efdeportes.com
Nível de flexibilidade em adultos obesos participantes de um programa de reabilitação cardiovascular

   
Laboratório de Desenvolvimento Humano (LADEHU).
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
do Centro de Educação Física e Desportos (CEFID).
(Brasil)
 
 
Lena Mazuruka Fachini  
Adriana Coutinho de Azevedo Guimarães  
Joseani Paulini Neves Simas
nanaguim@terra.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O estudo de caráter descritivo exploratório teve como objetivo analisar o nível de flexibilidade de adultos obesos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular. A amostra foi composta por 50 adultos obesos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular, sendo 36 homens e 14 mulheres, na faixa etária de 35-59 anos e IMC± 25 Kg/m2.Utilizou-se para tanto dois testes de flexibilidade1: (a) sentar-e-alcançar modificado e (b) teste de ombros Para a análise dos dados utilizou-se estatística descritiva. Os resultados indicaram que em relação à flexibilidade, os participantes apresentaram melhores níveis nos membros inferiores em relação aos membros superiores, nos quais a maioria apresentou baixo nível de flexibilidade. No que se refere ao sobrepeso e obesidade II, no teste sentar-e-alcançar modificado, os participantes do sexo masculino, atingiram os melhores resultados, diferindo de vários estudos, onde normalmente o sexo feminino e faixas etárias menores apresentam melhores níveis de flexibilidade. Desta forma conclui-se que os participantes desse estudo necessitam de uma melhor conscientização na realização dos exercícios de alongamento, que são realizados no programa em que participam, para que possam atingir maior flexibilidade, principalmente nos membros superiores, facilitando assim a realização das tarefas diárias.
    Unitermos: Obesidade. Flexibilidade. Exercício físico.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006

1 / 1

Introdução

    Atualmente, o estilo de vida das pessoas tende a ser mais sedentário que antigamente, quando as pessoas realizavam mais atividades físicas em busca do próprio sustento. Devido a essas mudanças de comportamento, vida sedentária aliada a uma má alimentação, stress diário, falta de lazer ativo, cresce o número de pessoas com peso acima do ideal, acarretando com isso conseqüências negativas na saúde, levando inclusive à obesidade.

    No Brasil, o excesso de gordura corporal está se agravando, como revelam os dados da Pesquisa do Padrão de Vida (PPV) do IBGE, que confirmam a suspeita de que, nas últimas décadas, o número de brasileiros com sobrepeso (Índice de Massa Corporal - IMC± 25 Kg/m2) e obesidade (IMC± 30 Kg/m2) vem aumentando significativamente. Atualmente, em torno de um em cada dez adultos é obeso no Brasil. 1

    Segundo estudiosos2,3 indivíduos obesos normalmente são sedentários, pois o excesso de peso da massa corporal torna-se um obstáculo para a aquisição de um estilo de vida mais ativo, sendo que o sedentarismo aumenta com a probabilidade de morbidades comuns ao excesso de peso. A obesidade e um estilo de vida fisicamente inativo são fatores que fazem prevalecer às doenças crônicas, tais como: doenças cardiovasculares, renais, digestivas, diabetes, problemas hepáticos e ortopédicos, podendo levar também à morte prematura. A incidência dessas doenças é quatro vezes maior entre mulheres obesas e duas vezes maior entre homens obesos quando comparados à população não-obesa.

    Além disso, o estresse crônico (intenso e prolongado) vivido atualmente também acarreta conseqüências negativas para a saúde, gerando doenças como a hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, derrames cerebrais, depressão, entre outros. Para controlar ou amenizar o stress, dispõe-se de alguns recursos como as técnicas de relaxamento, os exercícios de alongamento, boas noites de sono, harmonia familiar e a adoção de um estilo de vida mais ativo.1

    Assim sendo observa-se que o corpo humano foi projetado para movimentar-se, e sua integridade depende do treinamento das capacidades de força, resistência aeróbia, flexibilidade e controle de peso. Dentre estes, a flexibilidade tornou-se fundamental para facilitar os movimentos, tanto das tarefas diárias como das tarefas profissionais. Um trabalho de flexibilidade proporciona inúmeros benefícios, dentre eles, o relaxamento do estresse e das tensões, relaxamento muscular e prevenção de lesões.4

