A educação física e o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDA/H): um estudo para o profissional no espaço escolar | |||
* Graduada em Educação Física pela UNIMATh, Rio de Janeiro. ** Doutor em educação física e cultura pela UGF, Rio de Janeiro. Professor Adjunto da UNISUAM e UNIMATh. Membro do Grupo de Pesquisa "Estudos Olímpicos" do CNPq. |
Cláudia da Silva Mendes* claudiamendes@veloxmail.com.br Prof. Dr. Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro** c.henriqueribeiro@ig.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006 |
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Introdução
Quando uma criança ingressa na escola e, quase de imediato, começa a apresentar problemas comportamentais ou disciplinares, é do senso comum que a deixemos "de lado" ou até mesmo a conduzimos à sala da diretoria, onde algum castigo ou uma suspensão a espera. Porém, nós professores, descobrimos que por trás do comportamento levado e extremamente agitado, existe um distúrbio que afeta não só o comportamento da criança, mas principalmente o seu desenvolvimento escolar e também social. Sobre TDA/H e rendimento escolar o site de uma associação brasileira criada para informar sobre o problema afirma que "O TDA/H é considerado o distúrbio infantil mais comum e é tido como a principal causa de fracasso escolar" (Cabral -Site www.abda.com.br-2005).
Através da informação e reconhecimento desse distúrbio, principalmente os professores de educação física poderão reconhecer mais esses sintomas no comportamento do TDA/H de seus alunos. É muito importante citar o quanto é necessário à integração dos pais, professores e médicos quanto a esse distúrbio que vem crescendo a cada dia. A falta de informação gera tanto atitudes impensadas da parte dos professores, quanto mal-estar do aluno na escola ou até mesmo em sua casa.
Mas qual seria o papel da educação física escolar no auxílio do tratamento de criança e adolescentes com TDA/H? Neste estudo iremos nos deter no discurso dos profissionais da área e em específico nos professores de educação física escolar que lidam com crianças e adolescentes com TDA/H.
Existem diversos estudos mostrando que os portadores de TDA/H passam por mais situações problemáticas no cotidiano que o restante da população não atingida por esse distúrbio neurobiológico. Entre eles podemos citar:
As crianças com TDA/H tem mais acidentes do que os demais.
Quando esses acidentes ocorrem, eles tendem a ser mais grave.
Quando avaliamos um adulto que teve TDA/H ao longo de toda sua vida, iremos observar que ele tem menos anos de escolaridade completado, têm maior incidência de uso de drogas e de álcool, eles têm muito mais depressão, ansiedade e vários outros transtornos, ou seja, o TDA/H não é um transtorno benigno que não causa problemas mais sérios na vida do individuo, ele atrapalha a vida escolar, o desempenho acadêmico, e também têm vários outros impasses na vida familiar, social e profissional.
Sobre isso, consideramos que os professores são os primeiros a detectar as características acima relatadas. Inclusive porque eles têm uma grande experiência com um numero muito grande de alunos. E eles sabem que aquele aluno está apresentando mais desatenção ou mais inquietude do que seria esperado para aquela faixa etária. Quando o professor suspeita da presença do TDA/H e que é um transtorno extremamente comum, pois uma entre vinte crianças tem o transtorno, ele deverá procurar os pais e sugerir o encaminhamento para um especialista que possa fazer esse diagnostico. Quanto mais cedo é feito o diagnostico, quando mais cedo é instituído o tratamento adequado, melhor será o prognostico desse aluno. Segundo Silva (2003, p. 62)
"O professor que desconhece o problema pode acabar concluindo que essa criança é irresponsável ou rebelde, pois em um dia pode estar produtiva e participante, mas no dia seguinte simplesmente não prestar atenção a nada e não levar a cabo os deveres. " (SILVA, 2003, Pág. 62).
