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ACSI-28: experiências esportivas de
um time juvenil de futebol

   
Centro de Psicologia do Esporte
Universidade Luterana do Brasil - ULBRA - RS
(Brasil)
 
 
Alexandre Machado Lehnen
amlehnen@terra.com.br  
Flávia Ruaro Rodrigues
flavinharuaro@ig.com.br  
Márcio Geller Marques
marciogmarques@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Os adolescentes de um modo em geral, se encontram em uma fase da vida que possui grandes transformações, eles estão deixando de ser crianças e se transformando em adultos. Nos esportes essas transformações são mais acentuadas devida à responsabilidade imposta pelo contexto esportivo. Sendo assim, avaliar o que pode ou não estar influenciando no rendimento de uma equipe em termos emocionais e psicológicos pode trazer subsídios para melhor o desempenho da mesma. Baseado em sete índices, o instrumento denominado Experiências Esportivas (ACSI-28) (Smith, 1995), identifica alguns desses pontos emocionais e psicológicos, podendo ser trabalhados a posteriori. Portanto, este trabalho tem por objetivo avaliar as experiências esportivas de uma equipe juvenil masculina de futebol em Porto Alegre (RS/Brasil) através do instrumento ACSI-28. A amostra foi constituída de 27 atletas de futebol da categoria juvenil de um clube de Porto Alegre com idades entre 16 e 17 anos, todos do sexo masculino. Foi aplicada estatística descritiva para dados quantitativos, calculando média e desvio padrão para cada questão. Através do gabarito fornecido pelo instrumento foram feitas projeções (em %) de cada um dos sete tópicos avaliados. Os resultados indicaram as seguintes projeções: lidar com adversidades (71,30%), desempenho sob pressão (66,98%), estabelecimento de metas (75,00%), confiança (82,72%), concentração (67,28%), liberdade de preocupação (50,00%) e treinabilidade (73,15%). Através desses índices pode-se inferir que o time analisado possui como pontos fortes a confiança e o estabelecimento de metas, indicando que o grupo está focado no mesmo objetivo. Porém, a pressão sobre o grupo está aumentando a preocupação de não errar, gerando estresse e conseqüentemente, possibilidades de baixo rendimento.
    Unitermos: ACSI-28. Experiências esportivas. Aspectos emocionais. Aspectos psicológicos.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 100 - Septiembre de 2006

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Introdução

    O esporte tem-se constituído, segundo Cruz (1997), em um dos fenômenos sócio-culturais mais importantes dos últimos tempos. Para que todos estes recursos possam ser multiplicados, é necessário o sucesso nas competições, independente do seu tipo (educativo, recreativo, amador, profissional, etc.). O sucesso neste contexto não significa literalmente ganhar a competição, mas sim, atingir o objetivo da mesma. Por exemplo, se a competição tem caráter recreativo, o fato de "ganhar a competição" não significa necessariamente "ganhar recreação".

    Em todos os modelos de competições, o sucesso depende de vários fatores, entre eles, aspectos emocionais e psicológicos dos atletas. A quantificação desses aspectos pode trazer subsídios importantes para que os mesmos sejam trabalhos de forma a maximizar o desempenho dos atletas.

    Na maioria das vezes os aspectos emocionais em competições amadoras e profissionais de adolescentes acabam sobressaindo em relação aos aspectos técnicos, táticos e etc. A categoria juvenil (adolescentes de 16 e 17 anos) é um clássico exemplo desse fato, pois os atletas dessa categoria estão passando por transformações físicas, psicológicas, sociais, financeiras, etc. podendo alterar a estrutura base para o rendimento do atleta e da equipe como um todo.

    A identificação desses aspectos podem ser feita de várias formas. Uma delas é a quantificação e análise de pontos que são do cotidiano dos atletas, mas que identificam de maneira direta e/ou indireta, aspectos emocionais e psicológicos. O instrumento Experiências Esportivas ACSI-28 (Smith, 1995) é um exemplo. Esse questionário aponta sete índices, os quais depois de serem quantificados, podem indicar pontos emocionais fortes e fracos de uma equipe.

    Portanto, o objetivo desse trabalho é quantificar os índices descritos no instrumento ACSI-28 de uma equipe masculina juvenil de futebol, pois são adolescentes em fase de transformação, e baseado nos resultados identificar quais os aspectos emocionais mais fortes e mais fracos do time.


