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A Revista Brasileira de Ciências do Esporte e
a formação profissional em Educação Física

   
*Mestre em Ciências da Motricidade Humana.
**Professor Doutor do Departamento de Educação.
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no
Campo da Educação Física (NEPEF). - I.B./UNESP -
Rio Claro, SP.
 
 
Francisco Jean Souza*
nepef@rc.unesp.br  
Samuel de Souza Neto**
samuauro@claretianas.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Tendo como referência a história das publicações este estudo procurou construir o ciclo de vida deste periódico no período que vai de 1979 a 2000, com ênfase especial na questão da formação profissional. Os resultados apontaram para uma revista de influência médica, inicialmente, mas que acabou assumindo um perfil de natureza mais sócio-política, posteriormente, comprometida com as grandes questões da sociedade brasileira. No âmbito da formação profissional rico foi o debate encontrado em que se abordou desde reformas curriculares, passando pelas temáticas da graduação, estágio e prática de ensino, pós-graduação, regulamentação profissional. Ao longo destes anos o periódico conquistou credibilidade no meio acadêmico vindo a se tornar a principal revista de publicação da Educação Física.
    Unitermos: Educação Física. História das publicações. Formação profissional. Currículo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006

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Introdução

    O final dos anos 70 e o início dos anos 80 do século XX marcaram um período conturbado em que o mundo apresenta sinais de transição mais nítida de um modelo econômico centrado no bem estar social para outro modelo denominado de globalização.

    No velho continente, por exemplo, a Inglaterra inicia um processo de reformas econômicas que incluiu uma série de privatizações, acertos fiscais, cortes orçamentários e as conseqüentes perdas de direitos sociais, que num segundo momento, principalmente a partir dos anos 90, se espalharam no mundo inteiro. Esta nova conjuntura passa a ser conhecida como "neoliberalismo", um movimento econômico que privilegia o equilíbrio fiscal e econômico dos países, relegando a um plano secundário as chamadas questões sociais.

    No Brasil vive-se um momento político de renovação e mudanças. O país está sendo redemocratizado, podendo ser indicadores deste processo o forte movimento sindical no ABC paulista a partir de 1979 e a aprovação das leis de anistia dos presos políticos.

    No campo da Educação Física, os anos 60 marcaram um período em que a questão corporal assumiu dois enfoques extremos: o treinamento, a saúde e o desenvolvimento físico através do esporte e da atividade física, ou a falta de atividades físicas, tão comum entre as pessoas de um modo geral, além dos membros da cultura hipie e ídolos da cultura pop, e os artistas e astros e estrelas do cinema americano.

    Nos anos 70 o esporte assume uma importância ainda maior, e entre nós, o futebol torna-se cada vez mais paixão nacional com o tricampeonato em 1970. O cinema continua influenciando a prática da atividade física relacionando-a com a dança em filmes como Flashdance, os Embalos de sábado à noite, ou em corpos malhados nos filmes de Conan e Rambo. Em relação à prática no seio da população, um grande impulso é dado com a prática do jogging, que no Brasil ficou conhecido como ´Cooper´, o nome do pesquisador e divulgador desta prática.

    O início dos anos 80 é marcado por uma verdadeira "onda" das academias, implementado-se a chamada "ginástica aeróbica" que foi criada ainda em 1971 pela professora Jack Sorensem. A atriz Jane Fonda lança um vídeo de ginástica que passa a ser um dos mais vendidos e alugados em todo o mundo. No Brasil o "impacto" é enorme, conforme se pode concluir no simples exemplo apresentado no quadro abaixo:

    No campo da educação física escolar, nas décadas de 60 e 70, predomina um modelo também ligado ao esporte e à questão do desenvolvimento físico, fruto em grande parte de um modelo de legislação, de formação profissional, de investimentos governamentais, enfim, concepção de um momento histórico.

    A partir do final dos anos 70 e início dos anos 80 iniciam-se pesadas críticas quanto ao modelo de Educação Física escolar centrado no esporte, então vigente no sistema escolar. OLIVEIRA (1985) e FERREIRA (1984), enfatizam a necessidade da Educação Física pautar-se numa linha mais humanista.