    Muitas pessoas atingidas pelas conseqüências negativas da inatividade física e da obesidade, principalmente pelo risco de doenças cardiovasculares, necessitam entrar para um Programa de Reabilitação Cardíaca. Este programa é acompanhado por profissionais da medicina do esporte, educação física, fisioterapia, e nutrição, dando o suporte necessário à retomada de um estilo de vida ativo, com segurança, evitando a morte súbita. A inclusão do desenvolvimento de atividades de flexibilidade torna-se necessária para prevenir lesões e garantir a realização de tarefas diárias, como cortar as unhas dos pés, pentear o cabelo, amarrar o tênis, tomar banho, sem precisar de ajuda.5,1

    Nesse programa são realizados exames médicos, exames laboratoriais, eletrocardiograma de repouso, teste ergométrico, antropometria e avaliação e orientação nutricional. Os exames procuram identificar patologias que contra-indicam a atividade física ou aquelas que poderiam ser agravadas pela sua prática; lesões crônicas e possíveis carências nutricionais. A supervisão médica no esporte e na educação física necessita ser permanente e procurar abranger os três estágios da enfermidade: a prevenção, a doença e a reabilitação.5

    Um trabalho de flexibilidade é muito importante na manutenção da saúde, pois níveis de flexibilidade favoráveis aumentam a eficiência dos movimentos. O método de treinamento a ser aplicado vai depender dos objetivos pessoais, que podem ser desde o relaxamento ou o aperfeiçoamento técnico de alguma modalidade. A flexibilidade pode influenciar vários aspectos do movimento humano, entre ele destaca-se o aperfeiçoamento motor, a eficiência mecânica, a profilaxia de lesões, a expressividade e consciência corporal.6,7

    As pessoas com boa flexibilidade movem-se com mais facilidade e tendem a sofrer menos problemas de dores, lesões musculares e articulares, particularmente na região lombar1. Ainda segundo o mesmo autor, estudos longitudinal demonstra que a expectativa de vida para indivíduos que possuem bons hábitos de saúde pode ser também mais longa, em média de mais 11 anos entre os homens e mais 7 anos entre as mulheres.

    Apesar de alguns estudos mostrarem a importância do trabalho da flexibilidade ainda são poucas as informações científicas existentes em relação a obesos participantes de um programa de reabilitação cardíaca e níveis de flexibilidade. Desta forma o intuito deste estudo foi analisar o nível de flexibilidade em adultos obesos, participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.


Materiais e métodos

    A amostra não-probabilística intencional constitui-se por 50 indivíduos obesos, de ambos os sexos, com idade média de 50,3 anos e IMC± 25 Kg/m2, participantes do Programa de Reabilitação Cardiovascular da cidade de Florianópolis - SC.

    O Programa de Reabilitação Cardiovascular consiste em sessões de 1 hora de exercícios, sendo realizadas 5 vezes na semana, de segunda a sexta-feira. Duas vezes na semana são realizados 30 min. de atividade aeróbia (em esteira e/ou bicicleta ergométrica) e 30 min. envolvendo exercícios de resistência muscular localizada (RML) e alongamentos. Três vezes por semana, são realizados 45 min. de trabalho aeróbio e o restante da aula em RML e alongamentos, sob orientação de professores e estagiários de educação física.

    Utilizou-se para tanto os instrumentos de estudo: (a) Teste de Sentar-e-Alcançar Modificado1 e (b) Teste de Flexibilidade de Ombros.1

    O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética-Pesquisa em Seres Humanos-UDESC / CEFID no dia 27/04/2004 e a partir daí realizou-se a coleta de dados mediante os procedimentos: (1) exposição do estudo e autorização através do Termo de Consentimento Livre Esclarecido; (2) aplicação de um questionário com informações pessoais; (3) realização dos testes de flexibilidade; (4) repasse dos resultados aos participantes do estudo e recomendações para melhorar a flexibilidade.

    Os dados foram analisados estatisticamente através do pacote estatístico SPSS for Windows (versão 10.0), aplicando-se os procedimentos da estatística descritiva (distribuições de freqüências absolutas e medidas de tendência central)


Resultados e discussão

    Objetivando analisar o nível de flexibilidade em adultos obesos, participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular, os resultados estão apresentados em forma de figuras e tabelas organizados em tópicos, segundo os objetivos do estudo.

