A criação da maratona de Porto Alegre | |||
Prof. Educação Física, graduado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Brasil) |
Giovanni Frizzo grizzo2@ig.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006 |
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Introdução
Este trabalho se originou de uma pesquisa no Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que contou com minha participação como bolsista, desde agosto de 2003. O projeto "Garimpando Memórias" objetiva, fundamentalmente, a preservação e divulgação da memória do esporte, da educação física, do lazer e da dança no Brasil. Concretiza-se através da realização de entrevistas com pessoas que podem testemunhar sobre os acontecimentos, as conjunturas, os eventos, as representações, os modos de vida, os sujeitos, enfim, múltiplos aspectos relacionados a sua história, da estruturação das diferentes práticas corporais e esportivas no contexto brasileiro, bem como sua inserção internacional.
O foco central desta pesquisa, são as práticas esportivas conhecidas como "corridas de rua", cujo principal evento esportivo desta modalidade é a corrida conhecida como Maratona, que se firma cada vez mais como um acontecimento esportivo das grandes cidades. Além de ser a prova clássica das Olimpíadas, ela fixou seu templo sagrado na cidade de Nova York onde, a partir de 1970, ela pára o trânsito e leva milhares de pessoas às ruas. A criação de grandes eventos esportivos como estes, capazes de mobilizar a cidade, tem gerado um amplo debate nos diversos setores da sociedade, decorrem destes debates, uma série de questionamentos que transcendem os objetivos conceituais do esporte, as representações que estão envolvidas e a diversidade de idéias sobre as práticas esportivas tornando, assim, este tema interessante a ponto de ser objeto central de estudo em diferentes áreas de pesquisa.
Nas Ciências Biológicas, o esporte entendido como uma atividade física trata de uma problemática que é analisada nos indivíduos, como se estes não tivessem uma existência para além dos seus próprios corpos. Nas Ciências Humanas, parte-se de um pressuposto complementar, embora oposto, que os indivíduos são seres sociais, e como tal não tem existência própria desinserida do espaço social onde se movem, logo, estes estão sujeitos a um conjunto de influências, que condicionam e estimulam atitudes. Neste estudo, o esporte é entendido como uma prática social construída historicamente no desenvolvimento das civilizações. Esta afirmação parte do referencial teórico que ancora este texto, onde autores como, por exemplo, Michel Foucault (1987), adquirem visibilidade ao fazer um questionamento que justifica a pesquisa histórica das práticas corporais quando diz que pode haver um "saber" do corpo que não é exatamente a ciência de seu funcionamento, e um controle de suas forças que é mais que a capacidade de vencê-los: esse saber e esse controle constituem o que se poderia chamar a tecnologia política do corpo. As relações e as representações sociais das práticas desportivas, construídas ao longo dos anos, é que nos fazem ter uma melhor compreensão sobre o esporte na atualidade.
Para esta pesquisa o recorte histórico adotado foi delimitado nas décadas de 70 e 80. Este recorte foi definido de acordo com o surgimento do movimento de corridas de rua no Brasil, onde a criação dos primeiros clubes de corrida e organização das maratonas nas principais capitais brasileiras, trazem uma perspectiva de profissionalização destas corridas de rua, que até então eram disputadas com um caráter amador. Um exemplo disso, é a Corrida da Fogueira, que é uma prova de atletismo que acontece na cidade de Juiz de Fora (MG) desde 1942, onde se destacam dois períodos: 1º) 1942 - 1979: a fase inicial, amadora, onde percebe-se o envolvimento da comunidade juizforana na elaboração da corrida; 2º) 1982 - até a atualidade: a fase profissional, quando a corrida passa de um caráter mais comemorativo para um espetáculo competitivo. (PEREIRA & CUNHA JÚNIOR, 2004, p.35).
A Maratona de Porto Alegre, é um evento esportivo criado pelo CORPA (Clube dos Corredores de Porto Alegre) em 1983, que tem como principal característica, possibilitar que pessoas "comuns", ou seja, que atletas de fim-de-semana participem da competição junto com atletas de elite que a disputam com objetivo de vencer e bater recordes. A Maratona encontra-se na 24º edição e faz parte do calendário esportivo e cultural da cidade de Porto Alegre, realizada anualmente. Para realizar este trabalho, foram analisados depoimentos orais de pessoas que tiveram significativa contribuição para este fato histórico. Bem como, diferentes fontes documentais como, por exemplo, documentos do CORPA, reportagens publicadas em jornais do período, livros e revistas que abordam este tema.
