra Frigo Flores maiff@bol.com.br Prof. Esp. Daniela Sastre Rossi Prof. Dr. Daniela Lopes dos Santos danielals@brturbo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006 |
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Introdução
Atualmente, um tema extremamente em voga é a atividade física, seus efeitos benéficos e maléficos, indicações, aplicações, entre outros. Sabe-se que, se prescrita de modo adequado, pode trazer vários benefícios que facilitam a obtenção de saúde e qualidade de vida (ACSM, 2003). Ainda que sua importância esteja sendo extremamente comentada, segundo pesquisas epidemiológicas, as doenças do estilo de vida são responsáveis por mais da metade do total de mortes da atualidade (Sharkey, 1998). O autor comenta que talvez o motivo por esse insucesso na adoção da atividade física como um elemento do nosso dia-a-dia seja o modo com que este é prescrito e desenvolvido.
Um meio de minimizar os erros ao se fazer a prescrição de atividades físicas, bem como de facilitar sua evolução, são os testes padronizados, dentre eles os testes ergométricos, amplamente utilizados dada a facilidade de aplicação e satisfatória credibilidade de resultados, quando bem realizados (Guyton, 1989). Dentre os fatores avaliados nos diferentes testes, a freqüência cardíaca se destaca quando se quer obter o nível de esforço exigido por uma atividade, bem como o consumo máximo de oxigênio, por haver uma relação linear entre a freqüência cardíaca e o volume de oxigênio absorvido (Powers e Howley, 2000). Também, por ser de uma praticidade relevante, podendo ser aplicados em diversos ambientes, com mínima estrutura necessária. Entretanto, vários fatores podem influenciar a freqüência cardíaca, como a alimentação, temperatura, estresse, umidade, entre outros, o que pode fazer com que esta linearidade se torne menos exata, influenciando no resultado dos testes e na posterior prescrição do exercício (McArdle, Katch e Katch, 2002).
Assim, este estudo buscou identificar o comportamento da freqüência cardíaca durante teste de potência aeróbica máxima em diferentes ergômetros, e analisar estes comportamentos, buscando clarear as vantagens e desvantagens de utilizá-la como indicador do consumo máximo de oxigênio. Além disso, objetivamos verificar a freqüência cardíaca e a pressão arterial pré e pós-teste, além de buscar relações entre o estilo de vida ou a composição corporal dos indivíduos e o desempenho nos testes.
MetodologiaEsta pesquisa, segundo Thomas e Nelson (2002), foi descritiva, visto que se caracteriza pelo estudo exploratório, o qual inclui questionários, entrevistas, através de estudos transversais e longitudinais. A amostra foi constituída de 15 estudantes universitários do curso de Educação Física que tinham entre 18 e 27 anos de idade, inativos (segundo Sharkey, 1998) e escolhidos aleatoriamente.
Os estudantes foram convidados a participar da pesquisa, e os interessados responderam a uma ficha de inscrição, onde informaram seus dados de identificação. Posteriormente, foi realizado um sorteio simples, de onde foram retirados os indivíduos e a ordem para a realização dos testes. A coleta de dados foi realizada sempre no mesmo local e com os mesmos aparelhos e indivíduos, buscando assim minimizar alterações nos resultados.
O avaliado, ao chegar no local de coleta, respondia ao questionário PAR-Q, para identificar fatores de risco coronariano, antes de se submeter aos testes de potência aeróbica, e à anamnese contendo questões referentes ao estilo de vida, enquanto eram mensuradas sua freqüência cardíaca e pressão arterial. Em seguida, foi avaliada sua composição corporal, e ao término desta o avaliado realizava o teste no ergômetro sorteado. Uma semana depois era realizado o teste no outro ergômetro, seguindo o mesmo procedimento anterior, exceto o preenchimento dos questionários. Convém salientar que foi utilizada a motivação verbal enquanto o avaliado realizava os testes.
O teste de esteira rolante continha incrementos de 1,8 Km/h a cada três minutos, e o teste no cicloergômetro, incrementos de 50 Watts a cada três minutos, mantendo entre 79 e 80 rpm. Foi utilizada, ainda, a escala de Borg de Percepção Subjetiva de Esforço (McArdle, Katch e Katch, 2002), junto à motivação verbal por parte dos avaliadores.