    Na época do lançamento da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, (RBCE), o modelo de ciência na área da Educação Física era pautado nas chamadas ciências puras, positivistas. Segundo DARIDO (1999), este modelo explica em parte o distanciamento existente entre a prática profissional e a pesquisa.

    Neste sentido muitas vezes a prática e a pesquisa têm encontros acidentais. Para exemplificar pode ser citada a ginástica aeróbica que evoluiu a partir da prática, no que se refere aos equipamentos usados e em relação ao conhecimento dos efeitos danosos dos altos impactos. Indo mais adiante, pode-se dizer também que muitas pesquisas em áreas como a aprendizagem motora que deveriam ser de aplicação prática ainda são pouco usadas.

    Em relação à formação profissional, a partir de 1968, a Lei 5.540 e suas regulamentações posteriores preconizavam um curso de graduação em Educação Física de 1800 horas (currículo mínimo) e o graduado recebia o título de licenciado e técnico desportivo.

    Somente em 1987 com o Parecer CFE 215 e a Resolução CFE 03 e que se oportunizou ou legalizou a reforma curricular, permitindo a formação no âmbito da Educação Física para os campos da Licenciatura e do Bacharelado. Desapareceu a proposta até então vigente dos currículos mínimos e as disciplinas passaram a ser aglutinada em: conhecimentos básicos (conhecimento da sociedade, conhecimento filosófico, conhecimento do homem, conhecimento técnico) e aprofundamentos.

    Referindo-se ao modelo de formação profissional, GÓMEZ (1997) focalizou os seguintes modelos:

  • Tradicional: o ensino é uma atividade artesanal - a prática não é reflexiva;

  • Técnico: o ensino é uma ciência aplicada - separação entre investigação e prática. O aluno tem a responsabilidade de fazer a união entre a teoria e a prática

  • Radical: considera que o ensino deve ser uma atividade crítica, pautado na investigação da ação e na reflexão sobre a prática.

    No efervescente contexto sócio-cultural acima descrito, coincidente com um dos períodos mais férteis em relação à atividade física como disciplina escolar, como profissão e como ciência acadêmica, é lançada a Revista Brasileira de Ciências do Esporte - RBCE - no ano de 1979.

    Neste contexto a RBCE escreveu a sua história, bem como corroborou com a história da Educação Física. E como não poderia ser diferente, a criação de uma revista não é um ato isolado e representa sempre a manifestação pública de um grupo em busca de objetivos, explícitos ou não, e que neste caso podem ser citados: a demarcação de um conhecimento, de uma profissão e do processo de profissionalização como um todo.


Metodologia

    Do ponto de vista metodológico o presente trabalho situa-se dentro do enfoque da história das publicações, tendo no Repertório Analítico de CASPARD-KARYDIS et al (1981) a técnica para a coleta de dados e mapeamento da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). Cabe ressaltar que este periódico se tornou ao longo deste período uma das publicações mais importantes na área da Educação Física pelo seu papel como divulgador dos conhecimentos e das pesquisas na área da Educação Física. Dentro deste enfoque histórico optou-se por conhecer o seu ciclo de vida na forma de um repertório analítico e de explorar e aprofundar a questão da formação profissional, resgatando-se uma produção material que foi organizada nas seguintes categorias: a) curso; b) currículos e reformas curriculares; c) prática de ensino e estágio, d) regulamentação da profissão; e) pós-graduação. Esta categorização teve como objetivo uma análise mais aprofundada, esclarecendo-se que alguns textos tratavam de dois ou mais dos temas acima. No caso específico da categoria ou tema 'curso', foram incluídos os trabalhos que falavam de uma forma mais generalizada sobre a graduação em Educação Física, abordando aspectos como as avaliações dentro dos cursos e a interdisciplinaridade.