Como referência para o trabalho com História Oral, adotamos o Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, ligado à fundação Getúlio Vargas (CPDOC). O estudo da oralidade veio sendo ensaiado a partir da antropologia, no âmbito da pesquisa dos processos de transmissão das tradições orais, onde os modos de transmissão e conhecimento ainda transitam, de maneira relevante, pelos caminhos da oralidade (ACEVES LOZANO, 1996, p.16). A história oral é um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica, etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar deste objeto de estudo. Como conseqüência, o método de história oral produz fonte de consulta (documentos a partir de entrevistas) para outros estudos, podendo ser reunidas em um acervo aberto a pesquisadores. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, etc., à luz de depoimentos de pessoas que deles participaram ou testemunharam (ALBERTI, 1989).
Através da análise dos depoimentos de pessoas que fizeram parte da criação do CORPA e da Maratona de Porto Alegre, de documentos e pesquisa em jornais, revistas e periódicos, construímos uma narrativa histórica sobre a disseminação, em Porto Alegre, do que ficou conhecido como "movimento das corridas de rua"; sobre a fundação do CORPA; e posteriormente sobre a realização da primeira Maratona oficial de Porto Alegre.
Não é possível afirmar a data em que se iniciou o movimento das corridas de rua, até porque este movimento foi difundido internacionalmente, principalmente na América do Norte, na Europa e no Brasil. Ficou assim conhecido, pelo fato das pessoas começarem a sair às ruas para praticarem jogging (correr), ou realizarem "exercícios físicos aeróbicos". Um dos principais motivos capazes de estimular as pessoas a aderirem a estas práticas foram os livros do Dr. Kenneth Cooper, não por suas publicações, mas pelos programas de incentivo às práticas de atividades físicas (exercícios) que vieram a surgir, inicialmente nos Estados Unidos, Canadá e depois se espalharem pelo mundo, pelas constatações "científicas" sobre os benefícios dos exercícios aeróbicos para a saúde.
Carlos Daudt (2003), traz outras questões sobre a massificação das corridas de rua: a primeira delas, diz respeito à disseminação do sapato de corridas, também conhecido como tênis, originalmente criado nos Estados Unidos e que viriam a render alguns bilhões de dólares, com a enorme produção deste "calçado com proteção do calcâneo", que tinha todo o apoio/apelo midiático para o seu consumo. Uma outra questão, também diz respeito a influencia norte-americana na difusão das corridas de rua, foi a medalha de ouro conquistada pelo atleta americano Frank Shorter na maratona da Olimpíada de Munique, em 1972. Os americanos não venciam maratonas olímpicas desde a Olimpíada de Londres em 1908, e como nesta Olimpíada ocorreram alguns acontecimentos atípicos - o seqüestro e morte dos atletas israelenses - que acabaram por sensibilizar as pessoas com os ideais olímpicos de esporte, valorização de caráter, condutas éticas etc. Então, esta vitória do atleta americano surgiu como um dos fatores para a "explosão" das corridas de rua no mundo, o feito de Frank Shorter foi tão influente, que 2 anos depois, a revista americana Times elegeu-o um dos 50 norte-americanos de todos os tempos, que haviam feito a "cara" da América.
Bourdieu (1986 apud BRACHT, 1997, pg.53) faz uma análise crítica sobre esta transformação das práticas corporais para uma esportivização, quando afirma que a passagem do esporte enquanto uma prática reservada à elite (para amadores), para o esporte espetáculo, produzido por profissionais para as massas espectadoras, tem sido determinado por processos econômicos, os quais alteram as relações de poder no interior deste campo. A demanda por sensacionalismo e a urgência de produzir um resultado, divide os experts e profissionais dos leigos e torcedores. A popularização do esporte permitiu às classes privilegiadas manter o capital político pela, por exemplo, promoção e controle da indústria esportiva privada ou estatal.
