O envelhecimento e o sistema músculo esquelético |
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* Especialização em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde/UFSM. ** Mestrando em Educação Física/UFSC. *** Mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana/UFSM. **** Doutora em Ciência do Movimento Humano/UFSM. Professora Adjunta do CEFD/UFSM (Brasil) |
Érico Felden Pereira* ** Clarissa Stefani Teixeira* *** Luciane Sanchotene Etchepare**** ericofelden@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 101 - Octubre de 2006 |
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Introdução
O envelhecimento e o sistema músculo esquelético
A medida que se entra na fase adulta, passa-se a experimentar importantes alterações fisiológicas que afetam o comportamento humano. Várias teorias têm sido apresentadas no sentido de buscar uma maior compreensão sobre as reais causas e implicações deste processo, e ao que tudo indica, não existe apenas uma, mas sim um conjunto de fatores que causam o envelhecimento e que se comportam de forma dinâmica em cada pessoa. O nível no qual essas teorias abordam a essas questões, varia a partir do nível celular ao nível de todo o organismo (Gallahue e Ozmun, 2001). O envelhecimento é um processo contínuo durante o qual ocorre um declínio progressivo de todos os processos fisiológicos, sendo que muitos gerontólogos acreditam que algumas modificações fisiológicas e psicológicas observadas no idoso podem, de fato, ser em parte atribuídas ao estilo de vida sedentário (Nóbrega et al., 1999). Leite (1996), apresenta o chamado ciclo vicioso do envelhecimento e afirma que este está associado a uma redução na atividade física. Nóbrega et al (1999) também apresentam o mesmo ciclo do envelhecimento, ilustrado na Figura 1:
Figura 1. Círculo vicioso do envelhecimento.
Fonte: Nóbrega et al. (1999).De acordo com a Figura acima, nota-se que com a falta de exercícios físicos ocorre um descondicionamento, que segundo os autores leva a fragilidade do sistema músculo esquelético. Fleck e Kraemer (2002), destacam entre as inúmeras funções do sistema músculo-esquelético a importância principalmente da força para as capacidades funcionais nos idosos. Segundo o mesmo autor, a fraqueza dos músculos pode avançar até que uma pessoa idosa não possa realizar as atividades comuns da vida diária, tais como as tarefas domésticas, levantar-se de uma cadeira, varrer o chão ou jogar o lixo fora.
Tomando-se como base leituras realizadas pela ciência biológica dos idosos observamos que a partir dos 30 anos de idade, já se inicia o processo degenerativo do sistema orgânico. Esse processo lento, complexo, multifatorial, não acontece de uma só vez, nem atinge todos os sistemas ao mesmo tempo, pois depende de fatores que não esgotam apenas no aspecto biológico (Soares, 2002).
Segundo Matsudo (2001) a perda da massa muscular e conseqüentemente da força muscular é o modo principal de se notar a deteriorização da mobilidade e da capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo. Para a mesma autora, é por esta razão que se desperta o interesse de pesquisadores a procura das causas e mecanismos envolvidos na perda da força muscular com o avanço da idade, para que se criem estratégias que minimizem este efeito deletério e para que se possa manter uma boa qualidade de vida nesta etapa da vida.
Para Nóbrega et al (1999), o sistema neuromuscular no homem alcança sua maturação plena entre 20 e 30 anos. A força muscular é essencial para o desempenho de habilidades motoras, sejam elas relacionadas ao desempenho atlético de alto nível, ou à vida diária funcional. Para Gallahue e Ozmun (2001) com a idade, a estrutura e a função dos músculos esqueléticos alteram-se. Estruturalmente, a massa muscular diminui a medida que o número e o tamanho das fibras musculares declinam durante o final da meia-idade e dos anos posteriores da idade adulta. Para Nóbrega et al (1999) entre as 3ª e 4ª décadas de vida, a força máxima permanece estável ou com reduções pouco significativas. Em torno dos 60 anos é observada uma redução de força máxima muscular entre 30 e 40%, o que corresponde a uma perda de força de cerca de 6% por década dos 35 aos 50 anos de idade, a partir daí, 10% por década. Leite (1996) apresenta a relação entre a idade e a força muscular, onde podemos observar que ocorre um declínio pelo menos de 16,5% na força muscular após a terceira década de vida.
