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Saúde na Educação Física: hegemonia e contra
hegemonia no "GTT Atividade Física e Saúde" do
CBCE - Período de 1997 a 2003

   
*Professor na Faculdade Unirg - TO.
**Professor Adjunto da Faculdade de Educação
Física da Universidade de Brasília.
(Brasil)
 
 
Prof. Ms. Ricardo Lira de Rezende Neves*
lirino@ibest.com.br  
Prof. Dr. Alfredo Feres Neto**
alfredo.feres@gmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     Este estudo teve como objetivo analisar a correlação de forças presentes na área da Educação Física brasileira, com referência à produção do conhecimento sobre Atividade Física e Saúde no Grupo de Trabalho Temático (GTT) "Atividade Física e Saúde" dos Congressos Brasileiros de Ciências do Esporte realizados de 1997 a 2003. Para tanto, a base do referencial teórico partiu das questões da hegemonia em Gramsci e outras categorias que a compõem. Na metodologia foi privilegiada a Análise de conteúdo das produções e das entrevistas com os coordenadores deste GTT. A análise das estruturas internas dos textos das pesquisas demonstrou que as abordagens se apresentam assim distribuídas: empírico-analítica (67,10 %), fenomenológico-hermenêutica (9,21%), crítico-dialética (9,21%) e outras (14,47%). Na análise lógica das pesquisas conclui-se que o primeiro grupo denominado empírico-analítico tem predominado na produção científica do GTT 01 do CBCE. Aparecem como incipientes na área as pesquisas com abordagens fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética, o que demonstra uma progressiva abertura das opções de pesquisas e acende a possibilidade do confronto positivo entre elas e uma possível qualificação dos pesquisadores e da pesquisa em atividade física e saúde. Quanto à análise histórica constata-se que na atual conjuntura o CBCE e o GTT Atividade Física e Saúde precisam ampliar os espaços para o estudo aprofundado da produção, veiculação e sistematização dos conhecimentos neles produzidos.
    Unitermos: Educação Física. Produção do conhecimento. Atividade Física e Saúde.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 102 - Noviembre de 2006

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Dissertação apresentada pelo Prof. Ms. Ricardo Lira Neves
ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação
Física da Universidade Católica de Brasília, como requisito
para a obtenção do titulo de Mestre em Educação Física,
sob a orientação do Prof. Dr. Alfredo Feres Neto

Introdução

    As pesquisas realizadas no Brasil na área da Educação Física tiveram o seu início, seguindo o modelo das ciências naturais, ou seja, de cunho positivista, valorizando a fisiologia, a biomecânica e o treinamento desportivo (CARLAN, 1997).

    A partir das décadas de 80 e 90 que há uma análise mais crítica da produção científica na área, sinalizando para mudanças mais significativas na tentativa de aproximar das ciências humanas e sociais. A partir desse período é possível observar várias iniciativas que evidenciam preocupações mais evidentes com essa questão. O professor BRACHT (1995), apoiado nos trabalhos de PAIVA (1994), indica que os estudos com preocupações mais acentuadamente epistemológicas são mais recentes e, para o caso do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), esta discussão ganha espaço no final dos anos 80 e início da década de 90.

    Analisando a história do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte e os trabalhos publicados no seu periódico, PAIVA (1994) identificou três fases diferenciáveis quanto ao entendimento de Ciência: 1) de 1978/1985, período em que a ciência e a prática científica são neutras e "possuem" a verdade. Fazer ciência é medir e comparar dados; 2) de 1985/1989, em que a ciência e a prática científica são instâncias ideológicas e devem trabalhar para a "transformação social". Fazer ciência é analisar e teorizar um dado fenômeno de forma a possibilitar uma interferência no mesmo, visando conservá-lo ou transformá-lo; 3) de 1989/1993, fase na qual a ciência deve discutir na sua dimensão epistemológica a sua dimensão ideológica. Fazer ciência é analisar e teorizar um dado fenômeno buscando instrumentalizar uma possível e necessária intervenção no real.

    Dando seqüência nos seus estudos SILVA (1997) ao analisar as dissertações desenvolvidas nos cursos de Mestrado em Educação Física e Esportes da USP, UFSM, UFRJ, Unicamp, UFRGS e UFMG, durante o período de 1988 a 1994, levando em consideração suas inter-relações com os determinantes sócio-econômico-políticos, concluiu que a vertente empírico-analítica (66,22%) ainda é dominante na produção científica dos mestrados da área de Educação Física e Esportes, tanto nos programas de pós-graduação mais antigos quanto nos mais recentes. Entretanto, considera que existe uma tendência de reorientação epistemológico-metodológica na produção científica da área, mas que é ainda muito "tênue".