Em Porto Alegre, a difusão desse movimento foi visível nas ruas, quando se percebe que os espaços públicos da cidade, principalmente o Parque Moinhos de Vento, foram ocupados por grupos adeptos do aerobismo. Estas pessoas se encontram para correr, discutir técnicas de treinamento publicadas em revistas e periódicos especializadas, destacando a revista Runner's World como principal referência para os corredores, e também para mobilizar um grupo de pessoas para que fosse criado o Clube de Corredores.
A necessidade de organização das práticas corporais relacionadas às corridas conforme aparecem nos relatos dos entrevistados, traz características elementares do que se entende por esporte moderno (Características estas, apontadas por Guttmann (1978) que estabeleceu sete categorias como referência para diferenciar esporte moderno de esportes de outras épocas. Que são: Secularismo; igualdade; especialização; racionalização; burocracia; quantificação e recorde), quando este se refere a uma atividade corporal de caráter competitivo e que possibilitam a realização de grandes eventos esportivos. Sobre este tema, Bracht (1997, pg. 14) afirma que as organizações esportivas que dominam o esporte espetáculo, buscam incorporar/encampar as formas alternativas de prática esportiva que surgem para não perder o poder de determinar as formas legítimas de sua prática, daí porque também, as formas alternativas de práticas corporais logo sofrem pressão no sentido de sua esportivização. Esta organização pode ser entendida como uma forma de racionalização/profissionalização das práticas esportivas, na medida que estabelece relações entre meios e fins e dão outro sentido a essas corridas de rua que, até então eram entendidas, exclusivamente, como práticas corporais de lazer e que, nesse momento, começam a apresentar características de esporte espetáculo explicitadas por Bracht (1997, pg.15). Este autor ao diferenciar o esporte de lazer, do esporte espetáculo, faz a seguinte argumentação: "O esporte de alto rendimento ou espetáculo, por exemplo, aproxima-se para o praticante e circunscreve-se no mundo do trabalho, enquanto o consumo daquele e o esporte praticado como lazer circunscreve-se no mundo do não trabalho. O sentido interno das ações no interior da instituição esporte espetáculo é pautado pelos códigos (e semântica) da vitória-derrota, da maximização do rendimento e da racionalização dos meios. Por outro lado, no esporte enquanto atividade de lazer, outros códigos apresentam-se como relevantes e capazes de orientar a ação. Por exemplo, motivos ligados à saúde, ao prazer e à sociabilidade".
Depois de mobilizar um grande grupo de amantes das corridas, foi realizada uma histórica reunião com a presença de 43 corredores e/ou simpatizantes, no dia 20 de setembro de 1981, que iria fundar o CORPA, chamada de Assembléia Geral de fundação do CORPA.
Dentre os objetivos deste Clube fundado, conforme explicitado em capítulo anterior, estava a organização da Maratona de Porto Alegre. Apesar da intencionalidade dos organizadores, de realizarem uma competição de corrida de rua, dentro dos moldes e estrutura das principais maratonas internacionais com todas as características de um grande evento esportivo, na sua primeira edição, foi organizada com características do amadorismo existente na época, amadorismo no amplo sentido da palavra, tanto das questões de estrutura (em alguns depoimentos foram utilizadas expressões como maratona artesanal), quanto do sentimento atribuído ao desenvolvimento das corridas, com muito voluntariado e paixão pela prática. Alguns detalhes relatados sobre a organização do evento dão sentido a essa afirmação, como por exemplo, a marcação da distância da prova que foi aferida através de um trumíter, o tiro de largada que foi dado com um revólver e a utilização de cronômetros manuais.
Desde a sua fundação, o CORPA procurou estabelecer relações com a mídia e buscar patrocinadores para a realização dos seus eventos. Nesse sentido, valorizam muito o incentivo dado pelos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, que divulgavam os eventos e incorporavam os discursos das práticas desportivas nas suas páginas e nos programas de rádio e televisão. O Jornalista José Inácio Werneck, colunista do Jornal do Brasil na época, foi um dos pioneiros a escrever sobre corridas de rua e maratonas na sua coluna, sendo inclusive, um dos fundadores do CORJA (Clube dos Corredores do Rio de Janeiro). No Rio Grande do Sul, destacou-se então, o grupo RBS de comunicação que promoveu, divulgou, incentivou e legitimou a corrida de rua para a sociedade, através da realização da maratona.