Após essa problematização, temos como pergunta-eixo de nossa investigação:
Como o profissional de Educação Física lida com crianças e adolescentes com TDA/H?O objetivo dessa pesquisa é relacionar os estudos na área do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDA/H) e a contribuição da educação física escolar no auxílio de crianças e adolescentes para um convívio mais adequado com esse distúrbio neurobiológico de causas genéticas segundo a definição da associação brasileira de déficit de atenção (ABDA, 1999).
As questões a investigar de nosso estudo são:
A prática da atividade física na escola ajuda a criança e o adolescente com TDA/H?
O profissional de educação física está apto para atuar com esse grupo?
Breve revisão de literaturaEsta pesquisa, de natureza qualitativa, adota uma abordagem interpretativa do discurso dos sujeitos envolvidos com crianças e adolescentes portadores de TDA/H. Analisaremos a fala dos entrevistados a partir do referencial teórico da Análise do Conteúdo (BARDIN, 1977).
Portanto, temos como população desta pesquisa os profissionais da área da saúde e educação que atuam com crianças e adolescentes com TDA/H. A amostra de nossa pesquisa é composta de 3 profissionais da área da medicina, 1 profissional de supervisão educacional e 5 profissionais da área da educação física. Totalizamos uma amostragem de 9 profissionais especialistas no assunto que atualmente se dedicam a estudar e trabalhar com esse grupo específico, quer seja em consultórios, salas de aula ou ainda em nosso caso, em quadras, campos de futebol e piscinas.
Os sintomas de TDA/H são sintomas de desatenção, de hiperatividade, de inquietude e impulsividade, eles podem ser observados em menos grau nas crianças em geral, mas quando relacionados ao portador de TDA/H, eles são mais intensos e causam comprometimento na vida do aluno.
Esse transtorno se caracteriza basicamente com sintomas de desatenção, dificuldade de ser manter atento a uma tarefa, exceto em situações que ela seja extremamente excitante ou empolgante, dificuldades de levar as coisas até o fim e sintomas de hiperatividade e inquietude. De ficar sentado na cadeira sem se levantar, ou sem ficar se remexendo, mexendo mãos e pés. Segundo Mattos (2004),
"As crianças com TDA/H parecem sonhar acordadas (os professores podem perceber isso antes dos pais) e muitas vezes são mais lentas na cópia e na execução dos deveres porque "voam" o tempo todo. Elas cometem muitos erros por desatenção". (pág. 26).
A resolução de conflitos, freqüentemente irá depender da interpretação entre a ação e a real intenção da criança. Na maioria das vezes, a criança faz ou fala coisas sem ter a mínima intenção consciente de desagradar ou prejudicar alguém. Em entrevista realizada com um médico que atende em seu consultório pacientes com TDA/H, ele caracterizou o paciente com TDA/H com:
"Desatenção, impulsividade, baixo desempenho escolar, baixo auto-estima, interferência no desenvolvimento social e educacional, falar em demasia e muitos outros sintomas. Elas são mais distraídas, muito mais agitadas, algumas vezes mais teimosas e agressivas. Difíceis de serem dominadas, tanto em ambientes fechados quanto abertos. Elas sistematicamente não conseguem parar".
Com o intuito de se "protegerem", acabam por projetarem intenções negativas nas outras crianças. Ao contrario do que se acreditava anteriormente os sintomas de TDA/H, ele persiste na vida adulta em mais de 60% dos indivíduos.
O papel de pais e professoresO TDA/H vem causando muita preocupação, frustração e até mesmo angustia para os pais. No primeiro momento ao descobrir que o filho tem um comportamento diferente dos demais e as queixas começam a aparecer, da escola, da família, do grupo social, a experiência é terrível.
Normalmente se sentem culpados, na medida em que eles tendem a se perguntar onde foi o erro na criação de seus filhos.