    Inicialmente julgou-se necessário averiguar o nível de flexibilidade (teste sentar-e-alcançar modificado) relacionado com o IMC e observou-se em relação ao sobrepeso que, 10 participantes estão na faixa recomendável (28,6%) e 10 estão na condição atlética (28,6%). Na obesidade I, observou-se que 8 encontram-se na faixa recomendável (61,5%) enquanto que na obesidade II, 1 encontra-se com baixa aptidão (50%) e 1 na condição atlética (50%).

    Em relação ao sobrepeso observa-se que 57,2% estão na faixa recomendável/condição atlética, ideal para a manutenção da saúde, e 42,8% estão com deficiência na questão da flexibilidade dos membros inferiores, na obesidade I, salienta-se que 61,5% estão na faixa recomendável, enquanto que 38,5% não atingem esta classificação. Na obesidade II, 50% estão na condição atlética.

    Confrontando os dados com a literatura8,9 reforçam que maiores níveis de gordura corporal tendem a diminuir o grau de flexibilidade e que a flexibilidade da coluna vertebral diminui de 30 a 50% entre os 20 e 60 anos. Em contrapartida, neste estudo os maiores percentuais de flexibilidade dos membros inferiores, foram encontrados em participantes com obesidade I, contrariando a literatura e indo de encontro, à questão da prática regular de exercício, incluindo exercícios de alongamento diariamente.Complementando a análise10 verificaram um aumento significativo na flexibilidade, em ambos os sexos, concluindo que o estilo de vida e o tipo de profissão podem interferir de forma negativa. Porém, a prática regular e simultânea de exercícios resistidos e alongamentos parecem ser o fator predominante no desenvolvimento da flexibilidade e dos níveis de aptidão física desejáveis para a saúde.

    Dando continuidade a análise, verificou-se o nível de flexibilidade (teste sentar-e-alcançar modificado) e IMC por sexo, cujos resultados seguem na figura 1.

Figura 1. Nível de flexibilidade (teste sentar-e-alcançar modificado) e IMC por
sexo, de adultos obesos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.

    Na figura 1 a análise estatística mostrou em relação ao sobrepeso, que num total de 35 participantes, 10 estão na condição atlética (9 homens-34,6% e 1 mulher-100%), 10 estão na faixa recomendável (7 homens-26,9 e 3 mulheres-33,3%), 6 estão com baixa aptidão (5 homens-19,2% e 1 mulher-100%) e 9 estão na condição de risco (5 homens-19,2% e 4 mulheres-44,4%). No que se refere à obesidade I, com um total de 13 participantes, 8 estão na faixa recomendável (5 homens-55,6% e 3 mulheres-75%), 3 estão na condição de risco (homens-33,3%), 1 está com baixa aptidão (homem-11,1%) e 1 está na condição atlética (mulher-100%). Já na obesidade II, com um total de 2 participantes, 1 está na condição atlética (homem-100%) e 1 na baixa aptidão (mulher-100%).

    Analisando os dados mais profundamente, pode-se verificar em relação ao sobrepeso, que os homens são mais flexíveis, pois 61,5% atingiram a faixa recomendável/condição atlética, enquanto que entre as mulheres apenas 44,4% atingiram a mesma classificação. Já na obesidade I, 100% das mulheres encontram-se na faixa recomendável/condição atlética, enquanto que os homens apenas 55,6% e na obesidade II, chama a atenção, o fato do sexo masculino estar 100% na condição atlética enquanto que no sexo feminino, 100% está com baixa aptidão.

    Os resultados recebem suporte teórico de estudos11 a flexibilidade é muito importante na realização de várias tarefas diárias e progressos na medicina física e de reabilitação, salientam que é importante também para a saúde geral e para a aptidão física. Exercícios de flexibilidade estão sendo prescritos para alívio da dismenorréia, da tensão neuromuscular generalizada e das lombalgias e ainda previnem lesões. Por conseguinte12 destaca-se que a elasticidade e a capacidade de alongamento dos músculos, de ligamentos e tendões, normalmente é maior em pessoas do sexo feminino, que pode ser explicado pelas diferenças hormonais. O equilíbrio muscular resulta de um trabalho de força e flexibilidade, produzindo eficiência muscular.12

    Em seqüência, investigou-se o nível de flexibilidade (teste sentar-e-alcançar modificado) por faixa etária/sexo e verificou-se que na faixa etária de 35-39 anos, houve um total de 3 participantes (homens) sendo que 1 está na condição atlética (33,4%) e 2 estão na condição de risco/baixa aptidão (66,6%). Na faixa etária de 40-44 anos, com um total de 2 participantes (homens) 1 na faixa recomendável (50%) e 1 na condição atlética (50%). Na faixa etária de 45-49 anos, apresentou um total de 8 participantes, sendo que 5 (homens -71,5%) estão na condição de risco/baixa aptidão, 3 estão na faixa recomendável (2 homens-28,5% e 1 mulher-100%).

