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Efeito das diferentes modalidades de atividades
físicas na qualidade da marcha em idosos

   
*Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da
Motricidade Humana da UCB-RJ. Universidade Iguaçu
(UNIG - Itaperuna). Universidade Estácio de Sá (Campos).
**Professor Titular do Programa de Pós-graduação Stricto
Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ.
 
 
Marco Antonio Machado dos Santos*
marcomachado1@gmail.com  
João Santos Pereira**
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O envelhecimento conduz a perda progressiva da massa muscular e da força diminuindo a capacidade de realizar satisfatoriamente a marcha. Vários tipos de atividades físicas são propostos para os idosos mas não se conhecem ainda todos os benefícios que cada uma delas proporciona ao idoso. O objetivo deste estudo foi comparar a qualidade da marcha entre idosos sedentários, praticantes de musculação e de hidroginástica. Mulheres (n = 40) entre 62 e 79 anos foram divididas em 3 grupos: SED (n = 15), MUS (n = 14) e HID (n = 11) e testadas de acordo com o protocolo de Cerny para verificar a qualidade da marcha através das variáveis comprimento do passo (dir e esq), da passada (dir e esq), tempo de deslocamento, velocidade de deslocamento e cadencia dos passos. Não houve diferença significativa entre os grupos no comprimento do passo e da passada (p>0,05), contudo o tempo de deslocamento foi significativamente maior no grupo sedentário do que nos outros dois. A velocidade dos praticantes de atividade física foi maior nos praticantes do que nos sedentários, não havendo diferença entre quem praticava hidroginástica e quem praticava musculação. As sedentárias e as praticantes de hidroginástica apresentaram cadencia de passos menor do que as praticantes de musculação. Conclui-se com esse estudo que a musculação e a hidroginástica aumentam a qualidade da marcha em idosos.
    Unitermos: Idosos. Marcha. Atividades físicas.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 102 - Noviembre de 2006

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Introdução

    No século 20 a humanidade alcançou progresso científico e tecnológico sem precedentes na história. Esse avanço causou profundas alterações na vida das pessoas como, por exemplo, em questões de higiene, qualidade e oferta de alimentos, mais eficiência nos medicamentos e nos tratamentos médicos, etc. A conseqüência disso foi o aumento da expectativa de vida (MATSUDO et al., 2000). Contudo, o aumento da quantidade de anos não foi correspondente ao aumento da qualidade de vida nos idosos. Como o envelhecimento humano é caracterizado por uma falência progressiva da eficiência fisiológica do indivíduo, este perde funções intelectuais e motoras tornando-o dependente para a sobrevivência. A diminuição da capacidade locomotora é devida principalmente à Sarcopenia e à Osteoporose (MOREIRA, 2001; CARVALHO-ALVES E MEDEIROS, 2004).

    Um dos principais efeitos do envelhecimento, a sarcopenia, é definida por CARVALHO-ALVES e MEDEIROS (2004) como "diminuição da função da musculatura esquelética que acompanha o envelhecimento". Essa diminuição ocorre por questões ligadas ao próprio músculo e ao sistema neuro-motor. A sarcopenia leva a diminuição do volume e da força muscular conduzindo a dificuldade em realizar tarefas cotidianas que dependem desta valência física, quanto mais uma tarefa depende da força com maior dificuldade o indivíduo a realiza. Aliada a diminuição da massa muscular há uma progressiva degeneração da capacidade neuronal do indivíduo gerando perda da coordenação motora e da propriocepção (MOREIRA, 2001; MATSUDO, 2002; XU et al., 2004).

    Um dos principais problemas gerado pela sarcopenia é a manutenção de um padrão satisfatório da marcha, com conseqüente diminuição da deambulação e aumento da possibilidade de quedas. Isso corrobora achados em que entre os principais músculos afetados pela sarcopenia encontramos o quadríceps, responsável pelo movimento de flexão do quadril e extensão do joelho, fundamentais para a marcha (DOHERTY, 2003; CARVALHO-ALVES e MEDEIROS, 2004).