    Vários são os enfoques dados nas produções científicas na área da Educação Física, mas como estariam estas produções especificamente quando se fala em epistemologia da pesquisa em atividade física e saúde, foco central desse trabalho?

    Autores como PALMA (2001), FARIA JUNIOR (2000), DELLA FONTE & LOUREIRO (1997), CARVALHO (2001), entre outros, recentemente têm re-avaliado os conceitos e as concepções sobre as relações entre atividade física e saúde, procurando enfocá-las considerando a multidimensionalidade deste tema.

    Estas produções ponderam que nossa sociedade é marcada por diferenças inequívocas de acesso à alimentação, atendimento médico, educação, espaços para a prática de atividade física, entre outros. E sendo assim, está condicionada por interesses políticos e econômicos que fazem com que existam contradições estruturais que limitam as oportunidades dos diferentes grupos sociais em participar de programas que envolvam atividades físicas.

    PALMA (2001) revela que o tratamento dispensado a essa questão quase restringiu-se ao paradigma "biológico". As conseqüências desta forma de ver o assunto, segundo ele, são quatro: a) generaliza ao definir que quem está doente não pode ser sadio; b) a doença pode ser evitada de modo determinista-biológico; c) a doença pode ser evitada pelo próprio indivíduo; d) falta de atenção ao contexto sócio-econômico (p. 29).

    Na tentativa de superar a superficialidade das abordagens biológica e psicológica, DELLA FONTE & LOUREIRO (1997), após ampliá-las e contextualizá-las na rede de relações sociais que compõe a totalidade social, apresentam um novo conceito:

"Nessa perspectiva, a saúde expressa o arranjo de relações sociais que o homem estabelece com o meio natural (meio natural externo - a natureza - e meio natural interno - o próprio organismo humano) e com o meio social (relações dos homens entre si)" (DELLA FONTE & LOUREIRO, 1997, p. 131).

    Sendo assim, pode-se inferir que as concepções de educação física e saúde carregam em seu interior marcas e máscaras que as caracterizam segundo determinada visão de homem, mundo e sociedade. Por isso, seus respectivos autores defendem projetos de vida e de sociedade diferenciados implícita ou explicitamente. E assim, contribuem consciente ou inconscientemente para a permanência da hegemonia, ou para a construção de uma contra-hegemonia nesta área do conhecimento.

    É a partir do contexto anteriormente levantado na delimitação da problemática que surgiram as seguintes questões de pesquisa: Quais abordagens metodológicas são utilizadas nas pesquisas apresentadas no Grupo de Trabalho Temático (GTT 01) Atividade Física e Saúde nos Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACEs)? Em nível epistemológico quais as concepções/noções de Ciência, Saúde, Corpo, Movimento, Qualidade de Vida, Educação Física/Esporte, implícitas ou explicitas nas pesquisas? Quais as características da criação e do desenvolvimento do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte e do GTT "Atividade Física e Saúde" e sua influência na determinação das diferentes tendências e perspectivas da pesquisa sobre atividade física e saúde?

    Sendo assim, essa pesquisa teve como objetivo: Analisar a correlação de forças presente na área da Educação Física brasileira com referência aos discursos sobre a relação Atividade Física e saúde, explicitando as tendências epistemológicas a partir das abordagens metodológicas utilizadas nas produções científicas que foram apresentadas no Grupo de Trabalhos Temáticos (GTT 01) "Atividade Física e Saúde", dentro dos Congressos Brasileiros de Ciências do Esporte realizados de 1997 a 2003.


Metodologia

    Esta pesquisa é de natureza quantitativa e qualitativa (ALVES-MAZZOTTI & GEWANDSZNAJDER,1999). Toma-se como objeto de análise a produção do conhecimento sobre a relação atividade física e saúde, presentes no GTT Atividade Física e Saúde do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Ao analisar as produções científicas presentes na área, pretendeu-se contribuir para tornar claro que existem ações teóricas e práticas que visam reestruturar a produção científica da educação física brasileira. As mesmas possuem um caráter gerador de orientações direcionadas para as políticas públicas de atividade física e saúde. Privilegiou-se a abordagem qualitativa com estudo descritivo (análise documental) e pesquisa bibliográfica sob dois enfoques: o primeiro com a característica de permitir um melhor delineamento do objeto da investigação; e o segundo a pesquisa que se desenvolve a partir de fontes bibliográficas (artigos científicos).


