A prática do planejamento de ensino em Educação Física: a pescaria como uma atividade exploratória | |||
* Acadêmicos do curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Biociências da UNESP/Rio Claro. ** Professor orientador do trabalho; docente do curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Biociências da UNESP/Rio Claro e coordenador do NEPEF (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no Campo da Educação Física) UNESP. |
Aline Steckelberg Cardozo* alinesc@rc.unesp.br Heitor Rodrigues* | Ivan Luis dos Santos* Samuel de Souza Neto** samuauro@claretianas.com.br (Brasil) |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 102 - Noviembre de 2006 |
1 / 1
Introdução
Este trabalho foi realizado com os estudantes do terceiro ano do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual Paulista, na disciplina Prática de Ensino I que tem como objetivos proporcionar ao licenciado, oportunidades para aquisição de conhecimentos, habilidades e experiências profissionalizantes, que o tornem apto a dirigir com eficiência o processo de ensino e ainda, despertar no licenciado a possibilidade objetiva de avaliação de suas potencialidades e formar hábitos de observação, reflexão, espírito crítico e análise sobre o seu próprio trabalho. Esta disciplina apresenta conteúdo programático denso, tendo como um de seus conteúdos o planejamento de ensino.
No âmbito do trabalho escolar e mesmo na universidade o tema planejamento, muitas vezes, é visto como algo trabalhoso, difícil e até mesmo chato de ser realizado. Portanto, neste trabalho buscaremos apresentar uma forma sui generis de abordar este conteúdo através de uma atividade exploratória em que se buscou colocar os alunos frente a uma experiência que provocasse curiosidade, desequilibração e reflexão do seu cotidiano na forma de uma prática pedagógica. Dentro deste contexto, este estudo teve como objetivo possibilitar uma experiência prática de planejamento de ensino em área de conhecimento não dominante entre estudantes de Educação Física, visando ampliar as possibilidades futuras de trabalho na escola e relacionar este conteúdo com as demais disciplinas acadêmicas.
Trata-se de um estudo descritivo, tendo na análise qualitativa a apresentação e discussão dos resultados. Nesse contexto, a pescaria foi tomada como uma das atividades exploratórias para a compreensão e reflexão das etapas de um planejamento.
O que se fala sobre o planejamento de ensino?Planejar de acordo com o dicionário significa fazer plano, tencionar, submeter a um plano, programar (ROCHA, 1996).
Para Salles e Mazza (1996, p. 84) o planejamento e o plano existem para orientar o trabalho e favorecer o sucesso escolar; enquanto que para Saviani (1987, p. 23) o planejamento deve ser concebido, assumido, vivenciado no cotidiano da prática social escolar, como um processo de reflexão.
Porém, na visão de diretores, conforme citado por Salles e Mazza (1996), "os professores não estão preparados para elaborarem e seguirem os planos". Enquanto que para docentes, "os professores precisam planejar o que vão trabalhar durante o ano para terem condições de adequarem o trabalho ao nível da classe".
Planejar, em sentido amplo, é um processo que "visa a dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para a superação de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro", mas considerando as condições do presente, as experiências do passado, os aspectos contextuais e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e com quem se planeja (PADILHA, 2001). De acordo com Baffi (2002), planejar é uma atividade que está dentro da educação, visto que esta tem como características básicas: evitar a improvisação, prever o futuro, estabelecer caminhos que possam nortear mais apropriadamente a execução da ação educativa, prever o acompanhamento e a avaliação da própria ação. De forma geral, o planejamento pode ser classificado como educacional, curricular e de ensino, sendo que neste trabalho será enfocado apenas o planejamento de ensino.
No bojo desse processo recorreremos a um conceito clássico de planejamento, uma vez que com algumas mudanças e sua redação, mas não em sua essência Turra, Enricone, Sant'anna e André (1975) vão nos dizer que é a previsão metódica de uma ação a ser desencadeada e a realização dos meios para atingir os fins. De acordo com estes autores, planejamento foi definido como: processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos e ainda, consiste numa tomada de decisões dentre possíveis alternativas, visando atingir os resultados previstos de forma mais eficiente e econômica.