    As quedas representam uma importante preocupação visto que podem acarretar lesões de gravidades variáveis podendo evoluir para incapacidade parcial, total ou mesmo ao óbito. O risco de quedas aumenta proporcionalmente a idade, quanto mais avançado o processo de envelhecimento mais significativo o risco para as quedas (BARNETT et al., 2003; MENZ, LORD e FITZPATRICK, 2003).

    Vários autores têm ressaltado o papel da atividade física na melhora da condição do indivíduo idoso (MOREIRA, 2001; MATSUDO, 2002; RADOM-AIZIK, et al., 2005). Entre estes benefícios a própria diminuição da velocidade com que ocorre a sacopenia é bastante citada, além da diminuição do número de quedas. Vários tipos diferentes de atividades físicas vêm sendo propostos e entre elas a hidroginástica, a ginástica, a musculação e a caminhada, sem no entanto consenso de qual delas seria melhor. (SOARES et al., 2003; CARVALHO-ALVES e MEDEIROS, 2004; MEANS, RODELL e O'SULLIVAN, 2005).

    O objetivo deste estudo é verificar se as distintas atividades físicas ocasionam alterações na composição corporal e na qualidade da marcha em idosos.


Metodologia

Amostra

    Foram selecionadas por conveniência 40 mulheres entre 62-79 anos, sendo o grupo SED composto de 15 mulheres que não praticavam qualquer atividade física, o grupo HID com 11 pessoas que praticavam hidroginástica e o grupo MUS de 14 pessoas praticantes de musculação. Para caracterizar a prática da atividade era necessário que as integrantes estivessem inseridas há pelo menos 2 anos em um programa com freqüência semanal mínima de 2 vezes com sessões de 60 min. Impossibilidade de deslocamento sem auxílio, doenças neurológicas e/ou comprometimentos osteo-mio-articulares foram considerados critérios de exclusão da amostra.


Procedimento de Coleta de Dados

    Inicialmente os sujeitos foram submetidos a avaliação antropométrica que consistiu em massa corporal total (MCT), estatura, perimetria (braços, ante-braços, tórax, abdome, quadril, coxas e pernas) e dobras cutâneas (tricipital, bicipital, peitoral, sub-escapular, supra-ilíaca, abdominal, coxa e perna). As medidas antropométricas permitiram calcular o percentual de gordura (%G), a massa corporal magra (MCM) e o índice de massa corpórea (IMC).

    Para avaliação da marcha cada sujeito deambulou numa passarela de piso plano e regular, com comprimento total de 16 metros dividida em 3 áreas: inicial (5 metros), central (6 metros) e final (5 metros). Um tapete de papel com 0,9 metros de largura foi fixado na área central para possibilitar e nesta área foram realizadas as medidas, excluindo os momentos de aceleração e desaceleração nos metros iniciais e finais do teste.

    Uma caneta hidrocor do tipo pincel atômico foi fixada com fitas adesivas no calcâneo de cada calçado de forma que a ponta da caneta tocasse o solo a cada apoio que o avaliado realizou, possibilitando assim medir o comprimento do passo (direito e esquerdo) e da passada (direita e esquerda). O comprimento do passo direito será determinado pela distancia entre o toque do pé esquerdo e o do pé direito, enquanto o do passo esquerdo será entre o toque do pé direito e o do esquerdo. O comprimento da passada (direito e esquerdo) será medido entre dois toques de um mesmo pé. Para estes valores somente foram consideradas as marcações realizadas na área central conforme descrito.

    Os sujeitos foram orientados a realizar a caminhada em velocidade habitual e um cronômetro foi acionado no momento em que o sujeito entrou na área central e foi desativado ao final desta, possibilitando medir o tempo de realização e calcular a velocidade do deslocamento.

    Após a aquisição dos dados os sujeitos foram divididos em grupos por modalidade de exercício físico a qual eles estavam vinculados para comparação das variáveis segundo a atividade pregressa.


Protocolos utilizados

    As medidas antropométricas seguiram protocolos descritos em Marins e Giannichi (2003) e o cálculo do %G através do protocolo de Jackson e Pollock (1973). A avaliação da marcha seguiu o protocolo de Cerny conforme descrito em Henriques et al. (2003) e Sanglard et al. (2004).