Sujeitos entrevistados

    Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os três coordenadores do GTT Atividade Física e Saúde dos períodos de 1997 a 1999 (professor Osní Jacó), 1999 a 2001 (professor Dartagnan Pinto Guedes) e de 2001 a 2003 (professor Marcos Bragchevsky). A entrevista semi-estruturada entendida como: "aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha do seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração na elaboração do conteúdo da pesquisa" (TRIVIÑOS, 1987, p. 146). O que se entende possibilita enriquecer a investigação por deixar o informante com liberdade e espontaneidade durante a aplicação do instrumento.


Procedimentos de coleta e análise das informações

    Um primeiro grupo de informações, fundamentais para a análise, foi coletado através do "Esquema Paradigmático" (SANCHÉS GANBOA, 1996). As pesquisas relacionadas foram inteiramente lidas e analisadas, procurando-se identificar os tópicos indicados no (EP). Isto implicou em uma leitura dos textos nas partes tradicionais como introdução, referencial teórico, metodologia e conclusão.

    Os registros da leitura analítica foram agrupados, através de um processo progressivo de síntese, tomando como referência as abordagens metodológicas, explícitas ou implicitamente utilizadas.

    Um segundo grupo de informações, coletadas a partir de entrevistas com os coordenadores do GTT 01, refere-se às informações gerais sobre as condições da produção da pesquisa, informações sobre o GTT Atividade Física e Saúde. Com essas informações foi possível fazer a recuperação histórica e identificar algumas características gerais e algumas tendências e ações realizadas pelo GTT 01, com a finalidade de aproximar-se cientificamente do objeto a partir do contexto histórico.


Resultados e discussão

Caracterização da Produção Científica do GTT

    As informações da produção científica do Grupo de Trabalho Temático Atividade Física e Saúde do CBCE nos Conbraces de 1997 a 2003 podem ser sistematizadas nos seguintes dados:

  1. Em relação aos temas tratados têm-se estas prioridades: Proporções antropométricas, performance física de escolares, testes de aptidão físico-motora, parâmetros bioquímicos em obesos e diabéticos, aptidão física relacionada à saúde em mulheres, força de preensão manual, musculação, problemas e avaliações posturais, relatos de projetos que envolveram atividades físicas, análise da produção do conhecimento em grupos de pesquisa, objetivos dos praticantes de academia, promoção da saúde/escola/currículo, percepção da imagem corporal, ergonomia/trabalho/estresse, relações da atividade física com: hanseníase, depressão, aderência e capoeira, sedentarismo, genética. Exercício/classe social e desempenho de escolares, exercício e insuficiência cardíaca, relações do exercício com a qualidade de vida, com a culpabilização do indivíduo, dança e estados de ânimo, motivação e natação/psicologia do esporte, percepção do idoso sobre sua saúde, relação entre saúde coletiva/atividade física, estética X Saúde, hidroginástica benefícios biopsicosociais, qualidade de vida/ludicidade/bem estar/saúde/esportes radicais, infância e esporte, fatores socioeconômicos e atividade física em trabalhadores, treinamento resistido em mulheres idosas, entre outros.

  2. Em relação às técnicas de pesquisa mais utilizadas têm-se os seguintes resultados: as técnicas com delineamento experimental (pré-experimental ou quase-experimental) e transversal, que se utilizam de classificação quantitativa e tratamento estatístico dos dados, e com ou sem grupo controle, com pré-teste e pós-teste de amostra aparecem respectivamente com 19,76% e 38,15%. Estudos bibliográficos 22,36%, estudos com questionários e enquetes 5,16%, com escalas 2,63%, apareceu somente um estudo longitudinal representando 1,3%, análise de conteúdo e discurso 3,94%. Com relação às novas técnicas de pesquisa começam a aparecer em 2001 a pesquisa ação e a observação participante 3,94%.

  3. 61,84% das pesquisas utilizam técnicas estatísticas no tratamento das informações, as mais utilizadas foram: freqüências/porcentagens 36,17%, análise descritiva 46,80%, análise de regressão 4,25%, análise de variância 12,76%.

  4. As abordagens metodológicas utilizadas nas 76 pesquisas se distribuem da seguinte maneira:
        As pesquisas empírico-analíticas (empirista, positivista, funcionalista e sistêmica) que têm fundamentos epistemológicos comuns, formam o grupo majoritário (67,10%) e se apresentam em todos os congressos. As pesquisas fenomenológico-hermenêuticas (9,21%) apresentam-se com maior ênfase no ano de 2001 e não apareceram em 1999 e 2003. As pesquisas crítico-dialéticas também (9,21%), não apareceram em 1997 e aparecem constantemente nos anos subseqüentes. Por fim, algumas pesquisas não foram possíveis de ser classificadas e foram denominadas de "outras" (14,47%), apareceram com maior ênfase em 1997 e foram diminuindo até chegar a uma pesquisa em 2003.
        Neste momento foram apresentadas algumas das informações gerais contidas nas produções do GTT Atividade Física e Saúde. No próximo capítulo constarão as anteriores abordagens com suas especificidades de 1997 a 2003.