Porém, para Freire (1997), o planejamento, primeiramente surge de uma idealização, de um sonho que não consiste em cumprir metas. No entanto, as atividades de um planejamento tornam-se burocrática quando o educador dicotomiza o conteúdo da matéria do conteúdo do sujeito e da dinâmica do grupo, ocasionando perda de significado. Segundo esta mesma autora, dinâmica, conteúdo da matéria e do sujeito não estão dissociados, sendo que um não existe sem o outro. Da mesma forma que não existe sujeito sem um objeto de conhecimento a ser estudado, nem objeto de conhecimento sem sujeito que conhece. Portanto, deve existir uma ação caracterizada pela interação entre sujeito e objeto de conhecimento permanentemente.
O planejamento organiza, sistematiza, disciplina a liberdade a nível individual e coletivo. Ele dá os paradigmas para o exercício da prática pedagógica. Através dele podemos agilizar respostas diante do inusitado para trabalhar a improvisação. Neste sentido, o planejamento alicerça a ação criadora (FREIRE, 1997).
Esta autora ainda afirma que o ato de planejar não significa a fabricação de planos, mas que é um processo ininterrupto, permanente, cujo desafio é lançar-se na re-elaboração diária de novos planejamentos.
Uma vez delimitado o processo conceitual do planejamento, e delimitado que a nossa ênfase será sobre o planejamento de ensino, cabe colocar que o mesmo é organizado num conjunto orgânico de etapas que envolvem preparação, desenvolvimento e aperfeiçoamento, tendo como ponto de partida o conhecimento da realidade. Nesse sentido, Turra et al. (1975) nos apresenta um quadro clássico sobre planejamento, como poderá ser visto na próxima página, envolvendo desde o conhecimento da realidade até o replanejamento.
Conhecimento da realidade para estes autores consiste em entender antes de tudo, as características, condições e problemas da realidade que vai atuar, ou seja, entender de forma geral, o professor (pessoal e profissional), a população alvo (o aluno e a classe) e o meio (escolar e comunitário). A averiguação dos fatores básicos de influências, a coleta de dados, a constatação de fatos relevantes permitem dispor de todas as informações sobre a realidade, efetuando assim a sondagem de fatos importantes para posteriores interpretações. Posteriormente deverá ser realizado o diagnóstico que expressa a configuração de uma situação ou um fato que retrata a realidade e então a partir deste diagnóstico.
Aprofundando-se no planejamento de ensino, pode-se entender a fase de preparação como a previsão de todos os passos que concorrem para assegurar a sistematização, o desenvolvimento e a concretização dos objetivos previstos. Esta fase se desdobra em várias subfases e se caracteriza inicialmente pela determinação dos objetivos, que devem ser claros, importantes, realistas e alcançáveis. Em seguida, vem a seleção e organização dos conteúdos e nesta fase cabe ao professor se perguntar o que devo ensinar? E assim ao responder a esta questão estará tratando dos conteúdos que servirão de instrumentos para atingir os objetivos propostos. Os conteúdos representam um conjunto rico e variado de conhecimentos que possibilita ao aluno desenvolver suas capacidades, ao mesmo tempo em que esclarece suas relações com os outros e com o meio onde vive.
Próxima etapa desta fase é a seleção e organização dos procedimentos de ensino que são ações e processos planejados pelo professor para colocar o aluno em contato com os fatos ou fenômenos. Ainda, existe a seleção de recursos que são tanto de natureza humana quanto material e que podem auxiliar o professor no seu trabalho e na sua ação pedagógica. A seleção de procedimentos de avaliação também faz parte desta fase, bem como a estruturação do plano de ensino baseada nas características de bom plano como coerência, seqüência, flexibilidade, precisão e objetividade. Esta subfase é muito importante pois o plano de ensino é um instrumento de trabalho que disciplina os esforços de professores e alunos, no sentido de racionalizar as atividades de ensino e aprendizagem, sendo que este plano é apenas um roteiro, um instrumento de referência.
