Análise dos gols ocorridos na 18ª Copa do Mundo de futebol da Alemanha 2006 |
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*Bacharel e Licenciado em Educação Física Especialista em Futebol Clube Recanto das Águas **Graduando em Educação Física Universidade Federal de Viçosa |
Cristiano Diniz da Silva* crisilvadiniz@ibest.com.br Rogério Moreira Campos Júnior** rogerionem@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 101 - Octubre de 2006 |
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1. Introdução
Está comprovado que o Gol é o momento mais marcante do Futebol. O gol marcado é que torna o futebol um jogo atraente de se assistir e, talvez seja o fator que possa melhor explicar toda a paixão do torcedor por sua equipe, por seus jogadores e pelo espetáculo em si.
Segundo Creek (1976) e Docherty (1978), "o futebol é definido pelos gols de uma partida". Quando o assunto envolve Copa do Mundo, este se torna ainda mais relevante. O Mundial é o ultimo degrau de reflexão do desenvolvimento e nível do futebol moderno, servindo de parâmetro para as mais variadas pesquisas nos mais variados assuntos quem cerceiam o futebol.
Pesquisadores e treinadores do mundo todo se empenham em encontrar formas de melhorar o poderio competitivo de sua equipe, treinando jogadas de ataque e defesa que possam resultar em gols e aprimorando a condição física, técnica e tática de seus atletas.
Informações científicas podem ser desenvolvidas pelo perfil que são ocorridos e concedidos os gols. Aspectos como local do campo, tempo de ocorrência e com que partes corporais são marcados podem fornecer informações úteis para a tomada de decisões nos treinamentos e nas partidas.
Assim este estudo tem como objetivo analisar o perfil dos gols e o tempo de sua ocorrência na Copa do Mundo 2006.
2. Materiais e métodosEste estudo visou analisar os 147 gols ocorridos no 18º Mundial, ocorrido na Alemanha, no período de 9 de Junho a 10 de Julho de 2006.
Analisaram-se os gols nos seguintes critérios: área do campo onde ocorreu o gol (dentro e fora da área de penalidade); circunstância da bola (advindo de bola parada ou bola em jogo) e parte do corpo utilizada na finalização (cabeça, pé direito, pé esquerdo). Houve também divisão do tempo total de jogo em intervalo de 15 minutos para análise do tempo de ocorrência dos gols.
Os dados foram retirados do site oficial da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado). Estes dados foram processados em um programa Excel, Windows versão 2003, de onde foram obtidos os resultados dos indicadores analisados. Utilizou-se da estatística descritiva para tratamentos dos dados.
3. Resultados e conclusões
3.1. Média de GolsForam marcados no total 147 gols em 64 jogos, dando uma média de 2,30 gols por jogo. Esta média é a segunda mais baixa na história das copas do mundo, sendo superior somente a copa de 1990 na Itália onde ocorreu uma média de 2,21 gols por partida (Jinshan et.al., 1991; Luhtanen, 1991). Esta média recuou de 2,71 metas registradas por partida em 1994 (FIFA, 1994; Njororai, 1996a), 2,67 na França 98 (Nepfer, 1998) e de 2,52 na 17ª edição deste torneio na Coréia do Sul e Japão (Njororai, 2004).
Esta tendência descendente poderia ser atribuída à ênfase em uma defesa bem organizada e na melhoria na qualidade do jogo pelas seleções de menor tradição no torneio. Muito se deve também ao fato de que nesses tipos de torneios é comum que as equipes adotem posturas defensivas (Fernandes, 1994; Drubscky, 2003), preocupando-se primeiro em não tomar gols, para depois se preocupar em marcá-los.
Várias esquadras apresentaram esquemas com apenas um atacante de origem (4-6-1), que vem sendo repetido por várias equipes das mais diversas nacionalidades, principalmente por ter sido adotado pela seleção Italiana, campeã do torneio. Isso poderá repetir assim como a consagração que existiu da utilização do esquema (4-4-2), após o Mundial de 1990, curiosamente, edição com a menor média de gols da história dos mundiais (2,21 gols por partida).