    Na faixa etária de 50-54 anos, um total de 23 participantes, (14 homens e 9 mulheres), 8 estão na condição atlética (6 homens-42,9% e 2 mulheres-22,2%), 7 estão na faixa recomendável (4 homens-28,6% e 3 mulheres-33,3%), 3 estão com baixa aptidão (2 homens-14,3% e 1 mulher-100%) e 5 estão na condição de risco (2 homens-14,3% e 3 mulheres-33,3%). Na faixa etária de 55-59 anos, com um total de 14 participantes (10 homens e 4 mulheres), 7 estão na faixa recomendável (5 homens-50% e 2 mulheres50%), 2 na condição atlética (homens-20%), 2 com baixa aptidão (1 homem-10% e 1 mulher-25%) e 3 estão na condição de risco (2 homens -20% e 1 mulher-25%).

    É possível verificar na faixa etária de 50-54 anos, que os homens também são mais flexíveis, 71,5% atingiram a faixa recomendável/condição atlética, enquanto que as mulheres apenas 55,5% atingiram essa classificação. O mesmo ocorreu na faixa etária de 55-59 anos, 70% dos homens atingiram a faixa recomendável/condição atlética, enquanto que apenas 50% das mulheres atingiram essa classificação. Os homens dessas faixas etárias, nesse estudo, possuem maior flexibilidade em relação às mulheres, apresentando resultados opostos aos encontrados na grande maioria dos estudos vistos na literatura, tanto em relação ao sexo como a idade.

    Um estudo13 teve como objetivo principal verificar se a perda da flexibilidade acarretada pelo envelhecimento ocorre, preponderantemente, em função da diminuição da mobilidade ou da perda da elasticidade muscular. Para isso foram montados dois grupos amostrais, entre as faixas etárias de 31 e 45 anos e entre 61 e 75 anos. Concluiu-se que as variações da capacidade de flexibilidade decorrem das variações etárias e que a perda de flexibilidade durante o processo de envelhecimento obteve um índice de 45,9% para a mobilidade articular, enquanto que a elasticidade muscular foi responsável por 54,1% sobre o total da variação.O presente estudo, em relação ao estudo acima citado, apresentou resultados opostos. Os homens das faixas etárias maiores demonstraram maiores níveis de flexibilidade do que a faixa etária menor e também em relação às mulheres, que apresentaram menor grau de flexibilidade em relação aos homens.

    Já um estudo14 examinou os efeitos do alongamento dos músculos posteriores da coxa, em três grupos (alongando por 15, 30 e 60 seg.). Os resultados indicaram que o alongamento estático, realizado por 30 e 60 seg. era mais efetivo no aumento da flexibilidade da musculatura posterior da coxa e não foi encontrada diferença nos alongamentos realizados entre 30 e 60 seg.

    Observa-se, no geral, que 30 participantes atingiram a faixa recomendável/condição atlético, enquanto que um total de 20 participantes, não atingiu essa classificação, principalmente as faixas etárias de 35-39 anos e 45-49 anos, do sexo masculino.

    Dando continuidade a análise, verificou-se nível de flexibilidade de ombros (direito) relacionado ao IMC, cujos resultados seguem na figura 2, a seguir.

Figura 2. Freqüência do nível de flexibilidade de ombros (direito) relacionado
ao IMC, dos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.

Figura 3. Freqüência do nível de flexibilidade de ombros (esquerdo)
relacionado ao IMC, dos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.

    De acordo com a análise da figura 2, verificou-se o nível de flexibilidade do ombro direito em relação ao sobrepeso e constatou-se que 17 participantes encontram-se na condição de risco (48,6%), 12 estão com baixa aptidão (34,3%), 2 estão na faixa recomendável (5,7%) e 4 estão em condição atlética (11,4%) e na figura 6, em relação ao ombro esquerdo, 27 participantes estão na condição de risco (77,1%), 3 estão em baixa aptidão (8,6%), 4 estão na faixa recomendável (11,4%) e 1 está em condição atlética (2,9%). Em relação à obesidade I, no ombro direito, 11 estão em condição de risco (84,6%), 1 está com baixa aptidão (7,7%) e 1 está na faixa recomendável e na obesidade II, 2 apresentam-se em condição de risco (100%) e no ombro esquerdo, 11 estão na condição de risco (84,6%).