Na fase de desenvolvimento a ênfase recai na ação do aluno e do professor, sendo que gradativamente o trabalho desencadeado desenvolve e aprimora níveis de desempenho; enquanto que a fase de aperfeiçoamento envolve a testagem e a determinação da extensão do alcance dos objetivos. De forma que os procedimentos de avaliação permitirão os ajustes que se fizerem necessários à consecução dos objetivos. Nesta etapa, a avaliação toma um sentido diferente da avaliação de ensino-aprendizagem e um significado mais amplo, pois a avaliação ocorre com vistas ao replanejamento ao término do plano em ação. Avalia-se, portanto, com vistas a realimentar (mecanismo de fornecimento de feedback) o próprio sistema de planejamento. (Fig. 1).
Dessa forma, o planejamento parece ser de fundamental importância para a prática pedagógica de diferentes profissionais, principalmente aqueles relacionados à área da Educação. Todavia se questiona: será que não haveria uma forma diferenciada de explicitar o planejamento que fosse mais interessante aos alunos de um curso de graduação? Este tipo de trabalho não poderia ser mais eficiente para a fixação dos conteúdos programados? Os alunos não poderiam se beneficiar desta prática para futuros trabalhos, bem como se relacionar de forma interdisciplinar com demais disciplinas acadêmicas?
O trabalho em sala de aula da disciplina prática de ensino: a proposta de um programaNo Projeto Pedagógico (1993) do curso de Licenciatura em Educação Física consta que na formação do professor, que vai atuar no ensino fundamental e médio, este deverá receber conhecimentos relacionados a motricidade humana aplicado ao fenômeno educativo, conhecer o papel da Educação Física no contexto curricular e no processo de educação formal, possuir uma visão da função social da escola e ter uma preocupação permanente com a formação de uma atitude científica. De modo que pensar em Prática de Ensino nesse contexto pressupõe, necessariamente, ter claro os objetivos mais gerais de um curso de Licenciatura, bem como o seu projeto pedagógico e a especificidade da formação do educador. Dessa forma, é a partir da elaboração desse projeto pedagógico que poder-se-a pensar no papel da disciplina 'Prática de Ensino' que apresenta como proposta o seguinte encaminhamento:
Nos 5º e 6º semestres, esta disciplina abrange a aprendizagem de noções teóricas e a realização de estágios de observação, visando o conhecimento e a compreensão da realidade na qual irão atuar enquanto profissionais e do seu papel na formação de seus alunos. Procura evidenciar a importância da integração dos conhecimentos, sobretudo os relacionados às disciplinas Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio, Psicologia da Educação, Educação Física Infantil, Didática da Educação Física e Programas de Educação Física para o Ensino Fundamental e Médio, de forma tal que os alunos elaborem os projetos de estágio consistentes com a(s) Proposta(s) Pedagógica(s) da(s) escola(s). Como programa apresenta o seguinte conteúdo:
Para os 7º e 8º semestres tem como objetivo propiciar ao estudante a prática profissional, mediante efetiva participação nos programas e planos de trabalho afetos a unidade escolar em que se fará estágio, procurando articular os conhecimentos das disciplinas mencionadas com os de disciplinas de conteúdo específico em situações concretas de escolarização. Nesse sentido visa também proporcionar ao licenciando de Educação Física oportunidades para aquisição de conhecimentos, habilidades e experiências profissionalizantes; despertar a possibilidade objetiva de avaliação de suas potencialidades e formação de hábitos de observação, reflexão, espírito crítico e análise sobre o seu próprio trabalho; dar uma visão concreta dos problemas relacionados com o ensino da Educação Física Escolar, o que lhe permitirá propor alternativas de soluções que possam ajudar no aprimoramento do processo ensino-aprendizagem desenvolvido na instituição; conscientizar da importância do seu papel como professor no processo educativo da sociedade e desenvolver o compromisso com um ensino de qualidade. Como o recorde do estudo está circunscrito à questão do planejamento que é desenvolvido na Prática de Ensino I não se estará entrando no programa das disciplinas de Prática de Ensino II, III e IV que são desenvolvidas no 4º ano.