Essa perda de força, segundo Leite (1996) relaciona-se diretamente a uma mobilidade e a um desempenho físico limitados, assim como aumentos na incidência de acidentes sofridos pelas pessoas com fraqueza muscular. A perda de força na preensão manual em homens por volta dos 65 anos é aproximadamente 20% em comparação com os valores para os indivíduos de 20 anos; para as mulheres a perda no transcorrer desses mesmos 45 anos varia de 2 a 20%. O menor declínio nas mulheres poderia ser atribuído a uma força máxima relativamente menor nos anos mais jovens, em virtude do menor uso profissional das mãos. O mesmo autor ainda apresenta outros dados de indivíduos com mais de 65 anos de idade que sugerem que a redução na força sofre uma aceleração adicional com o envelhecimento, com a perda global de força relacionada à idade, variando de 24% a 45%.
Funcionalmente, a redução na força muscular parece ocorrer ao mesmo tempo em que ocorrem perdas no tecido muscular. Porém Gallahue e Ozmun (2001) afirmam que embora uma perda de massa muscular ou atrofia muscular pareça ocorrer com a idade, estas alterações também são decorrentes da inatividade física. Leite (1996) afirma que a atrofia muscular devida a idade tem início no jovem adulto, ou seja, em torno dos 30 anos. O indivíduo não treinado perde cerca de 10% de sua massa muscular até os 50 anos. A partir daí, o processo de atrofia se acelera visivelmente aos 80 anos. Fiatarone et al apud Gallahue e Ozmun (2001) demonstram que em programas de treinamento de força realizados com idosos de 90 anos, esses apresentam uma melhora na força muscular e um aumento na massa muscular. Em estudos recentes, realizados com indivíduos entre 50 e 80 anos, Antoniazzi, Dias e Lang (2003) verificaram que o treinamento com características de resistência muscular são eficientes para melhorar a força muscular nos indivíduos estudados.
Segundo Leite (1996) a atrofia muscular da idade avançada corre por conta principalmente da perda de fibras musculares, sendo em grau menor devida à redução do tamanho das fibras. A redução do número de fibras musculares diz respeito aos dois tipos de fibras; a diminuição do tamanho afeta principalmente as fibras do tipo II. Parece que o mecanismo responsável não é tanto um processo miogênico e sim um fenômeno neurogênico, no qual a reinervação não é capaz de acompanhar a denervação e reinervação. Segundo o mesmo autor, as fibras musculares, que deixam de ser inervadas, acabam perecendo, sendo em parte substituídas por gordura e tecido conjuntivo. Esse mecanismo explica a acentuada diminuição da porcentagem de tecido muscular contrátil na musculatura do indivíduo idoso que para Lexell apud Matsudo (2001) é após os 60 anos que o músculo passa por esse processo contínuo de denervação e reinervação. Essa alteração na estrutura do músculo poderia explicar porque a redução do tecido muscular contrátil seria maior que a redução real do volume muscular e da área muscular transversa.
Além disso, o incremento da idade está associado a uma redução de aproximadamente 25% da capacidade muscular oxidativa e do fluxo sanguíneo durante a atividade contrátil (Rogers e Evans apud Matsudo, 2001). Para Cartee, Pôster et al. apud Matsudo (2001) o tamanho da fibra tipo II é reduzida com o incremento da idade, enquanto que o tamanho da fibra tipo I (fibra de contração lenta) permanece muito menos afetada. As fibras tipo II são muito importantes nas respostas às urgências do dia-a-dia, pois contribuem com o tempo de reação e principalmente de resposta, e, portanto, sua disfunção inviabilizaria uma apropriada resposta corporal às situações de emergência, como a perda súbita do equilíbrio.
Segundo Matsudo (2001) as principais causas apontadas como responsáveis pela redução seletiva da massa muscular, são a diminuição nos níveis do hormônio do crescimento que acontece com o envelhecimento e dos níveis de atividade física do indivíduo. Fatores nutricionais, hormonais, endócrinos e neurológicos também devem ser lembrados, pois estão envolvidos na perda da força muscular que acontece com a idade.
