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A distribuição dos levantamentos
no voleibol infanto-juvenil feminino

   
Centro Universitário Nove de Julho
UNINOVE
(Brasil)
 
 
Marcelo Cezarano  
Cláudio Miranda da Rocha
claudio_rocha@uninove.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo teve como objetivo principal verificar como os levantamentos são distribuídos no voleibol infanto-juvenil feminino. A coleta de dados foi realizada mediante observação dos vídeos e os dados transcritos em planilhas. Para tanto, foram filmados 11 jogos da primeira fase classificatória do campeonato estadual de voleibol infanto-juvenil de 2004, do estado de São Paulo. Participaram destes jogos 12 equipes. Foram disputados 41 sets e ocorreram 1089 levantamentos, divididos em 6 posições (1, 2, 3, 4, 5 e 6). Os resultados indicaram um total de 43 levantamentos para a posição 1, 260 para a posição 2, 192 para a posição 3, 573 para a posição 4, 5 para a posição 5, e, 16 para a posição 6. Em termos relativos, houve uma maior incidência de levantamentos para a posição 4 (52,68%), seguido pela posição 2 (23,88%) e pela posição 3 (17,64%). Isto mostra que as levantadoras da categoria infanto-juvenil utilizam bem pouco as atacantes que não se encontram nas posições ofensivas da quadra.
    Palabras clave: Voleibol. Levantamento. Distribuição.
 
Abstract
     The aim of this study was to verify how youth female setters realize their settings. Data were collected through video tape analysis. Eleven matches of the first phase of Sao Paulo youth female volleyball 2004 championship were taped. Twelve different teams had their matches taped. Forty-one games and 1089 settings were analyzed. The results showed that 43 settings were addressed to position 1, 260 to position 2, 192 to position 3, 573 to position 4, 5 to position 5, and 16 to position 6. In relative terms, there was a greater number of settings to the position 1 (52,68%), position 2 (23,88%), and position 3 (17,64%). These results seems to show that youth female setters trust far more in front line attackers than in back line ones.
    Keywords: Volleyball. Set. Distribution.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 101 - Octubre de 2006

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Introdução

    O voleibol é um esporte de cooperação e oposição, realizado num espaço de jogo não comum às duas equipes (MORENO et alii, 2000). Isto faz com que as equipes intervenham alternadamente sobre a bola, na tentativa de conquistar pontos. Esta alternância de intervenção e o número limitado de toques (três) permitidos por equipe fazem com que a ação intermediária entre o receber e o enviar a bola para a outra quadra torne-se crucial para o sucesso das ações ofensivas. Esta ação intermediária é denominada levantamento.

    Atualmente, as equipes de alto nível trabalham com um único jogador como responsável pelas ações de levantamento. Assim, o levantador passou a ser visto como peça chave para o sucesso de qualquer equipe de voleibol. As opções de distribuição tomadas por estes parecem interferir diretamente no sucesso de suas equipes.

    Desta forma, o levantador vem sendo reconhecido como peça-chave dentro das equipes de voleibol. Selinger (1986) afirma que ele é o "arquiteto do ataque de uma equipe de voleibol". Ran (1989) diz que ele é "a alma e o coração da equipe". Sawula (1989) cita que ele "é jogador mais importante na estrutura da equipe". Bizzochi (2000) menciona que "a importância deste jogador é tão grande que qualquer atacante torna-se substituível (...), entretanto todo o trabalho pode ser comprometido se o levantador apresentar condições técnicas abaixo do esperado".

    Apesar do levantador ser bastante citado nos livros de voleibol, existem poucas pesquisas acerca de suas opções de distribuição. Exceção feita a Moutinho (2000) que realizou um amplo mapeamento sobre o levantador e sua efetividade. Ramos et al. (2004) repetiram os procedimentos utilizados por Moutinho (2004) para verificar a efetividade de levantadores brasileiros. Rocha & Barbanti (2004) conduziram uma pesquisa acerca dos fatores que influenciavam o ataque no voleibol masculino de alto nível e, naturalmente, descreveram algumas tendências de levantamento.

    Os estudos encontrados na literatura focaram suas atenções no voleibol masculino de alto nível. Isto gera uma limitação na utilização destes dados por técnicos que trabalham com o voleibol feminino ou com as categorias de base. Desta forma, este estudo teve como objetivo verificar como os levantamentos são distribuídos no voleibol infanto-juvenil feminino. Também foi verificado se a dificuldade do jogo interferia nas opções de distribuição da levantadora. Para tanto, foi feita uma comparação entre os jogos de três, de quatro e de cinco sets, no que diz respeito à distribuição de bolas no levantamento.