Se apesar de todo amor, toda dedicação que foi transmitida para seus filhos, se eles não respondem adequadamente, trazem uma serie de dificuldades para a família, para a escola e para a sociedade. No segundo momento, após o diagnostico, a sensação seria de alivio, ate porque os pais começam a entender que a responsabilidade não é deles que se trata de um transtorno, e, portanto existe tratamento. O professor é peça fundamental no tratamento do aluno portador do TDA/H porque se sabe que na escola, ele poderá ou não minimizar ou exacerbar os sintomas. E é com o professor que a criança passa grande parte do seu tempo. As técnicas, estratégias ou metodologias de trabalho são úteis em sala de aula não só para a criança portadora, mas para toda a turma e para o professor, pois só dessa forma sua aula será além de educativa, prazerosa. Essas estratégias irão tornar o ambiente escolar facilitador do aprendizado, vão ajudar no sentido de minimizar as limitações do transtorno e aumentar as potencialidades desse aluno. É por isso que o professor precisa não só conhecer o transtorno como também saber lidar com esses alunos, para ajudar no tratamento.
O tratamento do TDA/H é multidisciplinar. O psicólogo sempre trabalha em parceria com o medico e somado a essa parceria, é preciso uma interação muito próxima com a escola, com os professores e com os pais. Seria mais fácil deixarmos de lado aquela criança/aluno que, a principio só atrapalha as aulas ou "agita" ainda mais seus colegas de classe. A comodidade é o primeiro passo para o professor que além de pouco informado, também não quer perder seu tempo com um único aluno, quando uma turma toda espera sua atenção. A criança portadora de TDA/H exige do professor tempo, paciência e informação sobre seu distúrbio.
A ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção) defende que
"Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer bem mais tranqüilas. Isso ocorre porque o centro de prazer no cérebro é ativado e consegue dar um "reforço" no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o diagnostico de TDA/H".
Nem sempre o professor está apto para responder suas necessidades. É preciso além da informação, a postura de que nosso trabalho vai além de educar ou exercitar o corpo da criança. Nosso trabalho tem como objetivo final o bem-estar da criança. Seja ela portadora de algum distúrbio ou não.
A contribuição da educação físicaÉ considerado que na medida em que crianças e adolescentes com TDA/H freqüentam a escola, os problemas irão também ocorrer com os professores de educação física que se relacionam com esses alunos.
Nos últimos quatro anos, convivendo um pouco mais perto com professores de educação física, pude ouvir vários relatos de alguns que já ministraram ou ministram aulas com TDA/H e constatar semelhanças no comportamento dessas crianças tanto em sala de aula quanto em ambiente aberto, e no caso de nossa pesquisa, quando esse distúrbio se relaciona na escola aos problemas ligados à educação física e aos seus profissionais. Esses são alguns comportamentos identificados pela literatura sobre crianças e adolescentes com TDA/H em ambiente aberto:
Ganham facilmente apelidos como "bicho carpinteiro", "pestinha", e outros apelidos discriminatórios.
Dificilmente é possível manter uma criança com TDA/H muito tempo em uma mesma atividade. Elas dispersam rapidamente.
Distraem-se facilmente com o ambiente externo. Qualquer barulho, movimento, tudo será motivo para sua atenção se desvencilhar da aula.
Vemos então a importância de estratégias para se adquirir melhores condições para o encorajamento de bons comportamentos nas crianças com TDA/H, tanto na família quanto na escola, com o intuito de ser alcançado bons resultados em seu tratamento. Tentar mostrar que as crianças com TDA/H não são apenas crianças sem educação que precisam se comportar como as outras. Apontar o grande preconceito e a incapacidade, na maioria das vezes, dos professores, em entenderem e atenderem mal o aluno portador de TDA/H durante as aulas de educação física, por conta da falta de informação. Segundo TIBA (2002):
"Muitos pais e professores estão sofrendo demais com os filhos e alunos, portadores do Distúrbio do Déficit de Atenção. Não é expulsando um aluno impulsivo, agressivo, irritado, instável e distraído, o chamado 'líder negativo', que se resolve o problema, como se o colocássemos num navio e o deixássemos à deriva no meio do oceano. Afastamos o problema, mas não o resolvemos. " (TIBA, 2002, pág.55)
Em nossa pesquisa realizamos quatro entrevistas com especialistas no distúrbio de TDA/H. Apesar da fala dos entrevistados não ser unânime, é possível identificar que os profissionais da área consideram a atividade física, o esporte e a educação física como um dos elementos que ajudam ao tratamento do TDA/H.
