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Introdução

    Sob diversos argumentos, idéias acerca da existência de uma espécie de "DNA global" começam a ser debatidas, desencadeando novos olhares na compreensão dos fenômenos sociais presentes na cotidianidade da vida contemporânea.

    Numa destas vertentes sobre estas idéias, uma analogia de discussão sustenta a tese de que este "DNA" seria o responsável por uma identidade global, de dimensões planetárias, sendo um legado geneticamente modificado, por mutações ao longo da história da evolução humana, no que concerne às suas formas de organização e regulação sociais.

    Diferentemente de um modismo ou tendência, cujos processos de início, auge e finalização são bem delineados, nesta analogia, pretende-se demonstrar a imbricada rede de fatores e variáveis que permeiam a condição de ser/estar planetário, inserido numa era globalizante, a qual, apesar de conferir identidade deste porte ao ser humano, não dá conta de realçar sua individualidade, regionalidade, sutileza, singularidade na pluralidade, requisitando em todas as suas esferas de inserção, criticidade e criatividade como diferenciais na era dos bens imateriais (DE MASI, 2000). O âmbito do lazer, como uma destas esferas, cada vez mais legitimado como promotor qualitativo da vida humana, não foge a esta regra.

    A respeito de tal criticidade e criatividade transformadoras, De Gáspari e Schwartz (2002) aludem que, por meio destas, o ser humano pode vislumbrar possibilidades de escapar da homogeneização inerente à mercantilização das opções de lazer disponíveis no mercado; da rotulação, do embotamento de seu corpo expressivo, comunicativo, criativo e ávido por experiências sensíveis e inovadoras. Expõem, ainda, estas pesquisadoras do lazer, que ele busca, nas vivências alternativas e também significativas deste âmbito, escapar das mazelas sociais que podem consumi-lo, driblar a mesmice, a rotina, os padrões de conduta socialmente esperados, resgatando sua livre escolha, sua espontaneidade, seu prazer e seu elemento lúdico.

    Consta-se, então, que, neste panorama, a luz que se delineia na perspectiva de mudanças axiológicas reside no poder dialético da própria (transform)ação. Dito de outro modo, da mesma forma com que as contínuas e profundas mudanças desencadeadas na conjuntura macro reverberam no panorama micro, quaisquer alterações significativas, promovidas na localidade, repercutem na globalidade, o que exige do ser humano, portador de identidades pessoal e profissional, níveis cada vez mais aguçados de flexibilidade no manejo e superação destas múltiplas e cotidianas tensões.

    Estas "múltiplas tensões", focalizadas por Delors (2003, p. 45), ao discutir o "local" e o "global" nas diferentes faces da interdependência planetária, conjugam uma crescente conscientização das diferenças existentes no mundo a um mal-estar que emana da ausência de visão do futuro.

    Neste sentido, (re)construir visões de futuro a partir do cotidiano, pode ser a saída estratégica para o ser humano lidar com as inúmeras desigualdades estampadas e exploradas politicamente pela mídia e comunicação de massa e que, frequentemente, confundem-no diante da complexidade do mundo, levam-no à perplexidade e ao inevitável redimensionamento de suas referências habituais, inclusive, aquelas relacionadas ao preenchimento qualitativo de seu "tempo disponível" (MARCELLINO, 2002).

    Diante desta perplexidade, esse redimensionamento, permeado por sentimentos de vulnerabilidade e impotência, pode conduzi-lo a duplo caminho, sendo um marcado por mecanismos de resistência e o outro, por pura acomodação, autoproteção, autodefesa, levando ao isolamento, à individualização, à competição, entre outras condutas e atitudes, cuja positividade ou negatividade ficam ao sabor da relatividade do contexto nas quais são exteriorizadas. Abalado por ver, assim, postas em causa as bases da sua existência, o homem contemporâneo corre o risco de encarar como ameaças as evoluções que se operam além das fronteiras do seu grupo imediato e de, paradoxalmente, ser tentado, por um sentimento ilusório de segurança, a fechar-se sobre si mesmo, com a eventual conseqüência de rejeição do outro. (DELORS, 2003, p. 46)

    Se visualizado sob a ótica de que é no "tu" que a identidade do "eu" se constitui (MORIN, 1980), este cenário amplia sua magnitude e dimensão.