Metodologia

    Os dados foram coletados a partir dos jogos do campeonato estadual infanto-juvenil feminino, organizado pela Federação Paulista de Voleibol em 2004. Nesta categoria jogam meninas com idade de até 17 anos. As doze equipes que disputaram este campeonato foram: Alphaville Tênis Clube, Sport Club Corinthians Paulista, ECUS / Suzano, FINASA / Osasco, Associação Brasileira A Hebraica, Instrumentec / Rio Branco, Inter Lusíada / FUPES, Clube Atlético Paulistano, Esporte Clube Pinheiros, Projeto Futuro, Esporte Clube São Caetano e S. I. Jundiaí.

    Em cada rodada do segundo turno da primeira fase foi sorteado um jogo para ser filmado, o que garantiu uma escolha aleatória dos jogos. Assim, foram filmados 11 jogos, representando 8,33% do total de 132 jogos realizados durante a competição na fase classificatória. Nos 11 jogos analisados foram disputados 41 sets e foram executados 1089 levantamentos. Destes jogos, cinco acabaram em 3 sets (45,5% do total de jogos), quatro jogos em 4 sets (36,3%) e dois jogos em 5 sets (18,2%).

    Além do jogo, também foi escolhida aleatoriamente (sorteio) a equipe que seria observada durante aquele jogo. Os jogos foram filmados utilizando-se uma filmadora da marca Sony, um tripé e quatro fitas para filmadora. A filmadora foi posicionada atrás de um dos lados da quadra, aquele onde se encontrava a equipe que fora sorteada para ser observada. No final de cada set a filmadora era trocada de lado para continuar verificando a mesma equipe.

    Após as filmagens, os jogos foram assistidos e os levantamentos analisados. Para isto, a quadra de voleibol foi dividida de acordo com a Figura 1.

Figura 1. Divisão da quadra para posicionar os levantamentos.

    Para a classificação de um levantamento para qualquer uma das seis posições, o referencial utilizado foi o último contato do pé da atacante. Assim, um levantamento categorizado como "para a posição 1", por exemplo, foi aquele onde a bola foi levantada para o lado direito da quadra e houve um ataque do fundo.


Resultados e discussão

    Num primeiro momento, foram quantificados todos os levantamentos ocorridos nos 11 jogos analisados, independentemente do número de sets disputado no jogo. Os resultados mostraram que existiu uma maior incidência de levantamentos para as extremidades da rede, dentro da zona de ataque, para as posições 4 e 2 (Tabela 1 e Figura 2). Sendo que mais da metade de todos os levantamentos (52,62%) ocorreu para a posição 4, que é recoonhecidamente uma região para onde são direcionados os "levantamentos de segurança" - bolas altas que exigem pouca precisão dos levantadores e que buscam os atacantes de força.

Tabela 1. Distribuição dos levantamentos.


Figura 2. Percentual de levantamentos por posição.

    Estes resultados não encontram similares na literatura. Rocha & Barbanti (2004) ao estudarem o ataque no voleibol masculino de alto rendimento verificaram uma distribuição quase que homogênea para as três regiões (consideraram apenas as posições 2, 3 e 4, sem se importarem se o ataque era efetuado pelos jogadores de ataque ou pelos jogadores de defesa) da quadra. Estes autores reportaram que 32,59% das bolas foram levantadas para a posição 2; 33,87%, para a posição 3 e 33,54% para a posição 4. Mesmo sem a distinção entre as bolas atacadas pelos jogadores de ataque (posições 2, 3 e 4, deste estudo) e aquelas atacadas pelos jogadores de fundo (posições 5, 6 e 1, deste estudo), pode-se perceber uma grande variação no que diz respeito a distribuição de bolas no voleibol masculino de alto rendimento e o voleibol feminino infanto-juvenil.

    Em um outro estudo, Ramos et al. (2004) estudaram a final do campeonato brasileiro adulto masculino de 2002/03 e compararam a efetividade de levantadores que vencem contra a efetividade dos que perdem. Com relação a distribuição de bolas, verificaram que os levantadores vencedores distribuíram de maneira mais homogênea as bolas a serem atacadas, enquanto que os perdedores tenderam a concentrar seus levantamentos para a posição 4. Esta situação de concentração de bolas para a posição 4 foi justamente o que foi encontrado neste estudo com levantadoras infanto-juvenis, o que pode ilustrar a baixa efetividade de garotas, ainda em formação, no que diz respeito a distribuição de bolas no levantamento.

    Ramos et al. (2004) mencionam que em competições nacionais as equipes vencedoras apresentaram melhor efetividade na distribuição de bolas para o ataque. Moutinho (2000) apresentou dados similares para competições internacionais. Estes dados podem contribuir para o entendimento de que as levantadoras da categoria infanto-juvenil ainda se encontram em formação e que, justamente por isso, apresentam baixa efetividade no que diz respeito a distribuição.

    Ao serem separados os jogos de acordo com o número de sets disputados, foram analisados 5 jogos de 3 sets, representando 45,5% do total de jogos. Totalizando 15 sets jogados e 380 levantamentos executados. Nestes jogos, a tendência de uma maior número de bolas para as posições ofensivas da quadra (4, 3 e 2) se manteve. Do mesmo modo que a posição que mais recebeu bolas foi a posição 4. (Tabela 2 e Figura 3)

Tabela 2. Distribuição dos levantamentos em jogos de 3 sets.