O primeiro especialista entrevistado por nós cita que a importância da atividade física pode ser definida como:
"O esporte, a terapia, a terapia alternativa, todas são multidisciplinares. Todas têm uma importância vital no dia-a-dia do TDA/H. São estratégias para que a criança/adolescente que já convive com tantos obstáculos, consiga, de alguma forma, estímulos positivos". (Informante 1).
A segunda especialista entrevistada por nós afirma que crianças e adolescentes que se dedicam ao esporte:
"O exercício físico melhora a produção de dopamina assim como de outros neurotransmissores, tais como serotonina e endorfina, melhorando substancialmente os sintomas desagradáveis do DDA. Por isso, a atividade física é fundamental na vida de um portador de TDAH". (Informante 2).
O terceiro especialista considera que:
"Embora eu não veja muita menção na literatura do efeito benéfico do exercício físico para portadores de TDAH, sobre essa constatação os pacientes me dizem isso com muita freqüência. Pode-se entender que o exercício provoca uma liberação de neurotransmissores, o que pode trazer um alívio temporário para quem apresenta o TDAH". (Informantes 3).
O quarto especialista afirma que
"A atividade física é indicada para os portadores de TDA/H porque eles precisam canalizar sua energia. Como eles precisam se ocupar o tempo todo, esportes como o skate agrada muitas crianças e adolescentes, apesar de isso levar aos tombos e machucados com freqüência. Outra questão é que o esporte trabalha de forma lúdica a convivência com a regra dos jogos". (Informante 4).
As respostas dos especialistas levam-nos a considerar que a pratica de esportes é benéfica para os portadores de TDA/H.
Análise dos resultadosAnalisaremos nas próximas páginas o discurso de profissionais do esporte que trabalham diretamente como as crianças e adolescentes identificadas com TDA/H. Em nossas entrevistas procuramos saber como deveria ser o nosso trabalho com esse grupo específico.
Para o profissional de educação física 1
"Manter atitudes disciplinares equilibradas e proporcionar avaliação freqüente, com sugestões concretas ajudando a desenvolver comportamentos adequados, trabalhar o relaxamento, o alongamento e a amplitude articular com o mínimo de conhecimento da tonicidade dessa criança estabelecendo pausas para que ela possa fazer reflexões sobre seu desenvolvimento. É importante que essa criança seja preparada com antecedência para as situações variadas de suas atividades devido a sua sensibilidade. As discriminações sinestésicas seriam uma boa sugestão para um trabalho para essas crianças". (Professor de educação física 1, Grifo nosso).
Para os professores aqui identificados de número 2 e 3 a atividade física na idade escolar parece beneficiar os portadores de TDA/H
"A atividade física parece ser uma forma encontrada dos pais e professores de canalizar as energias dos alunos. Não sei, mas as partes práticas esportivas têm sido aconselhadas para tudo. Por isso, não sei se há comparação cientifica de que a atividade física ajuda as crianças com TDA/H". (Professor de educação física 2).
"A atividade física de um modo geral melhora as valências e qualidades físicas da criança. Acredito que a questão lúdica é um caminho". (Professor de educação física 3)
No entendimento dos profissionais de educação física 4 e 5
"A atividade física é muito importante para a queima de energia que esses alunos têm em demasia. A questão dos limites também é muito importante, já que se faz presente em aulas de educação física. O ganhar e perder é um exercício fundamental para esses alunos, já que apresentam dificuldades com as frustrações". (Professor de educação física 4).
"Através da atividade física, eles aprenderão a controlar suas impulsividades/ ansiedades desenvolvendo a atenção, concentração, coordenação motora...Contudo, as atividades como jogos e brincadeiras devem ser adequados e bem dirigidos pelo profissional". (Professor de educação física 5).