    Este pensamento segue na mesma linha do construto teórico de mais de uma década posterior assinado por Gardner (1995 apud DE GÁSPARI; SCHWARTZ, 2002). Segundo este pesquisador americano, é no "senso de eu" que ocorre a fusão dos componentes intra e interpessoais, o qual além de simbolizar a globalidade das informações sobre a pessoa, funciona como uma construção criativa que o homem faz de si para si mesmo.

    Enfatiza-se, então, a existência de uma dificuldade que desafia a todos, no sentido de ultrapassar tais tensões cotidianas que afetam as múltiplas esferas de inserção humana, requisitando a compreensão dos fenômenos, o domínio das incertezas (MORIN, 2002), a compreensão do mundo e do outro, como condição para a compreensão de si mesmo.

    Este é, sem dúvida, um dos importantes papéis da Educação neste limiar de milênio e que conclama todos os seus profissionais e, entre estes os da área da Motricidade Humana, que têm na atividade física, desenvolvida inclusive no contexto do lazer, ricas possibilidades locais de atuação e intervenção competente, capazes de catalisar seus reflexos na globalidade da vida humana, em suas dimensões planetárias.

O local no global

    Tomando o ser humano como sujeito ativo e reflexivo de sua educação permanente, vale a pena indagar a todos os profissionais que lidam com a atividade física como um dos conteúdos culturais do lazer (DUMAZEDIER,1980; CAMARGO, 1998; SCHWARTZ, 2003), como se interpenetram as questões da localidade, globalidade e do lazer no cotidiano da Educação Física.

    Para responder a esta indagação este trabalho socializa, dá voz e vez às vivências com identidade local, e, para esta finalidade, expõe a seguir, uma delas.

    Este estudo, realizado na localidade de Araras/SP., vem demonstrar que parte de seu segmento populacional exterioriza condutas diante do quadro exposto e, numa atitude positiva de resistência às opções do lazer com caráter funcionalista (romântica, compensatória e utilitarista) como defende Marcellino (2002), transformam a prática regular da atividade física em um estilo de vida, associado aos seus patamares qualitativos.

    Vale enfatizar que a questão da qualidade de vida (NAHAS, 2001), permeando, inclusive, os aspectos psicológicos do lazer na sociedade contemporânea, evidencia fatores que têm íntima ligação com as necessidades radicais ou essenciais do ser humano, para além de seu bem-estar físico, abarcando, portanto, esferas mais subjetivas de suas condutas cotidianas.

    Sendo assim, tomou-se como elemento norteador a investigação do significado da prática do ciclismo urbano, no cotidiano local das atividades físicas do âmbito do lazer, da cidade de Araras, SP.

Método

    Este estudo qualitativo, adequado ao entendimento do dinamismo social do qual emergem os fenômenos sociais (RICHARDSON, 1989; THIOLLENT, 1992), constou de revisão de literatura, visando elucidar determinado problema de pesquisa dentro de um quadro de referência teórica, associado a uma pesquisa exploratória, desenvolvida por meio de uma entrevista estruturada, aplicada a praticantes de ciclismo com conotação de atividade física cotidiana, sem um caráter desportivo, e sim, de usufruto no tempo disponível.

    Fez parte do estudo uma amostra aleatória composta por 50 indivíduos da cidade de Araras, do sexo masculino, com idades e tempos de prática variados, os quais, de maneira habitual, participam, por opção própria, de atividades ciclísticas durante a semana e que se dispuseram participar livremente do estudo.

    Primeiramente, os sujeitos foram consultados sobre a possibilidade de participação e, após a anuência dos mesmos, foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido, assinado pelos participantes, no qual se garantia o anonimato e a utilização dos dados apenas no âmbito acadêmico, para posterior publicação do estudo.

    A entrevista desenvolveu-se individualmente, logo após a prática, tendo sido gravada para posterior análise.