Figura 3. Percentual de levantamentos por posição em jogos de 3 sets.

    Com relação aos jogos de 4 sets, foram analisados 4 jogos, sendo 36,3% do total de jogos. Assim, foram analisados 16 sets jogados.e 429 levantamentos nos jogos com este número de sets.

    A tendência se manteve também para jogos com 4 sets, sendo que o maior percentual de bolas foi para a posição 4 (51,3%) e um pequeno número de bolas foi levantado para as posições defensivas da quadra (Tabela 3 e Figura 4).

Tabela 3. Distribuição dos levantamentos em jogos de 4 sets.


Figura 4. Percentual de levantamentos por posição em jogos de 4 sets.

    Por fim, foram analisados 2 jogos de 5 sets, representando 18,2% dos jogos analisados, somando 10 sets disputados e 280 ações de levantamento.

    Nestes jogos, que podem ser considerados os mais disputados, também foi mantida a tendência de distribuição de bolas. Como ocorreu nos jogos de 3 e 4 sets, nos jogos de 5 sets mais da metade de todos os levantamentos (53,22%) foram feitos buscando-se a posição 4 da quadra. De forma semelhante, poucas foram as bolas levantadas para serem atacadas pelos jogadores de defesa - posições 1, 6 e 5 (Tabela 4 e Figura 5)

Tabela 4. Distribuição dos levantamentos em jogos de 5 sets.


Figura 5. Porcentagem total de levantamentos nos jogos de 5 sets.

    A Figura 6 permite uma comparação entre os valores relativos encontrados para as bolas levantadas para a posição 4, que, de longe, foi a preferida para o envio dos levantamentos por parte das levantadoras da categoria infanto-juvenil. São percentuais bem próximos e sempre acima de 50%. O que indica que de cada duas bolas levantadas nesta categoria e neste naipe, uma vai para a posição 4.

Figura 6. Porcentagem de levantamentos para a posição 4 nos jogos de 3, 4 e 5 sets.


Considerações finais

    Com o presente estudo pôde-se concluir que os levantamentos realizados na categoria infanto-juvenil feminina apresentam os maiores valores direcionados para a posição 4 ou entrada de rede, seguido pela posição 2 ou saída de rede. A magnitude destes valores parece apontar para a pouca efetividade na distribuição de levantadoras.

    Ao se comparar com jogos de 3, 4 e 5 sets, pode-se observar que não houve diferença entre a distribuição dos levantamentos. Tento uma diferença significativa nos jogos de 4 sets em relação às bolas levantadas para a posição 3, onde se teve uma porcentagem perto a da posição 2.

    Ao se comparar com jogos de 3, 4 e 5 sets, pôde-se observar que não houve diferença entre a distribuição dos levantamentos. O que parece indicar que existe um padrão de distribuição para esta categoria e naipe, não importando a dificuldade do jogo em questão.

    No que diz respeito a uma intervenção prática, duas considerações podem ser feitas. A primeira é que se o seu time for jogar um campeonato de voleibol feminino categoria infanto-juvenil, você deve-se preparar para anular as intenções do ataque adversárias (isto é, treinar seu bloqueio e sua defesa) nas seguintes proporções:

  • 51,30% a 53,69% do treinamento dirigido para bolas atacadas pela posição 4;

  • 22,84% a 25,00% do treinamento, para bolas atacadas pela posição 2;

  • 15,00% a 21,21% do treinamento, para bolas atacadas pela posição 3;

  • 3,49% a 5,00% do treinamento, para bolas atacadas pela posição 1;

  • E apenas entre 1,13% e 1,84 do treinamento, para bolas atacadas pelas posições 5 e 6.

    A segunda é que se você quiser surpreender seus adversários, com relação ao seu ataque, uma boa estratégia seria treinar para que houvesse uma maior distribuição de bolas para a posição 3. Vale lembrar que as bolas atacadas por esta posição são, na maioria das vezes, bolas de velocidade, que exigem uma maior precisão das levantadoras e, conseqüentemente, têm uma relação direta com a qualidade do primeiro passe (recepção). O mesmo poderia ser feito para bolas atacadas pelo fundo, porém neste caso, o momento de formação no qual se encontram as jogadoras desta categoria pode ser um fator complicador: poucas jogadoras já apresentam potencial física suficiente para atacar bolas do fundo "com eficiência".

    Os motivos pelos quais a maioria das levantadoras analisadas neste estudo preferiu levantamentos para a rede e para as extremidades da rede não foram objeto de estudo desta pesquisa. Sugere-se que pesquisas futuras se foquem neste aspecto, a fim de que mudanças nas estratégias do treinamento técnico e tático (e talvez até físico) possam ser discutidas.


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