Outra questão extremamente importante para a realização da Maratona de Porto Alegre, foi a busca por patrocínio de empresas que financiassem o evento, contribuíssem com as premiações e possibilitassem que as edições seguintes se realizassem. Desde o início, os organizadores correram atrás destas parcerias entendendo que, somente desta forma seria possível realizar um evento esportivo na cidade.
A influência dos patrocinadores foi tão grande, que além de fazer publicidade de suas marcas e associá-las aos valores atribuídos ao esporte (a prática de esportes é sempre referenciada através dos seus aspectos positivos, onde as representações simbólicas da atividade possibilitam esse sentimento de positividade, compreendido no contexto social em que se insere), começaram a interferir também na organização do evento, tendo, de certa forma, um poder de decisão na estruturação da Maratona. Para citar um exemplo que possibilita esta compreensão, segundo o depoimento de Daudt (2003), por questões financeiras em uma das edições da Maratona de Porto Alegre, o percurso da prova teve que ser alterado para que os corredores passassem, durante a corrida, em frente ao prédio onde se localizava uma das empresas que estavam patrocinando o evento.
Diante do que foi exposto, podemos afirmar que uma das características centrais desta manifestação, ou sua tendência mais marcante, é a transformação da prática corporal em mercadoria veiculada pelos meios de comunicação de massa.
Quando foram realizadas as entrevistas, fontes primárias deste estudo, pudemos observar que, ao serem perguntados sobre quais os fatores que motivaram a criação da Maratona de Porto Alegre, os colaboradores/entrevistados sempre fazem referência às questões de saúde e a relação da mesma com a prática esportiva. A idéia de saúde é trazida com diversas justificativas biológicas, ou então de experiências pessoais como a negação de alguns prazeres.
Esta relação, historicamente estabelecida, entre saúde e esporte gera diversos questionamentos acerca dos discursos que procuram legitimar esta relação. Um estudo de Lupton (2000), traz algumas evidências de que os discursos governamentais oficiais de promoção de saúde são freqüentemente incorporados nas falas das pessoas de forma consciente, daí que, as políticas de promoção da saúde ou programas institucionais visando a modificação de estilos de vida, interferem diretamente, não somente sobre o caráter biológico do corpo, mas também nas formas de compreender o que é ser saudável e que representações este corpo saudável tem, dentro do contexto social no qual está inserido.
As formas de jogo e exercitação, precursoras do esporte e praticadas nas diferentes circunstâncias históricas e etapas da civilização, foram sempre instrumentalizadas para cumprir uma imensa pluralidade de finalidades muito díspares, incluindo as do corpo e da saúde. O que autoriza a afirmar que a história do esporte e de outras práticas corporais são parte integrante da história do corpo e das atenções e cuidados de saúde imanentes, onde as mudanças comportamentais e a adoção de estilos de vida mais benéficos para a saúde, são pensamentos compartilhados por todos, assim como a relação estabelecida entre esporte e saúde, que são valores indiscutíveis na sociedade. Partem do pressuposto de que a saúde e o seu cuidado constituem um valor em si mesmo (daí que os indivíduos deveriam preocupar-se por ela) ao mesmo tempo, que possue juízos acerca do que é um estilo de vida desejado, correto, adequado. (MIRA in PALMA et al, 2003).
A saúde como prevenção de doenças é o discurso predominante da biomedicina quando é relacionada ao esporte, mas também são consideradas - nas áreas humanas - as representações positivas de saúde, estabelecendo relações que refletem a sociedade atual, onde se busca cada vez mais o que é positivo e as estratégias dominantes concernindo essa valorização, são basicamente estéticas e incluem representações e imagens corporais de juventude, beleza e vigor. Segundo o Coletivo de autores (1992), esta idéia está veiculada ao pensamento higienista, que teve origem na Europa do final do século XVIII e início do século XIX, quando foi sustentada pelos médicos e pedagogos da época, e ainda apoiado pelo Estado, que via no ideal de homem fortalecido pelo exercício físico a possibilidade de prosperidade da pátria.