    De forma geral, observou-se no ombro direito, que em relação ao sobrepeso, 82,9% não atingiram a faixa recomendável e apenas 17,1% atingiram, e desses, 11,4% atingiram a condição atlética. Na obesidade I, 92,3% não atingiram a faixa recomendável e na obesidade II, 100% não atingiram essa faixa.

    Verificou-se na figura 5, em relação ao ombro esquerdo, relacionado ao sobrepeso, que 85,7% não atingiram a faixa recomendável e 14,3% atingiram, desses, 2,9%, atingiram a condição atlética. Na obesidade I, 84,6% não atingiram a faixa recomendável e na obesidade II, 100%, não atingiram essa faixa.

    Em relação ao teste de ombros, destaca-se a obesidade I, pois em relação ao ombro direito, 92,3% não atingiram a faixa recomendável, enquanto que no ombro esquerdo 84,6% não atingiram essa classificação. Em relação ao sobrepeso e obesidade II, há um equilíbrio percentual entre os ombros.

    A grande maioria dos participantes era destra, ou seja, realizam as tarefas predominantemente com a mão/braço direito, e se houver trabalho de força sem que haja um trabalho de alongamento para compensar, pode ocorrer encurtamento muscular, diminuindo a flexibilidade. No geral, percebe-se que grande parte dos participantes apresenta níveis de fleibilidade reduzidos dos membros superiores.15

    No estudo de Lima et al12 que investigaram a flexibilidade na flexão, na extensão e nos desvios radial e ulnar do punho de 1.044 indivíduos de ambos os sexos, nas faixas etárias de 15 a 19, 20 a 49 e de 50 a 60 anos, os autores concluíram que os graus de flexibilidade diminuíram com a idade, mas permaneceram maiores nas mulheres em todas as faixas etárias, com exceção do desvio radial entre os 20 e 69 anos, e a flexão no grupo de 50 a 69 anos, que foram superiores entre os homens, não havendo variação significante entre os lados dominantes e não-dominantes.

    Outro estudo realizado por Allander et al12 também quanto à amplitude de movimento dos punhos verificou diferenças entre o direito e o esquerdo em ambos os sexos, atribuindo-se maior exposição a traumas da mão direita em pessoas destras. A diferença de flexibilidade entre os punhos, no trabalho citado, também foi maior para o sexo masculino.

    A flexibilidade do ombro diminui de 15 a 20% entre as idades de 20 e 60 anos. Afirma ainda, que a falta de prática de movimentos amplos, tem sido associada à diminuição da flexibilidade.9

    Logo a seguir, verificou-se nível de flexibilidade de ombros (direito) e IMC por sexo, cujos resultados seguem na figura 4.

Figura 4. Freqüência do nível de flexibilidade de ombros (direito) por sexo,
relacionado ao IMC, dos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.

Figura 5. Freqüência do nível de flexibilidade de ombros (esquerdo) por sexo,
relacionado ao IMC, dos participantes de um Programa de Reabilitação Cardiovascular.

    A figura 4 demonstrou que em relação ao nível de flexibilidade do ombro direito, os participantes do sexo masculino estão assim classificados: no sobrepeso, 13 estão na condição de risco (50%), 7 estão com baixa aptidão (26,9%), 2 estão na faixa recomendável (7,7%) e 4 estão em condição atlética (15,4%). Em relação a obesidade I, 8 participantes estão na condição de risco (88,9%) e 1 está com baixa aptidão (11,1%) e na obesidade II, 1 está na condição de risco (100%).

    Os participantes do sexo feminino em relação ao nível de flexibilidade do ombro direito estão assim classificados: no sobrepeso, 4 estão em condição de risco (44,4%) e 5 com baixa aptidão (55,6%). Na obesidade I, 3 estão em condição de risco (75%), 1 está na faixa recomendável (25%) e na obesidade II, 1 também em condição de risco (100%).

    Observa-se em relação ao sexo masculino, que apenas no sobrepeso houve alcance da faixa recomendável por parte de 23,1% (6) dos participantes. No sexo feminino, apenas na obesidade I houve o mesmo alcance, por parte de 25% (1) dos participantes. Apresentando equilíbrio percentual entre os sexos.