O trabalho de campo e os seus resultados

    O primeiro volume da RBCE foi publicado em setembro de 1979, sendo adotada uma periodicidade quadrimensal. O objetivo era divulgar as pesquisas científicas e ser porta-voz do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte -CBCE. Ele (o CBCE) "...procurará acima de tudo juntar forças, colaborar nas iniciativas e empunhar com denodo as bandeiras que se proponham a oferecer conclusões de ciência do esporte. Nada de credos políticos e religiosos, nada de favorecimentos, mas a ética em primeiro lugar. O CBCE poderá estudar a política do esporte sem fazer política no esporte" (RBCE, 1979, p.2).

    No âmbito deste processo a RBCE apresentou a seguinte organização e estruturação:

  1. A primeira diretoria da revista teve a seguinte composição:


  2. A entidade teve os seguintes presidentes ao longo dos anos:

    A revista mudou várias vezes de endereço:


Editoração

    Em relação ao formato editorial, a revista iniciou suas publicações mantendo de 30 a 40 páginas em média, no formato de periódico. Atualmente está em torno de 75 a 80 páginas. A menor edição teve 24 páginas (set/82). O primeiro número trouxe em sua maior parte os resumos do I Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. Em setembro de 2000 passa ao formato de livro, com 125 páginas. A tiragem da revista não é informada.

    Inicialmente a revista distribui os trabalhos publicados nas seguintes seções: editorial, artigo original, ponto de vista, resumo de dissertações e teses. Nos anos seguintes foram criadas outras seções como: carta ao editor e estandes, esta última trazendo resumos de livros.


Publicações da RBCE sobre formação profissional

    Em relação às publicações sobre a formação profissional a RBCE apresentou a seguinte seqüência ao longo das suas edições, conforme o quadro abaixo:

    No âmbito deste levantamento o primeiro trabalho abordando a questão da formação profissional ocorreu em 1983, tendo sido encontrados um total de 38 trabalhos até setembro 2000.


Reforma curricular

    O primeiro trabalho específico sobre a área de formação profissional foi publicado na seção "artigo de revisão".

    Em relação aos cursos de bacharelado e licenciatura, Resolução CFE 03/87, o primeiro trabalho foi publicado em 1987 - RBCE 8 (2 e 3) assinado por Aguinaldo GONÇALVES. O autor discute o mercado, a formação e a implementação do modelo de bacharel e licenciado, embora o objetivo específico do seu trabalho tenha sido os modelos de avaliação nas licenciaturas.

    O tema bacharel e licenciado é retomado em 1989 RBCE 11 (1) por Alfredo Gomes FARIA JUNIOR. O autor não aborda o assunto no enfoque do modelo curricular, mas na ótica da profissionalização.O autor questiona se há realmente profissionalização em Educação Física, tendo em vista que uma parte dos graduados não pratica esportes, não faz curso, não possui livro ou revistas e não é engajada com a profissão.

    A seguir, em 1990 - RBCE 11(2) Mariz de OLIVEIRA, apresenta o modelo curricular da USP e cita que na sua formulação não se visou o mercado, mas formar um profissional mais capacitado.

    Na mesma edição o autor João Batista Andretti Gomes TOJAL destaca como um dos temas relacionados à formação profissional a questão do licenciado e do bacharel, citando que "... através das licenciaturas, tem-se confinado este profissional ao mercado garantido por lei junto ao ensino de 1o e 2o graus e algumas incursões na área desportiva acadêmica (160)".

    Em 1993, RBCE 14 (2) Maria C. M. MOCKER critica o autoritarismo das reformas curriculares propiciadas pela Resolução CFE 03/87 "...resultando em propostas autocráticas, apesar de toda a efervescência em debates que a área vinha sofrendo nos últimos anos" (60).

    Em 1997, RBCE 19 (1), Vicente MOLINA NETO aponta as lacunas na formação a partir da Resolução CFE 03/87, quando cita: "O plano de estudos que, por força da Resolução 03/87 não o preparou melhor para trabalhar em escolas públicas..."

    Em 1998, RBCE 20 (1), a comissão de especialistas discute as novas diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Educação Física: justificativas: proposições- argumentações. Este texto é elaborado com base no Parecer 776/97. Os autores enfatizam a necessidade de alterações dos currículos embasados atualmente na Resolução CFE 03/87, adotando-se uma nova nomenclatura para os blocos de disciplinas e um novo modelo de formação.