Em virtude disto, podemos perceber que a saúde através do esporte é muito mais complexa do que um corpo biológico em movimento, existem várias representações e símbolos envolvidos, que se relacionam com as práticas "saudáveis" aceitas pela sociedade. Porém, a forma como se estabeleceram estas relações é que merecem uma investigação histórica aprofundada. Pode-se perceber que o esporte pode ser uma atividade coletiva ou individual, caracterizada principalmente pelo sentido agonístico e que historicamente esteve associado ao divertimento, ao prazer da disputa e ao fortalecimento do caráter, mas não necessariamente a saúde. (NOGUEIRA, 2003).
A questão central no debate de história oral, apontada por Gebara (2004, pg. 152), é o historiador como produtor de documentação histórica visto que, o depoimento oral, através da metodologia empregada, pode tornar-se um documento a ser utilizado como fonte de pesquisa. E a forma como o historiador se relaciona com suas fontes é que constrói a narrativa histórica, desta forma, a ampliação das possibilidades de interpretações torna a pesquisa histórica tão rica a ponto de ampliar as discussões sobre determinados fatos, onde o dito popular "contra fatos não há argumentos", perde a sua significação na medida em que a própria argumentação é capaz de produzir um outro olhar para o passado.
Neste trabalho, conseguimos compreender como se estruturou a Maratona de Porto Alegre e a forma que as práticas de corrida de rua transformaram-se em um grande evento esportivo. Transformações estas, que entendemos ser característica da sociedade atual que busca racionalizar as práticas corporais, atribuindo outros sentidos às práticas e criando instituições que a organizam e regulamentam. O que foi chamado de movimento das corridas de rua se espalhou pelo Brasil no final da década de 70, e ficou evidenciado na cidade de Porto Alegre quando da criação da Maratona de Porto Alegre e, através deste trabalho, compreendemos os diversos significados que o esporte pode assumir tanto no âmbito das práticas corporais, quanto nas questões pertinentes ao contexto social, político e econômico que influenciam nas práticas esportivas.
A maratona é uma modalidade olímpica que existe desde os primeiros Jogos Olímpicos Modernos, sendo considerada a modalidade mais tradicional dos Jogos, e a prática de exercícios aeróbicos como a corrida, foi muito difundida nos anos 60, quando foram "descobertos" os seus benefícios para a saúde. Portanto, o processo de esportivização da prática de corrida de rua se deu no sentido da sistematização destas práticas corporais, até então de lazer. Tornando assim, o tempo de não-trabalho em período de treinamento, onde a cada dia deve-se cumprir etapas e objetivos para que se tenha um melhor rendimento na modalidade esportiva. O Método Cooper de Treinamento Aeróbico, por exemplo, foi criado com objetivos bem definidos e as pessoas deveriam alcançá-los para obter melhores resultados para sua saúde. Nos relatos, a questão da saúde através do esporte surge como um discurso legitimador das práticas esportivas na medida em que, mesmo a prática corporal tendo um fim em si mesmo, habitualmente também é associada a fins utilitários, como por exemplo, à saúde.
Sem dúvida que o trabalho com memória, nos permite recuperar reminiscências do passado, onde o caráter nostálgico presente nos depoimentos faz com que cada palavra mencionada, cada gesto emocionado e cada momento de silêncio tenham um significado que é próprio de quem vivenciou o momento histórico, deste passado que só a ele pertence, e que se torna passível de ser interpretado mas nunca de ser definido.
Referências bibliográficas
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ALBERTI, Verena; História Oral e a experiência do CPDOC; Rio de Janeiro; CPDOC; 1989.
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COLETIVO DE AUTORES; Metodologia do Ensino de Educação Física; Cortez; São Paulo; 1992.
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FOUCAULT, Michel; Vigiar e Punir - História da violência nas prisões; traduzido por Ligia Vassalo; 9ª edição; Petrópolis; Editora Vozes; 1987.
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PALMA, Alexandre; BAGRICHEVSKY, Marcos; ESTEVÃO, Adriana (org.); A Saúde em Debate na Educação Física; Edibes; Blumenau; 2003.
PEREIRA, José A. R. & CUNHA JÚNIOR, Carlos Fernando F.; Festa e competição pelas ruas de Juiz de Fora: Memória da Corrida da Fogueira in Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física (9º); Recife; Universitária - UFPE; 2004.
revista
digital · Año 11 · N° 100 | Buenos Aires, Septiembre 2006 |