Graduação em Educação Física: qualidade a
partir do aprimoramento da docência universitária |
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*Licenciado em Educação Física. Mestre em Educação. **Licenciada em Educação Física. Doutora em Educação Física. Universidade Presbiteriana Mackenzie. (Brasil) |
Marcos Mérida* Rita de Cássia Garcia Verenguer** 1039956@mackenzie.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006 |
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Introdução
No Brasil, a partir de meados da década de 1990, as Instituições de Ensino Superior passam a ser alvo de um processo de avaliação, tanto no âmbito interno quanto externo. No primeiro caso, observamos a criação de instrumentos de avaliação e/ou a criação de comissões internas de avaliação. Já no âmbito externo, são criadas comissões de especialistas vinculadas ao SESu-MEC e, posteriormente, ao INEP, para reconhecimento e/ou recredenciamento dos cursos de graduação, os exames nacionais (PROVÃO e, posteriormente, ENADE).
Concomitantemente, a expansão do Ensino Superior nos últimos 15 anos e, naturalmente, dos cursos de graduação em Educação Física, tem ampliado a procura por docentes universitários com competência e a titulação mínima de mestre.
Todo esse cenário no qual se encontra a Universidade brasileira vem contribuir para a discussão de um tema delicado e urgente: a discussão da inserção da Universidade no contexto da Sociedade do Conhecimento.
Os objetivos deste trabalho são: discutir a inserção da Universidade no contexto da Sociedade do Conhecimento; caracterizar as competências para a docência universitária e apresentar os caminhos que a Faculdade de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie (FEF-Mackenzie) vem construindo considerando a temática em questão.
A Universidade no contexto da Sociedade do ConhecimentoO século XXI vem sendo considerado como aquele em que as relações entre conhecimento, riqueza, soberania nacional e qualidade de vida estão ligadas por um mesmo fio: uma população educada e com autonomia para buscar e produzir conhecimento. A Sociedade do Conhecimento, como tem sido chamada, caracterizar-se-á como aquela em que o conhecimento é a mola propulsora para a sociedade. Em outras palavras, a geração de riqueza dependerá do incentivo à pesquisa e à educação universal.
É interessante observar que o conhecimento, enquanto matéria-prima para a nova sociedade, tem características peculiares: é difundível (propaga a medida que é utilizado); é substituível (muda com o passar do tempo); é transportável (acesso quase instantâneo) e é compartilhável (sua transferência não impede o uso pelo detentor original). Podemos adquiri-lo formalmente, através de cursos regulares ou programas de treinamento ou, informalmente, pelos meios de comunicação, Internet e rede de amigos.
Nesse sentido, delineia-se um novo paradigma para o processo de preparação profissional que vai exigir mudança de comportamento. A aprendizagem deverá ser contínua e vitalícia, pois o conhecimento tem meia-vida, a aprendizagem não. É preciso pensar na abordagem "aprender a aprender", ou seja, a prioridade deve ser o processo de aprendizagem, uma vez que os conteúdos são transitórios. E, sobretudo, criar um ambiente para que seja desenvolvida a autonomia, a responsabilidade e a auto-motivação.
Diante desta nova realidade, desenham-se novos desafios aos atores universitários. Aos docentes caberá, além da competência técnica (conhecimento da sua área e dos processos de ensino-aprendizagem), a competência política (conhecimento do tempo/espaço social, da cidadania). Entre as idéias de curiosidade, rigor intelectual, autonomia e atitudes éticas, o docente por excelência será aquele que tem uma atitude positiva frente ao conhecimento e vive um estado permanente de indagação, ou, em outras palavras, é um pesquisador.
Dos discentes serão exigidas novas atribuições: de receptores para colaboradores de conhecimento, de críticos passivos para solucionadores de problemas e propositores de soluções, de espectadores para protagonistas de suas competências.
Se os docentes e discentes têm novos desafios e papéis, aos gestores universitários cabe a construção de um cenário acadêmico que vise a agilidade nas decisões e diminuição da burocracia, o treinamento constante do corpo docente e administrativo, o incremento das atividades extra-curriculares (grupo de estudos e/ou pesquisa, viagens pedagógicas, etc.) e o investimento e acesso ilimitado à tecnologia informacional.
Dado o significado social do conhecimento, seu acesso disponibilizado pelo impacto da tecnologia, seu acúmulo exponencial e demanda crescente, a responsabilidade dos atores universitários será criar um ambiente que favoreça a capacidade de reflexão, seleção e crítica do conhecimento para a construção de uma sociedade mais igualitária, justa e verdadeiramente cidadã.