A composição corporal foi avaliada por meio da mensuração das dobras cutâneas, uma forma indireta de mensuração que utiliza um "compasso de dobras" para medir a espessura do tecido adiposo em determinados pontos da superfície corporal. Nesta pesquisa, os pontos anatômicos medidos foram os indicados por Petrosky (1999), sendo a dobra tricipital, subescapular, suprailíaca e da panturrilha. Também foram coletadas a estatura e massa corporal dos participantes. As variáveis fisiológicas de repouso coletadas foram a pressão arterial e a freqüência cardíaca. A pressão arterial foi coletada antes do início do teste e quinze minutos após este. Já a freqüência cardíaca foi coletada quando o avaliado estava em repouso, a cada minuto de duração do teste, e ainda imediatamente e quinze minutos após o término do teste, por meio da utilização de freqüencímetro, instalado no peito do avaliado.
Discussão dos resultadosEsta pesquisa contou com uma amostra de 15 acadêmicos do CEFD-UFSM, com idade média de 21,8 ± 5,2, sendo nove homens e seis mulheres.
O percentual de gordura corporal apresentou correlação negativa significativa com o tempo de duração dos testes, ou seja, os indivíduos que tinham um maior percentual de gordura resistiram menos tempo ao teste, o que pode indicar que seu estilo de vida é menos ativo que o dos indivíduos com menor percentual de gordura. Assim sendo, talvez tenham uma aptidão física reduzida, quando comparado aos indivíduos de menor percentual de gordura corporal. McArdle, Katch e Katch (2002) afirmam que as diferenças na composição corporal explicam cerca de 70% das diferenças nos valores obtidos para o VO2 máx entre os indivíduos, e sendo essa relação linear com a freqüência cardíaca, pode-se inferir a influência da composição corporal sobre a freqüência cardíaca.
A freqüência cardíaca máxima na esteira rolante atingiu valores maiores, quando comparada aos valores atingidos no cicloergômetro (DP=2,24 e 2,05, respectivamente, p<0,03 e R2=0,14), sendo a freqüência cardíaca média de 196,17 na esteira e 189,27 no cicloergômetro. Esses resultados vão ao encontro de estudos citados por McArdle, Katch e Katch (2002), que indicam que, ao se utilizar testes em cicloergômetro, a média de VO2 máx tende a ser de 6,4 a 11,2% menor que os valores obtidos na esteira. Além disso, o teste de cicloergômetro apresentou valores 7% abaixo dos de caminhada, e este, valores 5% abaixo dos obtidos em testes de corrida. Isso talvez se deva ao fato de a esteira rolante movimentar maior massa muscular que o cicloergômetro, pois permite movimentações dos braços, além de haver a sustentação do peso corporal, um pouco atenuada durante exercícios em cicloergômetro.
O comportamento da freqüência cardíaca apresentou diferença significativa entre os testes realizados nos diferentes ergômetros, sendo que os testes no cicloergômetro apresentaram maior duração, iniciando com uma menor FC.
ConclusõesDe acordo com este estudo, é possível concluir que:
A freqüência cardíaca atinge níveis mais altos durante testes de esforço máximo em esteira rolante;
A freqüência cardíaca atinge valores menores durante testes de esforço máximo em cicloergômetro;
O percentual de gordura corporal se relaciona negativamente com o desempenho em testes de esforço máximo;
Assim, deve-se atentar para a escolha dos testes, acordando com as características do indivíduo, e cuidar ao se inferir o consumo máximo de oxigênio através da freqüência cardíaca, visto que este pode se alterar de acordo com os procedimentos adotados.
Referências bibliográficas
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes Básicas do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 4ª edição. Rio de Janeiro - RJ. Editora Guanabara Koogan, 2003.
GUYTON, A.C. Fisiologia Humana e Mecanismo das Doenças. 4ª edição. Rio de Janeiro - RJ. Editora Guanabara Koogan, 1989.
McARDLE, W.D., KATCH, F.I. & KATCH, V.L. Fundamentos da Fisiologia do Exercício. 2ª edição. Rio de Janeiro - RJ. Editora Guanabara Koogan, 2003.
PETROSKY, E. L. Antropometría: Técnicas e Padronizações. Porto Alegre: Palloti, 1999.
POWERS, S.K. & HOWLEY, E.T. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3ª edição. São Paulo - SP. Editora Manole, 2000.
SHARKEY, B.J. Condicionamento Físico e Saúde. 4ª edição. Porto Alegre - RS. Editora Artmed, 1998.
THOMAS, J. R. & NELSON, J. K. Métodos de pesquisa em atividade física. Porto Alegre: Artmed, 2002.
revista
digital · Año 11 · N° 103 | Buenos Aires,
Diciembre 2006 |