Referencial teórico

    Como no esporte o sucesso é fundamental, e é alcançado por poucas pessoas principalmente quando está relacionado diretamente com a vitória, é necessário prover todo e qualquer aparato para que os atletas alcancem seus objetivos (Marques, 2000). O instrumento de avaliação ACSI-28 propôs a análise de sete aspectos os quais podem ajudar a identificar pontos emocionais e psicológicos que podem estar influenciando na equipe. Segue uma breve descrição dos aspectos descritos no ACSI-28: adversidade, desempenho sob pressão, estabelecimento de metas, confiança, concentração, liberdade de preocupação e treinabilidade.

    A adversidade, segundo Weingerg (2001), consiste no aspecto psicológico em que o atleta possui uma gama de estratégias de controle, para que em diferentes fontes de estresse e em diversas situações apresentadas durante a competição (barulhos da torcida, medo da lesão, quedas no desempenho, expectativas dos outros, distrações externas e pontos críticos da competição), não atrapalhem o seu desempenho.

    O atleta que é capaz de identificar o seu agente estressor pode escolher a melhor estratégia de controle. Quanto maior for o seu número de estratégias de controle para combater os seus agentes estressores, melhor será o seu rendimento, pois o atleta não deixará, assim, que nada influencie no seu desempenho.

    Desempenho sob pressão procura mensurar quanto o atleta trabalha o lado psicológico no momento da pressão. Todo atleta, mesmo os amadores estão sob pressão (Marques, 2003). É evidente que o tipo de pressão é proporcional à importância do atleta para a equipe e da equipe em relação ao meio em que se inseri.

    O desempenho sob pressão está diretamente ligado à quantidade de estresse que o atleta sofre (Franco, 2000). Como foi citado anteriormente, todo atleta sofre pressão, mas existem aqueles que conseguem transformar essa pressão em motivação, outros transformam em estresse, outros ignoram, etc. O grande problema surge quando essa pressão se transforma em aspectos negativos influenciando no desempenho do atleta. São exemplos de pressões exercidas pelo meio em que a equipe se inseri (Rose Jr.; 1994): complexidade da tarefa maior do que os recursos; pressões exercidas por pessoas envolvidas (pais, técnicos, dirigentes, patrocinadores, amigos, etc.); definição de objetivos irreais e inatingíveis; nível de expectativa exagerado em relação ao desempenho (pessoal e dos outros); entre outros.

    Frente a esses exemplos é possível diagnosticar alguns sintomas de estresse, como (Marques, 2000): ansiedade excessiva; nervosismo; distúrbio do sono; distúrbio do apetite; medo de cometer erros; medo do resultado; medo de decepcionar as pessoas e preocupação com o resultado.

    Na verdade, a competição é muito benéfica para o atleta, independentemente de ele ganhar ou de perder os jogos, uma vez que o ensina a ter mais força de vontade, determinação e coragem (Marques, 2003). No entanto, é importante respeitar os estágios de desenvolvimento do jovem atleta, e os adultos com ele envolvidos devem ter uma visão da competição sob o ponto de vista de crescimento. Saber lidar com toda essa pressão, estresse, etc. pode ser determinante para o sucesso do atleta.

    O estabelecimento de metas é fundamental para o sucesso de uma equipe coletiva, segundo MacClements (1982). As metas são definidas por muitas pessoas como determinação de um objetivo, seja ele qual for. Por exemplo, estabelecer um padrão ou nível de desempenho e qualidade como, levantar certa quantidade de peso, estabelecer um tempo para completar um percurso, ou determinar um número de gols para marcar durante uma partida. Algumas vezes estes objetivos se tornam um tanto quanto subjetivos, como diversão ou fazer o melhor que puder e etc.

    Os psicólogos do esporte e do exercício, dividem as metas em dois tipos: as metas subjetivas, que compreendem as declarações de intenção, mas não sendo mensuráveis e as metas objetivas que visam atingir um padrão específico de desempenho em um determinado exercício, geralmente dentro de um tempo pré-estabelecido.

    Para que seja mensurada a evolução de um grupo torna-se importante o estabelecimento de metas, visto que para avaliar o seu crescimento, deve-se observar se o grupo foi capaz de atingir a meta proposta ou não. Sendo assim, é necessário que o grupo possua as mesmas metas a serem atingidas, caso contrário será muito difícil que o grupo consiga êxito.