Neste sentido e para que essa sociedade se concretize, os programas das disciplinas dos cursos de preparação profissional precisam contemplar, em sua estrutura, conteúdos que possibilitem vivenciar os aspectos conceituais (aprender a aprender), os procedimentais (aprender a fazer) e os atitudinais (aprender a viver juntos e aprender a ser), uma vez que é no processo de uma formação contextualizada que se situa a formação de um profissional-cidadão (COLL et al. 2000; MERIDA; VERENGUER; PAIANO, 2004).
As competências para a Docência UniversitáriaA discussão sobre as características e as competências para a docência universitária remonta a década de 1980 e passa a fazer parte da agenda daqueles envolvidos na reflexão sobre a qualidade do ensino superior. A profissionalização do docente universitário deve ser entendida como o domínio da dimensão do conhecimento próprio da área, da dimensão pedagógica e da dimensão política (MASETTO, 2003).
O domínio do conhecimento próprio da área está consolidado em nosso cotidiano profissional, pois o aprimoramos nos programas de mestrado e doutorado, ao proferirmos palestras e cursos, quando respondemos por alguma disciplina, ao participarmos de grupos de estudos, quando chefiamos laboratórios de pesquisa, desenvolvemos projetos de extensão e publicamos artigos em periódicos científicos (VERENGUER, 2004).
A dimensão política de nossa intervenção está relacionada ao fato de que nosso fazer profissional é um ato de criação e de desenvolvimento e não pode ser desprovido de sentido, de significado pessoal sob pena de auto-condenarmos à alienação. Essa dimensão nos leva a refletir continuamente sobre nosso papel enquanto docentes e cidadãos.
A dimensão pedagógica da docência universitária é, sem dúvida alguma, aquela em que precisaremos investir mais tempo não porque não sabemos "dar aulas", mas sim, porque precisamos aprimorar este saber. Desta forma, o docente universitário precisa dominar, além dos conhecimentos próprios da sua área, os princípios básicos do processo ensino-aprendizagem de universitários; precisa conhecer em qual contexto a disciplina pela qual responde está inserida no currículo e quais são as interfaces com as outras disciplinas; precisa criar um ambiente de aprendizagem no qual o papel do professor seja de mobilização e orientação e o papel do graduando seja de protagonista da aprendizagem e solucionador de problemas; e precisa dominar os meios pelos quais a aprendizagem se dará, ou seja, as estratégias e técnicas que correspondem à tecnologia educacional e a tecnologia informacional (Internet, data-show, e-mail, etc.) (MASETTO, 2003; VERENGUER, 2004).
Em última instância, precisamos compreender que a docência universitária é uma profissão e como tal necessita, daqueles que a exercem, comprometimento com o aprimoramento constante de suas competências e saberes profissionais. Não é possível aceitar que aqueles que exercem a docência universitária façam isso por diletantismo ou amadorismo.
Os caminhos delineados pela FEF-MackenzieConscientes e comprometidos, procura-se implantar na FEF-Mackenzie várias iniciativas que caminham ao encontro de toda a problemática que cerca a graduação em Educação Física e a docência universitária. Essas iniciativas e ações têm recebido total apoio e atenção da Universidade e, sobretudo, dos docentes do curso.
O Projeto Pedagógico do curso de Educação Física foi construído com a participação e o envolvimento da equipe técnica-administrativa e do corpo docente, alicerçado no Projeto Pedagógico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Houve investimentos na infra-estrutura para implementação do curso, principalmente, nas instalações esportivas, biblioteca, laboratórios de informática, equipamentos audiovisuais e materiais didáticos.
Nas reuniões pedagógicas realizadas bimensalmente e no Curso de Aprimoramento sobre a Docência Universitária, conduzido pelo Fórum Permanente de Pesquisa (FOPEP-Mackenzie) tem-se discutido conteúdos e metodologias de ensino para a condução das disciplinas. No que tange aos conteúdos, tem-se a implantação, nos planos de ensino, das unidades temáticas contemplando em sua estrutura as dimensões conceitual, procedimental e atitudinal, antecipando a Resolução CNE/CES nº 07/2004. Tal estágio de organização dos planos de ensino só foi possível porque adotamos estratégias bem sucedidas: seleção de literatura pertinente, criação de encontros de estudos e elaboração de pequenos textos de apoio, trabalho em pequenos grupos de docentes (MERIDA; VERENGUER; FREIRE, 2005).
No que tange as metodologias, reuniu-se todas aquelas utilizadas pelos docentes em suas aulas, estruturou-se outras e as detalhou-se, como se segue:
Aulas expositivas e dialogadas: serão ministradas de forma a possibilitar a organização e síntese dos conhecimentos das respectivas Unidades Temáticas.