Instrumentos

    A massa corporal total foi obtida com balança analógica com precisão para 0,1 kg modelo 31 (Filizola - Brasil), a estatura com estadiômetro (Sanny - Brasil) (0,1 cm). Os perímetros foram medidos com trena de precisão de 0,01 cm (Sanny - Brasil) e as dobras cutâneas em compasso científico com precisão de 0,01 cm (CESCORF - Brasil).


Ética da Pesquisa

    Este estudo atende as normas para realização de pesquisas em seres humanos estabelecidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.


Procedimento de Análise de Dados

    Foram calculados as médias e os desvios padrões. Também são indicados os valores máximos e mínimos de cada variável investigada.

    Foram realizados os testes de analise de variância (ANOVA) e quando necessário foi utilizado teste post hoc de Sheffe, para comparar medidas de um mesmo grupo foi realizado o teste t de Student pareado. Foram considerados significativos valores menores que 0,05. O tratamento estatístico foi realizado em SPSS® 13.0 for Windows (SPSS Inc, 2004). Os gráficos foram gerados em SigmaPlot 2002® for Windows versão 8.0 (SPSS Inc., 2002).


Apresentação e discussão dos resultados

    Os voluntários apresentaram características que possibilitaram sua participação no estudo cumprindo assim os critérios de inclusão. As características antropométricas e a idade podem ser observadas na tabela I.

    Inicialmente foi necessário verificar se os grupos eram homogêneos nas suas características. As comparações entre os grupos mostraram uniformidade estatística entre eles excetuando nas variáveis MCM e %G. Os grupos que praticavam atividades físicas (MUS e HID) apresentaram em média mais massa magra e menor percentual de gordura do que as participantes sedentárias como pode ser visto na Tabela II. Isso já era esperado de acordo com dados fartamente encontrados na literatura.

    A partir da realização da avaliação da marcha utilizando o protocolo de Cerny estudamos as variáveis: comprimento do passo, comprimento da passada, tempo de deslocamento, velocidade da marcha e cadencia da marcha.

    O comprimento do passo é medido entre o ponto sinalizado por um dos pés até o ponto sinalizado pelo outro. Todos os grupos apresentaram um padrão bastante regular no comprimento de passos na parte central do percurso, além disso apresentaram uniformidade no comprimento dos passos direito e esquerdo (gráficos 1, 2 e 3).



    A média do comprimento dos passos foi comparada entre os três grupos estudados. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre os grupos como pode ser verificado no gráfico 4.

    A avaliação desta variável permite postular que a realização ou não de atividades físicas (musculação e hidroginástica) não afeta a distância em que se projeta o pé a frente para a realização do apoio duplo. A amplitude do passo depende da flexibilidade da articulação e do equilíbrio dinâmico mais do que da força, conforme descrito por Henriques et al. (2003).

    Também foi medido o comprimento da passada, ou seja, a distancia entre a marca de um dos pés a marca do apoio deste mesmo pé. Nos gráficos de 5 a 7 pode-se verificar que as passadas realizadas durante o deslocamento foram uniformes em todos os grupos. Também não houve diferença significativa (p>0,05) entre as passadas realizadas com o membro inferior direito e esquerdo.



    Comparando o comprimento médio das passadas entre os grupos podemos verificar se a pratica de alguma das atividades físicas propostas modifica esta variável ente si ou em relação ao sedentarismo. Não houve diferença significativa (p>0,05) em nenhum dos grupos. Essa variável depende menos da força muscular do que do equilíbrio dinâmico e da flexibilidade.

    O tempo de deslocamento foi significativamente diferente entre os sujeitos sedentários e aqueles que praticavam atividade física (p<0,05). As mulheres sedentárias se deslocavam pela parte central da pista em 6,582 ± 0,305 segundos enquanto as de MUS e HID realizaram o deslocamento em 5,849 ± 0,247 e 6,139 ± 0,428 segundos respectivamente (gráfico 9).