    No mesmo contexto, esse aspecto também envolve o sentimento do atleta em "treinar para qual objetivo?". Constitui-se basicamente pela motivação do atleta em treinar. Muitas vezes as rotinas de treinamento em alto-rendimento (seja qual categoria for) não são fáceis e exigem um grau de comprometimento alto. O atleta jovem (categoria juvenil) pode estar na dualidade entre enfrentar as rotinas árduas do treinamento ou simplesmente passar mais brando nesse quesito, porém sem maiores perspectivas de profissionalização. É possível notar que vários questionamentos giram no dia-a-dia do atleta jovem.

    Em uma visão ampla, o termo motivação denota fatores e processos que levam as pessoas à ação ou à inércia em situações diversas (Cratty, 1983). De modo mais específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas com maior empenho do que outras, ou persistir em uma atividade por longo período de tempo.

    Portanto, o estabelecimento de metas está ligado diretamente com as razões pelas quais o atleta treina. Na categoria juvenil em particular, uma das metas mais comuns é profissionalizar-se, mas também existem outras metas como, forma social, objetivos pessoais, etc. O estabelecimento de metas pessoal (razão pela qual o atleta treina) deve estar inserido em um contexto maior, o estabelecimento de metas da equipe.

    Outro aspecto importante, e talvez um dos mais difíceis de se trabalhar em psicologia do esporte, é a confiança. Embora não seja fácil definir confiança, os psicólogos do esporte e do exercício definem como a crença de que você pode realizar com sucesso uma determinada tarefa, podendo esta ser um simples chute a gol no treino ou o chute de um pênalti durante uma final da Copa do Mundo de Futebol. Mostrando assim, que o fator que impera, é o acreditar que vai conseguir.

    Outro conceito importante é o traço autoconfiante, que é paralelo ao estado de confiança. É definido como, quanto o atleta acredita ser capaz de ser bem sucedido no esporte de um modo em geral, não somente em um jogo, ou em uma competição. Embora os atletas possuam um nível geral de autoconfiança, como qualquer outra pessoa, dependendo da situação apresentada durante a competição ou fora dela, a autoconfiança pode se alterar.

    Atletas confiantes acreditam em si mesmos. Mais importantes, eles acreditam em sua capacidade de adquirir habilidades e as competências necessárias, tanto psicológicas como mentais, para atingir seu potencial. Atletas menos confiantes duvidam se são bons os suficientes, ou se têm o que é preciso para serem bem sucedidos. A definição de "bom o suficiente" é pejorativo para cada atleta.

    A concentração consiste na atenção, e o seu papel no desempenho humano tem sido objetos de debate e de exame há mais de um século, começando com a seguinte descrição clássica: "Todos sabem o que é atenção. É tomar posse pela mente, de forma clara e nítida, de um dos que parecem ser vários objetivos ou séries de pensamento simultaneamente possíveis. Focalização e concentração de consciência são a essência. Elas implicam em afastamento de algumas coisas a fim de lidar efetivamente com outras" (Williams, 1980).

    Esta definição focaliza-se em um aspecto particular da concentração (atenção seletiva), embora uma definição mais contemporânea considere atenção mais amplamente como concentração de esforço mental sobre esforços sensoriais ou mentais (Solso, 1995). Portanto uma definição útil de concentração em ambientes esportivos e de atividade física conteria normalmente três partes: concentração em sinais relevantes no ambiente, refere-se à focalização em sinais ambientais relevantes, ou atenção seletiva, sendo assim quando o ambiente modifica-se rapidamente, o foco de atenção também deve mudar rapidamente; manutenção daquele foco de atenção todo o tempo; e consciência da situação, basicamente essa capacidade permite que o jogador avalie sua situação no jogo, adversário e competição para tomar a decisão mais apropriada com base na situação, freqüentemente sob pressão aguda e exigências de tempo.

    Aspecto liberdade de preocupação tem como principal objetivo analisar qual o comportamento do atleta em situações em que ele falhe, ou seja, o que ele pensa caso ocorra alguma erro na sua atuação. Será que o atleta se preocupa em não jogar bem e as conseqüências desse fato? Essa característica pode ser encarada como a conseqüência da atuação do atleta.

    Pode se tornar um fator maléfico gerando principalmente ansiedade. Dependendo da pressão que o atleta sofre, do estresse que ele possui, a liberdade de preocupação se agrava, pois ele sabe que não pode errar, e caso isso ocorra, terá péssimas conseqüências.