Leituras recomendadas e elaboração de textos em aula: serão indicadas com a finalidade de proporcionar ao graduando oportunidades para (a) consulta de uma bibliografia específica relacionada com a disciplina e (b) desenvolvimento das suas capacidades de análise, síntese e crítica.
Tarefas orientadas: quer realizados individualmente ou em pequenos grupos, devem estimular a participação ativa do graduando no processo de aprendizagem, proporcionando momentos para (a) apresentar e discutir assuntos relacionados à disciplina e (b) desenvolver suas capacidades criativas.
Seminários: realizados pelos graduandos para que estes apresentem, embasados pela literatura, uma síntese e análise dos temas propostos, bem como suas idéias pessoais.
Vivências motoras: serão oferecidas para que os graduandos experimentem a prática das habilidades específicas da modalidade e seu grau de complexidade, assim como para problematizar sua aprendizagem.
Aulas em laboratório: familiarizar os graduandos para a utilização de técnicas de manipulação de instrumentos e equipamentos específicos, como também vivenciar a aplicação de experimentos e coleta de dados.
Elaboração de atas ou relatórios: elaborar registros com a síntese dos conhecimentos aprendidos em aula para estimular a reflexão e o envolvimento dos graduandos em seu próprio processo de aprendizagem.
Reflexão sobre a prática da intervenção: momento no qual os graduandos participam de atividades com ênfase nos procedimentos de observação (de forma direta ou indireta) e reflexão sobre a prática da intervenção, problematizando o cotidiano profissional.
Estudos de caso: para aproximar as discussões conceituais e teóricas da realidade profissional, serão analisados casos que envolvam o conteúdo da disciplina e acontecimentos reais ou simulados, analisando situações-problemas e propondo soluções.
Recursos audio-visuais: para viabilizar o aprendizado serão utilizados diapositivos, transparências, textos jornalísticos, filmes, fitas de vídeo, músicas e poesias.
Visitas monitoradas: os graduandos irão a locais determinados, seja para conhecer os espaços da intervenção profissional, para observar e avaliar a intervenção do profissional e as atividades sistematizadas da Educação Física e/ou Esporte, assim como as relações interpessoais deste contexto.
Palestras com convidados: acompanhar a apresentação de profissionais e/ou acadêmicos tomando contato com a diversidade de experiências e conhecimentos, além de ampliar e enriquecer o conteúdo da disciplina.
Prática da intervenção supervisionada: momento no qual os graduandos são responsáveis pela organização do processo de intervenção, com os colegas e/ou com a comunidade, experimentando as etapas de: a) diagnóstico das características do público alvo, b) de elaboração de programas (definição de objetivos, conteúdos, metodologias e avaliação), c) de aplicação do mesmo e d) avaliação de todo processo.
Naturalmente, nem todas essas metodologias são utilizadas em todas as disciplinas, haja vista que a seleção das mesmas depende dos conteúdos e dos objetivos que se quer alcançar com cada unidade temática de cada disciplina.
Paralelamente, há incentivo e apoio para produção e divulgação de pesquisas científicas, participação em congressos nacionais e internacionais e de realização de projetos de extensão.
Considerações finaisFinalizando, é importante ressaltar que a construção do Projeto Pedagógico da FEF-Mackenzie é coletiva, realizada pelos docentes e pela equipe técnica-administrativa e está em consonância com a missão, visão, valores e princípios norteadores estabelecidos no Projeto Pedagógico da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E que o investimento na infra-estrutura, na tecnologia informacional e na formação permanente dos docentes vai ao encontro das demandas e exigências da Sociedade do Conhecimento no que tange ensino, pesquisa e extensão.
Referências bibliografias
COLL, C. et al. Os Conteúdos na Reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000.
MASETTO, M. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São Paulo: Summus Editorial, 2003.
MERIDA, M. VERENGUER, R.C.G. & PAIANO, R. Graduação em Educação Física: a experiência da construção da FEF-Mackenzie. Anais. II Seminário de Estudos e Pesquisa em Formação Profissional no Campo da Educação Física. Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, v.1, n.1, p. 67, 2004.
MERIDA, M; VERENGUER, R.C.G; FREIRE, E.S. Graduação em Educação Física: experiência da FEF-Mackenzie na implantação das dimensões dos conteúdos. Trabalho submetido ao IV Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana e X Simpósio Paulista de Educação Física. Rio Claro, Universidade Estadual Paulista.
VERENGUER, R.C.G Graduação em Educação Física e sua relação com as disciplinas de orientação acadêmica: o caso das disciplinas do núcleo sócio-cultural. Anais. Simpósio sobre o Ensino de Graduação em Educação Física, São Carlos, Universidade Federal de São Carlos, v.1, n.1, p.25-56, 2004.
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