    Os dados foram analisados, descritivamente, por meio da Técnica de Análise de Conteúdo Temático (BARDIN, 1977), um conjunto de técnicas que possibilita analisar as comunicações, levantar indicadores quantitativos ou não, que favoreçam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção de mensagens e, portanto, adequado a desvelar subjetividades dos fenômenos sociais.

Resultados e discussão

    A população eleita para este estudo caracterizou-se por pessoas do sexo masculino, todos residentes em Araras/SP, com formação universitária nos níveis de especialização (15%), graduação completa (57%) e incompleta (28%), de diferentes ocupações profissionais (economistas, publicitários, empresários, comerciantes, artistas plásticos, administradores, comunicadores, entre outras), na faixa etária dos 25 a 35 anos, praticantes regulares de atividades físicas há mais de dois anos, numa média de duas vezes semanais.

    A inexistência da figura feminina neste grupo investigado, longe de configurar discriminação de gênero, como apontada em outros estudos referentes especificamente à prática de atividades de aventura na natureza, nos estudos de Schwartz e Silva (1999), justifica-se pela história de sua constituição e manutenção, na qual, os laços afetivos, cultuados desde a infância de significativo número destes membros, constituem-se no principal ingrediente da formação do grupo e, também, como oportunidade crescente para o estreitamento de vínculos por meio dos (re)encontros freqüentes que promovem para além da mera atividade, o que se deu, particularmente entre os homens participantes.

    Talvez, ou justamente, por influência deste fator de coesão, pedalar ao vento dos espaços públicos de lazer constitui-se, depois da caminhada, dado este obtido e divulgado em outro estudo de De Gáspari e Schwartz (2005), a segunda atividade física que aglutina maior número de elementos ararenses, simultaneamente, duas vezes por semana, contribuindo, desta forma, para a revitalização dos espaços urbanos locais.

    Além destes motivos afetivos de aderência e manutenção ao ciclismo, o que corrobora com outro estudo de Schwartz e De Gáspari (2002), os registros revelam outros aspectos subjetivos associados ao prazer, auto-estima positiva, satisfação pessoal, respeito, bem-estar consigo mesmo, tolerância, cooperação, co-responsabilidade pelo coletivo, liberdade, entre outros sentimentos e emoções que permeiam esta atividade física e reverberam no enredo psicológico de seus adeptos.

    Outro dado desvelado pelo tipo de pesquisa de campo, segundo Patton (1990), exalta fatores de coesão e manutenção há mais de dois anos, sendo que a "transpiração" para além do local, do físico e do intrapessoal, inspira e energiza o grupo como um todo, porque tem significativas implicações nas relações interpessoais, ambas tomadas sob a perspectiva do desenvolvimento humano multiplamente facetado.

    Neste estudo, o qual trabalhou com as hipóteses de aprimoramento pessoal e social do ser humano por meio das vivências significativas no âmbito do lazer, como enfatiza Marcellino (2002), as inteligências interpessoal e intrapessoal, referiram-se, respectivamente, à capacidade de compreender o que motiva e como as pessoas trabalham, de modo a facilitar o trabalho com elas e à capacidade de formar um modelo acurado e verídico sobre si mesmo, utilizando-o para operar efetivamente na vida.

    Ambas as inteligências, intra e interpessoal, bem desenvolvidas nos estudos de Gardner (1995), como duas formas significativas das capacidades pessoais, também motivaram outros registros, os quais, analisados descritivamente, explicitam curiosidades aos olhos dos profissionais da Educação Física envolvidos, cotidianamente, com práticas físicas, na gama do lazer.

    Curiosamente, parte dos amostrados (58%) explicitou a existência de uma permanente liderança natural na turma e que remonta às origens do grupo, sendo que, para outra parte (25%), a liderança oscila, inclusive, entre os elementos recém-engajados à prática e, para o restante (17%), sendo considerada rotativa, possibilita que, ao vivenciá-la, enriqueçam seu repertório de experiências sensíveis concernentes ao desenvolvimento de suas múltiplas potencialidades.

    Estes argumentos avalizam as idéias de Gardner (1994, 1995, 2000) acerca das inteligências múltiplas e as maneiras de desenvolvimento das mesmas.