3.2. Área do CampoDe "dentro da área penal" foram marcados 121 gols, o que representa um total de 83,31 % dos gols marcados durante o Mundial. Já no critério "fora da área penal" foram marcados 26 gols, o que representa um percentual de 17,69 % do total de gols. Os valores estão representados na Figura 1.
Estes valores abaixo dos 85.7% da Copa Coréia-Japão (Njororai, 2004) e dos 86,1% de metas marcadas no torneio de 90 na Itália (Jinshan et. al., 1991) e mais alto que os 76,7% registrado em USA'94 (Njororai, 1996a).
Sendo assim é vital que treinadores atentem que tentativas de meta da área de penalidade têm chances maiores de sucesso (Cohen, 1975; Docherty, 1978). A proporção alta de metas da área de pênalti sugestiona a necessidade de desenvolverem táticas e estratégias perfeitas que possam desorganizar uma defesa efetivamente para permitir tentativas de meta nesta zona do campo de jogo (Njororai, 1996a, b)
3.3. Circunstância da BolaFoi analisado se os gols saíram com a bola rolando ou de bola parada. No caso da bola parada, foram considerados todos os momentos em que a partida era reiniciada após autorização por parte do arbitro (escanteios, laterais, tiros livres diretos e indiretos, pênaltis, saída de jogo).
Com a bola rolando aconteceram 117 gols, o que representa um percentual de 79,59 % do total de gols marcados.
Com a bola parada, esse percentual já foi de 21,41 % do total de gols marcados, o que significa 30 gols ocorridos durante o Mundial desta forma. Considerando ainda uma subdivisão do critério em ocorrências por falta; pênalti e depois de escanteio encontramos 9 (6,12%); 13 (8,84%) e 8 (5,44%) gols respectivamente advindos destas situações. Os valores estão representados na Figura 2.
Se comparado aos Mundiais anteriores mais recentes, percebe-se uma clara diminuição na quantidade de gols ocorridos de bola parada. Enquanto na Alemanha 2006 esses gols representaram em torno de 22% do total de gols ocorridos, no Mundial da França 98 os mesmos se deram em 33,34% (Drubscky, 2003), e no Mundial da Coréia-Japão representou 33,54 % (Njororai, 2004).
Esse decréscimo vem ocorrendo gradativamente, visto que no Mundial de 90, na Itália, os gols de bola parada (falta, pênalti, depois de escanteio) representaram um total de 41% do total de gols ocorridos ( Fernandes, 1994).
3.4. Partes do CorpoNeste critério foram analisados os gols saídos em finalizações com a cabeça e o pé. Do total de gols marcados no Mundial, 34 gols foram resultantes de finalizações em cabeçadas, o que representa um total percentual de 23,13%. Já com as finalizações executadas com o pé, o numero foi de 113 gols, representando um total de 76,87 % dos gols marcados. Desses, ainda podem-se dividir em 86 gols marcados com o pé direito, resultando um percentual de 58,50 % e 27 gols marcados de pé esquerdos, representando 18,37 % do total de gols. Estes valores estão na Figura 3 e 4 abaixo.
Em comparação com o Mundial da Coréia-Japão, percebemos um valor bem próximo do ocorrido. Neste Mundial de 2002, 23,60% do total de gols foram oriundos de cabeçadas (Njororai, 2004). Esse fato vem mostrar a consolidação de uma parcela importante do total dos gols marcados, ocasionando com isso uma maior preocupação e atenção em lances que podem ocasionar gols dessa maneira.
Ao se comparar tais números com os do Mundial de 2002, percebe-se claramente um acréscimo da quantidade de gols marcados com o pé direito. Enquanto no último Mundial esses responderam por 58,50% do total, no Mundial da Coréia-Japão os mesmos correspondiam a apenas 44,10% do total (Njororai, 2004).
3.5. Tempo de ocorrência dos GolsConsiderando a ocorrência dos gols em primeiro e segundo tempo regulamentar, do total de 144 gols decorrentes das 64 partidas analisadas, verificou-se que o valor do segundo tempo (53,47%) é maior que o do primeiro (46,53%), representados na Figura 5, abaixo.
