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Utilização de técnica alométrica na análise de variáveis aplicadas ao tênis de campo infanto-juvenil

   
*Professor Especialista em Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício
**Professor UDESC, Florianópolis - SC, Mestre em Motricidade Humana
(Brasil)
 
 
João Carlos Nunes*  
Joris Pazin**
joaocnunes@gmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     Utilizou técnica alométrica para análise das variáveis cardiopulmonares, neuromusculares, antropométricas, idade e treinamento em tenistas infanto-juvenis masculinos. A amostra foi constituída de 15 tenistas infanto-juvenis do sexo masculino, com idades entre 11 e 17 anos. Realizou as medidas antropométricas de massa corporal, estatura e dobras cutâneas triciptal e panturrilha. Os testes de Salto Horizontal e Corrida de 20 metros, para medir a capacidade de força explosiva de membros inferiores e velocidade de deslocamento, respectivamente, de acordo com as orientações estabelecidas pelo PROJETO ESPORTE BRASIL (PROESP): indicadores de saúde e desempenho esportivo em crianças e jovens. E o teste máximo de multiestágios - 20 metros shuttle run, para avaliar a potência aeróbia máxima e determinar o VO2 Pico. O tratamento dos dados foi feito a partir da estatística descritiva (média, desvio padrão, mínimo e máximo) e estatística inferencial (correlação linear de Pearson). Concluí que, a aplicação de técnica alométrica, na interpretação de dados de testes de jovens tenistas, pode contribuir na medida que os aspectos intervenientes na performance do tênis, se encontram diretamente relacionados ao crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens, levando a uma compreensão melhor e mais aprofundada dos resultados de testes, efeitos do treinamento e resultados na performance.
    Unitermos: Tênis de campo. Desporto infanto-juvenil. Alometria.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006

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Introdução

    Durante uma partida de tênis, as características predominantes são as constantes trocas de bola com golpes desferidos para o fundo da quadra, as saídas rápidas, paradas bruscas, mudança de direção e constantes deslocamentos frontais e laterais (VRETAROS, 2002). Para APARICIO (1998), um jogador necessita arrancar, correr, golpear, saltar e trocar de direção por um período de tempo prolongado, podendo chegar a 4 - 5 horas. Do ponto de vista energético, portanto, podemos falar por um lado, do esforço especifico, isto é, alático, e por outro temos que considerar a importância do processo aeróbio na recuperação desses esforços (MARQUES, 2002).

    Em se tratando de jovens atletas, há que destacar que na vida humana temos os chamados períodos sensitivos, quando a pessoa reage melhor aos exercícios que desenvolve esta ou aquela habilidade, devido ao desenvolvimento desigual e assíncrono de diferentes órgãos (SKORODUMOVA, 1998).

    Apesar de não extensamente documentado, estudos tem consistentemente mostrado moderadas, mas significantes correlações entre o pico de VO2 e índices de performance anaeróbias em crianças. Especula-se, que ao contrário dos adultos, as crianças são "não especialistas metabólicas", esta teoria foi suportada por dados mostrando que crianças que tiveram boa performance aeróbia em testes também estiveram acima da média nos testes anaeróbios. Uma investigação preliminar de dados aeróbios e anaeróbios indica o final da puberdade como um período crítico para a especialização metabólica. Estes achados destacam a necessidade de informar adequadamente para as características antropométricas e maturacionais do que somente a idade cronológica dos sujeitos (ARMSTRONG e MELLSMAN, 1997).

    Portanto, ao avaliar o resultado de um teste, sem comparar com outras variáveis, pode não ser tão preciso. A aplicação de técnica alométrica, que consiste na mensuração e descrição da dependência das sub-unidades estruturais ou funcionais de um organismo (TEIXEIRA et al, 2001) pode trazer uma compreensão mais aprofundada, e até mesmo responder o porque deste resultado.


Objetivo

    Utilizar técnica alométrica para análise das variáveis cardiopulmonares, neuromusculares, antropométricas, idade e treinamento em tenistas infanto-juvenis masculinos.


Metodologia

População e amostra

    A população deste estudo foi constituída por tenistas infanto-juvenis masculinos da cidade de Florianópolis/Brasil. A amostra é do tipo não-probabilística intencional e foi constituída de 15 tenistas infanto-juvenis do sexo masculino, com idades entre 11 e 17 anos. Os critérios de inclusão foram: participar dos campeonatos estaduais de tênis da Federação Catarinense de Tênis e estar na fase de diagnóstico da preparação esportiva.