No geral, a Prática de Ensino, assim concebida, funciona como disciplina - na medida em que tem um corpo de conhecimento próprio e atividade - na medida em que se utiliza de estágios supervisionados, visando as experiências de ensino dos graduandos. Entretanto há de acrescentar-se que a Prática de Ensino fica subordinada ao projeto pedagógico do curso e ao modelo curricular adotado.
Em se tratando do tema Planejamento de Ensino e/o do Plano de Ensino cabe ressaltar que na programação da disciplina Prática de Ensino os alunos são envolvidos em estudos de iniciação científica realizando trabalhos de campo de observação, entrevista e fonte documental em relação a escola, professor, escolares, visando o conhecimento da realidade. Embora seja um trabalho extremamente significativo o mesmo suscita muitos questionamentos com o professor devido ao prolongamento que esta atividade envolve na busca de dados, principalmente, considerando a morosidade de acesso à fonte documental na instituição. Dentro deste contexto surgiu o desafio do professor da disciplina ao colocar para os estudantes que mesmo eles sabendo de alguns procedimentos, o planejamento de ensino exige o diagnóstico da realidade para se evitar cometer muitos equívocos. Para explicitar melhor esta questão foi proposto para a classe de se fazer uma pescaria, tendo como objetivo obter sucesso na retirada dos peixes deágua, tendo como instrumento a vara de pescar e iscas tradicionais.
Procedimentos metodológicosComo já foi colocado trata-se de um estudo descritivo, do tipo exploratório, de análise qualitativa que estará utilizando, nesse momento, apenas, o relato de experiência dos autores envolvidos.
Na disciplina Prática de Ensino I, em sala de aula, após a apresentação dos temas observação (como iniciação a pesquisa) e projeto de estágio foi proposto como trabalho de campo a coleta de dados em escolas para a elaboração de um projeto de ensino, que vem ocorrendo desde o início do ano, bem como um desafio, posterior, quando se tratou do tema planejamento de ensino. A proposta de trabalho sobre o planejamento de ensino, apresentada pelo professor da disciplina Prática de Ensino I, ao 3º ano do curso de Licenciatura em Educação Física, além da fundamentação teórico e de experimentos de observação, consistiu na elaboração, implementação e avaliação de uma pescaria em função de que a totalidade dos 40 alunos não tinham experiências sistematizadas nesta área motora, procurando trabalhar o desconhecido, em termos de prática, bem como explorar a perspectiva de que haveria ou não necessidade de se conhecer a realidade para se fazer um planejamento. Tendo como premissa essas considerações os estudantes partiram em grupos de no máximo cinco para a resolução da tarefa.
Para a prática deste exercício, o local escolhido foi o pesqueiro Bom Jesus que está localizado numa rodovia que fica no sentido Rio Claro - Araras, estando distante a 10 km da universidade. O transporte escolhido foram dois veículos, do tipo lotação, da própria universidade. O tempo de pescaria proposto no local foi de duas horas, sendo que após o mesmo havia a proposta de uma confraternização com os peixes pescados que deveriam ser fritos para degustação. Na ocasião havia uma cláusula de que o grupo que não pegasse nenhum peixe deveria auxiliar no pagamento dos mesmos.
Os estudantes foram divididos em grupos de cinco, num total de oito, tendo cada grupo recebido o kit de materiais do pesqueiro escolhido, contendo: varas de pescar; isca naturais e artificiais, respectivamente: minhoca e massa feita de farinha de trigo e algumas orientações que foram passadas para os grupos, sendo que cada qual deveria escolher a pessoa que ficaria como referência.