    Para o atleta jovem essa característica se encontra na pressão que ele sofre dos mais diversos âmbitos: treinador, dirigentes, pais e familiares, amigos, namoradas, esposas, etc., ou seja, o atleta em geral pensa se será aceito por essas pessoas que o circundam, caso ele falhe. A liberdade de preocupação está ligada diretamente à quantificação de vários aspectos emocionais como, ansiedade, segurança, motivação, estresse, etc.

    Marques (2003), afirma que o grupo é um alicerce fundamental para o desenvolvimento do atleta jovem e mais uma força que o auxilia na superação dos desafios da vida e do esporte. Portanto, ser aceito dentro desse grupo mesmo em situações que o atleta falhe é primordial.

    O fator de treinabilidade consiste no grau que o atleta tem em corrigir os seus erros a partir das orientações do treinador e/ou dos seus companheiros. Embora seja uma característica do atleta, esse aspecto está ligado mais intimamente com o perfil do treinador.

    Oliveira (2004) afirma que a liderança exercida pelo treinador poderá ser decisiva nas conquistas, pois este deverá ser o ponto de equilíbrio para todo o grupo. Uma das funções mais importantes na manutenção do equilíbrio e da dinâmica de um grupo está no papel de técnico, e este influencia no aspecto da treinabilidade do atleta (Barrow, 1977), uma das características analisadas no presente estudo.


Metodologia

    O delineamento da pesquisa é caracterizado corte transversal. A amostra foi constituída de 27 jogadores (n = 27) masculinos de um time de futebol da categoria juvenil de Porto Alegre com expressão nacional. A faixa etária da amostra foi de 16 e 17 anos. O instrumento foi aplicado na seção semanal de dinâmica de grupo nas dependências do clube, pelo psicólogo responsável.

    Uma questão importante a ser abordada é a forma pela qual o instrumento foi aplicado. Cada atleta do grupo respondeu as questões de forma a traduzir o que mais lhe representava no momento, e não o que mais gostaria que fosse como resposta.

    O instrumento das Experiências Esportivas possibilita fazer uma análise do atleta para que seja estabelecido o perfil psicológico baseado em sete aspectos distintos, de acordo com as respostas dadas. Possui 28 questões, sendo que para cada uma delas existe um gabarito enumerado de 0 a 3, correspondendo respectivamente como: nunca, às vezes, regularmente e sempre.

    Os sete aspectos avaliados se encontram dispersos no questionário. Para se obter esses índices, são necessários somar as respostas (0 a 3) de acordo com as questões pré-estabelecidas pelo instrumento, conforme a tabela 1.

Tabela 1: Quantificação dos Aspectos ACSI-28.

    O instrumento sugere que para cada um dos sete aspectos a soma máxima seja 12 pontos, ou seja, como cada questão possui 3 como maior valor de resposta e são quatro questões por característica analisada, a maior pontuação atingida em cada característica são 12 pontos. Dessa forma existe um parâmetro máximo que pode ser comparado com as respostas do grupo e/ou de forma individual.

    Como as respostas caracterizaram uma distribuição normal, foi possível aplicar uma estatística descritiva para dados quantitativos. Foram feitas médias e desvio padrão de cada questão, com base nas repostas individuais do questionário. Desta forma, foi possível obter a resposta do grupo para cada questão em termos de escala (0 a 3).

    Com base na codificação da Tabela 1 foram somados os resultados do grupo apontando o valor final para cada um dos sete aspectos do instrumento. A projeção em termos de percentual foi feita comparando a pontuação de cada aspecto com a pontuação máxima (12 pontos) desse mesmo aspecto.


Resultados

    Como sugere a metodologia desse estudo, a primeira parte refere-se a calcular as médias e o desvio padrão de cada questão, baseados nos questionários dos 27 atletas avaliados. Os Quadros 1 e 2 mostram os resultados.

Quadro 1: Média (x) e Desvio Padrão (S) das Questões 1 a 14.


Quadro 2: Média (x) e Desvio Padrão (S) das Questões 15 a 28.

    Com base nos resultados das questões do grupo (quadro 1 e 2), é possível aplicar o gabarito apresentado na Tabela 1. O valor de cada aspecto avaliado pelo instrumento encontra-se na Tabela 2.


Tabela 2: Perfil das Características dos Atletas.