Instrumento de pesquisa, procedimentos e material

    Inicialmente, foi realizada a avaliação antropométrica, incluindo massa corporal, estatura, percentual de gordura, massa corporal magra e massa corporal gorda, foi utilizada a equação de Slaughter et al. (1988), cuja fórmula é: %GC = 0,735 (åDOC) + 1,0, onde %GC é o percentual de gordura e åDOC é o somatório das dobras cutâneas do tríceps e da panturrilha, em milímetros, sendo esta equação indicada para meninos negros e brancos com idades entre 8 e 17 anos (HEYWARD e STOLARCZYK, 2000). Para obtenção destes dados foi utilizado um compasso científico de dobra cutâneas da marca Cescorf, com precisão de 0,1 mm, uma balança digital da marca Toledo, com precisão de 50 gramas e um estadiômetro Sanny afixado à parede, com uma gama de medição de 0 a 220 centímetros, graduado de 1 em 1 milímetro. Em um segundo momento, foram realizados os testes de Salto Horizontal e Corrida de 20 metros, para medir a capacidade de força explosiva de membros inferiores e velocidade de deslocamento, respectivamente. Estes testes obedeceram às orientações estabelecidas pelo PROJETO ESPORTE BRASIL - PROESP: indicadores de saúde e desempenho esportivo em crianças e jovens (GAYA, 2000). E finalizando foi realizado o teste máximo de multiestágios - 20 metros shuttle run (LEGER et al, 1988), para avaliar a potência aeróbia máxima e determinar o VO2 pico.


Tratamento dos dados

    O tratamento dos dados foi feito a partir da estatística descritiva (média, desvio padrão, mínimo e máximo) e estatística inferencial (correlação linear de Pearson). Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) for Windows versão 10.0.


Apresentação e discussão dos resultados

Característica da amostra

    A amostra apresentou valor de média e desvio padrão para idade de 14,3 ± 1,72 (mínimo de 11 e máximo de 17 anos).

    Quanto ao treinamento, foi observado um tempo médio de 12,8 ± 5,02 horas de treino por semana (mínimo de 6 e máximo de 20 horas). Estes valores referem-se ao tempo total de treino, sendo utilizado tanto para o treinamento físico, quanto para o técnico e tático.

    A tabela 1 apresenta os valores de média e desvio padrão das variáveis antropométricas da amostra.

Tabela 1. Valores de média e desvio padrão das variáveis antropométricas da amostra.

    Os valores de massa corporal e estatura ficaram muito próximos aos valores de 54,4 kg e 168 cm, respectivamente, encontrados em jovens atletas de tênis (MONTEIRO et al., 2002). O percentual de gordura de 15,60 ± 9,50 permaneceu dentro da faixa ótima, de 10 a 20%, recomendada para meninos de 8 a 17 anos (HEYWARD e STOLARCZYK, 2000).


Variáveis cardiopulmonares, antropométricas, idade e treinamento

    As variáveis cardiopulmonares (VO2 pico, freqüência cardíaca de pico e número de voltas), antropométricas (estatura e percentual de gordura), idade e treinamento (total de horas semanais de treino) apresentaram uma correlação significativa (p < 0,01) entre idade e estatura (r = 0,855) e número de voltas e VO2 pico (r = 0,800). E correlação significativa para p < 0,05 entre VO2 pico e percentual de gordura (r = - 0,606) e freqüência cardíaca e estatura (r = - 0,542). As correlações entre as demais variáveis não foram significativas. Sendo importante destacar que a quantidade de horas de treinos semanais não apresentou correlação significativa com nenhuma das variáveis estudadas (TABELA 2).

Tabela 2. Correlação das variáveis cardiopulmonares, antropométricas, idade e treinamento.

    A alta correlação entre idade e estatura é facilmente compreendida analisando o processo de crescimento que ocorre desde o nascimento até a puberdade.

    Quanto ao número de voltas e VO2 pico, faz-se necessário entender que, ao se optar por analisar o número de voltas no teste de multiestágios, pretendia-se obter uma medida absoluta da potência aeróbia, como a velocidade de corrida correspondente ao último estágio é utilizada para o cálculo do VO2 pico, compreende-se o porque da alta correlação entre estas variáveis. É necessário destacar que o metabolismo anaeróbio tem uma importante participação no final do teste, quando as exigências são próximas as máximas. Em se tratando de crianças e jovens é ainda mais importante observar o papel do metabolismo anaeróbio, considerando a hipótese que crianças são não especialistas metabólicas e que estudos tem mostrado moderadas, mas significantes correlações entre pico de VO2 e índices de performance anaeróbia (ARMSTRONG e MELLSMAN, 1997; ROWLAND, 2003).