Os resultados do trabalho de campo e sua discussãoOs resultados que serão apresentados dizem respeito a apenas um grupo, e, nesse momento, não envolverá o coletivo dos estudantes.
O plano em ação
Da saída do campus da UNESP até o pesqueiro foi tranqüilo, sendo de fácil acesso. No local observou-se que este pesqueiro adota o sistema pesque-pague, ou seja, cada pessoa só pagará o peixe que pescar.
Para a escolha das varas, foi necessário o auxílio e a experiência do proprietário do pesqueiro que nos indicava qual vara era necessária para cada peixe e para cada tanque, no entanto todas as varas eram de bambu, já as iscas foram distribuídas para cada grupo, sendo que estas eram naturais (minhocas) ou artificiais (ração).
A verificação dos tanques e escolha de um para a realização da atividade ocorreu de comum acordo com todos do grupo; no entanto, alguns integrantes tiveram livre escolha na determinação de qual local, daquela região geográfica do tanque, que gostaria de pescar, enquanto que outros optaram por permaneceram próximos. Posteriormente o grupo se dispersou na curiosidade de verificar o tanque menor.
Durante a pesca, procuramos analisar a melhor forma de colocar a isca. No caso, optamos pelas naturais (minhocas) visto que a ração se desfazia muito facilmente. Observou-se também qual que seria o melhor posicionamento da vara, tomando como base a altura da bóia e da linha bem como a estabilidade da vara; procuramos perceber o peixe fisgando a isca, a forma que deveria ser a retirada do peixe, tomando cuidado para o mesmo não estourar a linha ou quebrar a vara; retirar o anzol da boca do peixe e colocar o peixe na sacola.
Ao término do tempo determinado de pesca, que foram de duas horas, apenas um peixe foi pescado pelo grupo através do participante mais experiente e o peixe posteriormente foi assado e degustado.
Avaliação
Houve o insucesso na pesca do dourado, bem como de outros peixes como: Carpa, Matrinxã, Pial, Traira etc. O único peixe pescado por nós foi da espécie "Cat Fish".
Quanto à manipulação dos materiais, alguns componentes do grupo encontraram dificuldade na pesca e acabaram desistindo. No entanto, esta prática tornou-se agradável, pois mesmo com as dificuldades encontradas todos os integrantes do grupo permaneceram no local até o final, na tentativa de obter sucesso; mesmo assim não foram obtidos grandes resultados. Este fator nos levou a compreender melhor a importância do conhecimento da realidade.
Feedback
Considerada a proposta anteriormente elaborada, o grupo deixou de cumprir com alguns itens, devido a falta de experiência dos participantes. O nível de excitação do grupo também prejudicou o desempenho, pois em um ambiente envolvendo a pescaria não se pode ter ruídos, e ainda, devido ao dia chuvoso (chuva superficial), no início, em alguns momentos a prática da pescaria não foi tranqüila. Entretanto, a sua conclusão foi muito interessante na hora da degustação do peixe, pois foi espontâneo comentários sobre a pescaria em termos motores como: falta de atenção, tempo de reação, falta de habilidade motora etc...
Replanejamento
Escolher um dia mais propício à pesca através da observação e análise metereológica;
Escolher melhor as iscas e as varas;
Conhecimento minucioso dos materiais, como anzóis, varas, linhas e suas relações com os peixes a serem pescados;
Silêncio durante a pescaria;
Maior comprometimento do indivíduo experiente para com os colegas inexperientes.