   Indagados a respeito dos atributos do líder, os praticantes da atividade física aqui focalizada, pontuaram diversas características, chamando a atenção para aquelas competências associadas à empatia, comunicação, cooperação; ao reconhecimento da emoção do outro, com a percepção de contrastes de estados de ânimo, motivações e interesses, à critica de atitudes alheias sem confundir a pessoa do praticante com a conduta praticada, ao nomear suas próprias emoções; ao incentivar a procura de alternativas para a solução dos problemas sem impor as próprias idéias e à identificação das intenções, simulações e desejos alheios mesmo quando não explicitados ou subliminares do enredo psicológico dos liderados.

    Estes dados reiteram o argumento de que se a liderança emana naturalmente, a tendência é que ela permaneça por maior tempo, comparativamente ao fato de que, se imposta, com a cessação das forças coercitivas esvai-se rapidamente, sem deixar marcas próprias.

    Além dos aspectos da liderança, também ficou explicitada a preferência pela prática no coletivo porque, além de mais motivadora, animada e segura, incrementa as relações interpessoais e o contato saudável com a natureza e com o meio ambiente.

    Pedalar, como uma concepção de um estilo de vida saudável (47%), como algo essencial (35%) e inexplicável (8%), permite aos seus adeptos viver intensamente o mundo e, sentir-se parte integrante e ativa deste, não é suficiente para boa parte deles.

    Vislumbrando a intensificação destes e outros aspectos psicológicos abordados por Schwartz (2004), nos outros dias da semana os participantes buscam, junto a outras "tribos", novas modalidades de atividades físicas na gama de opções dos conteúdos culturais do lazer. Dentre elas destacam-se o futebol (30%), a natação (25%), musculação (15%), tênis (5%), basquete ( 2% ), vôlei( 2%) e vôo livre ( 1% ) e outras.

     O termo "tribo", utilizado por Maffesoli (1987) adequa-se aos aspectos subjetivos explícitos e subliminares dos dados coletados, que remetem à argumentação que faz sobre o agrupamento humano pautado em afinidades de diversas naturezas, reafirmando o valor da atividade física como elemento agregador.

    A análise dos dados de natureza mais objetiva revela, nos dois dias da semana, o percurso e a velocidade média do grupo, em torno de oitenta quilômetros/dia e de trinta e quarenta km/h., com preferência pelos finais do período vespertino (58%) e no início do noturno (42%), por áreas urbanas seguras, em função das preocupações voltadas à integridade física, tanto concernente aos equipamentos, como às possibilidades de assaltos e/ou furtos. Neste aspecto, o espírito coletivo ficou, também, evidenciado pela postura cuidadosa de verificação antecipada à saída dos itens básicos de segurança (60%) e de revisão como prática sistemática (40%).

    Estes elementos voltados à segurança, ilustram os contra-sensos apontados por Schwartz (in BURGOS; PINTO, 2002), quando, em seu estudo sobre a dinâmica metafórica dos novos estilos do lazer contemporâneo, esta autora salienta a busca quase paranóica por segurança no cotidiano ao lado da crescente demanda pela exposição ao risco nas práticas de atividades de aventura na natureza.

    Os níveis de conscientização decorrentes do confronto dos limites pessoais associados à expansão da personalidade (MAY,1982) concernentes ao exercício da cidadania foram evidenciados por 92% dos entrevistados, apontando que os momentos de pico de circulação de motoristas e pedestres, nos quais eles ficam expostos ao perigo, são evitados, a fim de não se causar qualquer tipo de dano à integridade física dos usuários do local.

    Outros aspectos significativos versam sobre o respeito e conservação para com o patrimônio público e seus equipamentos de lazer, conforme apontado por 85% dos usuários e para com o meio ambiente e a natureza, para 75% dos entrevistados, exaltados por meio da crescente disseminação das políticas públicas locais de lazer.

    Sem minimizar ou reduzir a importância dos demais dados desvelados neste estudo, a ênfase posta pelos participantes nas questões associadas à diluição das barreiras pessoais que tais vivências no âmbito do lazer oportunizam e ecoam na qualidade dos relacionamentos interpessoais, faz com que estas subjetividades mereçam destaque no conjunto das implicações desveladas no cotidiano da atividade física na realidade ararense.