    Muitos estudos mostraram que quanto maior a porcentagem de gordura corporal, pior é o desempenho nas atividades em que o peso corporal deve ser movido no espaço (WILMORE e COSTILL, 2001), o que nos faz entender a correlação negativa existente entre VO2 pico e percentual de gordura.

    A correlação negativa entre freqüência cardíaca de pico e estatura é compreendida analisando o crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens. "O tamanho do coração aumenta após o nascimento até a maturidade, a curva de crescimento é similar a do peso corporal e talvez mais próxima da massa livre de gordura" (MALINA e BOUCHARD, 2002, p. 148). Portanto, o tamanho do coração está diretamente relacionado ao tamanho corporal. O menor tamanho do coração e o menor volume total de sangue de uma criança resultam num menor volume de ejeção, tanto em repouso como durante o exercício, numa tentativa de compensação, a freqüência cardíaca, tanto no exercício submáximo quanto no exercício máximo é mais elevada do que a verificada no adulto. Conforme a criança aumenta a idade cronológica, o tamanho do coração e o volume sangüíneo aumentam juntamente com o tamanho corporal, conseqüentemente, o volume de ejeção também aumenta para a mesma taxa absoluta de trabalho. Estudos transversais sugerem que a freqüência cardíaca máxima diminui pouco menos de 1 batimento / minuto por ano, enquanto estudos longitudinais sugerem que essa diminuição é de apenas 0,5 batimentos / minutos por ano (WILMORE e COSTILL, 2001).

    O fato de que a quantidade de horas de treinos semanais não apresentou correlação com nenhuma das variáveis estudadas merecem um pouco de atenção. Esse resultado pode ter sido influenciado pelo pequeno número da amostra ou ainda pela relação treino técnico-tatico / físico, embora não possamos afirmar por ser um dado não controlado neste estudo. Mesmo assim algumas considerações devem ser feitas, para tentar entender estes dados. Principalmente porque os efeitos do treinamento físico sobre a condição aeróbia durante o processo de crescimento e de desenvolvimento ainda são controversos, antes da puberdade os efeitos do treinamento aeróbio em crianças são pequenos, sendo verificado um aumento de apenas 5% no VO2 máx. de crianças pré-púberes, durante e após a puberdade o treinamento tem se mostrado mais efetivo, com aumento de VO2 máx. na ordem de 12%, concluí-se que antes da puberdade a condição aeróbia de crianças é bastante elevada, de modo que apenas um treinamento intenso é capaz de trazer efeitos expressivos (FORJAZ, 2002).


Variáveis neuromusculares, antropométricas, idade e treinamento

    As variáveis neuromusculares (força explosiva de membros inferiores e velocidade), antropométricas (estatura e massa corporal magra), idade e treinamento (total de horas semanais de treino) apresentaram uma correlação significativa (p < 0,01) entre idade e força explosiva de membros inferiores (r = 0,781), idade e velocidade (r = - 0,736), idade e massa corporal magra (r = 0,827), força explosiva de membros inferiores e velocidade (r = - 0,763), força explosiva de membros inferiores e massa corporal magra (r = 0,641) e estatura e massa corporal magra (r = 0,965). E correlação significativa para p < 0,05 entre força explosiva de membros inferiores e estatura (r = 0,636) e velocidade e massa corporal magra (r = - 0,542). As correlações entre as demais variáveis não foram significativas. Mais uma vez, a quantidade de horas de treinamento não apresentou correlação significativa com nenhuma das variáveis estudadas (TABELA 3).

Tabela 3. Correlação das variáveis neuromusculares, antropométricas, idade e treinamento.

    Para compreender as correlações entre as variáveis neuromusculares, antropométricas, idade e treinamento, é necessário aprofundar um pouco mais as discussões sobre os processos de crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens.

    Do nascimento, durante a infância até a adolescência, a massa muscular aumenta constantemente. Em meninos, observa-se um aumento linear da força até o início da puberdade e um aumento rápido durante a mesma. O pico de aumento de força ocorre na maioria das vezes após o pico de velocidade de crescimento em estatura. Como a força muscular está relacionada à massa muscular, esse pico durante a puberdade se deve principalmente ao aumento de quase 10 vezes dos níveis de testosterona, que leva ao desenvolvimento da massa muscular (FORJAZ, 2002, WILMORE e COSTILL, 2001).