    A seguir averigou-se o nível de flexibilidade de ombros (esquerdo) e IMC por sexo, cujos resultados seguem na figura 5. Através da figura 5 verificou-se em relação ao nível de flexibilidade do ombro esquerdo, que os participantes do sexo masculino estão assim classificados: no sobrepeso, 19 então na condição de risco (73,1%), 2 estão com baixa aptidão (7,7%), 4 estão na faixa recomendável (15,4%) e 1 está na condição atlética (3,8%). Na obesidade I, 8 apresentam-se na condição de risco (88,9%) e 1 está na faixa recomendável (11,1%) e na obesidade II, encontra-se 1, que está na condição de risco (100%).

    Os participantes do sexo feminino em relação ao nível de flexibilidade do ombro esquerdo, estão classificados da seguinte forma: no sobrepeso, 8 estão em condição de risco (88,9%) e 1 está com baixa aptidão (11,1%), na obesidade I, 3 participantes estão em condição de risco (75%) e 1 está na faixa recomendável (25%) e na obesidade II, está 1 participante, que se encontra na condição de risco (100%).

    Em relação aos níveis de flexibilidade do ombro esquerdo, verificou-se em relação ao sexo masculino, que 30,3% atingiram a faixa recomendável contra 25% no sexo feminino. De uma forma geral, no sobrepeso, os homens apresentaram maiores níveis de flexibilidade do que as mulheres, e na obesidade I e II, ambos os sexos apresentam níveis de flexibilidade aquém das recomendações.

    Analisando o nível de flexibilidade de ombros (direito) conforme a faixa etária e sexo, verificou-se que os participantes do sexo masculino, em relação ao nível de flexibilidade do ombro direito, ficaram assim classificados segundo a faixa etária: dos 35-39 anos, 2 estão em condição de risco (66,7%) e 1 está na condição atlética (33,3%). Na faixa etária de 40-44 anos, 1 está na condição de risco (50%) e 1 está na faixa recomendável (50%). Na faixa etária de 45-49 anos, 5 estão em condição de risco, 1 com baixa aptidão (14,3%) e 1 na condição atlética (14,3%). Na faixa etária de 50-54 anos, 9 estão na condição de risco (64,3%), 3 com baixa aptidão (21,4%), 1 está na faixa recomendável (7,1%) e 1 está na condição atlética (7,1%) e na faixa etária de 55-59 anos, 5 estão na condição de risco (50%), 4 estão com baixa aptidão (40%) e 1 está na condição atlética (10%).

    Em relação ao sexo feminino, no nível de flexibilidade do ombro direito, verificou-se a seguinte classificação: na faixa etária de 45-49 anos, 1 participante, que está na condição de risco (100%). Na faixa etária de 50-54 anos, 3 estão na condição de risco (33,3%), 5 estão com baixa aptidão (55,6%), 1 está na faixa recomendável (11,1%) e na faixa etária de 55-59 anos, 1 participante, que está na condição de risco (100%).

    Por fim, verificou-se que os participantes do sexo masculino, em relação ao nível de flexibilidade do ombro esquerdo, ficaram assim classificados segundo a faixa etária: dos 35-39 anos, 2 estão em condição de risco (66,7%) e 1 está em condição atlética (33,3%). Na faixa etária de 40-44 anos, 2 estão em condição de risco (100%). Na faixa etária de 45-49 anos, 6 estão na condição de risco (85,7%) e 1 está na faixa recomendável (14,3%). Na faixa etária de 50-54 anos, 11 estão na condição de risco (78,6%) e 3 na faixa recomendável (21,4%) e na faixa etária de 55-59 anos, 7 estão na condição de risco (70%), 2 estão com baixa aptidão (20%) e 1 está na faixa recomendável (100%).

    Em relação ao sexo feminino, verificou-se a seguinte classificação: na faixa etária de 45-49 anos, 1 participante, que está na condição de risco (100%). Na faixa etária de 50-54 anos, 7 estão na condição de risco (77,8%), 1 está com baixa aptidão (11,1%), 1 está na faixa recomendável (11,1%) e na faixa etária de 55-59 anos, 4 estão na condição de risco (100%).