O curso

    Conforme especificado na metodologia este ítem aborda aspectos como as metodologias de ensino e de avaliação nas graduações, a interdisciplinaridade e outros assuntos ligados ao curso.

    Em 1983, RBCE 4 (2), Eliana de Melo CARAN aborda a questão dos cursos de graduação, citando o grande crescimento: em 1969 havia 12 escolas e em 1983 já eram 92 escolas, permitindo a formação de recursos humanos para a área. Enfatiza a necessidade da pesquisa pedagógica para a formação profissional.

    Em 1984, RBCE 6 (1), 1984, Celi Neuza Z. TAFFAREL situa os modelos de avaliação dentro da taxionomia de Bloom, que caminha do conhecimento para a síntese. A autora questiona se os modelos implementados, em sua maioria nos níveis baixos da taxionomia, podem formar um profissional com ampla visão da sociedade.

    Em 1989, RBCE 10 (3), Iran Junqueira de CASTRO enfoca a questão do modelo de profissional pretendido e as necessidades de uma formação continuada ..."buscar constantemente a reciclagem, por considerá-la rica e criadora"... (36).

    Em 1990, RBCE 11 (2), Amauri Ap. B. de OLIVEIRA em análise crítica aos modelos de aulas práticas da Universidade Estadual de Maringá, cita que elas são em sua maioria, reprodutoras e passadas na forma de treinamento.

    No mesmo ano, RBCE 11 (3), João B. Andretti Gomes TOJAL afirma a necessidade da inclusão de disciplinas sobre a Educação Física Adaptada, lembrando a existência de um mercado em crescimento.

    Em 1993, RBCE 14 (3), Yara M. de CARVALHO cita que a pós-graduação em Educação Física no Brasil copia o modelo americano, com o objetivo de formação técnica para o progresso do país, e que a Educação Física seguiu o mesmo modelo. Por isto a autora pergunta a quem serve os programas oferecidos: ao interesse dos alunos, aos IES ou aos professores?

    Em 1994, RBCE 15 (2), Celi Zulke TAFFAREL, num estudo sobre os procedimentos pedagógicos no curso de Educação Física da UNICAMP, cita que o modelo utilizado aponta para a reprodução e manutenção das relações sociais. Ainda em 1994, RBCE 16 (1) Moyses SANTANNA e Erik Salum de GODOY focalizam a relação teoria prática nos cursos de Educação Física. Os autores abordaram os pontos: a conscientização do aluno, a forma de apresentação dos conteúdos e a prática supervisionada.

    Em 1995, RBCE 16 (2), Cláudio H. MIYAGIMA aborda os modelos de avaliação nas disciplinas práticas, apontando o modelo de avaliação formativa como uma solução para melhorar o nível de aproveitamento dos graduandos e também permite a participação do avaliado

    No mesmo ano, RBCE 16 (3), Amauri Aparecido Bássoli de OLIVEIRA reafirma as mudanças propiciadas pelo Resolução CFE 03/87 na Educação Física. O autor cita dificuldades na preparação para as novas perspectivas e necessidades de Educação Física escolar. Entre estas dificuldades cita: a estrutura burocrática das universidades, o sentimentalismo comum entre nós (pessoalidade) e a falta de interdisciplinaridade nos cursos.

    Em 1996, RBCE 17 (2), Alfredo José de VEIGA NETO aborda o caráter interdisciplinar como uma "terapêutica" para superar a desfragmentação dos modelos curriculares.

    Em 1998, RBCE 20 (1), Hugo LOVISOLO, faz um estudo comparativo sobre os cursos superiores entre Brasil, México e Argentina. O autor cita que as nossas faculdades são multi-câmpus e bem menores quando comparadas com as grandes universidades daqueles países. Afirma ainda que as nossas universidades precisam efetuar novas pesquisas, descobrir novos materiais e técnicas, não havendo nenhum mal se virarem patentes. Por fim, o autor considera que a Educação Física tem um importante papel no sentido de transformar a escola num lugar mais agradável para os alunos.