A prática do planejamento está extremamente relacionada à prática pedagógica de um professor, sendo assim, esta prática vem mostrar a realização entre o proposto e o realizado, de forma que para a elaboração e execução de um planejamento existe a necessidade de relacioná-lo com experiências, vivências e conhecimentos prévios. Neste caso, o desenvolvimento desta proposta possibilitou estabelecer uma ponte com às disciplinas curriculares do curso de Educação Física como:
Prática de Ensino, na qual são requeridas observações, planejamento, planejamentos de aulas, auxiliando na ampliação da visão do grupo, ou seja, fazendo com que enxergássemos um contexto mais amplo que envolve um planejamento, além de nos proporcionar uma experiência que contribui para nosso conhecimento profissional;
Biologia, relacionando-se com a estrutura, forma e condições dos peixes;
Medidas e Avaliação, a fim de saber determinar a quantidade de iscas necessárias, peso do peixe, espessura da vara;
Primeiros Socorros, conhecimento sobre os cuidados necessários a serem tomados caso ocorra algum acidente no momento da realização da tarefa, bem como a questão da segurança no ambiente da tarefa;
Aprendizagem e Controle Motor foi outra disciplina que poderíamos relacionar a prática do planejamento no que diz que a aprendizagem de uma habilidade motora, pois esta só acontece quando é executado com exatidão, no menor tempo possível e com o menor gasto energético, assim podemos afirmar que para melhoria da execução da pescaria, haveria a necessidade de uma melhor fixação, aperfeiçoamento desta técnica, visando a melhora da habilidade motora e o sucesso na pesca dos peixes. Da mesma forma outra questão que poderia ser estudada se relaciona com o tempo de reação entre a "fisgada" do peixe e a elevação da vara;
Atividades Lúdicas e Sociologia do Lazer e Cultura Popular (Lazer e Recreação), pois a pescaria em si também está relacionada para muitos, que realizam uma atividade física, com o seu tempo disponível.
Considerações finaisA pescaria de um modo geral foi agradável, propiciando uma visão ampliada de uma atividade de planejamento, sabendo organizar suas diversas etapas a fim de facilitar o alcance dos objetivos propostos, mas cabendo lembrar que nem todos foram alcançados pelo grupo.
Todavia, o grupo pôde concluir que a prática do planejamento da pescaria, proporcionou a compreensão de que esta (pescaria) não é entendida apenas como uma pesca esportiva, que tem por objetivo ser um meio de lazer e diversão, mas que pode sim ser um meio efetivo de se relacionar algumas disciplinas acadêmicas e a experiência com a prática pedagógica, independente do enfoque desta prática, trabalhando-se a interdisciplinaridade.
Outra descoberta ou comprovação diz respeito ao conhecimento da realidade, pois, até então embora fosse usual em trabalhos anteriores da disciplina, nos mostrou in loco o quanto o mesmo é necessário, confirmando a máxima de que os professores precisam planejar o seu trabalho, e de que os estudantes de licenciatura também, mas ampliando o seu enfoque para um diálogo cooperativo e colaborativo entre as diferentes disciplinas.
No âmbito deste processo o que se percebeu também foi a superação de alguns preconceitos e inércias individuais, buscando-se superar limites pessoais e a falta de contato com outras experiências motoras decorrentes de uma sociedade cada vez mais urbanizada e, em muitos aspectos, desumanizada.
Referências
Curso de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física - UNESP/Campus de Rio Claro. Documentos referentes à reestruturação curricular. Departamento de Educação Física - UNESP/RC, 1989.
FREIRE, M. Planejamento. In: FREIRE, M.; CAMARGO, F.; DAVINI, J.; MARTINS, M.C. Avaliação e Planejamento: a prática educativa em questão. Espaços Pedagógicos, 1997.
ROCHA, R. Minidicionário Ruth Rocha. São Paulo: Editora Scipione, 1996.
SALLES, L.M.F. e MAZZA, D. A organização do trabalho na escola: a prática do planejamento. Revista Educação: Teoria e Prática, v. 3, n.5, jul-dez, 1995 e v.4, n.6, jan.-jun., 1995 e n.7, jul-dez., p. 82-88, 1996.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1987.
TURRA, C.M.G.; ENRICONE, D.; SANT'ANNA, F.M.; ANDRE, L.C. Planejamento de Ensino e Avaliação. 4. ed., Porto Alegre: Editora Emma, 1975.
revista
digital · Año 11 · N° 102 | Buenos Aires,
Noviembre 2006 |