Síntese das Abordagens: empírico-analítica, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética

Nível metodológico

    Os estudos com características empírico-analíticos corresponderam a 67,10% dos 76 trabalhos analisados. Essa abordagem predominou em todos os anos da realização do CONBRACE. As pesquisas fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas apresentam-se ambas com 9,21% dos estudos. O quadro 01 permite visualizar melhor como os resultados se distribuem em cada ano de congresso.

    Esses dados numéricos, se por um lado demonstram que a ênfase da produção científica sobre Atividade Física e Saúde desenvolvida no CBCE e GTT 01 se concentra na abordagem empírico-analítica, por outro, explicitam que novas perspectivas metodológicas foram desenvolvidas durante o período analisado.

    Vistas separadamente e em números absolutos, as pesquisas fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas parecem insignificantes. Entretanto, é preciso considerar que somadas elas representam 18,42%. Em outros termos, quase um quinto da produção científica do GTT 01 adotam abordagem diferente da empírico-analítica, hegemônica nesse setor. Outra informação importante é que muitas pesquisas (14,47%) não foram possíveis de se classificar dentro de uma das abordagens pré-determinadas para este estudo, apesar de diminuírem progressivamente a cada congresso, o que ainda demonstra a necessidade de se rever como são estruturadas e publicadas as pesquisas nessa área.

    Se para Gramsci (1991) a Sociedade Civil é o conjunto de organismos chamados "privados" e que correspondem à função hegemônica que o grupo dominante exerce em toda a sociedade, na qual se organizam os grupos sociais e elaboram as concepções de mundo. O CBCE e o GTT Atividade Física e Saúde são então grupos sociais ou instituições da sociedade civil que procuram se organizar com seus "intelectuais" (comunidade científica) com propósitos comuns em busca de manter a hegemonia ou criar uma contra-hegemonia no que se refere às concepções de ciência e conseqüentemente no conteúdo e formas das pesquisas por estes organismos veiculadas e produzidas.

    A "correlação de forças" presente nas produções científicas do GTT Atividade Física e Saúde demonstra ainda, o prestígio e a confiança que os profissionais/intelectuais depositam nas "celebridades", ou seja, o grupo de pesquisadores com abordagem fundamentada no paradigma "naturalista" do que vem a ser ciência e que entendem e analisam a vida a partir do paradigma "determinista" (FONTES, 1995)

    Estes resultados corroboram com os estudos de PAIVA (1994) que, ao analisar a história do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte e os trabalhos publicados no seu periódico, identificou na primeira fase - 1978/1985 - que a ciência e a prática científica são neutras e "possuem" a verdade. Fazer ciência é medir e comparar dados.

    Com relação à gestão dos coordenadores do GTT 01 constata-se, em seus depoimentos que de 1997 a 2001, nas duas primeiras gestões, as preocupações voltaram-se apenas para o momento de realização dos CONBRACEs e se limitaram à análise dos trabalhos para serem apresentados. Também ocorreu um afastamento de alguns pesquisadores da área da atividade física e promoção da saúde tanto do GTT 01 como do CBCE, algo que precisa ser pensado pelos próprios pesquisadores, pela diretoria nacional e pelas próximas gestões do GTT 01.

    A partir da gestão de 2001/2003 o GTT 01, com o desenvolvimento de ações concretas, assume a sua função de produzir e sistematizar o conhecimento. Passa então a exercer a função de organizar e divulgar esses conhecimentos que contribuem para "soldar as experiências de vida num feixe de ações simbólicas" num projeto que tende a assumir uma nova concepção de atividade física e saúde e conseqüente de ver a realidade, a ciência, o sujeito e seu corpo, a qualidade de vida, o movimento, a Educação Física/Esporte. "Amadurecimento" e mudança qualitativa que pode ser também observada em todos os GTTs do CBCE.


Considerações finais

    O estudo das abordagens metodológicas utilizadas nas pesquisas publicadas no Grupo de Trabalho Temático "Atividade Física e Saúde" e suas relações com o processo histórico de criação e desenvolvimento do CBCE e do próprio GTT 01 permitem destacar alguns resultados importantes e elencar algumas sugestões que se entende apropriadas dentro da problemática deste trabalho.