Neste momento identificamos que o discurso dos professores de educação física compreende que há importância da prática de esportes.
Nas próximas páginas veremos quais as sugestões que esses professores de educação física têm para que os portadores de TDA/H tenham uma melhora em seu cotidiano.
Em relação ao tema proposto os professores afirmam que
"São tantas sugestões que eu poderia me perder.Vou tentar focar nas que me parecem mais pontuais nesse momento:Estar em supervisão constante; Estudar mais sobre o assunto; Compor relatórios para o acompanhamento dos casos; Organizar equipe multidisciplinar; Produzir encontros com os Pais; Fazer um trabalho com os demais alunos em função, por exemplo, do tema: dificuldades e facilidades que temos para sermos e estarmos nessa vida".(Professor de educação física 1)
"Atuar apenas para um grupo reduzido de crianças; aulas variadas em diversos espaços tais como: quadra, campo, piscina e sala de dança; Profissionais não só de Educação Física preparados e capacitados para trabalhar com o TDA/H; Equipe autodisciplinar capaz de discutir e avaliar caso a caso" .(Professor de educação física 2)
"Em primeiro lugar, que as universidades iniciem projetos e seminários de informação aos acadêmicos sobre o tema; Selecionar os voluntários profissionais que se identificam com o tema para que montem os grupos de atuação. A partir do momento que se tem o conhecimento sobre o assunto, pode-se identificar o problema para que as diretrizes sejam tomadas a fim de contribuir com a melhora da saúde dos portadores de TDA/H".(Professor de educação física 3)
"Como já citei na questão anterior, trabalhar os limites, regras, exercitar o ganhar e perder. São pontos fundamentais nas alas de Educação Física, além do beneficio sabido da atividade física em si. Outro ponto muito importante é o lado afetivo. Tratadas com carinho e atenção esse grupo corresponde muito melhor". (Professor de educação física 4)
"A priori os professores das escolas devem se capacitar através de palestras e cursos sobre o TDA/H e ao mesmo tempo terem um acompanhamento de um *profissional especializado em psicomotricidade / psicologia para que o trabalho possa realmente contribuir para a vida do aluno. O numero de alunos inscritos por turma deveria ser menor do que o habitual, para que o professor pudesse fazer um melhor acompanhamento acerca do desenvolvimento desses alunos (como também dos demais). Um acompanhamento e envolvimento efetivos da família do aluno também se fazem necessários".(Professor de educação física 5)
A respeito dos discursos dos professores, compreendemos que a necessidade de mais informação seja unânime entre eles.
As universidades já estão disponibilizando palestras a fim de minimizar a falta de informação e, com isso, o professor que é peça fundamental, ganha além do conhecimento, formas de saber lidar com crianças e adolescentes portadores de TDA/H, tendo um maior aproveitamento de suas aulas.
Também é importante citar o quanto é valido o trabalho em equipe com pais e psicólogos na medida em que estes convivem com essas crianças e adolescentes.
Essa parceria será sempre bem vinda, pois só dessa forma, a criança portadora de TDA/H se sentirá totalmente amparada e segura de suas ações.
Dessa forma, as crianças deverão aprender a ter um comportamento mais adequado e os professores deverão aprender mais sobre as necessidades das crianças. Assim, os portadores desse transtorno, podem adaptar suas expectativas e ações de modo a evitar futuros comportamentos inadequados.
Acima de tudo, o professor de educação física deve acreditar que a criança quer colaborar e que também sofre com esse transtorno. Mostrar uma apreciação real das coisas certas que ela faz é salientar que ela tenta de verdade ser boa e ter uma atitude agradável em determinadas horas e circunstâncias.
Além de tudo educar, e não só colaborar com as atividades físicas.
Declarar seus sentimentos. Não ter medo de falar para a criança como está se sentindo a respeito do que aconteceu (quando a criança apresentar um mau comportamento) e atrapalha o desenvolvimento das aulas de educação física.