Com relação ao esqueleto, observa-se uma diminuição gradual com o passar do tempo na espessura dos ossos e na resistência e na arquitetura do tecido ósseo. Porém, estas mudanças podem ser moduladas especialmente em função do tipo de alimentação das pessoas e dos hábitos de atividade física. Outro aspecto que influencia bastante o metabolismo ósseo são as mudanças dos níveis hormonais que ocorrem principalmente nas mulheres durante e depois do climatério. Apesar destas alterações hormonais levarem a uma perda maior da massa óssea em comparação com os homens, os fatores nutricionais e a atividade física na juventude e ao longo do processo do envelhecimento podem contribuir muito fortemente para que as mudanças no esqueleto sejam graduais e favoreça uma boa qualidade de vida (Moriguchi e Jeckel Neto, 2003).
Segundo Nóbrega et al (1999) no idoso também ocorre a redução da massa óssea, mais freqüentemente em mulheres, o que pode predispor à ocorrência de fraturas. Para Gallahue e Ozmun (2001), várias alterações dentro da estrutura esquelética aparecem a medida que a pessoa envelhece. Muitos indivíduos apresentam um encurtamento na estrutura. Este encolhimento pode ser atribuído a uma ou mais causas. À proporção que o envelhecimento avança, os discos que separam as vértebras principalmente da coluna dorsal passam por várias alterações. Em um estado saudável, os discos intervertebrais possuem núcleos similares à gelatina. Os discos vertebrais de adultos mais velhos freqüentemente perdem uma porção de conteúdo de água, que é importante para a absorção de choques, tornando-se mais fibrosos. Isto, juntamente com alterações da densidade mineral óssea nas vértebras, resulta em compressão dos discos. A compressão dos discos reduz o comprimento da coluna vertebral e causa a perda subseqüente de altura total conforma ilustra a Figura 2. Para Gallahue e Ozmun (2001) as fraturas por compressão de vértebras torácicas levam a perda de estatura e cifose torácica progressiva. As costelas inferiores eventualmente apóiam-se nos ossos dos ilíacos e a pressão para baixo exercida sobre as vísceras causa distensão abdominal. Outros fatores que contribuem pata a perda de altura relacionada a idade incluem o mau alinhamento da coluna e a má postura. O curvamento da coluna pode resultar de uma redução na capacidade de absorção de choques dos discos vertebrais.
Figura 2. Perda da estatura com o envelhecimento.
Fonte: Gallahue e Ozmun (2001).Para Hayflick (1997), a massa óssea é variável, aumenta na infância, adolescência e fase adulta, atingindo seu pico entre os 13/35 anos, sendo mais densa nos homens do que nas mulheres. Segundo Lorda (1995) com a idade ocorre a perda de massa óssea, sendo mais prematura na mulher que, a partir dos 35 anos de idade apresenta um índice de aproximadamente 1% ao ano, enquanto que o homem inicia esta perda por volta dos 55 anos, perdendo de 10 a 15% com a idade de 72 anos.
A diminuição de massa óssea esteja ligada à redução nas concentrações de hormônios (estrogêneo, hormônios de paratireóide, calcitonina, costiesteróides e progesterona); fatores nutricionais (deficiência de vitamina D, e de cálcio); imobilidade causada pelo estilo de vida sedentário (doenças, fraturas, problemas articulatórios) e status da massa óssea na maturidade (biótipo baixo, magro e caucasiano) (Mazo, Lopes e Benedetti, 2001). Para Matsudo (2001) a perda de massa óssea está relacionada não somente ao envelhecimento, mas também a genética, ao estado nutricional, e ao nível de atividade física do indivíduo.
Considerações finaisBuscou-se, através deste texto de revisão, abordar algumas questões relacionadas ao envelhecimento, principalmente ao declínio das funções do sistema músculo esquelético. Estudos mostram que além das alterações normais do processo de envelhecimento, o uso, desuso e intensidade de uso, são fatores primordiais na manutenção das funções deste sistema e, desta forma, por se tratar de um sistema intimamente ligado às necessidades de locomoção e sustentação e por conseguinte à autonomia e qualidade de vida de todas as pessoas em especial dos idosos, deve-se resguardar suas funções com um estilo de vida mais ativo e saudável.
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digital · Año 11 · N° 101 | Buenos Aires, Octubre 2006 |