Prática de ensino e os estágios

    No ano de 1982, RBCE 3 (3), FARIA JUNIOR apresenta um estudo sobre os estilos dos alunos mestres durante o estágio supervisionado, concluindo que há a predominância da diretividade, comandos e demonstrações, havendo poucas oportunidades de intervenções no processo de ensino/aprendizagem por parte dos alunos.

    Em 1989, RBCE 10 (2), Carlos Luiz CARDOSO propõe uma nova concepção de estágio supervisionado, fundamentando todas as suas fases nos seus aspectos sociais, buscando conhecer os problemas atuais do processo pedagógico.


Pós-Graduação

    Em 1990, RBCE 11 (2,) Markus Vinícius NAHAS faz uma análise histórica e crítica em relação aos cursos de pós-graduação em Educação Física no Brasil, lembrando uma certa desordenação e rapidez da implantação destes cursos. Entre outros pontos sugere a existência de um banco integrado de teses, maior número de publicações e uma melhor definição das linhas de pesquisa.

    Na mesma edição, Rosana Valéria de Souza e SILVA investigando as dissertações de mestrado produzidas até 1987 na USP, UFRJ e UFSM afirma que os procedimentos dominantes são: quantificação/ matematização/estatística e descontextualização dos fenômenos. Como sugestões indicou: a) ampliação da formação do pesquisador em relação aos fundamentos teóricos-filosóficos e etnológicos da pesquisa; b) compreender a ciência em suas dimensões históricas, econômico-político-sociais. Ainda nesta edição, Marcus Vinícius NAHAS faz uma retrospectiva história sobre as pós-graduações em Educação Física. Aponta algumas dificuldades da área como o quadro de indefinição, teses replicadas e a dificuldade para as consultas em línguas estrangeiras. Como alternativas sugere que haja melhores condições materiais e de instrumentos, lembrando, no entanto, que além disto há a necessidade de orientação e prática de pesquisas.

    Em 1993, RBCE 14 (3), Jefferson T. CANFIELD enfoca a denominação Educação Física ou Esporte, não abrangente para toda a área que o curso da UFSM oferece. Propõe o termo Ciência da Motricidade Humana. Cita que num curto prazo o corpo de conhecimento vem das ciências mães, mas em longo prazo ele deve ser gerado a partir dos problemas profissionais.

    Em 1994, RBCE 15 (2), Mariângela da Rosa AFONSO, apresenta um estudo descritivo sobre a opinião dos pós-graduandos em relação à qualidade do curso da Universidade Gama Filho- RJ, constatando que as opiniões negativas prevaleceram sobre os pontos positivos.


A regulamentação da profissão

    Em 1996, RBCE 17 (3), Alfredo Gomes de FARIA JUNIOR e outros, referindo-se ao ´velho problema da regulamentação´, refaz as concepções sobre a profissão e a ocupação e lança dúvidas sobre a importância social da Educação Física. Argumenta que o projeto de regulamentação ignora o processo histórico de construção de uma profissão.

    No mesmo ano, RBCE 18 (1), Marcelo Guina FERREIRA, cita que a regulamentação da profissão surgiu como uma necessidade de controlar o espaço de trabalho, ferindo o direito de igualdade, tornando-se incompatível com a idéia de classe trabalhadora. O autor afirma que a regulamentação centrada apenas no mercado, despolitiza o debate sobre a Educação Física na sociedade.

    Nesta mesma linha de pensamento, em 1998, RBCE 20 (1), Lino CASTELLANI FILHO, enumera algumas contradições sobre a regulamentação da profissão como: servir ao interesse corporativista; regulamento do conselho formado sem discussão e composto por donos de academias e universidades particulares e assinala-se também que a lei não define as relações econômicas.