    De acordo com suas especificações e seus fundamentos epistemológicos as pesquisas foram agrupadas em 3 tipos de abordagens teórico-metodológicas. O primeiro grupo denominado empírico-analítico tem predominado na produção científica do GTT 01 do CBCE. Aparecem como incipientes, na área, pesquisas com abordagens fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética. O que demonstra uma progressiva abertura das opções de pesquisas e abre a possibilidade do confronto positivo entre elas, este confronto pode levar a qualificação dos pesquisadores e da pesquisa em atividade física e saúde, bem como a contribuição para a construção de uma contra-hegemonia nessa área.

    Constatam-se certos "modismo formalismos e ritualismos metodológicos" (SÁNCHEZ GAMBOA, 1996). Os pesquisadores não se dedicam ao processo de desenvolvimento da problemática "social" da pesquisa em atividade física e saúde, o que reflete um distanciamento do pesquisador e da pesquisa da realidade social mais ampla. A tendência da abordagem empírico-analítica, dominante no GTT 01 do CBCE, demonstra o quanto concepções e princípios conservadores continuam se mantendo e seguem orientando os rumos da pesquisa nessa área. Mesmo assim é salutar constatar que, numa área do conhecimento construída historicamente por influências militaristas, biologicistas e mecanicistas, marcada de forma contundente pelo positivismo, conquistam lugar perspectivas mais críticas de desenvolvimento da produção científica (SILVA, 1994).

    Esta experiência de pesquisa epistemológica, embora limitada à produção do CBCE e especificamente de um de seus Grupos de Trabalho Temático "Atividade Física e Saúde", pretende contribuir para a sistematização de conhecimentos sobre a epistemologia da pesquisa em atividade física e saúde e suas tendências metodológicas e qualificar a necessidade de novos estudos nas "Entidades Científicas".

    E, por fim, na produção do conhecimento referente a atividade física e saúde, a educação física precisa incorporar novos instrumentos conceituais e novos fundamentos teóricos que indiquem uma possibilidade interdisciplinar, pois o "discurso disciplinar" não é mais eficaz. Precisa, portanto, aproximar-se das discussões da saúde pública e da saúde coletiva, o que permitiria um avanço significativo na própria área.


Referências bibliográficas

  • ALVES-MAZZOTTI, Alda. J, GEWANDSZNAJDER, Fernando. O Método nas Ciências Naturais e sociais - Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. 2ª ed. Pioner, São Paulo SP, 1999.

  • BRACHT, Valter. As Ciências do Esporte no Brasil: Uma Avaliação Crítica. In: Ferreira Neto, Amarílio; GOELLER, Silvana. V. (orgs.). As Ciências do Esporte no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 1995.

  • CARLAN, Paulo. A produção do conhecimento na educação física brasileira e seu poder de intervenção na educação física escolar: análise das pesquisas nos cursos de mestrado em educação. Anais do X Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Goiânia, outubro 1997, v, 1. p. 1468-1474.

  • DELLA Fonte, Sandra S. LOUREIRO, Róbson. A Ideologia da Saúde e a Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 18(2), janeiro de 1997.

  • FONTES, Olney Leite. Além dos Sintomas: Superando o Paradigma Saúde e Doença. Piracicaba, SP: Unimep, 1995.

  • GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História, 8ª. ed, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989. 341p

  • __________. Os intelectuais e a organização da cultura, 8ª. ed, Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1991. 244p

  • PAIVA, F. Ciência e poder Simbólico no CBCE. Vitória: UFES, 1994.

  • PALMA, Alexandre. Educação Física, Corpo e Saúde: Uma Reflexão sobre outros "Modos de Olhar". Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 22, n. 2. p. 23 - 29, janeiro de 2001.

  • _________Atividade Física, Processo-Saúde e Condições Sócio-Econômicas: Uma revisão de literatura. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, 14(1): 97 - 106. jan./jun. 2000.

  • SILVA, Rossana Valéria de Souza e. Mestrados em Educação Física no Brasil: pesquisando suas pesquisas. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 1990. (Dissertação, Mestrado).

  • ______, Rossana Valéria de Souza e. Pesquisa em Educação Física: determinações históricas e implicações epistemológicas - Tese de Doutorado, Unicamp, Campinas, SP : [s.n.], 1997.

  • SÁNCHEZ GAMBOA, Sílvio. Epistemologia da Pesquisa em Educação, Campinas, SP: Práxis, 1996.

  • SILVA, M. A. D. Exercício e Qualidade de Vida. In: CHOAYEB, Nabil & BARROS, Turíbio. O exercício, São Paulo: Atheneu, 1999.

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revista digital · Año 11 · N° 102 | Buenos Aires, Noviembre 2006  
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