    A terceira e última fase dos resultados apresenta as porcentagens, em relação à pontuação máxima (12 pontos), de cada característica. Por exemplo, para o aspecto lidar com adversidades o grupo obteve a média de 8,56 pontos, os quais representam 71,30% da capacidade máxima dentro dessa característica, e assim sucessivamente. O Gráfico 1 apresenta todos os percentuais da pesquisa.

Estudo das Experiências Esportivas (%)

Gráfico 1: Representação das Experiências Esportivas.


Discussão

    A partir da quantificação apresentada nos resultados é possível identificar, em termos emocionais e psicológicos, os pontos fortes e fracos da equipe analisada.

    Tomando a consciência que a amostra foi constituída de adolescente entre 16 e 17 anos (categoria juvenil), muitos jogadores enfrentam um momento decisivo em suas vidas, estão na dualidade em poder se profissionalizar ou não. Talvez essa seja a maior meta estabelecida individualmente. Essa possibilidade, para alguns, é o estopim para desencadear preocupações e reações emocionais que geralmente atletas da mesma categoria não sentiriam, caso não tivesse a questão da profissionalização.

    Mahler (1975) já preconizava a existência de um estado indiferenciado inicial a partir do qual o indivíduo vai gradativamente, se modificando para adquirir a identidade pessoal. Esse processo pode acarretar em visões e posturas alternadas frentes ao grupo. Interesses pessoais nessa categoria, por vezes, se destacam em comparação aos interesses do grupo. Portanto se torna fundamental que os resultados aqui apresentados, sejam avaliados com base no processo maturativo biopsicossocial da amostra.

    A característica lidar com adversidades consiste nos valores emocionais em que jogadores precisam aprender as estratégias de controle para usar em diferentes situações e para diferentes fontes de estresse (Hardy, 1996). Com 71,30% dessa característica demonstrada, o grupo parece que consegue razoavelmente contornar aspectos adversos, sejam momentos difíceis de ordem pessoal, competitiva ou dentro do próprio jogo.

    O desempenho sob pressão ficou com escore de 66,98%. A capacidade do grupo em absorver a pressão fica encorajada a melhorar. Ainda mais em se tratando de uma categoria juvenil, a qual se encontra no dilema da profissionalização ou não. Esse fato, freqüentemente, leva ao atleta um estado de angústia e cometer mais erros do que normalmente ele comete. Esse tipo de pressão é chamado de pressão debilitadora, ou seja, aquele que vai debilitar o desempenho do atleta e/ou da equipe. É aconselhável para o time avaliado transformar essa pressão exercida no grupo em um fator desafiador, trazendo conseqüentemente aspectos positivos para o time.

    O item estabelecimento de metas demonstrou através dos seus 75,00% que o grupo possui um plano bem claro e realista onde pode chegar em cada treinamento, bem como, no planejamento global. Traçar metas inalcançáveis pode gerar uma motivação negativa, causando um passo para o insucesso pessoal e da equipe, o que não foi caracterizado na equipe avaliada.

    O aspecto que mais obteve presença na pesquisa foi a confiança, com 82,72%. Os psicólogos do esporte definem a confiança como a crença de que um comportamento desejado pode ser realizado com sucesso (Vealey, 1986). A questão colocada ao grupo referente à confiança foi a certeza de que se fizerem um volume de treino, esse mesmo volume será aplicado nos jogos, ou seja, o comportamento desejado é conseguir aplicar os 100% do volume de treinamento. Em outras palavras, é a certeza do que foi treinado será colocado em prática.

    Existe um paralelo entre a confiança global e a característica individual de confiança, mais precisamente denominada de autoconfiança (Vealey, 1986). Embora uma pessoa possa ter um nível global de autoconfiança, isso pode mudar de uma situação para outra ou mesmo dentro de uma competição. A equipe com 82,72% não apresenta preocupação quanto a confiança.

    A concentração é postulada por alguns autores como "peça chave" para o bom rendimento do jogador. Seguindo esse princípio o grupo se caracterizou com pouco mais de 50% da sua capacidade de concentração.

    Em um jogo ocorrem várias modificações de estímulos e, segundo Figueiredo (2000), o atleta tem que ter habilidade de deslocar sua atenção de um estímulo para o outro para conseguir um bom desempenho. A principal inferência que se pode fazer a partir do escore de 67,28% é que o grupo tende a se dispersar em dados instantes, não focalizando a troca de atenção de um estímulo para o outro.

