Perfil de lesões dos membros inferiores em atletas
de basquete profissional do sexo masculino |
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*Preparadora Física do Projeto Bola Viva. **Docente do Curso de Educação Física. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP. (Brasil) |
Rosângela de Almeida Mello* roalmello@directnet.com.br Kleber Parada** |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006 |
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Introdução
Atualmente, cerca de 300 milhões de pessoas, ao redor do mundo, praticam basquetebol. Com essa popularidade, as competições se tornaram mais acirradas, sendo a preparação física imprescindível para se obter vitória.
Observa-se durante uma partida, pelas próprias características e regras do jogo, rápidas mudanças entre ataque e defesa, a fluência dos movimentos e as múltiplas responsabilidades de todos os jogadores, tais como: arremesso, rebote, defesa, ataque e contra-ataque, bem com também as capacidades físicas básicas envolvidas na prática do basquetebol que são: coordenação, ritmo, equilíbrio, agilidade, força, velocidade, flexibilidade e resistência cardiorespiratória.
No que se refere à exigência muscular, pode-se afirmar que no basquetebol os membros inferiores são os que recebem maior destaque devido aos constantes deslocamentos e saltos. Esses grupos musculares são exigidos em termos de potência, elasticidade e velocidade de contração (PORTOLEZ, 1999).
Durante um evento atlético de longa duração, um atleta pode executar o equivalente a 25 mil impactos contra o solo, com uma média de 2,5 vezes o peso do seu corpo. Após a descida de um rebote, um jogador de basquete experimenta uma força que pode exceder em até 5 vezes o peso de seu corpo, em cada pé (HAUSER & HAUSER,2002).
Diante do exposto, o objetivo principal deste trabalho é identificar quais são as lesões que ocorrem com maior freqüência, nos membros inferiores, em atletas de basquetebol, do sexo masculino, categoria adulta e de alto nível.
MAC INNES (1995), citado por GENTIL et al (2001), caracterizou os padrões de movimento durante um jogo competitivo entre atletas de alto nível, dividindo as ações durante uma partida em oito categorias: andar/em pé; trotar; correr; tiros; pequenos, médios e grandes deslocamentos e saltar. Os resultados obtidos pelo citado autor demonstram a natureza intermitente desse esporte. A cada dois segundos ocorre uma mudança de posição, sendo que o deslocamento é a categoria que mais ocorre, representando cerca de 34,6% de toda uma partida; as corridas representam 31,2% (do trote ao tiro); o andar ou simplesmente ficar em pé representam 29,6%, e os saltos representam apenas 4,6%. Observa-se que os movimentos de alta intensidade são os mais representativos, pois ocorrem a cada 21 segundos, totalizando cerca 15% do tempo de uma partida. O movimento de um atleta pode ser efetuado de três diferentes formas: linear; angular e a combinação destes dois movimentos, sendo que o angular desempenha um papel dominante.
De acordo com Gentil (2001), as lesões são parte inerente do envolvimento com as atividades físico-esportivas. O número de lesões está aumentando apesar do maior conhecimento de prevenção e tratamento de lesões esportivas. Nesse sentido, os aumentos bruscos e/ou rápidos na intensidade do treinamento, na freqüência e duração notadamente são fatores causadores de ocorrência de lesões.
Procedimentos MetodológicosPopulação
Esta pesquisa foi realizada na Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP, no Campus de Ribeirão Preto - SP. Envolveu 34 atletas de basquetebol, de alto nível, do sexo masculino na faixa etária entre 17 e 38 anos, treinando há pelo menos 4 anos, em média 5 horas/dia, 6 dias/semana. Estes atletas, oriundos das mais diferentes regiões do país, participavam do Campeonato Brasileiro de Basquetebol de 2001, sendo que 30% destes integravam a Seleção Brasileira.
Instrumento UtilizadoPara esta pesquisa utilizou-se um questionário, com opções de múltipla escolha, composto de 26 questões objetivas relacionadas à idade, tempo de treinamento, possíveis lesões que o atleta possa ter tido ou tem, época (pré, pós, temporada), momento de ocorrência (treinos ou jogos), qual atividade executava no momento da lesão, e se o atleta fazia musculação e alongamento.
Resultados e Discussão
Quanto aos tipos de lesões: verificou-se, que o tornozelo foi o segmento anatômico mais acometido de lesão, seguido pelo joelho. Quanto ao tipo de lesão, a mais citada como ocorrência foi entorse (34%), seguida por tendinite (28%). Do total das lesões ocorridas, cerca de 6% foram de fraturas no tornozelo e no pé. A Figura 1 demonstra, de forma gráfica, os percentuais citados, por tipo de lesão.
Figura 1. Ocorrência por tipo de lesões em %.
Na Nova Zelândia, na temporada de 2000, segundo pesquisa realizada pela ACC.Org. Nova Zelândia (2000), os segmentos anatômicos, tornozelo e joelho foram os mais acometidos, com a ocorrência dos tipos de lesões: entorse e distensão.
Da mesma forma, MAC KAY et al (2001), após análise dos resultados de uma pesquisa envolvendo 1 mil atletas, obteve uma taxa de 3,85% de lesões no tornozelo sendo que 45% foi devido à aterragem. O autor aponta três grandes fatores de risco para esta lesão. O primeiro é a história de lesão precedente do atleta, pois segundo o autor, os atletas que já foram acometidos da lesão, têm cinco vezes mais probabilidade de incidência. O segundo fator diz respeito ao uso do tênis com o amortecedor de ar desgastado. Após o impacto contra o solo, que foi o resultado de uma descida de um salto, ocorre uma entorse no tornozelo devido ao rompimento do amortecedor do tênis. E por último, são os atletas que não fazem alongamento antes do jogo.