Na literatura pesquisada encontraram-se resultados percentuais próximos ao deste estudo. No estudo de Piekarski (1987), analisando a liga especial alemã de futebol verificou que a ocorrência de gols no primeiro tempo foi de 43,1% e de 56,9% no segundo tempo. Oliveira (2003) encontrou um valor de 54,91% dos gols no segundo tempo no campeonato brasileiro da primeira divisão de 2001. Fernandes (1994) encontrou um total de 65% de ocorrência de gols nesse período durante o Mundial de 1990 na Itália. Já Njororai (2004), em seu estudo na copa do mundo de 2002, evidenciou um valor de 56,6% de ocorrência de gols neste período.
No estudo de Silva (2006) ao analisar 2811 partidas de oito campeonatos nacionais (Alemão, Argentino, Brasileiro, Espanhol, Francês, Holandês, Inglês e Italiano) da temporada de 2004/2005 identificou 55,66 % de a ocorrência de gols no segundo tempo.
Esta predominância de gols ao final do jogo pode estar relacionada principalmente com a fadiga dos atletas. Esta deterioração de performance ao final da partida pode estar relacionada com uma série de fatores como diminuição do nível de glicogênio muscular, acumulação de subprodutos metabólicos, falhas no sistema nervoso e no mecanismo de estímulo-contração (Spencer e Katz, 1991; Bianchi et al., 1997; Rienzi et al., 2000; Weineck, 2000; Wilmore e Costill, 2001; Reilly, 2003; Rahnama et al., 2004; Mohr et al., 2005).
Utilizando a freqüência dos gols no decorrer do tempo total de jogo em intervalo de 15 minutos, observamos que os valores da faixa de 76-90 minutos representam um valor de 21,70% ± 2,39% (Figura 6). Oliveira (2003) em seu estudo no campeonato brasileiro de primeira divisão de 2001 encontrou um valor de 21,2% do total nos últimos 15 minutos de jogo. Já Silva (2006) encontrou 21,70 % nesta faixa temporal em 2811 partidas da temporada de 2004/2005.
O mesmo comportamento foi observado por Ekblom (1994), Palomino et al. (2000) e Njororai (2004). Nestes estudos ficaram evidenciados que os 15 minutos finais apresentaram uma maior taxa de conversão de gols. Njororai (2004) no seu estudo sobre a copa do mundo de 2002 encontrou uma taxa de 19, 9%. Acima um pouco do apresentado encontra-se o estudo de Fernandes (1994) sobre a Copa de 1990. Nesse Mundial, os gols ocorridos nos últimos quinze minutos da etapa complementar representaram 30% do total dos gols ocorridos.
Para Reilly (2003) e Drubscky (2003) as táticas especiais de conter os movimentos de ataque até ter oportunidades de penetrar na linha defensiva, significam que se deve por ênfase na velocidade dos movimentos em tais fases críticas do jogo. Em si tratando de Copa do mundo este aspecto pode significar mais ainda.
4. ConclusõesExiste um padrão ou uma tendência de perfil na forma como foram marcados os gols nas últimas Copas do Mundo. Este 18º Mundial, ocorrido na Alemanha, apresentou a segunda menor médias de gols nas histórias das copas do mundo, obedecendo a tendência das últimas três edições.
Pode-se concluir também que há um alto percentual de ocorrência de gols de dentro da grande área penal. Houve também um percentual significativo de gols advindos de situação de bola parada. Confirmou-se a tendência de uma boa parte dos gols ocorrem mais aos finais das partidas.
Assim, o que se pretendeu com este estudo foi fornecer subsídios para que as comissões técnicas de equipes de futebol os possa utilizar, e ao relacionarem as suas realidades e necessidades, estabelecer parâmetros e metas mais realistas em seus treinamentos e competições.
Outros estudos e análises estatísticas mais sofisticadas poderão contribuir para o aprofundamento nessa área.
Referências bibliográficas
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revista
digital · Año 11 · N° 101 | Buenos Aires, Octubre 2006 |