    Segundo WILMORE e COSTILL (2001, p 523), "o aumento da massa muscular com o crescimento e desenvolvimento ocorre sobretudo pela hipertrofia das fibras musculares individuais, mediante o aumento de seus miofilamentos e miofibrilas. O comprimento muscular aumenta através da adição de sarcômeros e aumentos do comprimento dos sarcômeros existentes".

    Desta forma, a força aumenta à medida que a massa corporal aumenta com a idade. As alterações hormonais que acompanham a puberdade levam a aumentos acentuados de força nos adolescentes do sexo masculino. Porém a capacidade de desempenho muscular depende também da maturação relativa do sistema nervoso, níveis elevados de força, de potência e de habilidade são impossíveis se a criança não tiver atingido a maturidade neurológica (WILMORE e COSTILL, 2001).

    Portanto, as correlações apresentadas pelas variáveis neuromusculares, antropométricas idade e treinamento se devem, principalmente, aos aumentos de massa muscular que ocorrem desde o nascimento até a puberdade. Por esse aumento de massa muscular justifica-se a correlação entre idade e massa corporal magra e igualmente a correlação entre estatura e massa corporal magra. Com esse aumento da massa corporal magra, conseqüentemente ocorre o aumento da força, o que nos faz entender as correlações entre força explosiva de membros inferiores e massa corporal magra, idade e força explosiva de membros inferiores e força explosiva de membros inferiores e estatura.

    Quanto à velocidade faz-se necessárias algumas considerações. Para WEINECK (1999, p. 383-384), "as diferentes capacidades de desempenho para o parâmetro velocidade - válido sobretudo para a aceleração - podem ser explicadas pelas diferenças de coordenação, capacidade de desenvolver força e pela capacidade de recuperação". FREY apud WEINECK (1999, p. 378), considera a velocidade como "a capacidade de - em razão da mobilidade do sistema neuromuscular e do potencial da musculatura para o desenvolvimento da força - executar ações motoras em curtos intervalos a partir das aptidões disponíveis do condicionamento". Durante a infância e a adolescência, o perfil das curvas de crescimento da velocidade, não pode deixar de refletir igualmente outros fenômenos, tanto em termos de prestação, como a evolução da força e da potência anaeróbia, como as condições estruturais, modificações histoquímicas induzidas pelo crescimento pubertário (Sobral, 1988).

    Feitas essas considerações, percebe-se claramente a correlação existente entre força e velocidade, também encontrada por este estudo, na alta correlação negativa entre força explosiva de membros inferiores e velocidade, ou seja, quanto maior era força explosiva de membros inferiores, menor era o tempo no teste de corrida de 20 metros. Fica claro também as correlações entre idade e velocidade (desempenho no teste de 20 metros) e velocidade e massa corporal magra, uma vez que o tempo no desempenho no teste de 20 metros diminui com o aumento de força, que por sua vez aumenta com a maior massa muscular que aumenta com a idade, de acordo com o processo de crescimento e desenvolvimento.

    Mais uma vez o fato de que a quantidade de horas de treinos semanais não apresentar correlação com nenhuma das variáveis estudadas chama atenção. Como dito anteriormente, esse resultado pode ter sido influenciado pelo pequeno número da amostra ou ainda pela relação treino técnico-tatico / físico, embora não possamos afirmar por ser um dado não controlado neste estudo.


Conclusões

    Os resultados demonstram que as diferentes fases do crescimento e o desenvolvimento influenciam diretamente a treinabilidade das variáveis cardiopulmonares e neuromusculares de jovens atletas. O aumento das proporções corporais, em especial da massa corporal magra, está diretamente ligado à performance, como também a diferenciação de algumas funções como a alta capacidade aeróbia do jovem e o pouco desenvolvimento do sistema anaeróbio lático. Além disso a hipótese da não especialização metabólica, merecem atenção quando, não só durante a performance, mas também durante a seleção de talentos e treinamento. Na aplicação de testes, a utilização de técnica alométrica, é de fundamental importância, dada a quantidade de variáveis intervenientes entre performance e crescimento. Em especial no tênis, devido as suas controvérsias, do ponto de vista metabólico, torna-se imprescindível, levar em consideração o processo de crescimento e desenvolvimento, na avaliação e planejamento da performance do jovem tenista.

    Concluí-se portanto que, a aplicação de técnica alométrica, na interpretação de dados de testes de jovens tenistas, pode contribuir na medida que os aspectos intervenientes na performance do tênis, se encontram diretamente relacionados ao crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens, levando a uma compreensão melhor e mais aprofundada dos resultados de testes, efeitos do treinamento e resultados na performance.


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