    É importante observar que não houve diferença estatisticamente significativa (p > 0,05) entre MUS e HID, podemos assim postular que não há diferença entre as duas atividades em relação a performance da marcha (Gráfico 9). O tempo de deslocamento depende da força aplicada ao solo e do equilíbrio dinâmico, no presente estudo verificamos que a massa corporal magra das idosas praticantes é significativamente maior do que das mulheres sedentárias. O que permite deduzir maior força para as mulheres praticantes de atividade física.

    A velocidade do deslocamento também foi afetada de forma significativa pela atividade física. Os integrantes de MUS realizavam o deslocamento 12,5% mais velozmente do que as sedentárias e o grupo HID realizou 7,5 % mais velozmente, como pode ser observado no gráfico 10. Estes dados apresentam-se em concordância aos apresentados pela literatura com a velocidade de deslocamento medida por diversos testes (TEIXEIRA-SALMELA et al., 2001; KERVIO, CARRE e VILLE, 2003; ALVES et al., 2004; BRITTO et al., 2005).

    De forma semelhante ao tempo de deslocamento pelo percurso, não houve diferença significativa na velocidade entre as mulheres idosas que praticavam musculação e hidroginástica (gráfico 10).

    A cadência foi obtida dividindo o número de passos dados pelo tempo de deslocamento. Nesta variável as praticantes de musculação foram mais eficientes do que as praticantes de hidroginástica e do que as sedentárias. Não houve diferença entre as sedentárias e as praticantes de hidroginástica (p>0,05).

    Farinatti e Lopes (2004) discutem que a amplitude e a cadencia da marcha devem ser avaliadas conjuntamente, visto que estão relacionadas a flexibilidade e a força muscular do sujeito respectivamente. Os resultado deste estudo mostram que há variação na cadência entre os grupos porem não na amplitude, o que nos permite postular que estas atividades afetam de forma diferenciada a força mas não a flexibilidade.

    Conforme observado na tabela II a MCM das sedentárias é significativamente menor do que a das mulheres que praticam atividades físicas. Idosas sedentárias apresentam valores reduzidos em velocidade e cadência da marcha, em oposição as mulheres ativas que apresentaram valores superiores, caracterizando uma qualidade superior no deslocamento. A prevenção da sarcopenia em conseqüência da atividade física reduz a perda de qualidade da marcha, ou seja a atividade física reduz o risco de quedas, esse achado é corroborado por Da Silva e Gobbi (2005).

    Conforme dados de Guimarães et al. (2004), 85% dos idosos sedentários apresentam de médio a alto risco de quedas, enquanto apenas 5% dos ativos apresentam risco médio (nenhum indivíduo que apresentam alto risco). Nosso estudo ajuda a reforçar esses dados visto que as mulheres ativas demonstraram melhor performance na marcha. Essa melhor performance se traduz numa maior segurança no deslocamento, conseqüentemente diminuindo o risco de quedas.


Conclusões e recomendações

    Os dados deste estudo permitem concluir que a pratica de musculação e de hidroginástica reduzem a sarcopenia induzida pelo envelhecimento. Com isso aumenta a qualidade da marcha, reduzindo assim o rico de quedas e aumentando a eficiência na pratica de atividades da vida diária.

    Não houve diferenças nos valores obtidos entre praticantes de musculação e de hidroginástica. Pelo menos no que tange as variáveis medidas neste estudo não há recomendação para priorizar a pratica de uma ou outra destas modalidades, ambas culminam nos mesmos resultados.

    A partir desses dados e conclusões sugere-se que o mesmo protocolo seja realizado para comparar outras atividades físicas normalmente praticadas e recomendadas para idosos. Recomenda-se também que seja avaliada a flexibilidade dos idosos para comparações com as variáveis da marcha medidas durante o protocolo de Cerny.

    Esse estudo também contribui para demonstrar a importância da atividade física para a população idosa em relação à saúde e a qualidade de vida. A sarcopenia é um dos principais efeitos deletérios do envelhecimento e um dos que causam mais prejuízos a manutenção das atividades da vida diária. Conforme demonstrado pelos dados desse estudo a atividade física preserva a massa muscular e a qualidade da marcha, contribuindo para a autonomia dos idosos, por vezes perdida pela sarcopenia.


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