Compartilhar seus sentimentos é uma forma de contato que permite à criança sentir seu real desejo de se "conectar" emocionalmente. Esta declaração sincera de sentimentos ajuda na harmonia familiar e estabelece um exemplo a ser seguido. Ao receber uma declaração clara dos sentimentos do educador/professor, a criança poderá sentir a alegria de responder às suas necessidades emocionais, tornando o ambiente escolar mais agradável.
Oferecer também apoio para as mudanças. Tratar o mau comportamento como um erro pequeno que pode ser corrigido fácil e rapidamente. Sugerir correções que podem ser feitas. Encorajar e indicar que a questão pode ser resolvida rapidamente. Tratar o conflito como um problema que precisa ser resolvido em conjunto.
Respeito mútuo, que leva à satisfação mútua, ajuda a solucionar a detecção de possíveis problemas.
Deixar a criança manter sua dignidade permitindo que defenda e explique suas ações. Procurar saber o ponto de vista da criança sobre o problema, seus sentimentos e idéias a respeito de possíveis soluções. Depois de escutar com cuidado, respeito e calma o ponto de vista da criança, repeti-lo com suas próprias palavras, mesmo que não concorde com tudo. Colocar a explicação da criança da sua maneira mostra compreensão e preocupação. Essa empatia pode ajudar a criança a entender o seu ponto de vista mais tarde.
Em vez de provar como a criança está errada, ajudá-la a fazer a coisa certa. Fazer um esforço para mudar a posição da criança em vez de simplesmente fazer um julgamento.
Considerações finaisOs professores estão sobrecarregados e não conseguem lidar com o assunto que em um primeiro momento ainda não atingiu um nível razoável de informações. Eles lidam com uma série de alunos com problemas e não podem se dedicar exclusivamente ao aluno com TDA/H.
Nos dias de hoje já temos mais informações disponíveis, palestras acontecendo, matérias na TV e estudos em jornais e revistas, mas a postura de alguns educadores continua a mesma. Estacionam além do conhecimento a boa vontade e acreditam que transtornos como estes não passam de "falta de educação".
As escolas não estão preparadas e a falta de informação é grande. E se em famílias com recursos e que podem recorrer a escolas particulares munidas de psicopedagogos, psicólogos, os pais e as crianças encontram problemas, nas escolas públicas o caso é bem mais grave. Além das turmas com media entre 40 ou 50 alunos, também nos deparamos com a política da progressão continuada/aprovação automática sistema em que o aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido satisfatório.
Portanto, muitos pais só descobrem do transtorno TDA/H quando a criança chega, em media, na quinta-série e sequer sabe ler, em alguns casos. O diagnostico de tda/h permanece sendo clinico, obtido de uma anamnese cuidadosa.
Hoje, temos cursos de capacitação para profissionais de educação (ABDA-RJ) e oficinas com diversos profissionais especializados em TDAH para a disseminação de conhecimentos, mas essas ações ainda são incipientes. A busca por uma escola ideal não existe e consideramos que o ideal é onde o aluno aprende. Observando as questões que este trabalho apresenta, tentamos contribuir os problemas decorrentes da falta de informação. Precisamos de professores disponíveis para aprender, que se permitam ficar intrigados diante de um aluno, que busquem informações para alavancar suas ações como docentes.
Portanto, recomendamos mais estudos sobre a forma de lidar com o portador de TDA/H, pois este transtorno como mostrado neste estudo, afeta 3% a 6% das crianças em idade escolar, segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção.
Referências bibliográficas
BARDIN, Louis. Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BAUER, Martin & Gaskel, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.
MATTOS, Paulo. No mundo da Lua: perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Lemos Editorial, 2004.
O que é TDA/H? Disponível em www.abda.com.br Acesso em 15/09/2005.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas. São Paulo: Gente, 2003.
TIBA, Içami. Quem ama, educa! São Paulo: Gente, 2002.
revista
digital · Año 11 · N° 100 | Buenos Aires, Septiembre 2006 |