    Através de uma boa capacidade de concentração o atleta não se influenciará por fatores como torcida, pais, ansiedade, excesso de motivação ou agressividade, tendo condições de se concentrar melhor no jogo e desenvolver com êxito todas suas habilidades no esporte. Portanto, no caso do grupo juvenil de futebol, a Psicologia do Esporte deve proporcionar todas as condições, com a finalidade de os atletas consigam maximizar essa característica e obter o mínimo suficiente para usar o seu potencial nas partidas.

    Na ótica de Azar (1996), os atletas têm melhor desempenho quando focalizam o controle e o domínio da tarefa a ser realizada, em vez de focalizarem somente a vitória. Porém, para isso é necessário que o atleta esteja liberto das preocupações que o circundam, potencializando as características emocionais positivas.

    É possível observar que o aspecto mais preocupante do perfil é a liberdade de preocupação. Apenas 50,00% capacidade total dessa característica foi expressa. Esse aspecto consiste em um conjunto de valências emocionais que demonstram a preocupação do jogador caso ele faça uma jogada errada, ou seja, o quão ele está preocupado se falhar em um dado momento. O fato está diretamente ligado ao "descaso" do jogador em não acertar, ou seja, a sua preocupação em acertar está sendo colocado de lado.

    Esse aspecto pode estar ligado às características da concentração e da confiança do grupo, em contradição foram as características que mais se acentuaram na pesquisa. Talvez o excesso de confiança possa estar gerando um descaso no momento dos jogos, levando o atleta a não se importar, caso ele erre. Porém, esse fato tem conseqüências maléficas ao grupo. É preciso saber onde permeia a confiança benéfica, aquela que ajuda na execução de uma jogada e eleva a auto-estima, daquela que prejudica o rendimento por não se tomar às devidas precauções que um jogo competitivo exige. Portanto, é de suma importância mostrar ao grupo que o excesso de confiança pode gerar problemas de concentração e conseqüentemente, um descaso nos jogos.

    Outro item que demonstrou aspectos positivos foi a treinabilidade. Esse aspecto garante ao atleta a correção de seus erros de acordo com as instruções do treinador e/ou outro companheiro do time. O escore alcançado pelo grupo foi de 73,15% do seu máximo, ou seja, o grupo assimila as correções de sues erros de forma satisfatória.

    Percebe-se que mesmo os atletas tendo uma grande confiança, um desempenho satisfatório sob pressão e uma boa concentração, o grupo demonstra um grande medo em relação ao erro. Levanta-se a questão que apesar do medo os atletas estão conseguindo vitórias nas partidas ou bons resultados, mas caso haja sucessivas derrotas ou maus desempenhos será que este baixo índice de liberdade de preocupação não se manifestará?


Conclusão

    Conforme considerações e resultados desse trabalho pode-se inferir que os aspectos emocionais que circundam os atletas são fundamentais para o sucesso pessoal e da equipe.

    Como resultado nos sete itens estudados, obteve-se os seguintes percentuais: lidar com adversidades (71,30%), desempenho sob pressão (66,98%), estabelecimento de metas (75,00%), confiança (82,72%), concentração (67,28%), liberdade de preocupação (50,00%) e treinabilidade (73,15%). Baseado nesses aspectos um perfil emocional e psicológico pode ser demonstrado, conforme objetivo da pesquisa.

    A equipe está focada nas metas que foram estabelecidas, tanto individualmente como coletivamente. Esse fato gera confiança na equipe pois todos acreditam no mesmo ideal. Porém, o time está com excesso de confiança causando baixa liberdade de preocupação, ou seja, descaso em relação aos erros cometidos.

    Com exceção a confiança excessiva, os atletas sabem lidar com as adversidades que ocorrem no meio esportivo, como torcidas, pais e amigos, pressão de dirigentes, etc., comprovados pelos altos índices de concentração, desempenho sob pressão e treinabilidade.

    É evidente que os aspectos aqui apresentados demonstram um momento específico da equipe, caracterizando o delineamento transversal. Fica como incentivo a aplicação do mesmo instrumento em diversos momentos ao longo de um período de treinamento. Assim é possível identificar mudanças no comportamento dos atletas e obter subsídios para que os psicólogos do esporte possam tentar atenuar aspectos emocionais que prejudiquem o desempenho do time, principalmente em relação aos adolescentes.


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