    Em 1998, RBCE 19 (3), José STEINHILBER, Sérgio Kudsi SARTORI e Maria T. Pereira e SILVA afirmam que o reconhecimento dos profissionais da Educação Física foi um processo histórico cheio de altos e baixos. Os autores citam que a regulamentação constitui-se num passo importante para os profissionais. Por outro lado, alertam para o perigo dos ´cursos profissionalizantes´ para a área, contemplados pela nova LDB.

    Vindo ao encontro destas idéias, em 1999, RBCE.20 (2 e 3), Hajime Takeuchi NOZAKI, ressalta a importância dos conselhos, mas, alerta para o fato que eles são formados na ótica neoliberal e individualista. Afirma também que não há garantias em relação ao mercado de trabalho e que o objetivo principal não deve ser a "caça as bruxas".


Conclusões

    Em relação aos temas ligados à formação profissional a Revista Brasileira de Ciências do Esporte apresentou apenas oito trabalhos nos dez primeiros anos (1979-1988). Um dos fatores que podem ter contribuído para este dado é a presença de artigos publicados, em sua grande maioria, nas áreas de conhecimento do ser humano (biológicas), principalmente nos cinco primeiros anos da revista.

    Na soma total dos artigos, a revista não apresenta um grande volume de publicações em suas edições quadrimensais (38 artigos de um total de 423, excluídos os congressos). Entretanto os artigos têm uma grande importância, quer pelas suas próprias características internas, quer pelo momento histórico de suas publicações.

    Nesta linha de pensamento, pode-se destacar que um dos períodos em que a temática da formação profissional foi mais abordada situa-se entre os anos de 1987 a 1989, quando foram publicados 13 trabalhos. Este momento coincide com um rico debate centrado na reforma curricular propiciada pela Resolução 03/87 e seus reflexos na graduação e pós-graduação. Recentemente, entre 1996 e 2000, a questão da regulamentação da profissão foi o tema mais abordado na revista (em relação aos temas ligados à profissão). Desta forma, pode-se dizer que a revista tem sido um importante mecanismo no debate e na construção dos conhecimentos relacionados especificamente à formação profissional. Sobre esta produção de conhecimentos, à luz dos textos, há a prevalescência de uma análise mais crítica em relação aos vários temas abordados na revista. Para embasar esta afirmação podemos citar os seguintes pontos:

  1. O tema da regulamentação da profissão entre os cinco artigos que o abordaram, quatro podem ser considerados críticos, uma vez que apresenta fortes questionamentos sobre a forma como foi implementada a regulamentação e até mesmo sobre a sua necessidade.

  2. No que se refere ao currículo e as reformas curriculares, principalmente entre 1987 e 1990, a maioria dos autores assumiu uma posição no mínimo de desconfiança em relação às soluções propostas a partir da Resolução 03/87. Com o passar dos anos as críticas ao modelo foram se acentuando e a partir do Parecer 776/97, o grupo de especialistas propõe um novo modelo curricular.

  3. Em relação aos temas currículo (de graduação) e pós-graduação, há uma crítica aos modelos que se tornam reféns do mercado e aos interesses de uma classe social. Nesta linha de pensamento defendida pela maioria dos autores de artigos na revista, alguns destes especialistas defendem um curso que propicie uma sólida formação geral, sem priorizar o imediatismo mercadológico. Um outro grupo vai além e compreende a graduação e a pós-graduação como uma oportunidade para formar um cidadão crítico e com visão ampla.

  4. Sobre a categoria "Prática de Ensino e Estágio" apenas dois trabalhos foram publicado sobre o assunto.

    No geral, a revista não deixou de abrir o seu espaço para as chamadas concepções mais conservadoras, de forma a encontrar o seu perfil exatamente na pluralidade das idéias. Ao contrário do proposto pelos seus pioneiros "...Nada de credos políticos e religiosos, nada de favorecimentos, mas a ética em primeiro lugar. O CBCE poderá estudar a política do esporte sem fazer política no esporte" RBCE (1979: 2), a revista fez a sua política, simplesmente por ser um importante meio de comunicação entre os profissionais da Educação Física.


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revista digital · Año 11 · N° 103 | Buenos Aires, Diciembre 2006  
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