    Barreira, como sugere o termo, desenvolve a representação imaginária de remoção, de transposição. Diluir barreiras, então, significa criar mecanismos tais, para que esta transposição se dê de tal modo a não deixar seqüelas ou resquícios nos âmbitos biopsíquicos e socioculturais naquele que se (pre)dispõe, por meio de condutas estratégicas positivas, a rompê-las, redimensionando os limites de seu próprio enredo psicológico.

    Tal transposição foi sinalizada por 68% dos ciclistas amostrados, alegando terem exercido algum tipo de influência sobre novas adesões ao grupo. Os participantes alegaram, ainda, que este tipo de prática fomenta a troca de experiências, a comunicabilidade e sociabilidade, o entrosamento entre experientes e novatos, fundamentadas na diluição das barreiras pessoais, cujos efeitos benéficos na vida pessoal reverberam na profissional, por se sentirem mais aptos a lidar e estar com o outro.

    Ao lado desta parcela que defende ter sentido mudanças positivas em seu cotidiano, uma outra, como 20% dos entrevistados assinalaram, registra dados no sentido da não percepção de alterações substanciais, sustentadas por um jeito de ser que já privilegiava a convivência. O restante da amostra (12%) deixou de responder a esta questão.

    As questões referentes às ressonâncias das emoções vivenciadas nas atividades do contexto do lazer no âmbito do trabalho e da vida, também foram evidenciadas nos estudos de Machado (2004), quando esta pesquisadora, a partir da experiência com as atividades de aventura na natureza, identificou a reverberação das condutas grupais e de liderança, no ambiente do trabalho.

Considerações finais

    Diante dos desafios expressos nas inúmeras interrogações presentes na atualidade e da expectativa positiva, de fazer avançar a área da Motricidade Humana, com recorte nas atividades físicas desenvolvidas no contexto do lazer, torna-se imperativo retomar o objetivo central deste estudo, perspectivando dar visibilidade à algumas das implicações desveladas na prática do ciclismo no cotidiano local da cidade de Araras/SP.

    A constatação de mudanças axiológicas, desencadeadas a partir da diluição de obstáculos pessoais, remetem à qualidade dos relacionamentos interpessoais cotidianamente estabelecidos e, muitas vezes, relegados a planos secundários no conjunto das variáveis adotadas nos estudos arrolados em âmbito acadêmico.

    Estranhar o óbvio que permeia a cotidianidade das atividades físicas humanas pode dar pistas significativas para a compreensão dos fenômenos que perpassam a intervenção transformadora dos profissionais, cuja matéria prima reside no movimento humano e na complexidade do ser humano em movimento, inclusive, durante as opções que faz na gama dos conteúdos culturais do lazer.

    Da mesma forma com que as alterações atitudinais dos ciclistas contribuíram para saltar, qualitativamente, das práticas esporádicas para as regulares incorporadas ao seu estilo de vida, a predisposição para olhar aguçadamente as experiências locais com alcance global podem, estrategicamente, imprimir em sua atuação profissional marcas inusitadas.

    Ao mobilizar a recuperação de valores e atitudes em determinados segmentos constitutivos de um todo mais abrangente, ele fomenta, a curto, médio e longo prazos, repercussões axiológicas na sociedade como todo. Diante do exposto, é possível inferir que os profissionais da Educação Física podem e devem contribuir para a elevação dos níveis de consciência cidadã e ecológica dos adeptos regulares da atividade física carecendo, antes, incorporarem em si mesmos estas predisposições atitudinais, asseverando seu importante papel para além dos muros escolares, implementando as ações, inclusive no contexto do lazer, o que, por sua vez, tem ressonâncias na vida, no ambiente local e, conseqüentemente, interfere no global.

    Para além da vivência cotidiana e local explicitada, torna-se premente intensificar os diálogos multi e transdisciplinar nas áreas afins, atentando para todos os aspectos intrínsecos e extrínsecos que permeiam o enredo psicológico dos praticantes das incontáveis modalidades e vivências de atividades físicas.

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