    Pode-se observar que a grande maioria dos participantes, de ambos os sexos, não atingiu a faixa recomendável em relação ao teste de ombros. Apenas na faixa etária de 50-54 anos, do sexo masculino, houve um maior grau de flexibilidade no ombro esquerdo (21,4%) em relação ao direito (14,2%).

    No estudo de Bassey et al12 que teve por objetivo verificar o nível de flexibilidade da abdução do ombro de 894 pessoas idosas, com idade média de 65 anos, foram encontrados níveis menores de flexibilidade nas mulheres, com redução de 10% por década. Dentre os fatores que limitam a mobilidade articular, é o envelhecimento. Há um aumento do cross-linking (ligação entre moléculas) o tecido conjuntivo perde elasticidade, e a amplitude de movimento é diminuída.14 Bladley, Wood12 estimaram que a flexibilidade necessária na abdução do ombro chega a 170 graus durante o banho, 130 graus para lavar as costas, 50 graus ao vestir-se e 40 graus para usar o banheiro. A redução da flexibilidade na abdução do ombro torna difíceis atividades como se vestir, pentear-se, ou mesmo segurar nas barras de ônibus, quando em pé. A flexibilidade é o único requisito motor que alcança seu valor máximo na transição entre a infância e a adolescência, diminuindo em seguida.11


Conclusão

    No que diz respeito aos níveis de flexibilidade, não houve discrepância nos resultados. Em relação à flexibilidade de ombros, ambos os sexos apresentaram baixos níveis de flexibilidade. Na obesidade I houve uma maior diferença de dados, onde o sexo masculino apresentou melhor flexibilidade no ombro esquerdo, em relação ao sexo feminino.

    Quanto aos dados obtidos no teste de sentar-e-alcançar modificado, os melhores níveis de flexibilidade, foram encontrados no sobrepeso e obesidade II, no sexo masculino, diferindo de vários estudos, onde normalmente o sexo feminino e faixas etárias menores apresentam melhores níveis de flexibilidade. Nesse estudo, os homens de uma forma geral, apresentaram melhores níveis de flexibilidade em relação às mulheres.

    De acordo com o que foi abordado em todo o trabalho, fica visível a importância das questões pesquisadas para a manutenção da saúde dos participantes. Orientações básicas sobre esses assuntos deveriam ser enfatizadas desde o ensino fundamental, para que as gerações futuras tenham melhores condições de saúde, passando essa consciência a cada geração, melhorando assim, a saúde em todas as fases da vida.


Referências bibliográficas

  1. NAHAS, MV. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003.

  2. BOUCHARD, C. Atividade física e obesidade. São Paulo: Manole, 2003.

  3. NAHAS, MV. Obesidade, controle de peso e atividade física. Londrina: Midiograf, 1999.

  4. NIEMAN, DC. Exercício e saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício como seu medicamento. São Paulo: Manole, 1999.

  5. LEITE, PF. Obesidade na clínica médica. Minas Gerais: Saúde, 1996.

  6. ALTER, MJ. Ciência da flexibilidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  7. ACHOUR JUNIOR, A. Bases para exercícios de alongamento: relacionado com a saúde e o desempenho atlético. 2. ed. Londrina: Phorte, 1999.

  8. ALLSEN, PE; HARRISON, JM; VANCE, B. Exercício e qualidade de vida: uma abordagem personalizada. 6. ed. Barueri: Manole, 2001.

  9. DANTAS, EH; OLIVEIRA, RJ. Exercício, maturidade e qualidade de vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

  10. SHIROMOTO, CE; FILHO, AO; BERTOLINI, SMMG. Implicações da prática de exercícios resistidos sobre a flexibilidade. Revista da Educação Física / UEM, Maringá, PR, v. 13, n.1, p.55-61, 1. sem., 2002.

  11. WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. São Paulo: Manole, 1999.

  12. ACHOUR JUNIOR, A. Flexibilidade e alongamento: saúde e bem-estar. Barueri: Manole, 2004.

  13. DANTAS, EH et al. Perda de flexibilidade no idoso. Revista Fitness e Performance, Rio de janeiro, RJ, vol.1, n. 3, p. 12-20, maio/jul., 2002.

  14. FERNANDES, A et al. Cinesiologia do alongamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

  15. ACHOUR JUNIOR, A. Exercícios de alongamento: anatomia e fisiologia. Barueri: Manole, 2002.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 11 · N° 100 | Buenos Aires, Septiembre 2006  
© 1997-2006 Derechos reservados