Ao se fazer a comparação dos resultados desta pesquisa com os resultados obtidos por MAC LAUGHLIN (2002), em atletas de ambos os sexos, o basquete foi a modalidade de esporte com maior número de participantes e também com o maior índice de lesões. Verifica-se uma congruência dos resultados para os segmentos anatômicos dos tipos de lesões e também a época em que ocorreram, geralmente no final da temporada, com uma taxa de 50% de ocorrência de lesões do tipo entorse.
Quanto ao percentual de lesões por segmento anatômico: Para ASHEFELD (2002), a tendinite patelar é uma lesão vista com freqüência em atletas de basquete, podendo resultar de overuse ou inflamação. O salto repetitivo é apontado como o mecanismo de lesão mais comum. A Figura 2 demonstra graficamente o percentual de lesões por segmento anatômico. No caso deste estudo as lesões no tornozelo alcançaram 31%, seguida das lesões ocorridas no joelho, representando 27% do total.
Figura 2. Ocorrência de Lesões por segmento anatômico em %.
Traçando um paralelo com MC GUINE (2001), pode-se verificar e comprovar que é o tornozelo o segmento anatômico mais acometido por lesões. Foi estimado, pelo autor citado, que em um universo de 26.000 atletas, de ambos os sexos e jogadores de basquete, a cada ano, 18% destes atletas sofrerá a ocorrência de um entorse de tornozelo. Este mesmo autor, fez um outro estudo que co-relaciona o entorse com a falta de equilíbrio ou equilíbrio pobre do atleta. Este fator pode causar, ao atleta, a probabilidade de ocorrer 7 vezes mais entorse de tornozelo, em relação ao atleta com domínio do seu equilíbrio.
Quanto à época de ocorrência das lesões: A maioria das lesões ocorrerem no terceiro quarto de jogo, sendo que todas as posições tinham o mesmo fator de risco, pois 38% destas lesões foram associadas com ações ofensivas, 36% com ações defensivas e 13% foram associadas com o rebote. A Figura 3 demonstra em percentuais, a época de ocorrência das lesões. O maior índice ocorreu durante a temporada (75%), provavelmente devido ao maior número de jogos bem como a responsabilidade do jogador com o seu desempenho durante a partida.
Figura 3. Época de ocorrência da lesão em %.
Quanto ao momento de ocorrência da lesão: Após avaliação feita por COHEN et al (1997) em 196 atletas, com 3,8 anos de tempo médio de prática do esporte, foram registradas 341 lesões. Destes atletas 24,6% não apresentaram nenhum tipo de lesão. As lesões nos membros inferiores, com a ocorrência de 61,3% do total, foram as mais freqüentes, seguidas dos membros superiores com a ocorrência de 30,87%; cabeça e pescoço com 4,1% das ocorrências e tronco com 3,8%. Das 341 lesões, 72,4% ocorreram no treino e 27,3% em jogos.
Obteve-se no presente estudo um resultado diferente do autor consultado (COHEN et al. 1997). Este estudo constatou que 53% das lesões ocorreram durante os jogos e 47% durante a realização dos treinos. A Figura 4 demonstra, graficamente a composição do resultado obtido.
Figura 4. Momento de ocorrência da lesão em %.
ConclusãoAs lesões nos membros inferiores, na maioria das vezes, são provocadas principalmente pela quantidade de saltos durante o jogo, pela perda da estabilidade durante o apoio quando o jogador aterrissa no solo, ou quando realiza uma parada brusca muitas vezes com mudança de direção.
Nesta investigação, procurou-se demonstrar que o tornozelo e o joelho foram os segmentos anatômicos mais acometidos por lesões. Estes resultados corroboram com o referencial bibliográfico pesquisado. Os resultados apontam que entorse e tendinite foram as lesões com maior número de incidência.
Nesse sentido alguns questionamentos tornam-se relevantes para futuras pesquisas na área: a) Existe, por parte de técnicos e preparadores físicos a devida atenção aos exercícios de alongamento e relaxamento bem como um maior desenvolvimento da flexibilidade? b) O excesso de treinamento não pode ser, também apontado com um dos maiores causadores de lesões?
Referências
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Ashlfeld, S. (sem data). Basketball injuries part 3. Available et: http://www.yoursportsdoc.com.html Acesso em: 24.09.2002.
Cohen, M.; Abdalla, R.; Ejnismam.& Andreoli, C. (junho,1997) Lesões músculo esqueléticas no basquete masculino. Projeto continuado 19-20- CETE - UNIFESP - EPM.
Gentil, D.; Oliveira, C.; Neto, T. & Tambeiro, V.(2002) Avaliação da seleção brasileira feminina de basquete. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2 (7), p.53-56.
Hauser, R.& Hauser, M. (sem data) No suport for ankle tapimg. Illinois. Disponível em: http://www.sportsprolo.com/ankle.html Acesso em 25.05.02.
Mckay, G.;Goldie, P.& Payne, W. (junho,2001). Risk factors for ankle injuries in basketball. Vol. 2. Disponível em: http://www.sportmed.com Acesso em 11.06.2002.
Mclaughin, E. Knee injuries. Disponível em: http://www.sportsmed.info/sportsmed.info/sportsmed/knee Acesso em: 27/05/02.
Mello, R.& Parada, K. (2002). Perfil de lesões dos membros inferiores em atletas de basquetebol do sexo masculino. Em: Anais de Pesquisa da Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, São Paulo, 3(1): 1/240. p.16.
Portolez, J.(1999). Incidência de lesões esportivas no basquetebol. Revista Ceciliana. 12,77-88, agosto/dezembro.
revista
digital · Año 11 · N° 100 | Buenos Aires, Septiembre 2006 |